Sunbeam Sunbeam Avenger 1972 - O Meu Sunbeam

Diários de Bordo

Sunbeam Sunbeam Avenger 1972 - O Meu Sunbeam

OP
OP
JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

Raio de Sol
Premium
Portalista
Já tirei a carta há uns tempos e ainda não contei nenhuma história de encartado desde então.
Assim alembrei-me de contar histórias de Renualts na minha vida.
Não querendo magoar a sensibilidade de ninguém, nunca fui fã de Renaults, mas os Renaults têm persistido em me conduzirem em muitos e bons quilómetros.
Assim de repente creio que o primeiro Renault que conduzi foi mesmo na terá deles, em França, e não era um Renault, mas sim uma Renault, uma Estafete.

Pouco meses depois de tirar a carta de condução emigrei para França, fui trabalhar na ingrícola, nas vindimas em Cessenon, perto de Bezier, no Sul de França.
Fui com vários tugas integrado num grupo de emigras clandestinos que a partir da Faculdade de Engenharia do Porto começaram a rumar a França para trabalhar nas vindimas no final do Verão.
Todos eramos ilegais.
As vindimas, nesta região de França, eram feitas por emigrantes espanhóis que iam trabalhar legalmente para França.
Os tugas da Faculdade de Engenharia do Porto descobriram que podiam ganhar um bom dinheiro a apanhar uvas em França e começaram a esgueirar-se para lá e com o tempo uns chamam outros e quando fui em Cessenon, uma pequena Vila, já por lá andavam umas dezenas tugas a trabalhar todos os anos nas vindimas.
Os “patrons” gostavam de nós, porque trabalhávamos tão bem como os espanhóis, não tinham que fazer descontos para a Segurança Social, falávamos francês, ou françoguês que é quase a mesma coisa, eramos todos malta nova, bem disposta e bue de culta quando comparados com os indígenas lá da aldeia e com os espanhóis que tradicionalmente lá trabalhavam.
Na realidade eramos todos estudantes universitários e os indígenas achavam que Portugal era uma terra de crânios, intelectuais e tesos, pois só isso explicava que gente tão, supostamente, qualificada se dispunha a fazer um trabalho que nenhum indígena fazia.
Mas eramos muito bem conceituadas incluindo junto das “françonetes” que aproveitavam aqueles finais de verão para experimentar, por vezes literalmente, o doce sabor dos jovens, machos, latinos.
Como os patrons gostavam de nós e tinham-nos em boa conta confiavam-nos as carrinhas para levarmos o pessoal para as vinhas e ao final do dia e no fim-de-semana tínhamos também o direito a ficar com a carrinha.
É assim que me estreio em terras gaulesas a conduzir uma estafete a gasolina e em que a caixa de velocidades era ao contrário, isto é, primeira para trás, segunda para a frente e assim sucessivamente.
Pelo menos em duas ocasiões a minha inexperiência quase deitava tudo a perder, uma vez quando numa descida seguia atrás de dois ou três ciclistas e entrei numa curva fechada tranquilamente atrás dos ciclistas, só que a estafete começou a chiar e mais uns centímetros bem que tinha saído pela valeta do outro lado da estrada.
Noutra ocasião quase enfiei a estafete numa horta. Fomos a uma horta que existia próximo do local onde estávamos alojados gamar, literalmente, umas alfaces e uns tomates. O acesso fazia-se por um caminho estreito de terra. Quando foi preciso voltar para trás a solução foi preciso manobrar a estafete no estreito caminho para trás e para a frente aproveitando até ao limite o espaço existente, sendo que de um lado era o talude e do outro a horta que ficava cerca de dois metros abaixo do nível do caminho. Assim quando estava já com o focinho a espreitar para horta meto marcha atrás mas afinal não estava bem engrenada e a bicha andou para a frente. Ups, foi por pouco que não descemos com a estafete até à horta e depois ia ser uma dificuldade explicar por alminha de quem é que ali andávamos e como ali tínhamos ido parar. Mas enfim foi só um susto.

Curiosamente, julgo, o segundo Renault que conduzi foi também por razões profissionais. Logo depois de tirar o curso fui estagiar para Santa Maria da Feira, na época ainda Vila da Feira, e como era um gaijo porreiro, trabalhador e confiável[1] comecei a usar mais um Renault, um Super 5, nas deslocações em trabalho e não raramente ficava com a Renault no fim do dia e mesmo ao fim-de-semana.
Aliás esta Super 5, nova, foi na época o carro mais veloz que até então conduzi. Tinha 5 velocidades e nas deslocações Feira-Porto-Feira chegava à autoestrada engrenava a 5ª, afundava o acelerador até à chapa e depois aliviava um pouco para ficar com um bocadinho de reserva para usar quando ultrapassasse aproveitando o efeito de túnel de ar, usado nos troféus de velocidade.
A técnica era aproximar-me do carro da frente, aproveitar o cone de aspiração e quando estava a ficar bem próximo afundar ao máximo o acelerador, sair do cone de aspiração e ultrapassar (isto é história, ficção, não é para fazer em casa).
Foi também com esta Renault que me estriei em grandes, à nossa medida, viagens. Fui, talvez, dezenas de vezes ao Algarve no tempo em que a autoestrada acabava algures a Sul de Coimbra (Anadia?) onde está o símbolo fálico mandado fazer pelo Cavaco e depois só voltava a aparecer já perto de Santarém. No entretanto subia-se e descia-se a serra dos candeeiros (é mesmo assim que se chama?) numa estradita que a cada passo era um morticínio, bastava apanhar uns camiõezitos e era uma desgraça.
Em Santarém atravessava a velha ponte e seguia até Pegões onde então apanhava o IP1 (?).
Daí para diante, fora da época de férias, era novamente de prego a fundo e a Super 5 lambia os 160 a descer e com o vento a favor.
Já não me lembro bem, mas do Porto a Faro julgo que, na melhor das hipóteses demorava cinco horas e meia, isto é saia as 10.00 da noite de Domingo, seguia sempre a dar-lhe e sem paragens e chegava 02.30 a Faro.
Mas mesmo a andar na passa a viagem por vezes era uma seca e um dia já perto de Pegões, numa recta rodeada de pinheiros, resolvi testar os travões da Renault e travar a fundo quando seguia para aí a 120.
Correu tudo bem, salvo a circunstância de ter ficado com os dois pneus da frente quadrados, na zona de travagem o rasto do pneu ficou quase liso e daí para diante quase que dava para contar as voltas da roda pois a cada salto correspondia um sobressalto e mesmo uma pequena batida.
Acabei por convencer o Boss que tinha tido feito uma travagem de emergência para evitar atropelar um cão e ele lá condescendeu em mandar meter dois pneus novos.
Enfim, não se pode dizer que tenha sido grave que um jovem de vinte e poucos anos em 20.000 ou 30.000 quilómetros apenas tenha dado cabo de uns pneus.
A viagem ficava verdadeiramente brava era quando chovia e por mais de uma vez apanhei chuva toda a viagem.
Principalmente na EN1 era uma aventura circular à chuva com tráfego intenso entre os 80 e os 120 com toda aquela confusão de carros e camiões a projetar água.
A cada passo jogava-se dominó e lá batiam quatro ou cinco carros. Por vezes era mesmo mau.
Tirado a história da travagem a fundo e a velocidade nuca fiz grandes avarias com a Super 5.
Por mais que uma vez que empenei as jantes da frente porque se batesse num buraco um pouco mais fundo a jante empenava de imediato e o pneu, tubless, esvaziava de uma vez.
Depois era preciso substituir a roda, arranjar um local onde enfiassem umas marretadas na jante para esta voltar ao sítio, encher o pneu e esperar pela próxima.
Outras vezes conseguia-se passar o buraco sem empenar a jante, mas então era a vez do autorrádio saltar da consola.
Nada de grave, com umas sapatadas lá se conseguia meter o rádio no sítio.
Por esta altura ainda tive oportunidade de conduzir um estafado Renault 5 que se arrastava lá pelo escritório.

O Renault nem era muito antigo mas entre outras coisas já tinha capotado e todo ele estava a cair aos poucos.
Uma simples deslocação da Feira a S. João da Madeira podia ser um problema pois se estivesse calor havia o risco de numa das subidas deitar os bofes fora e começar a ferver. Mas enfim, apesar de mal tratado lá se ia arrastando e ainda por lá ficou a rolar quando ao fim de cerca de quase dois anos acabei o meu tirocínio por Terras da Feira.
Para já ainda só falei nos três primeiros Renaults.
Os dedos de duas mãos não devem chegar para contar as histórias de todos os Renaults que me passaram pelas ditas, as mãos.
Haverá paciência para num dia longínquo chegarmos ao diário de bordo do meu Sunbeam?

JP



[1] Mais uma vez a modéstia
 

Anexos

  • renault-estafette.jpg
    renault-estafette.jpg
    75.1 KB · Vistos: 17
  • Super 5.jpg
    Super 5.jpg
    33.1 KB · Vistos: 19
  • Renault 5.jpg
    Renault 5.jpg
    66.4 KB · Vistos: 17

José Cardoso

Clássico
Todas as vezes que acedo ao Portal passo sempre por aqui para ler a nova aventua :)
Continue que estou a gostar mais disto do que qualquer outra crónica que tenha lido numa revista ou jornal.
Cumprimentos,
JC
 
OP
OP
JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

Raio de Sol
Premium
Portalista
Para já ainda só falei nos três primeiros Renaults.
Os dedos de duas mãos não devem chegar para contar as histórias de todos os Renaults que me passaram pelas ditas, as mãos.
Haverá paciência para num dia longínquo chegarmos ao diário de bordo do meu Sunbeam?


Já agora... houve mais dois carros que me passaram fugazmente pelas mãos quando andei por terras de Santa Maria da Feira, um Fiat Ritmo (70CL penso) e um Talbot Horizon...
O Fiat era do chefe e tinha-lhe saído na farinha amparo, bom na realidade saiu-lhe na revista Eva do Natal, lembram-se?
O carro devia ser bom porque quando cheguei à Feira já o chefe tinha o carro há bastante tempo e aparentemente o carro estava em bom estado, mas...
Poucas vezes o conduzi, afinal era o carro do chefe. Em todo o caso lembro-me de numa ocasião ter dado um salto a Ovar no Ritmo provavelmente por ser o carro disponível naquele momento.
O carro até era engraçado, rolava bem mas era achacado[font='Times New Roman''][1][/font].
Até Ovar correu tudo bem.
Quando chegou a altura de vir embora também parecia que ia correr tudo bem, só que ainda não tinha saído da cidade e o bicho foi abaixo. Chovia a potes e fiquei no meio da rua a embaraçar o trânsito.
Fui insistindo com o motor de arranque mas nada, o Ritmo amuou e não houve outra solução senão apelar à boa vontade nacional para conseguir uma ajuda, primeiro para tirar o carro do meio da rua, depois para um empurrãozinho suplementar, segunda engrenada, largar a embraiagem, dois ou três sacanões e o motor lá começou a roncar.
Foi só agradecer aos tugas solidários e seguir viagem sempre com o cuidado de manter o motor com alguma aceleração se tivesse de parar para evitar outro amuo.
Lá voltei à Feira e reportei o incidente ao chefe que se limitou a encolher os ombros e dizer que não era nada de grave, que provavelmente eu é não estava habituado a tratá-lo do jeito que o Ritmo gostava e prontos ficamos assim.
Na realidade eu já sabia que o Ritmo amuava mesmo com o dono, mas parece que era normal e depois acabava por desamuar e andar.
Também nesta altura fui uma vez incumbido de levar o Talbot Horizon do pai do chefe, estimado e saudoso amigo, para fazer uma revisão no Porto.
Logo me avisaram que uma das reparações prevista era aos travões, que se estavam a acabar.
De facto consegui entregar o carro inteiro na oficina do Porto, mas[font='Times New Roman''][2][/font] sempre que era preciso travar usava os dois pés e as duas mãos, a saber:
- O pé direito para carregar no travão propriamente dito;
- O pé esquerdo para me fincar e me segurar não fosse parar em cima do carro da frente;
- A mão esquerda na direcção porque, claro, era necessário manobrar;
- A mão direita apostos no travão de mão para, se necessário, acionar o plano B.
Para ajudar chovia um pouco. Foi uma aventura, travar o carro até travava, tinha é que se começar a travar de véspera...
E prontos, para a próxima devemos voltar aos Renaults é que ainda falta o Renault 5 da minha prima, o do meu irmão e o da minha namorada, enfim do pai dela.
Também há uma 4 L, numa altura em que cheguei a ter a desdita de andar com um Metro que era uma máquina nos dias bons e uma fonte inesgotável de chatices nos outros dias todos.
Não posso esquecer-me do Renault 19 do meu primo, quase um carro bom que levei por duas ou três vezes a Lisboa sempre com pé no prego porque ia com pressa e o bicho também só se despachava se não desse descanso ao motor e à caixa.
Depois… bem depois não me lembro de mais nenhum Renault até chegarmos ao actual milénio, mas isso já são historietas de plásticos sem grande interesse.
E agora boa noite que amanhã já não é dia de greve…

JP




[font='Times New Roman''][1][/font] Desculpem-me os Fiatistas e o Sr. Comissário em particular

[font='Times New Roman''][2][/font] Amigo Marco, mais um…
 
Mais uma bela história :D :D não há como negar é Simca é Talbot é Sunbeam, estão entranhados nos ossos deram bons momentos e fazem parte do seu dia a dia. Mas claro é so maquinões lol.
Forte AB JPV
Marco Pereira
 
OP
OP
JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

Raio de Sol
Premium
Portalista
Antes de mais Renaults…
Num lance arriscado saí da Vila da Feira e fui à vida.
Durante uns tempos andei a apanhar bonés em Matosinhos e, depois fui apanhar bonés para o Porto, onde aliás colecionei uma mão cheia de multas de estacionamento que foram sendo amnistiadas periodicamente fosse com as visitas papais fosse porque a DGV acumulava tantas multas que havia necessidade de limpar o entulho.
Entre o Porto e Matosinhos tive um percalço e fui degredado para Tavira, isto é, fui incorporado e fui assentar praça em Tavira aliás terra que, juntamente com Lagos por onde também já andei emigrado, é das mais bonitas do Algarve e do país. Preferia era ter ido para lá em missão de paz.
Os mais conhecedores do meio saberão que no quartel de Tavira, entre os anos 80 e 90, faziam recruta os cadetes que de tropas apenas tinham o nome.
No meu tempo ao fim de um mês de recruta os Tavirocos, assim chamados para os distinguir de todos os outros cadetes, juravam bandeira como aspirantes e depois serviam a pátria durante cerca de um ano como médicos, engenheiros, arquitectos, juristas, enfim uma cambada calaceiros mortinha de dar de frosques.
E carros?
O mais emocionante da minha passagem pela guerra eram as viagens à Sexta de Tavira para o Porto e ao Domingo no penoso caminho inverso.
No meu pelotão tive a sorte de reencontrar um amigo de infância que por essa altura já tinha conseguido comprar um carrito bem jeitoso, um Lancia Delta, mas calma era só um 1500 sem HFs, GTs e essas coisas.
O meu amigo Manel era um condutor ainda pouco experiente mas muito cuidadoso e tranquilo e as viagens no Lancia eram igualmente tranquilas.
Tranquilas mas demoradas, já não me lembro bem mas era coisa para mais de 6 horas apesar de nessa altura a A1 já ligar Lisboa ao Porto e por isso era já pela A1 que seguíamos do Porto até Santarém o que era um grande avanço comparativamente às minhas primeiras viagens para o Algarve.
Mas num Domingo aziago quando seguíamos viagem para Tavira o Cavaco ganha as eleições com maioria absoluta pela primeira vez.
Já perto de Pegões as notícias que vínhamos a ouvir eram claras, o Cavaco tinha mesmo ganho as eleições e dado uma abada à concorrência.
Como não tínhamos dado para aquele peditório desligamos o rádio e metemos a música.
A estrada era só nossa, as retas pelo meio dos pinheiros eram longas e o meu cuidadoso amigo começou a comutar os médios e os máximos ao ritmo da música enquanto seguíamos viagem rumo ao Sul tranquilamente na casa dos 100/120 Km.s.
A dada altura começam a aparecer sucessivos sinais de limitação de velocidade, de aproximação de entroncamento sem prioridade, bandas sonoras no chão, avisos de perigo, uma parafernália de avisos.
Estávamos a chegar ao nosso já bem conhecido cruzamento ou “T” de Pegões, mas o meu amigo, contrariamente ao que sempre fazia, tardava em abrandar para parar no cruzamento e eu não percebia o que estava a fazer mas nunca me passou pela cabeça que não sabia onde estava.
Mas o meu amigo não sabia, só quando os faróis mostraram que no fundo da descida estava o entroncamento com os railes perpendiculares à nossa trajectória percebeu.
Era tarde de mais, travou a fundo e seguimos de rojo mais de 100 metros, entramos no cruzamento sempre de rojo, felizmente não vinha ninguém a passar, se não… e no entretanto os railes começaram a aproximar-se vertiginosamente apesar do Lancia, com excelentes travões para a época, seguir cada vez mais devagar.
Chegou então a altura de também eu começar a travar esticando-me todo no lugar do pendura e o Lancia foi avançando, cada vez mais devagar mas inelutavelmente em direcção aos railes até que já quase a parar embate nos railes que se abriram como um portão destrancado, as rodas da frente passam a berma, caem e deslizamos suavemente pelo barranco até nos imobilizarmos a 3 ou 4 metros da estrada.
Estávamos todos bem, abro a porta que encosta ao rail que ficou paralelo ao carro e percebo que estamos rodeados de vegetação, incluindo silvas.
Saio do carro e caminho de gatas pelo rail para chegar à estrada.
Logo a seguir ao entroncamento estava parado um carro na berma porque a mulher insistia com o condutor que tinha visto um carro a atravessar a estrada e a cair no barranco. Era verdade, o marido é que devia ir a pensar na vidinha e não viu nada.
Ajuda, solidariedade nacional, breve análise da situação e vou à estação de serviço que ficava uma centena de metros adiante tentar arranjar um reboque.
Chego à estação de serviço conto o que se passou mas o empregado nem ligou, era uma história igual a dezenas de outras que já tinha ouvido e aponta-me os autocolantes junto ao telefone com os contactos de dois ou três números de reboques.
Telefono a um deles, explico a situação e passados uns 15/20 minutos aparece um pronto-socorro dos grandes, à séria.
Era um camião Volvo. O experimentado socorrista de automóveis desceu pela vegetação até ao carro e logo decidiu: vamos meter o guincho puxamos o carro para a estrada e depois logo vemos.
Assim o fez, a força do guincho facilmente puxou o Lancia para a berma.
Já com o carro de volta à berma o socorrista e eu avaliamos os estragos. Aparentemente resumiam-se a uma óptica partida e ao capô que arrastou o rail um pouco amaçado e riscado. Por baixo do carro não eram visíveis mazelas.
O local onde caímos tinha muita vegetação e o deslize pelo barranco tinha sido suave.
Veredito, pagar ao homem e seguir viagem até Tavira agora com um condutor mais experimentado e, principalmente, mais calmo, eu…
E prontos esta foi a melhor história da minha ida à guerra.

JP
 
[sub]Este amigo tem uma escrita fantástica... tenho a certeza que se escrevesse um livro de 500 páginas, se lia num instante!! ;) [/sub]
[sub]Obrigado por estes momentos! :D [/sub]

[sub]Já agora, o pronto socorro, era parecido com este??[/sub]

[sub] Imagem034.jpg [/sub]
 

Anexos

  • Imagem034.jpg
    Imagem034.jpg
    58.3 KB · Vistos: 0
  • Imagem034.jpg
    Imagem034.jpg
    58.3 KB · Vistos: 0
  • Imagem034.jpg
    Imagem034.jpg
    58.3 KB · Vistos: 0
  • Imagem034.jpg
    Imagem034.jpg
    58.3 KB · Vistos: 80
OP
OP
JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

Raio de Sol
Premium
Portalista
[sub]Este amigo tem uma escrita fantástica... tenho a certeza que se escrevesse um livro de 500 páginas, se lia num instante!! ;) [/sub]
[sub]Obrigado por estes momentos! :D [/sub]

[sub]Já agora, o pronto socorro, era parecido com este??[/sub]

[sub] Imagem034.jpg [/sub]

Obrigado
500 páginas?
O meu bau é bem mais pequeno
Os portalistas gostam é muito de carros "dos nossos tempos" e prontos não se importam de ficar com os olhos a arder para lerem as palavras que vou amontoando e misturando com recordações mais ou menos romaceadas.

O pronto socorro era do porte deste mas mais moderno, já era dos que tinham o motor debaixo da cabine
 

Anexos

  • Imagem034.jpg
    Imagem034.jpg
    58.3 KB · Vistos: 0
  • Imagem034.jpg
    Imagem034.jpg
    58.3 KB · Vistos: 0
  • Imagem034.jpg
    Imagem034.jpg
    58.3 KB · Vistos: 0
  • Imagem034.jpg
    Imagem034.jpg
    58.3 KB · Vistos: 78
OP
OP
JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

Raio de Sol
Premium
Portalista
O meu avô nasceu em 1910, era médico e ,,, adorava HPs (Horse Power’s), equídeos percebem? Ok cavalos de quatro patas que se montam.
Não falhava uma feira de S. Martinho em Penafiel para ver as novidades cavalares e quando conseguia juntar uns cobres, para o que nunca teve muito jeito, trocava de montada por uma melhor, pelo menos quando se não enganava.
O meu avô era um garboso cavaleiro,


aliás foi praticamente a única vaidade que lhe conheci, salvo a vaidade que tinha na minha avó que era a loirinha de olhos verdes mais bonita que vira em toda a sua vida e que desde o primeiro olhar aprisionou o seu coração para sempre.
Apesar de trocar com alguma frequência de cavalos o meu avô sempre teve o dom de fazer com que os seres vivos que com ele privassem lhe ganhassem afecto e os cavalos não eram excepção.
O meu avô era também um homem de afectos o que incluía os seus altivos ginetes.
Naquela época, dizem, além de poucas estradas haver, sítios existiam que para lá chegar nem caminho havia, mas apenas carreiros, veredas.
Num dia aziago voltava o meu avô a casa depois de ir consultar um “doente” a sua casa, que ficava pouco antes do fim do mundo e anoitecendo cedo por ser já inverno. Seguia apeado o meu avô e o cavalinho seguia-o como um cãozinho num desses carreiros que era preciso percorrer. Mas num momento malvado o cavalo escorregou no musgo húmido e caiu borda a baixo uns 2 ou 3 metros.
O meu avô logo o socorreu que para cuidar das almas como dos corpos não faz muita diferença entre as cavalgaduras e os cavalos propriamente. Mas o bichinho caiu mal, magoou-se numa pata e nas costelas, foi preciso quase levá-lo ao colo até casa, foi um suplício.
O Cavalinho magoou-se seriamente e foi preciso tomar a decisão última e brava, abreviar-lhe o sofrimento e mandá-lo para o céu dos cavalos.
Este acidente abalou muito o meu avô, aquele era o cavalo, dos vários que teve, com que(m) melhor se entendia. Cumprimentavam-se, falavam do tempo, discutiam diagnósticos e se no regresso a casa encontrassem uma encruzilhada mais embaralhada o meu avô não discutia com o cavalo e acatava a sua escolha sobre o rumo a seguir.
Não sei bem, mas o meu avô devia estar perto dos 40 quando acabou por aceitar o destino e transformar o estábulo em garagem.
 

Anexos

  • o meu avô, o cavalo e o Sequeio Longo.jpg
    o meu avô, o cavalo e o Sequeio Longo.jpg
    107.7 KB · Vistos: 23
  • o meu avô, o cavalo e o Sequeio Longo.bmp
    8.2 MB · Vistos: 7

Tiago Vilar

YoungTimer
"Na realidade eramos todos estudantes universitários e os indígenas achavam que Portugal era uma terra de crânios, intelectuais e tesos, pois só isso explicava que gente tão, supostamente, qualificada se dispunha a fazer um trabalho que nenhum indígena fazia."

Chorei de rir nesta parte :D
 
OP
OP
JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

Raio de Sol
Premium
Portalista
Caros amigos portalistas

Por razões de força maior a que (não) sou totalmente alheio não tem sido possível continuar a publicar histórias de adolescência retardada.
A publicação será brevemente (espero) retomada.

JP
 
OP
OP
JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

Raio de Sol
Premium
Portalista
De volta aos Renaults, entre 91 e 94 passaram-me pelas mãos uma R4, três R5 e um R19.
O Renault 4 foi o primeiro carro da minha última namorada, primeira, última e actual mulher.
A minha namorada fez um negócio familiar e comprou a 4L que tinha sido o último carro do avô.
A 4L esteve uns dois ou três anos guardada numa garagem e quando veio a parar às mãos da minha namorada estava praticamente nova, salvo um ou outro ponto da carroçaria mais frágil, nomeadamente a porta do condutor que tinha tendência para se agitar como uma folha de papel a partir do 80 km.s/h.
Já sabia, porque na família já tinha existido mais que uma, que as Renaults 4 eram um carro especial e de facto era.
Em Janeiro de 1994 fui trabalhar para a Figueira da Foz e nessa altura fiz várias viagens Porto-Figueira-Porto com a 4L. Claro está que a 4L não era o veículo mais expedito para cobrir os 150 km.s de distância, mas apesar de nessa época a viagem incluir entre 30 a 40 km.s de estrada conseguia fazer a viagem em pouco mais de hora e meia, mais minuto menos minuto o que implicava uma média superior a 100 km na autoestrada.
Na realidade saia de Zeca Afonso, passava no Covelo e quando entrava na VCI começava logo a acelerar para os 100, 110 e daí para diante até à saída de Cantanhede ou Coimbra Norte, conforme me desse na veneta, era sempre de prego a fundo e a 4L aguentava-se um pouco acima dos 100 em plano e a descer chegava a encostar o conta-quilómetros além dos 130.
Foi aliás com a 4L que tive o furo mais emocionante da minha vida automobilística. Manhã cedo, no sentido Norte-Sul da A1 na descida para o vale onde a cada passo nos entra(va) pelas narinas o aveludado perfume de Cacia, seguia eu a testar o limite do conta-quilómetros da 4L, ultrapasso um camião e começo a ouvir um barulho cada vez mais forte ao mesmo tempo que a direcção começa a trepidar desesperadamente. Sentidos e alertas todos ligados e logo concluo que um dos pneus da frente devia ter furado.
A solução foi levantar o pé, manter a direcção o mais firme possível a direito e principalmente não travar. Aos poucos fui perdendo velocidade e lentamente fui-me aproximando da berma com cada vez mais barulho e trepidação da direcção. Consigo sair da faixa de rodagem para a berma e começo então a travar suavemente até conseguir parar.
Resultado final, a jante da frente do lado direito já só com restos de pneu.
Solução trocar a roda e rezar para não apanhar com um daqueles tugas que de quando em vez não têm espaço para circular na faixa de rodagem a amandam-se contra um desgraçado que esteja parado na berma, não raro um carro da BT.
Correu tudo bem, foi fácil trocar a roda e seguir viagem, nem deu tempo para aparecer a carrinha da Brisa.
Depois na Figueira a 4L lá teve direito a dois sapatos novos para a frente com alinhamento de direcção incluída.
Na realidade a 4L esteve bastante tempo parada numa garagem e os envelhecidos pneus já não estavam para correrias na autoestrada. Enfim uma sorte, tanto maior quanto a circunstância de apesar de a velocidade a que seguia e o tempo que demorei a parar, o certo é que a 4L seguiu sempre uma trajetória controlada.
A 4L era de facto um carro especial, o cotovelo da caixa de velocidades era um must, era confortável, fiável, óptima para passear sem pressas e apesar da pouca potência o escalonamento da caixa dava alguma agilidade na cidade e em estradas com curvas encadeadas à moda antiga.
A propósito de estradas com curvas encadeadas à moda antiga, consta-se que uma tia minha, a tal com queda para Michele Mouton, derreteu os Mabor de uma 4L em meia dúzia de viagens Porto-Cinfães-Porto num longínquo Verão do início dos anos 70, enfim consta-se…
Agora os três R5.
O R5 do meu irmão era da primeira série, talvez de 75.
O R5 começou por ser da minha tal tia Michele Mouton e lá pelo finais dos anos 80 veio parar ao meu irmão.
Então já com quase 15 anos de estrada o R5 estava absolutamente impecável, impressionando-me particularmente a caixa de velocidades, que, não sendo das melhores, se mantinha justa, sem fólegas, como se fosse nova, contrariamente ao que seria de esperar nessa época de um carro com 15 anos e muita utilização.
Recordo também que este R5, julgo com motor 900 cc, tinha uma caixa muito curta o que permitia resolver quase tudo em 4ª. Aliás ainda me lembro de no Verão irmos para a praia com a minha avó nesse R5 e quando atingia a velocidade de 80 km.s a atravessar a ponte da Arrábida ouvia-se bem a rotação do motor dando a sensação de seguirmos a velocidade bem superior.
Na mesma época conduzi um outro R5 que o pai da minha namorada, a tal, a última, comprou em 2ª, 3ª ou 5ª mão quando os filhos passaram a encartados e dessa forma evitava pôr em risco o seu R11, primeiro, e o belíssimo BX depois.
Este R5 seria bem mais recente que o R5 do meu irmão, mas estava tão gasto que tinha sempre a sensação que o navegava pois o bicho bamboleava para todos os lados e era difícil seguir a direito a partir dos 60.
Lembro-me também, neste R5, que se estivesse muito tempo parado numa descida com o pé no travão a dada altura o pedal começava a baixar perigosamente e se não fosse possível bombear o travão ou recorrer ao travão de mão havia o sério risco de ficar sem travões.
Enfim este R5 estava tão gasto que um dia até deixou cair uma porta ao chão, mas em todo o caso ainda teve fôlego para darmos uma volta por Trás-os-Montes passando por Vila Real, Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Vila Flor, Chaves, sempre a andar tranquilamente sem qualquer contratempo.
O terceiro R5 que me passou pelas mãos era de uma prima.
Gozando da fama de ser um condutor seguro e quase ajuizado andei muitas vezes com este carro emprestado, até porque a partir de determinada altura o carro estava praticamente parado e por isso até dava jeito que eu lhe desse umas voltas.
Este R5 começou por ser de um tio-avô meu que era todo garboso e cuidadoso com os seus carros, tendo-o vendido à minha prima quando comprou um GSA lindo da última geração.
O R5 inicialmente estava absolutamente imaculado, era um 1100, tinha uns estofos em tecido envolventes, era extremamente confortável e tinha uns faróis fantásticos, os melhores de que me lembro até ter descoberto os Xénon.
Mas os anos e as vicissitudes foram passando, os cuidados com que no início de vida foi mimado foram acabando e, para piorar, passou a dormir e acordar ao relento junto ao mar que lentamente lhe foi roendo a chapa.
Quando lhe comecei a pôr as mãos já começava a estar um pouco desleixado e mais desleixado foi ficando.
Ainda dei uma outra volta maiorzita, tipo ir a Viana do Castelo, e o carro era extremamente agradável e com os grandes estofos da frente em tecido tinha um interior envolvente.
Mas com o tempo o carro cada vez mais se foi desmazelando e acabou por ser o carro que mais vezes me deixou pendurado.
Uma vez numa viagem entre a Vila da Feira e Cinfães pelos lados de Arouca, engasgou já próximo de Castelo de Paiva e nunca mais se dispôs a funcionar.
A solução foi conseguir chamar o meu irmão que veio de Cinfães com o seu velhinho R5 de 900 cc, passar um cabo e lá foi o R5 antigo a rebocar o R5 bem mais novo cerca de 30 km.s quase sempre a subir.
Em Cinfães o R5 foi ao médico e passou-lhe o amoque, mas no Domingo à noite quando estava para arrancar para o Porto a chave da ignição encravou e nunca mais foi possível pôr o carro a funcionar. Ia tendo uma coisinha má, era muito galo só para um fim-de-semana.
Acabou por ficar em Cinfães para voltar ao médico e a solução acabou por ser estroncar a fechadura da ignição. Pelo menos não voltou a haver problemas com a chave, aliás a partir daí qualquer chave ou mesmo um canivete servia para dar ao motor de arranque.
A última vez que me deixou pendurado foi na marginal Porto Entre-os-Rios.
Seguia com a minha avó, com quase 80 anos, em direcção a Cinfães e ainda antes de Melres o bicho começou a engasgar e só tive tempo de encostar à berma. Depois nada, o gaijo não pegava e eu ali com a minha avó de quase 80 anos.
Os tugas são uns gaijos porreiros nestas coisas.
Estava eu de capô aberto a olhar para motor assim como um burro olha para um palácio e para um pick-up. Era uma jovem de Cinfães que apenas conhecia de vista, mas como me reconheceu e percebeu que estava em apuros logo parou para perguntar se precisava de ajuda.
Conto-lhe o que se passa e logo a jovem se oferece para levar a minha avó para Cinfães, era já um problema resolvido.
Ainda estava em parlamentações com a jovem conterrânea e surge de um estradão um bacano que tinha estado à pesca no Douro e também para a perguntar se havia problemas.
Digo-lhe o que se passa e o bom do pescador vem espreitar o motor, pega numas ferramentas que trazia com ele, desmonta o filtro do ar, faz mais umas mezinhas, diz para dar ao motor de arranque e o Renault volta a roncar.
Então a minha avó segue de boleia na pick-up, talvez uma Bedford, e eu sigo, com o filtro de ar desmontado, atrás do pescador até à casa dele, 2 ou 3km.s adiante.
Chegados a casa do bom Português entro com o Renault para uma garagem daquelas cheias de tralha e alguma ferramenta. Então o tuga solidário fez uma limpeza cuidada do filtro de ar e, penso, também limpou o carburador ou pelo menos uma coisa por onde a gasolina passava e acumulava resíduos.
Depois de quase uma hora de trabalho voluntário o bom pescador dá a revisão por terminada e diz-me para seguir viagem tranquilo.
Agradeci, agradeci muito e a verdade é que o Renault ficou impecável por muitos quilómetros sem precisar de oficina.
Os tugas nestas coisas são uns gaijos únicos!
Foi neste mesmo Renault que provavelmente estive mais próximo de enfiar um trompaço dos bons.
Por volta das onze da noite seguia na A1 em direcção ao Porto na época em que estavam a fazer obras para triplicar a via entre o nó de Espinho e a ponte da Arrábida.
Por causa das obras a autoestrada estava reduzida a uma faixa de rodagem, chuviscava, não havia trânsito e eu devia seguir mais ou menos a 100 quilómetros.
Ao aproximar-me do entroncamento das Devesas começo a comutar médios e máximos com os óptimos faróis do Renault porque me apercebo da aproximação das luzes de um carro para entrar na autoestrada, mas apesar de ter feito vários sinais de luzes o tipo, um Lancia Dedra, entra directo na auto-estrada à minha frente até porque não tinha faixa de aceleração e pior ao perceber que se tinha metido à minha frente em vez de acelerar trava. Foi o pânico, mando a pata ao travão mas o Renault parecia surfar em manteiga, não havia maneira como evitar o estoiro na traseira do Dedra. No último segundo dou uma guinada para a esquerda atirando-me literalmente para o separador central não para evitar o embate mas para tentar amortecer a pancada. Ouço uma pancada continuo a travar a fundo e… passo entre o separador e o Lancia sem lhe bater.
Acabo por parar e atravessar o R5 uns metros adiante do Dedra, saio para ver os estragos e, milagre, o carro não tinha nada.
Na realidade como circulava já muito próximo do separador central, aqueles perfis de cimento com uma base mais larga, a roda foi contra a base do separador, daí o barulho que ouvi, o carro entrou numa espécie de carril e passou pelo buraco da agulha entre o separador central e o Dedra.
Chovia, o Renault não apresentava estragos visíveis, o condutor do Dedra pedia desculpa por se ter metido à minha frente e eu estava agradecido aos Deuses.
Berrei qualquer coisa para o condutor do Dedra do tipo abre os olhos e aprende a conduzir, meti-me no carro e adeus que o dia, ou a noite, já estava ganho.
Até hoje não consigo compreender como consegui passar entre o Dedra e o separador sem bater em nada, só pode ter sido milagre…
Por esta época tive também a oportunidade de pôr as mãos num R19 dum primo e fui pelo menos três vezes a Cascais neste carro.
Na primeira viagem saí do Porto bem cedo para conseguir estar às 09.00 horas em Cascais.
A autoestrada ainda não ligava o Porto a Lisboa, acabava a Norte de Coimbra e só voltava a aparecer perto de Santarém.
Éramos quatro adultos a bordo o que fazia alguma diferença. Na autoestrada ia-se aguentando entre os 140 e os 160, mas quando chegamos à EN1 era difícil manter o ritmo. Lembro-me de por várias vezes ter esgotado a 3ª e 4ª espremendo o motorzinho 1400 cc, e os três passageiros, no caso, três passageiras ficavam tão caladinhas que não se ouvia um pio dentro do carro, mas lá acabamos por conseguir chegar ao destino ainda não era 09.00.
A última viagem que fiz com esse R19 foi de Cascais para o Porto.
Trazia comigo uns documentos que tinham de dar entrada no Palácio da Justiça do Porto impreterivelmente até às cinco da tarde.
Devo ter saído de Cascais por volta da uma da tarde e dessa vez seguia sozinho.
Mais uma vez o R19 teve que dar tudo o que tinha, primeiro na via Norte-Sul para chegar à A1, depois na A1 sempre com o prego em baixo, na EN1 a espremer sempre que necessário as 3ªs e 4ªs nas ultrapassagens e novamente na A1 a partir de Coimbra (Condeixa?).
Apesar da pressinha com que vim andando atravessei a Ponte da Arrábida já passava das quatro e meia, saí para o Campo Alegre e logo apanhei filas que não andavam.
Comecei a olhar para o relógio e a ficar cada vez mais ansioso. Quando consegui entrar em Campo Alegre faltariam cerca de dez minutos para as cinco e o trânsito mantinha-se caótico.
Lembrei-me então, o Palácio da Justiça fica ao lado do Hospital de Santo António e portanto posso simular que levo um doente para o hospital.
Ligo luzes, piscas e começo a buzinar como se fosse uma emergência, os carros começaram a dar-me passagem, e lá vou eu como se seguisse numa ambulância, com direito a passar semáforos vermelhos e tudo.
Quando chego junto do museu Soares dos Reis desligo as luzes, os piscas, deixo de buzinar, contorno o Hospital de Santo António, arranjo um buraco para estacionar, entro disparado no Palácio da Justiça e consigo entregar os documentos no toque do gongo.
Quando finalmente entreguei os documentos respirei fundo.
Tremiam-me as pernas e ainda demorei um bom bocado a descomprimir.
E prontos, Renaults só me voltaram a aparecer ao caminho no século XXI, mas destes já não reza a história.

JP
 
OP
OP
JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

Raio de Sol
Premium
Portalista
O espírito tuga
Numa ocasião, por volta das duas da manhã, voltava para o Porto vindo de Ermesinde e a descer para o cruzamento da Areosa pus o Sunbeam, o FP, em ponto morto para poupar gota. Já a chegar ao do cruzamento da Areosa o carro foi abaixo e não tive tempo de engrenar uma velocidade para voltar a por o carro a funcionar, acabando por parar já com o focinho do carro metido no cruzamento.
Comecei a dar ao motor de arranque mas o Sunbeam, contrariamente ao que era e é costume, não pegava.
Na esquina existia, não sei se ainda existe, um banco com um polícia que achou suspeito um puto novo estar ali àquela hora a tentar sem êxito pôr o carro a trabalhar. Atravessa então apressadamente a rua e começa a perguntar de quem era o carro dando claramente a entender que se eu não desse a resposta certa ou não tivesse a atitude certa o próximo passo era sacar da arma para apanhar o meliante que tinha gamado o carro.
Comecei logo a responder ao agente para ter calma, explicando de imediato que o carro era do meu avô que se chamava fulano de tal e que tinha documentos de tudo.
O polícia lá se acalmou, mostrei-lhe os documentos pessoais e os do carro e então a atitude então do polícia mudou completamente.
Primeiro ajudou-me a empurrar o carro para o tirar do meio da rua, depois chamou a patrulha pelo rádio e passados pouco minutos apareceu um carro da polícia com dois agentes. Disseram-me para abrir o capot, um deles começou a mexer no motor não sei bem a fazer o quê, a dada altura disse-me para dar ao motor de arranque e o carro pegou lindamente.
- Obrigadinho Sr.s agentes, se não fosse a ajuda provavelmente ia ter que deixar aqui o carro encostado até amanhã, boas noites…
- Boa noite chefe, vá lá embora que desta está safo…
Digam lá que não há polícias porreiros.
Numa outra ocasião voltava de Espinho para o Porto com o mesmo Sunbeam, também por volta das duas da manhã e resolvi parar na estação de serviço da Galp de Miramar/Francelos para acrescentar água no radiador.
Com convém deixei o motor a trabalhar, abri o capot e lá acrescentei um bocado de água ao bicho não fosse dar-lhe a secura, até porque era Verão, estava calor e eu tinha a mania de apertar com os cavalos.
Quando volto para o carro verifico que a porta se tinha trancado e todas as portas estavam trancadas.
Na realidade o fecho da porta do condutor estava com folga e ao bater a porta o fecho correu e trancou a porta.
E agora, o que faço?
Os telemóveis não tinham ainda chegado à terra e a ideia de me afastar do carro deixando-o a trabalhar de luzes acesas e tudo assustava-me, corria alto risco de me gamarem o carro.
Estava eu a matutar de como havia de sair daquele aperto e vejo uma autocaravana a parar. Hum… autocaravana, espírito campista, gaijo porreiro… vou-lhe perguntar se por acaso não terá um arame ou alguma coisa que me possa ajudar.
Bingo… o gaijo era mesmo porreiro, foi logo buscar um arame fino que trazia na autocaravana e lá foi ele tentar pescar o trinco do Sunbeam. Ao fim de alguns pacientes minutos, click, conseguiu destrancar-me o carro.
Os tugas são mesmo porreiros nestas coisas, o bom camarada ainda me deu o arame e prendeu-o a um suporte do tubo de escape para que se voltasse a acontecer a mesma coisa eu tivesse maneira de me desenrascar sozinho.
Esta coisa de ajudar pessoal enrascado deve mesmo ser uma característica nossa.
Anos mais tarde seguia da Figueira para o Porto e parei numa área de serviço da autoroute pra botar gasoil.
Depois de atestar e pagar estava a voltar para o carro e uma respeitável senhora, com ar de ter bem mais de 60 anos, dirige-se-me a perguntar, em inglês, se não a poderia ajudar a pôr o carro a trabalhar porque o meu carro era da mesma marca que o dela, um Peugeot.
Era um 305 aparentemente novo e de matrícula espanhola pelo que logo deduzi que o carro devia ser alugado e a velhota devia ser naba.
Lá vou eu para o 305 dar ao motor de arranque mas de facto o carro não estava para aí virado. Entretanto a senhora, que afinal era americana, foi-me explicando que tinham alugado o carro em Espanha e seguido viagem para Portugal sem qualquer problema. Tinham parado ali para meter gasolina e depois o carro recusou-se a pegar.
Recusava-se a pegar com a respeitável americana e comigo também.
Para grandes males grandes remédios, se o carro tinha vindo até ali sem se queixar de nada não devia ter grande avaria, portanto à que arregimentar tropas e tentar que o carro pegue de empurrão.
Mas o 305 estava mesmo casmurro, empurra para a frente empurra para trás e nada, o gaijo não pegava de maneira nenhuma.
Depois de várias tentativas acabei por desistir de tentar pôr o carro a trabalhar e disse respeitável senhora para chamar a assistência, o que seria fácil pois estávamos numa área de serviço da autoestrada.
Faço menção de me vir embora e a respeitável senhora pede-me para esperar um pouco. Vai à mala do carro e tira uma garrafa de vinho, ou algo parecido, para me dar em sinal de agradecimento.
Eu claro que não aceite até porque nem sequer tinha conseguido resolver-lhe o problema, mas a americana achava que eu tinha sido muito prestável e queria-me agradecer daquela forma.
Lá acabei por lhe explicar que não tinha feito nada de especial e que não se justificava tal gentileza.
A americana ficou com um ar espantado e fartou-se de me agradecer.
Tenho a impressão que nesse dia dei uma boa ajuda ao turismo nacional, a americana deve ter ido contar aos gringos que Portugal além do sol tinham uns tipos porreiríssimos, os portugueses.

JP
 
Topo