A questão da segurança num clássico é relevante, principalmente porque temos que ter a noção que há diferenças entre conduzir um carro actual e um com 40 ou 50 anos.
O primeiro clássico que comprei é, a larga distância, o mais seguro que tenho (o Mercedes W123 230 CE, em comparação com o BMW 1602 e com o MGB ).
No entanto, nos primeiros tempos em que o conduzi tive duas situações de risco precisamente por tê-lo conduzido da mesma forma como conduzia habitualmente um veículo recente da mesma marca. Uma vez, quando vinha da Ericeira para Lisboa pela autoestrada, ao fazer uma curva um pouco mais apertada para a esquerda iniciei-a do lado esquerdo e quando saí dela tinha o W123 todo encostado ao lado direito da via. Já tinha passado por lá diversas vezes com um Mercedes mais moderno à mesma velocidade e não tinha "fugido" nem um milímetro...
Outra vez, em Coimbra num dia de chuva a minha co-piloto disse-me de repente "é pela esquerda" e eu travei e virei à esquerda... ou melhor, tentei virar à esquerda, porque o carro foi em frente... Tive sorte de não estar nada nem ninguém à minha frente... Mais uma vez, neste tipo de situação o Mercedes recente não fugia um milímetro.
O meu erro em ambas as situações (em que tive sorte) foi estar a conduzir um carro com 3 décadas como se fosse um carro moderno e foi isso que interiorizei desde então e não voltei a ter problemas.
Os clássicos interagem com os seus condutores de uma forma que os carro modernos não fazem. Neles sentimos as reacções aos nossos actos de uma forma que nos proporciona um prazer enorme conduzi-los. As sensações nas mudanças de velocidade, os sons do motor, os próprios cheiros,... , "entranham-se" nos nossos sentidos de um modo que os carros modernos não conseguem fazer. Daí a paixão que todos temos pelos clássicos...
No entanto, ao contrários dos carros actuais, os clássicos não nos perdoam os erros... Se cometes um erro, és castigado... Não há o ABS para corrigir uma travagem mais em cima, não há o ESP para corrigir uma entrada em curva mais acelerada, nem sequer tens situações em que uma peça que eu nem sequer sabia que existia e que custa uma bagatela, pelo facto de ter avariado me fez o carro entrar em
safe mode e, por esse motivo, me ter obrigado a conduzir uma data de kms com a velocidade limitada a 80 kms/h... Nesse dia tive a certeza que naquele carro quem tem a última palavra numa decisão é a electrónica e não eu...
E eu gosto de ser eu a conduzir o carro!
Apesar de poder parecer um pouco "off topic", este tema é relevante, porque é forçoso que nos saibamos adaptar à máquina que temos nas mãos.
Abraço,
António