Sunbeam Sunbeam Avenger 1972 - O Meu Sunbeam

Diários de Bordo

Sunbeam Sunbeam Avenger 1972 - O Meu Sunbeam

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JP Vasconcelos

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Tou a pensar tirar a carta, já vai sendo tempo de passar a conduzir legalmente mas é necessário mais um tempinho para conseguir contar como foi... num 127 a gasolina verde e amarelo na cidade azul e branca. Não a carta não me saiu na farinha amparo e não, nunca conduzi um Marina 1500 Diesel Perkins, nem mesmo para ter aulas de condução.
E já agora, acho o máximo ter, agora, um Marina, mas os meus SUNBEAMS, apesarem se serem British e contemporâneos, não têm nada que ver com esses Morris.
Portanto,se não for pedir muito, pedia para não confundirem o Sunbeam com o Marina e não dizerem que o meu Sunbeam é parecido com o Marina, é que fico um bocadinho aborrecido, só um bocadinho.

Obrigado
JP
 
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7 Vidas
Fui vasculhar o baú e descobri mais postais com carros do tempo em que ainda não lhes punha as unhas, portanto muito tempo antes de tirar a carta.As maiores aflições de que me lembro com automóveis aconteceram quando ainda eu corria as ruas e caminhos lá da terra de bicicleta e nem me passava pela cabeça conduzir automóvel.
Assim de imediato lembro-me de um NSU Prize 500, bicilindrico, de um Mazda (318?) … e se puxar pela memória lembro-me de mais alguns.
Mas hoje vou contar como gastei uma das 7 vidas num Datsun 1200, claro.
A partir dos 10 anos quis o destino que começasse a acompanhar e ter amigos mais velhos 3, 4 e mais anos, o que na altura fazia toda a diferença. Aliás ainda hoje faz porque ainda que já não se note a diferença tenho sempre a vantagem de seguir uns anitos atrás dos meus velhos amigos.
O facto de ter um tio mais velho apenas uns 5 anos também ajudou.
Num tempo em que toda a gente era irresponsável e eu era um puto de 13 ou 14 anos fui a Viseu com esse meu tio e dois amigos dele ver uma corrida de POP CROSS. Lembram-se?
Curti à brava a corrida, que aliás foi a primeira corrida de carros que vi.
Na viagem de regresso, quando pensava eu que já tinha tido um dia cheio de emoções e histórias para contar aos meus amigos mais novos, eis que, na EN 2, algures nas rectas junto às Termas do Carvalhal, quando seguíamos animadamente a uma velocidade entre os 100 e 120, que a malta mesmo nas calmas não tinha pachorra para caracol, aproximam-se vertiginosamente umas luzes que passam por nós na mecha e … espanto, as luzes que nos ultrapassaram sem cerimónias eram de um Austin Mini que devia ir a voar colado nos 140 km/h.
Imediatamente todos que seguiam dentro do Datsun, salvo eu claro, deliberaram que não podiam permitir tal desaforo.
Vai daí o acelerador afunda e o Datsun acelera desenfreadamente lá para os 160 Km/h aproveitando as longas rectas.
O Mini não tem hipóteses, com a mesma facilidade que tinha passado por nós quando seguíamos distraídos, passamos nós pelo Mini que para mais de 140 já não tinha alma.
O pior estava para vir.
Logo a seguir começaram as curvas a descer para a ponte do rio Paiva e aí o Mini grudou-se-nos na traseira e não havia maneira de largar o osso.
Pior ainda, todos sabíamos que se aproximava vertiginosamente uma curva em cotovelo à esquerda com mais de 90º.
Aquilo era, penso que ainda é, uma curva para homens com pelo na benta e pouco tino na cabeça.
Antes uns 100 metros de chegar à fatídica curva eu, que nem tão pouco ainda era homem, já ia todo esticado a travar e à espera do pior. Penso que cheguei mesmo a pensar como a notícia seria dada às nossas famílias… morreram todos, mataram-se.
E a porra do Mini que parecia querer empurrar o 1200.
Não sei a que velocidade entramos na curva, calculo que imediatamente antes da cuva tivesse entrado uma 2ª para aí a 80 km.s/h. Começamos a chiar furiosamente, fiquei à espera do momento em que nos íamos despistar, capotar e morrer.
Sem que haja explicação, eu pelo menos não compreendi, conseguimos sair da curva dentro da estrada continuando o mini engatado, literalmente, em nós.
Dali até à ponte sobre o Paiva o 1200 andou mais empandeirado do que a direito, pois as curvas, ainda que menos terríficas, sucediam-se.
Não faço ideia como é que conseguimos entrar na ponte por uma curva apertada à direita, mas entramos e atravessamos a ponte.
Começamos a subir para Castro Daire e tive esperança. A subir o 1200 ia levar a melhor sobre o Mini.
Qual quê, o raio do Mini parecia que tinha cola, não desgrudava.
Por ali acima as 2ªs e 3ª a fundo sucederam-se e já a chegar ao entroncamento na curva à esquerda que agora, penso, dá acesso à auto-estrada, tínhamos conseguido ganhar meia dúzia de metros ao Mini, o que para mim era já um pequeno alívio.
Mas o raça do Mini era esperto como o alho, na realidade deixou-nos ganhar meia dúzia de metros para logo a seguir nos comer de cebolada.
O entroncamento então como ainda agora penso que é, tinha um lancil como separador central da longa curva à esquerda e o Mini não foi intrigas, tomou a esquerda do lancil, fora de mão portanto, e sem espigas ultrapassou-nos e ganhou-nos uns bons vinte ou trinta metros.
Voltamos à guerra, agora com o Mini na dianteira e conseguimos colar nos calcanhares do inimigo, mas entretanto entramos em Castro Daire e como bons guerreiros reconhecemos e derrota, a corrida acabou, respirei fundo e a rotação, do meu coração, foi abrandando.
O Mini parou junto às bombas e fomos todos, nós e o doido do Mini confraternizar no café. Todos reconhecemos, o gaijo era mesmo bom.
O guerreiro do Mini explicou então a tática: nas curvas a traseira do Mini seguia por onde lhe aprouvesse mas a frente não desgrudava da trajectória.
De facto tinha sido assim, na grande recta tínhamos facilmente comido o Mini, mas quando vieram as curvas, apesar do nosso piloto ser talentoso e conhecer bem os limites do 1200, não havia hipótese, o Mini parecia que tinha a frente metida num carril e o limite de velocidade, parecia, ser apenas o limite de velocidade do próprio carro.
E pronto, sempre fiquei com a sensação que nesse dia gastei uma vida.
De então para cá já gastei mais algumas e por isso tendo cada vez mais tino, salvo uma ou outra distração.
Se tiver fôlego e coração hei-de contar como gastei mais duas ou três vidas antes ainda de tirar a carta.
Moral da história, se não quiserem desperdiçar vidas e quiserem continuar a contar histórias sigam o conselho de um companheiro aqui das lides, never drive faster than your guardian angel.
Naquela noite o nosso anjo da guarda estava atento, conseguiu também acelerar até aos 160 e fazer as curvas connosco.
Boa noite
JP
 
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Moises Trovisqueira

MTrovisqueiraF
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curioso quando cheguei a morreram todos, mataram-se jà não continha as lagrimas de rir Ha Ha Ha estou a espera pelos proximos capitulos afinal as tuas historias são parecidas com as minhas mas eu não as sei contar.
 
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Melody Fair

(versão revista e diminuida)



Hoje deu-me para isto, queria mesmo contar mais uma história de carros, mas só me lembrava de músicas e filmes.
Melody Fair é um filme de 1971 com música dos Bee Gees e traz-me á memória as primeiras arritmias amorosas.
E carros?
Ok. Por alturas deste Melody Fair o puto de Cinfães, por capricho das encruzilhadas da vida, ia a Lisboa pelo menos umas duas vezes por mês.
Na Sexta apanhava a camioneta para o Porto. No Sábado, bem cedo, seguia com a minha avó e o meu irmão para Lisboa de comboio.
No Domingo regressava à base pelo mesmo caminho de comboio e camioneta, mas não vou começar a contar histórias de comboios e camionetas que não é para isso que aqui andamos.
Da última vez contei a história da louca corrida do 1200 com o mini.
Hoje a coisa passa-se mais devagar, mas também foi uma emoção.
De quando em vez a viagem para Lisboa fazia-se de carro e pelo menos duas dessas viagens ficaram-me gravadas na memória.
Como alguns se recordarão o primeiro choque petrolífero ocorreu no início dos anos 70.
Frequentemente a gasolina esgotava-se nos postos da SACOR e da SONAP e formavam-se filas enormes de automóveis que iam avançando empurrados à mão.
Ao fim de semana não se vendia gasolina pelo que uma viagem de carro de ida e volta a Lisboa era uma aventura.
Assim em plena crise petrolífera fizemos uma viagem de ida e volta no Simca 1100 da minha tia.
O carro era praticamente novo e o que mais lembro é que passava a vida engasgado no tráfego do Porto, mas na EN 1 o Simca corria com desenvoltura e conforto.
Na saída do Porto a auto-estrada atravessava a majestosa ponte da Arrábida e acabava junto à UTIC e só voltava a aparecer depois de Alverca.
A viagem, a dar gás, era coisa para mais de 4 horas, pois os 300 km.s davam direito, por exemplo, a atravessar a ponte de Santa Clara em Coimbra ou a atravessar o centro de São João da Madeira com passagem pelo mosteiro da Batalha e pela Venda das Raparigas entre tantas outras terras e terrinhas.
Mas havia o problema da gasolina.
Como não havia gasosa à venda na viagem de volta, Domingo de manhã, a estrada estava praticamente deserta e a minha tia, uma das Micheles Moutons da família, aproveitava para dar gás e não raramente o Simca amandava-se bem para lá dos 120.
Só que o depósito não dava para fazer os 600 km.s de ida e volta e mais as voltas de Linda-a-Velha, Caxias e Paço de Arcos.
Por isso o Simca seguia com dois ou três bidons de gasolina de contrabando na mala.
Se a PVT nos mandava parar e lhes cheirava a gasolina na mala estávamos fritos, mas era preciso arriscar.
Assim lá fizemos nós a viagem com 20 litros de gasolina escondida na mala.
Na viagem de regresso, numa recta por alturas de Pombal, certificamo-nos de que não circulavam carros nem atrás nem em sentido contrário e desviamo-nos para dentro de um pinhal.
Depois de confirmarmos que não havia vivalma a mirar, sacamos os bidons e demos de beber aos cavalos do Simca que já estavam com sede.
Depois foi só seguir pela EN 1, atravessar a ponte de Santa Clara em Coimbra passar São João da Madeira, reencontrar a auto-estrada em Gaia, acelerar para os 140, atravessar a ponte da Arrábida e sair logo a seguir.
A Michele Mouton de serviço demorou menos de 4 horas a chegar ao Porto, com intervalo para dar de beber aos cavalos, e a tempo do almoço.
Depois do almoço ainda deu para tomar um café, enfim eu só fazia companhia, no Capa Negra, que por essa altura rivalizava com a Cervejaria Galiza, a que foi demolida pois a que agora existe na Rua de Campo Alegre ainda não tinha nascido.
Nessa época lembro-me de outra viagem um pouco mais dramática.
No regresso de Lisboa ao Porto viemos de boleia com uma pessoa amiga no seu elegante Peugeot 204.
Saímos por volta das cinco, era inverno, chovia e rapidamente anoiteceu.
Os primeiros 100 Km.s rolaram tranquilamente até que, trraaacc, o para-brisas estilhaçou, teve cancro fulminante.
Ups, EN 1, de noite, com movimento, chuva e o para-brisas todo estilhaçado era um pesadelo.
À falta de alternativa a solução foi seguir viagem, ao princípio com o condutor e o pendura com a cabeça de fora, mas a dada altura a solução foi mais radical, com um murro no vidro abriu-se uma escotilha e assim seguimos até Coimbra com a escotilha a ficar cada vez maior à medida que os vidros iam caindo.
A aragem também foi aumentando à medida que o buraco no vidro ia ficando cada vez maior.
Chegados, finalmente, a Coimbra a solução foi deixar o carro numa garagem para depois ser reparado e negociar uma corrida de táxi para o Porto, que o amigo que nos deu boleia não era nenhum bota-de-elástico.
Lá apanhamos nós um velho MB 200 D. O taxista não devia estar habituado a longas viagens e começou a tremer-lhe a perna.
Foi um martírio arrastar o MB 200 D com a perna do homem a tremer até ao Porto, deve ter demorado mais de 3 horas e foi mais penoso do que chegar a Coimbra com o para-brisas partido.
A viagem de Lisboa ao Porto deve ter demorado mais 8 horas, chegamos de madrugada e ainda hoje não sei como o homem voltou a Coimbra. O estado em que chegou ao Porto não augurava nada de bom para a viagem de regresso.
Old memories, coisas de gente com muitas horas de voo a acusar fadiga de material.
Para a próxima pode ser que corra melhor… ou mais depressa






Desculpe lá amigo Marco de Alcains…

Polícia de Viação e Trânsito



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prontos, assim ficou um bocadito menos mauzito, ò menos dá para ver o clip do tempo em que eramos imberbes, acreditávamos no Pai Natal e tínhamos esperança de comer a coelhinha quando íamos ao circo (?)
 
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Fui vasculhar o baú e descobri mais postais com carros do tempo em que ainda não lhes punha as unhas, portanto muito tempo antes de tirar a carta.As maiores aflições de que me lembro com automóveis aconteceram quando ainda eu corria as ruas e caminhos lá da terra de bicicleta e nem me passava pela cabeça conduzir automóvel.
Assim de imediato lembro-me de um NSU Prize 500, bicilindrico, de um Mazda (318?) … e se puxar pela memória lembro-me de mais alguns.
Mas hoje vou contar como gastei uma das 7 vidas num Datsun 1200, claro.
A partir dos 10 anos quis o destino que começasse a acompanhar e ter amigos mais velhos 3, 4 e mais anos, o que na altura fazia toda a diferença. Aliás ainda hoje faz porque ainda que já não se note a diferença tenho sempre a vantagem de seguir uns anitos atrás dos meus velhos amigos.
O facto de ter um tio mais velho apenas uns 5 anos também ajudou.
Num tempo em que toda a gente era irresponsável e eu era um puto de 13 ou 14 anos fui a Viseu com esse meu tio e dois amigos dele ver uma corrida de POP CROSS. Lembram-se?
Curti à brava a corrida, que aliás foi a primeira corrida de carros que vi.
Na viagem de regresso, quando pensava eu que já tinha tido um dia cheio de emoções e histórias para contar aos meus amigos mais novos, eis que, na EN 2, algures nas rectas junto às Termas do Carvalhal, quando seguíamos animadamente a uma velocidade entre os 100 e 120, que a malta mesmo nas calmas não tinha pachorra para caracol, aproximam-se vertiginosamente umas luzes que passam por nós na mecha e … espanto, as luzes que nos ultrapassaram sem cerimónias eram de um Austin Mini que devia ir a voar colado nos 140 km/h.
Imediatamente todos que seguiam dentro do Datsun, salvo eu claro, deliberaram que não podiam permitir tal desaforo.
Vai daí o acelerador afunda e o Datsun acelera desenfreadamente lá para os 160 Km/h aproveitando as longas rectas.
O Mini não tem hipóteses, com a mesma facilidade que tinha passado por nós quando seguíamos distraídos, passamos nós pelo Mini que para mais de 140 já não tinha alma.
O pior estava para vir.
Logo a seguir começaram as curvas a descer para a ponte do rio Paiva e aí o Mini grudou-se-nos na traseira e não havia maneira de largar o osso.
Pior ainda, todos sabíamos que se aproximava vertiginosamente uma curva em cotovelo à esquerda com mais de 90º.
Aquilo era, penso que ainda é, uma curva para homens com pelo na benta e pouco tino na cabeça.
Antes uns 100 metros de chegar à fatídica curva eu, que nem tão pouco ainda era homem, já ia todo esticado a travar e à espera do pior. Penso que cheguei mesmo a pensar como a notícia seria dada às nossas famílias… morreram todos, mataram-se.
E a porra do Mini que parecia querer empurrar o 1200.
Não sei a que velocidade entramos na curva, calculo que imediatamente antes da cuva tivesse entrado uma 2ª para aí a 80 km.s/h. Começamos a chiar furiosamente, fiquei à espera do momento em que nos íamos despistar, capotar e morrer.
Sem que haja explicação, eu pelo menos não compreendi, conseguimos sair da curva dentro da estrada continuando o mini engatado, literalmente, em nós.
Dali até à ponte sobre o Paiva o 1200 andou mais empandeirado do que a direito, pois as curvas, ainda que menos terríficas, sucediam-se.
Não faço ideia como é que conseguimos entrar na ponte por uma curva apertada à direita, mas entramos e atravessamos a ponte.
Começamos a subir para Castro Daire e tive esperança. A subir o 1200 ia levar a melhor sobre o Mini.
Qual quê, o raio do Mini parecia que tinha cola, não desgrudava.
Por ali acima as 2ªs e 3ª a fundo sucederam-se e já a chegar ao entroncamento na curva à esquerda que agora, penso, dá acesso à auto-estrada, tínhamos conseguido ganhar meia dúzia de metros ao Mini, o que para mim era já um pequeno alívio.
Mas o raça do Mini era esperto como o alho, na realidade deixou-nos ganhar meia dúzia de metros para logo a seguir nos comer de cebolada.
O entroncamento então como ainda agora penso que é, tinha um lancil como separador central da longa curva à esquerda e o Mini não foi intrigas, tomou a esquerda do lancil, fora de mão portanto, e sem espigas ultrapassou-nos e ganhou-nos uns bons vinte ou trinta metros.
Voltamos à guerra, agora com o Mini na dianteira e conseguimos colar nos calcanhares do inimigo, mas entretanto entramos em Castro Daire e como bons guerreiros reconhecemos e derrota, a corrida acabou, respirei fundo e a rotação, do meu coração, foi abrandando.
O Mini parou junto às bombas e fomos todos, nós e o doido do Mini confraternizar no café. Todos reconhecemos, o gaijo era mesmo bom.
O guerreiro do Mini explicou então a tática: nas curvas a traseira do Mini seguia por onde lhe aprouvesse mas a frente não desgrudava da trajectória.
De facto tinha sido assim, na grande recta tínhamos facilmente comido o Mini, mas quando vieram as curvas, apesar do nosso piloto ser talentoso e conhecer bem os limites do 1200, não havia hipótese, o Mini parecia que tinha a frente metida num carril e o limite de velocidade, parecia, ser apenas o limite de velocidade do próprio carro.
E pronto, sempre fiquei com a sensação que nesse dia gastei uma vida.
De então para cá já gastei mais algumas e por isso tendo cada vez mais tino, salvo uma ou outra distração.
Se tiver fôlego e coração hei-de contar como gastei mais duas ou três vidas antes ainda de tirar a carta.
Moral da história, se não quiserem desperdiçar vidas e quiserem continuar a contar histórias sigam o conselho de um companheiro aqui das lides, never drive faster than your guardian angel.
Naquela noite o nosso anjo da guarda estava atento, conseguiu também acelerar até aos 160 e fazer as curvas connosco.
Boa noite
JP
Grandes malucos :eek: :eek:
 
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Tou a pensar tirar a carta, já vai sendo tempo de passar a conduzir legalmente mas é necessário mais um tempinho para conseguir contar como foi... num 127 a gasolina verde e amarelo na cidade azul e branca. Não a carta não me saiu na farinha amparo e não, nunca conduzi um Marina 1500 Diesel Perkins, nem mesmo para ter aulas de condução.
E já agora, acho o máximo ter, agora, um Marina, mas os meus SUNBEAMS, apesarem se serem British e contemporâneos, não têm nada que ver com esses Morris.
Portanto,se não for pedir muito, pedia para não confundirem o Sunbeam com o Marina e não dizerem que o meu Sunbeam é parecido com o Marina, é que fico um bocadinho aborrecido, só um bocadinho.

Obrigado
JP

Chegou a altura de tirar a carta.
Em 89 do século passado, quando era já um maduro de 19 anos, os Deuses reuniram-se no Olimpo e decidiram: vamos lá convencer a família a deixar o moço tirar a carta, se não o desgraçado entra numa crise de autoconfiança de consequências desastrosas.
Em 89, como quase todos eram mais velhos 3 ou 4 anos, os meus amigos já tinham tirado a carta de condução e alguns já orientavam o carro do velhote há bastante tempo. Só eu, o benjamim, é que me mantinha apenas habilitado a conduzir bicicletas e ciclomotores na via pública.
Aliás, aos 15 anos saí de Cinfães e fui viver para a tal casa dos meus avós que tinha a tal rampa de paralelos onde fui desenvolvendo a técnica de arrancar musgo com o Sunbeam, o tal que era suposto constar a história até chegar ao hoje mas que ao ritmo que a coisa vai só lá chegaremos quando o carro tiver mais de 50 anos.
O problema é que a tal casa ficava a 16 km.s da terrinha, não havia caminetes e ficar na beira da estrada a pedir boleia podia demorar tanto tempo quanto o necessário para pescar um espadarte na praia, uma seca.
Ir até à vila de bicicleta estava fora de questão. A máquina velocipédica que tinha estava equipada, de origem, com uma única velocidade tanto para subir como para descer e não havia pernas que aguentassem o prémio de montanha que era necessário vencer para chegar ao destino.
Felizmente que o meu tio primeiro teve uma Mobilete e depois uma Boss de 2 e não raro emprestava-mas para poder ir ter com a minha malta.
Aliás nunca mais recuperei dessa época, fiquei com frio até hoje e nem percebo como conseguia andar de motorizada nos dias mais frios.
Principalmente na Boss lembro-me de ir a Cinfães no Inverno e sentir o frio a entrar pelas mangas do Kispo.
A coisa ficava mais dramática se levava pendura, havia subidas que tinha de seguir em primeira a passo de caracol e nessa altura tinha tempo para pensar em tudo, principalmente no barbeiro que estava a apanhar.
A coisa na Bosse a subir ficava tão monótona que um dia no regresso a casa, por volta das 06.00 da manhã, senti o pendura a bater-me com o capacete nas costas… tinha adormecido.
Mas onde é que ia? Ah pois a cena de tirar a carta.
Então com 19 anos fui tirar a carta e fui criterioso na escolha da escola. Fui tirar a carta na escola de condução França (ainda existe?) porque era a única, numa época em que abundavam Marinas e Ritmos Diesel, que tinha carros a gasolina.
Calhou-me em sorte um 127.
Na primeira aula meti-me no carro e o instrutor perguntou-me se sabia conduzir. Claro que sabia, ui, ui, só nunca tinha conduzido em ruas com outros carros mas isso era um pormenor (ou pormaior?).
Breve explicação sobre a forma de engrenar das velocidades, motor de arranque, primeira engatada, aliviar a embraiagem com o pé a tremer, só um bocadinho, descer o passeio e arrancar em plena Rua Fernandes Tomás, na inbicta.
Depois foi só dar gás, enfim sem passar dos 40.
Não me lembro já do trajecto dessa primeira aula, mas sei que a dada altura fomos para a Circunvalação e entre Campanhã e Areosa, numa zona que só tinha uma faixa de rodagem para cada lado, aparece-me uma carroça qualquer a marcar passo, pelo que não fui de intrigas, pisca da esquerda, 2ª e à que ultrapassar. O instrutor, que nessa época já só tinha pedais, não estava à espera de tanta desenvoltura e ficou verde como a cor do carro, receoso que a fosse estragar, a cor do carro, logo na primeira aula.
Mas não, a minha primeira ultrapassagem foi uma limpeza e verdade verdadinha tomei-lhe o gosto e ainda hoje tenho dificuldade em andar atrás de carroças ou carrões a marcar passo.
Depois foi só cumprir o calendário das lições, controlar a embraiagem no arranque do 127 e aprender a não deixar a traseira do Fiat agarrada a um qualquer obstáculo nos cruzamentos mais apertados à direita. Nada que não tivesse apendido a controlar após duas ou três travadelas de emergência do instrutor, apesar de eu sempre argumentar que a traseira passava, mas pensando bem o homem devia ter razão.
Ainda hoje contorno os obstáculos da direita com um olho no burro e outro no cigano, que é como quem diz, a olhar para a frente e para o retrovisor direito.
Um dia, após ter feito o código com distinção, chegou o grande dia, o dia do exame de condução.
Lá fomos para a Foz, eu o instrutor e o 127.
Depois de um ou dois cigarros veio o Sr. Eng.º. Entrar no carro colocar o cinto, ajustar os retrovisores, dar ao motor de arranque, engrenar a 1ª e arrancar o mais suavemente possível que o momento era solene.
Ao fim de 500 metros, naquela zona em que a marginal de divide em duas com casas pelo meio antes de entrar na Avenida do Brasil há um camelo que não respeita um STOP e mete-se à minha frente. Primeira travadela, quase, de emergência. Logo a seguir, mais ou menos em frente do Homem do leme, vejo ao longe um camelo, outro, estacionado em segunda fila.
Mico o retrovisor esquerdo e não vem ninguém, abro o pisca da esquerda e começo a fazer uma suave oblíqua para contornar o dito camelo. Quando já estava muito perto e quase a ocupar totalmente a via da esquerda para ultrapassar o carro parado em segunda fila cai do céu um terceiro camelo a ultrapassar-me. Só tive tempo de travar à bruta para evitar aquilo que avaliei, talvez não fosse o caso, como um acidente eminente.
O Sr. Eng.º já não tinha gostado da primeira travagem, desta então não gostou nada e pôs-se a argumentar que eu não tinha tomado as precauções necessária, blá, blá, blá.
Não me deixei intimidar, expliquei a minha versão e seguimos.
Logo a seguir viramos para as ruas interiores da Foz Velha e a dada altura outro camelo, o examinador, manda-me virar numa rua à esquerda quando já estava a entrar no cruzamento.
Olha-me este a querer lixar-me, estava a meter-me a casca de banana para eu virar à esquerda sem as devidas precauções e sem fazer a perpendicular da praxe.
Não fui de intrigas, parei e fiquei a olhar para o homem, que não teve outro remédio se não pedir desculpa por ter dito para virar à esquerda tão tarde.
Depois lá estacionei o 127 de marcha à ré numa rua íngreme ali para os lados da Católica, fiz uma manobra de inversão de marcha sem reparos e sem história, e voltamos ao ponto de partida.
Chegamos, puxei o travão de mão, desliguei o motor e engrenei uma velocidade como manda a sapatilha.
O Sr. Eng.º saiu do caro sem dizer nada e dirigiu-se ao velho autocarro de dois andares que funcionava como apoio aos examinadores.
Fiquei à espera junto do meu instrutor a contar-lhe as aventuras.
Passado um pouco o homem sai, nada diz e entra noutro carro de instrução para fazer mais um exame.
Aí o meu instrutor começa a questionar-me sobre o que tinha andado a fazer, pois não achava aquilo normal.
Passado mais ou menos um quarto de hora o homem regressou e voltou para o autocarro sem dar cavaco.
Passados mais uns longos 5 minutos o Sr. Eng.º dignou-se a aparecer, trazia uma guia verde na mão, era a guia provisória que atestava que eu passara a ser encartado.
Lá voltamos à sede da escola, em Fernandes Tomás, e o instrutor disse-me então que quando o examinador voltou após o segundo exame de condução foi-lhe perguntar o que se passava e o homem limitou-se a olhar para ele. Ou estaria à espera de batatinhas? O meu instrutor achou então por bem afiançar-lhe: olhe que este é dos que sabe conduzir.
O meu instrutor tinha razão, eu sabia conduzir e ainda hoje sei[font='Times New Roman''][1][/font], aliás hoje sei muito mais do que por essa época sonhava.
E prontos foi assim, brevemente tenho que ir renovar a carta, não me posso esquecer.
Boa noite e bons sonhos (para mim que já devia estar a dormir)



[font='Times New Roman''][1][/font] Maias um cometimento de modéstia.
 
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Chegou a altura de tirar a carta.
Em 89 do século passado, quando era já um maduro de 19 anos, os Deuses reuniram-se no Olimpo e decidiram: vamos lá convencer a família a deixar o moço tirar a carta, se não o desgraçado entra numa crise de autoconfiança de consequências desastrosas.
Em 89, como quase todos eram mais velhos 3 ou 4 anos, os meus amigos já tinham tirado a carta de condução e alguns já orientavam o carro do velhote há bastante tempo. Só eu, o benjamim, é que me mantinha apenas habilitado a conduzir bicicletas e ciclomotores na via pública.
Aliás, aos 15 anos saí de Cinfães e fui viver para a tal casa dos meus avós que tinha a tal rampa de paralelos onde fui desenvolvendo a técnica de arrancar musgo com o Sunbeam, o tal que era suposto constar a história até chegar ao hoje mas que ao ritmo que a coisa vai só lá chegaremos quando o carro tiver mais de 50 anos.
O problema é que a tal casa ficava a 16 km.s da terrinha, não havia caminetes e ficar na beira da estrada a pedir boleia podia demorar tanto tempo quanto o necessário para pescar um espadarte na praia, uma seca.
Ir até à vila de bicicleta estava fora de questão. A máquina velocipédica que tinha estava equipada, de origem, com uma única velocidade tanto para subir como para descer e não havia pernas que aguentassem o prémio de montanha que era necessário vencer para chegar ao destino.
Felizmente que o meu tio primeiro teve uma Mobilete e depois uma Boss de 2 e não raro emprestava-mas para poder ir ter com a minha malta.
Aliás nunca mais recuperei dessa época, fiquei com frio até hoje e nem percebo como conseguia andar de motorizada nos dias mais frios.
Principalmente na Boss lembro-me de ir a Cinfães no Inverno e sentir o frio a entrar pelas mangas do Kispo.
A coisa ficava mais dramática se levava pendura, havia subidas que tinha de seguir em primeira a passo de caracol e nessa altura tinha tempo para pensar em tudo, principalmente no barbeiro que estava a apanhar.
A coisa na Bosse a subir ficava tão monótona que um dia no regresso a casa, por volta das 06.00 da manhã, senti o pendura a bater-me com o capacete nas costas… tinha adormecido.
Mas onde é que ia? Ah pois a cena de tirar a carta.
Então com 19 anos fui tirar a carta e fui criterioso na escolha da escola. Fui tirar a carta na escola de condução França (ainda existe?) porque era a única, numa época em que abundavam Marinas e Ritmos Diesel, que tinha carros a gasolina.
Calhou-me em sorte um 127.
Na primeira aula meti-me no carro e o instrutor perguntou-me se sabia conduzir. Claro que sabia, ui, ui, só nunca tinha conduzido em ruas com outros carros mas isso era um pormenor (ou pormaior?).
Breve explicação sobre a forma de engrenar das velocidades, motor de arranque, primeira engatada, aliviar a embraiagem com o pé a tremer, só um bocadinho, descer o passeio e arrancar em plena Rua Fernandes Tomás, na inbicta.
Depois foi só dar gás, enfim sem passar dos 40.
Não me lembro já do trajecto dessa primeira aula, mas sei que a dada altura fomos para a Circunvalação e entre Campanhã e Areosa, numa zona que só tinha uma faixa de rodagem para cada lado, aparece-me uma carroça qualquer a marcar passo, pelo que não fui de intrigas, pisca da esquerda, 2ª e à que ultrapassar. O instrutor, que nessa época já só tinha pedais, não estava à espera de tanta desenvoltura e ficou verde como a cor do carro, receoso que a fosse estragar, a cor do carro, logo na primeira aula.
Mas não, a minha primeira ultrapassagem foi uma limpeza e verdade verdadinha tomei-lhe o gosto e ainda hoje tenho dificuldade em andar atrás de carroças ou carrões a marcar passo.
Depois foi só cumprir o calendário das lições, controlar a embraiagem no arranque do 127 e aprender a não deixar a traseira do Fiat agarrada a um qualquer obstáculo nos cruzamentos mais apertados à direita. Nada que não tivesse apendido a controlar após duas ou três travadelas de emergência do instrutor, apesar de eu sempre argumentar que a traseira passava, mas pensando bem o homem devia ter razão.
Ainda hoje contorno os obstáculos da direita com um olho no burro e outro no cigano, que é como quem diz, a olhar para a frente e para o retrovisor direito.
Um dia, após ter feito o código com distinção, chegou o grande dia, o dia do exame de condução.
Lá fomos para a Foz, eu o instrutor e o 127.
Depois de um ou dois cigarros veio o Sr. Eng.º. Entrar no carro colocar o cinto, ajustar os retrovisores, dar ao motor de arranque, engrenar a 1ª e arrancar o mais suavemente possível que o momento era solene.
Ao fim de 500 metros, naquela zona em que a marginal de divide em duas com casas pelo meio antes de entrar na Avenida do Brasil há um camelo que não respeita um STOP e mete-se à minha frente. Primeira travadela, quase, de emergência. Logo a seguir, mais ou menos em frente do Homem do leme, vejo ao longe um camelo, outro, estacionado em segunda fila.
Mico o retrovisor esquerdo e não vem ninguém, abro o pisca da esquerda e começo a fazer uma suave oblíqua para contornar o dito camelo. Quando já estava muito perto e quase a ocupar totalmente a via da esquerda para ultrapassar o carro parado em segunda fila cai do céu um terceiro camelo a ultrapassar-me. Só tive tempo de travar à bruta para evitar aquilo que avaliei, talvez não fosse o caso, como um acidente eminente.
O Sr. Eng.º já não tinha gostado da primeira travagem, desta então não gostou nada e pôs-se a argumentar que eu não tinha tomado as precauções necessária, blá, blá, blá.
Não me deixei intimidar, expliquei a minha versão e seguimos.
Logo a seguir viramos para as ruas interiores da Foz Velha e a dada altura outro camelo, o examinador, manda-me virar numa rua à esquerda quando já estava a entrar no cruzamento.
Olha-me este a querer lixar-me, estava a meter-me a casca de banana para eu virar à esquerda sem as devidas precauções e sem fazer a perpendicular da praxe.
Não fui de intrigas, parei e fiquei a olhar para o homem, que não teve outro remédio se não pedir desculpa por ter dito para virar à esquerda tão tarde.
Depois lá estacionei o 127 de marcha à ré numa rua íngreme ali para os lados da Católica, fiz uma manobra de inversão de marcha sem reparos e sem história, e voltamos ao ponto de partida.
Chegamos, puxei o travão de mão, desliguei o motor e engrenei uma velocidade como manda a sapatilha.
O Sr. Eng.º saiu do caro sem dizer nada e dirigiu-se ao velho autocarro de dois andares que funcionava como apoio aos examinadores.
Fiquei à espera junto do meu instrutor a contar-lhe as aventuras.
Passado um pouco o homem sai, nada diz e entra noutro carro de instrução para fazer mais um exame.
Aí o meu instrutor começa a questionar-me sobre o que tinha andado a fazer, pois não achava aquilo normal.
Passado mais ou menos um quarto de hora o homem regressou e voltou para o autocarro sem dar cavaco.
Passados mais uns longos 5 minutos o Sr. Eng.º dignou-se a aparecer, trazia uma guia verde na mão, era a guia provisória que atestava que eu passara a ser encartado.
Lá voltamos à sede da escola, em Fernandes Tomás, e o instrutor disse-me então que quando o examinador voltou após o segundo exame de condução foi-lhe perguntar o que se passava e o homem limitou-se a olhar para ele. Ou estaria à espera de batatinhas? O meu instrutor achou então por bem afiançar-lhe: olhe que este é dos que sabe conduzir.
O meu instrutor tinha razão, eu sabia conduzir e ainda hoje sei[font=Times New Roman'][1][/font], aliás hoje sei muito mais do que por essa época sonhava.
E prontos foi assim, brevemente tenho que ir renovar a carta, não me posso esquecer.
Boa noite e bons sonhos (para mim que já devia estar a dormir)



[font=Times New Roman'][1][/font] Maias um cometimento de modéstia.

correcção, onde digo 89 deve ler-se 84 e onde digo cometimento deve ler-se acometimento.
obrigados
 
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