ALPINA - Um pouco de História
“Com a aprovação oficial da BMW, adaptamos a nossa gama de automóveis para as demandas dos conhecedores de carros desportivos – pilotos altamente experientes, que combinam o desejo de potência e desempenho com um gosto pelo luxo e qualidade de vida. Muitas vezes, ao se graduar como dono de ALPINA, depois de uma sucessão de outros carros emocionantes e famosos, esta minoria privilegiada – menos de 2.000 Alpinas são produzidas anualmente – descobre que requinte, conforto, linhas deslumbrantes e velocidade podem sim ser combinados com toda a praticidade no uso diário. Na maioria das vezes, estamos felizes em dizer, é um caminho sem volta, e estas pessoas se tornam nossos amigos para uma vida inteira. ” - (Literatura de divulgação da marca)
Não há como negar que uma tradição seguida com afinco, ainda mais nos dias de hoje, é algo extremamente reconfortante. Esta pequena empresa perdida em uma vilazinha bávara chamada Buchloe permanece fiel a seus princípios por quase 50 anos, feliz em manter seu tamanho e seu volume de negócio inalterado, para não comprometer uma tradição. Parece algo simples dito assim, mas hoje em dia, onde qualquer empresa que não cresça anualmente é tabu, é uma raridade. Que diferença faz um dono mais preocupado com o que construiu, e na sua continuidade, do que em aumentar sua fortuna. E Burkard Bovensiepen, o fundador da Alpina, é este tipo de pessoa.
Herr Bovensiepen parece ser uma pessoa no mínimo interessante. No porão da instalação industrial que produz seus carros está uma das mais famosas adegas de vinho da Europa; um hobby que se tornou um negócio altamente lucrativo. A Alpina Wein é o maior distribuidor de vinhos de qualidade para os restaurantes alemães, e para os amigos de Baco daquele país, claro.
Apesar de bávaro, Bovensiepen não fala o dialeto da região (que os alemães do norte descrevem como sendo “uma doença de garganta, não uma língua”), e sim apenas o rigoroso Hochdeutsch. Além de manter o controle, e um profundo conhecimento de todos os aspectos da sua empresa, ainda tem tempo de perseguir seus outros interesses em um nível quase profissional: a fotografia e a cozinha gourmet. Obviamente uma pessoa que sabe apreciar as coisas boas da vida, e de um viés mais artístico que industrial.
E assim é, como seu fundador, já há quase 50 anos, esta maravilhosa casa bávara, este verdadeiro ateliê de alta costura para gente que entende e gosta tudo que faz os BMW tão especiais, mas tem os meios financeiros para poder levar esta experiência até seu ápice. Uma empresa que consegue melhorar todas as qualidades dos BMW, aparentemente sem compromissos visíveis.
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O logotipo da Alpina parece adequadamente heráldico, mas de perto pode-se ver um virabrequim e um carburador
Mais que uma empresa de preparação, a Alpina é reconhecida pelo governo alemão (desde 1983) como um produtor de automóveis, e os carros têm número de chassis (VIN) próprio, diferente dos BMW. Desenvolvidos profissionalmente, as alterações dos carros funcionam como um todo coeso. Um exemplo é a cooperação com a Michelin, que desde o fim dos anos 1980 desenvolve pneus exclusivos para as especificações da marca, garantindo exclusividade desses pneus por dois anos depois do lançamento dos carros. Exactamente como as referências "N" dos pneus nos Porsche.
Hoje, a cooperação que sempre existiu entre a Alpina e a BMW é muito mais estreita, com os engenheiros da Alpina tendo acesso aos novos desenvolvimentos da BMW muito antes deles aparecerem nas ruas, e muitos componentes Alpina sendo montados nos veículos doadores na linha de montagem da BMW. Mas no âmago, apesar das várias fases que a BMW e por consequência a Alpina passaram nesse tempo todo, os objetivos e a personalidade de seus carros permanece, visível desde o primeiro BMW 1500 com kit Alpina, até um moderno B3 Biturbo de 400 cv. E como isso aconteceu é essa história que vamos contar hoje.
E nossa história começa um pouco antes do BMW 1500 “neu klasse” ser lançado e a BMW moderna ser criada. Começa com o austero Dr. Rudolf Bovensiepen, e sua fábrica de material de escritório em Kaufbeuren, na Bavária. Seu maior e mais famoso produto era uma máquina de escrever popular na Alemanha: a Alpina (abaixo).
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O jovem Burkard, filho do Dr. Rudolf, encarava um futuro como produtor de máquinas de escrever. Se formou em engenharia e economia na Universidade de Munique, e enquanto trabalhava na empresa do pai, perseguia sua maior paixão de então: os automóveis. Começou a competir com um BMW 700 cupê que preparou ele mesmo, com algum sucesso. Quando resolveu tentar a sorte numa categoria acima (1 500 cm³), comprou um Fiat 1500 com preparação italiana (provavelmente Siata), e começou a usá-lo regularmente. Como em toda competição amadora nesses tempos mais simples, finda a corrida o piloto apontava o carro para fora do autódromo, e ia embora para casa. Nada de reboques e trailers em 1960; o carro de corrida era também o carro de uso normal.
Pois bem, voltando para casa um domingo pela Autobahn, mantendo velocidades próximas à final do carro, Bovensiepen toma um bom susto: o virabrequim (cambota) do Fiat parte e trava o motor. Por sorte ele consegue manter o controle e evitar um acidente, mas o motor é completamente perdido. Avaliando o estrago, parecia claro para nosso amigo engenheiro que nada tinha sido feito na parte de baixo do motor para que ele agüentasse o maior esforço e a maior potência. E adivinha se o preparador italiano trocou o motor em garantia... Claro que não!
O primeiro dos BMW's como conhecemos hoje: o 1500 de 1962
Na mesma época, a BMW lançava seu novo sedan 1500 “neu klasse”, um carro que seria um novo padrão de desempenho da categoria. Seria o novo padrão de BMW também: tinha suspensão dianteira McPherson, traseira independente, motor dianteiro em linha inclinado para a direita e tração traseira, igualzinho a um Série 3 de 2013. Dr. Rudolf Bovensiepen compra um para seu uso, e seu filho imediatamente se apaixona por ele.
Burkard nota também que aquele chassis poderia suportar facilmente mais potência que o motor de 75 cv fornecia. Somando isso com a experiência do Fiat, uma ideia começa a germinar na sua cabeça. “Um preço fixo, um produto de qualidade, e uma garantia”. O que seria o lema da Alpina nascia ali, ainda que apenas na cabeça de seu fundador.
Uma pequena oficina foi então organizada em um canto da fábrica de máquinas de escrever. Usando o carro do pai, Burkard desenvolve um kit para a instalação de carburação dupla Weber no BMW 1500, em substituição ao carburador simples original, aumentando a potência de 75 para 84 cv imediatamente.
O kit Alpina original
Ver anexo 319569
Bovensiepen entra então em seu BMW e roda 100 km até a sede da BMW em Munique, para uma reunião com o diretor de vendas da empresa, Paul Hanemann. Os dois logo entram em um acordo que permitia a venda dos kits Alpina nas concessionárias BMW, e que a garantia do carro não fosse afetada por ele. Hanemann acreditava que versões de maior desempenho sem o trabalho (e o custo do desenvolvimento) fariam bem às vendas e à imagem da BMW, empresa então com dinheiro curto. Ali começava um estreito e longo relacionamento que perdura até hoje.
Logo em seguida, em 1965, a fábrica de máquinas de escrever é vendida, e a Alpina se muda para Buchloe, uma outra vila próxima, onde está até hoje. Apesar da origem simples do kit Weber, sempre foi mais que uma empresa de preparação. Bovensiepen queria um carro melhorado como um todo, e encorajava seus clientes a fazer isso preparando carros completos, desenvolvidos como um todo coeso. Suspensões, travões, bancos, volantes, instrumentos, rodas e pneus, iluminação, nada num BMW Alpina era esquecido.
Ver anexo 319570
Um Alpina não poderia ter compromissos; nada de aceitar defeitos gritantes para ter mais potência, nem muito menos efeitos colaterais como travões insuficientes para o novo motor. Toda área do carro deveria ser melhorada de uma forma inquestionável. Um exemplo emblemático desta filosofia é o consumo de combustível, que num Alpina nunca deve ser desproporcional ao aumento de potência. Para que isso ocorra, spoilers dianteiros e traseiros reduzem a resistência aerodinâmica, além de, é claro, ajudar na estabilidade por reduzir também a sustentação aerodinâmica.
Ver anexo 319571
Apesar de ter se internacionalizado bem cedo, a empresa é um fenómeno basicamente alemão; uma tradicional e pequena casa bávara que cuida de um selecto, pequeno e fiel grupo de clientes que se identificam com carros que saem de lá. Assim, os Alpina são carros para as Autobahn; para viagens longas e rápidas com conforto, segurança e economia de combustível (relativa). Somente os alemães podem apreciar realmente o fato de que os Alpinas não são limitados como os BMW’s a 250 km/h, e assim estão livres para alcançar sua velocidade máxima natural. Mais que isso, o carro todo está pronto e testado para andar o dia todo nela, se assim lhe for solicitado. Para isso, rodar o dia todo a velocidade máxima, todo Alpina actual tem o tanque de combustível aumentado (idealmente para 100 litros no mínimo). Os velocímetros marcados na numeração até 300km/h...Bovensiepen insiste que o carro deve ser capaz de atravessar a Alemanha com um tanque cheio. O fundador sabe realmente o que nós gostamos.
Ver anexo 319572