Sunbeam Sunbeam Avenger 1972 - O Meu Sunbeam

Diários de Bordo

Sunbeam Sunbeam Avenger 1972 - O Meu Sunbeam

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JP Vasconcelos

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Austin Metro
Entre 93 e 94 sobrou-me um Austin Metro que tinha sido da minha mãe.
O carro era meu e dos meus irmãos mas na prática era eu que andava como ele.
O Metro, um 1100, como já por aí disse era um carro porreiro nos dias bons e uma dor de cabeça nos outros dias.
O carro, que por essa altura devia ter mais ou menos uns dez anos, estava num estado bastante razoável, fui nele pelo menos duas vezes à capital e fiz com ele várias viagens Porto-Figueira-Porto. O carrito desunhava-se bastante bem, na autoestrada não era difícil aguentar uma velocidade cruzeiro entre os 130 e os 140 e se fosse necessário ainda dava para esticar mais um bocadinho.
Em estradas sinuosas o Metro era curtido pois tinha uma excelente aderência e o motor respondia bem até os 80/100.
Foi aliás com este carro que descobri a forma de fazer manobras de inversão de marcha num ápice, era só puxar o travão de mão e…, enfim sabem do que estou a falar.
Histórias engraçadas…
Em 93 andei uns tempos a trabalhar para os lados de Mozelos, Santa Maria da Feira.
Uma manhã bem cedinho ia a caminho de Mozelos e na recta do Hotel Solverde em direcção a Espinho, que terá cerca de 1 km, seguia eu numa fila de automóveis a rolar razoavelmente, mais ou menos a 70/80, e começo a ver pelo retrovisor um 205, um Peugeot, a ultrapassar de enfiada a malta toda, passou por mim e ultrapassou ainda mais 2 ou 3 carros que seguiam à minha frente.
Quando passou por mim deu para perceber duas coisas, era um GTI, o que explicava o despacho com que ultrapassava toda a gente, e era conduzido por uma gaija, coisa que já não aceitei tão bem.
Então agora as gaijas já andam armadas em carapau(a)s de corrida?
Logo adiante virou à direita e depois à esquerda, isto é, seguiu o meu caminho e logo conseguir ficar quase em cima dela, da gaija que ia a conduzir.
Como a estrada dali para diante tinha bastantes curvas e rectas pequenas comecei a picar a chavala. Nas rectas o 205 ia embora, mas nas curvas mais encadeadas lá conseguia chegar-me à traseira do GTI.
Fomos nesta vida 3 ou 4 quilómetros a espremer segundas e terceiras nas curvas mais fechadas em que conseguia quase morder os calcanhares da miúda, mas como aquilo não era condução de gente civilizada e o Metro também não dava garantias de aguentar o ritmo por muito tempo acabei por levantar o pé, deixei a garota ir embora vitoriosa e segui o meu caminho calmamente rumo ao turno da manhã.
Ao final da manhã saio com um colega para almoçar e ao passar junto do parque de estacionamento do pessoal importante lá do sítio reparo num GTI.
- É pá aquele era o GTI de hoje de manhã (naquele tempo conseguia decorar matrículas e qualquer sinal particular dum carro como um simples autocolante), sabes de quem é?
- Sei pois é o carro da filha do patrão…
Ups…
Ainda bem que tinha desistido de perseguir a garota, podia estar em causa o meu futuro profissional…
Por via das dúvidas trabalhei até mais tarde para que anoitecesse e pudesse passar com o Metro em frente da empresa mais discretamente e pelo menos durante uma semana não voltei a levar o Metro para o trabalho, não fosse o diabo tecê-las.
Quando fui trabalhar na Figueira e durante alguns tempos usei o Metro para pelo menos duas vezes por semana fazer a viagem Porto-Figueira-Porto.
Quando ia por Cantanhede seguia em direcção à Tocha por uma estradinha que em alguns sítios passava pelo meio de pequenas povoações onde era frequente encontrar vacas a circular mais ou menos na berma.
Como é uma zona de produção de leite, os pequenos produtores levavam as vaquinhas pela manhã às ordenhas.
Em alguns desses locais a estrada era apertada e com curvas de quase nula visibilidade e as vaquinhas podiam aparecer a qualquer momento. Então como não se pode buzinar nas localidades e, já nesse tempo, era um, quase, escrupuloso respeitador do Código da Estrada em vez de apitar punha o Metro a roncar, coisa que o Metro fazia bem, fazendo reduções com duplas (é assim que se chama aquela cena de dar uma ou duas aceleradelas nas passagens de caixa?). Assim avisava as vaquinhas e os respectivos donos da minha eminente chegada e sempre tornava a coisa mais divertida.
Uma das coisas em que o Metro não era grande espingarda eram os travões e por isso pelo menos duas vezes fiquei gelado à espera do pior.
Uma manhã a chegar ao trabalho na Figueira, em cima da hora como convém, numa daquelas ruazinhas com cruzamentos sem visibilidade vou eu todo apressado e atravessa-se no meu caminho um camone que não respeitou o Stop.
Nesse tempo já tinha a mania de andar com os faróis acesos de dia e por isso o que melhor recordo foi ver os focos das luzes do Metro a ficar cada vez mais pequenos nas portas do carro que se atravessou à minha frente. Mais um palmo e lá tinha estragado o focinho do Metro.
Outra ocasião em que fizeram falta melhores travões foi quando arranquei, ainda não havia via verde, das portagens do Carvalhos (com v) e comecei a ultrapassar o pessoal que seguia mais devagar, mas como eram muitos e o Metro não era nenhum Porsche, as ultrapassagens foram-se sucedendo demorando algum tempo. Era noite e um artista que seguia atrás de mim começou a impacientar-se e começou a mandar-me com os máximos.
Logo que pude vim para a faixa da direita para deixar passar o apressado, mas mal ele me ultrapassou aponto o Metro para a traseira do artista e ligo os máximos. Não o devia ter feito, é que o tipo, que seguia num BM, dá uma travadela e eu vi a coisa mal parada pois os travões do Metro ficavam a anos luz dos do BM. Felizmente que o artista teve o bom senso de aliviar a travagem e ir embora, se não…
As chatices…
O problema do Metro era que tinha muitos dias maus.
Nunca tive um carro que desse tanta chatice em tão pouco tempo, aliás devo ter tido mais chatices num ano com aquele carro do que em todos os outros anos com os outros carros.
Os amortecedores, ou o equivalente a amortecedores, eram uma coisa em forma cilíndrica com gás comprimido que a cada passo arreavam e era preciso voltar a carregar. Os zingarolhos estavam quinados e precisavam de ser trocados, só que custavam uma pipa de massa e eu era (era?) um teso e tive de andar a peregrinar por sucateiros por arranjar uns em segunda mão que estivessem melhores.
Depois a cada passo ao passar por uma zona com piso ondulado a acelerar a transmissão começava a fazer um barulho infernal que parecia que se ia desfazer.
Fui várias vezes à oficina onde me diziam que o problema tinha ficado resolvido mas acabava por voltar passado pouco tempo o que me deixava à beira de um ataque de nervos.
Noutra ocasião quando seguia para o Porto e o carro começou a ficar sem embraiagem e com a frente cada vez mais arreada.
Lá consegui chegar ao Porto e mecânico com ele. Problema? O sistema hidráulico do carro tinha perdido pressão e por isso a embraiagem deixava praticamente de funcionar e a suspensão arreava. Solução? Meter uma mangueira com ar comprimido numa válvula algures no motor e o bicho lá arribou.
O Metro padecia também do mesmo problema dos Minis, não gostava de chuva.
Se estivesse a chover com alguma intensidade, nem precisava de ser muito, não podia circular acima dos 80 à hora. Em várias ocasiões o raio do carro começou a engasgar ao circular com chuva mas a coisa compunha-se baixando a velocidade.
Por último o raio do carro quase me deixou apeado em plena VCI no Porto.
Num Domingo à tarde seguia eu com a minha garina, a tal, a última, pela VCI com destino à Foz. Chovia razoavelmente e havia muita humidade no ar.
Por via das dúvidas rolava devagar para o bicho não começar a engasgar mas mesmo assim já a chegar à saída para a Avenida da Boavista começa a fazer uma chiadeira infernal, parecia que o motor se ia desintegrar a qualquer momento.
Felizmente deu para sair da VCI e logo parei o carro próximo das instalações da SIC.
Estava f.d.d. dos c.r.o., estava com a ressaca do Domingo à tarde, tinha vontade de deitar o carro por uma ribanceira a baixo e apetecia-me um café, precisava de tomar um café para raciocinar.
Ok, vamos à CUFRA que fica aqui perto e podemos ir a pé.
Chegamos à CUFRA (para quem não conhece é um dos Restaurantes/Snack-bares/Cervejarias mais antigas do Porto), sentamo-nos ao balcão e peço um café curto.
Resposta do empregado: só servimos café como complemento…
Ai, só me faltava este gaijo para me f.d.r a cabeça.
Pergunto então que tipo de estabelecimento era aquele e o empregado diligentemente diz-me que era uma cervejaria.
- Ok, então quero um fino e … um cimbalino.
O empregado não teve alternativa e lá me trouxe o fino e o café.
Tomo o café, chamo o funcionário e digo-lhe: pode levar o fino embora que não me apetece. Quanto devo?
Estava f.d.d. dos c.r.o. mas levei a minha avante… ainda que para isso tivesse esturrado parte substancial da pouca massa que tinha no bolso.
Moral da história, o Metro quase me arruinava a vida ainda eu estava a começar a ganhar os meus primeiros e magros cobres.
A solução foi pô-lo debaixo de um alpendre à espera de melhores dias.
Felizmente que um familiar o quis comprar e lá o despachamos a grande velocidade.
Sei que ainda se aguentou um ano ou dois e que pelo menos uma vez teve que fazer (tipo Markku Alen no Rally de Portugal em 1981 http://elclubcar.blogspot.pt/2010/11/imagenes-inolvidables-1981.html) uns três quilómetros em marcha atrás para conseguir chegar ao destino, o mecânico.
O Metro era um carro porreiro nos dias bons, o pior era nos outros dias.

Boas entradas, faço votos para que todos sobrevivamos a 2013… que a coisa tá preta.

JP
 
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JP Vasconcelos

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Depois de um longo período de estaleiro e apesar da crise, parece haver luz ao fundo do tunel, esperamos voltar em breve è estrada...
 
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Ver anexo 320723 Ver anexo 320724 Ver anexo 320723 Pelo segundo ano fui até ao Caramulo, sempre são 150 km.s para cada lado que dão para esticar as pernas...
Na véspera descobri que o nível do óleo dos travões tinha baixado dramaticamente e já não havia tempo para reparações, mas arrisquei, acrescentou líquido e lá fomos nós.
Como saí já tarde fiz a viagem tão ligeirinho quanto a cautela permitia e ainda tive que despachar alguns domingueiros em esforço entre duas curvas.
Finalmente lá cheguei ao Caramulo já perto da uma hora depois de ter que levar com uma procisão nos últimos quilómetros que o juízo e a pequenês das rectas não dava para despachar.
No Caramulo deambolei ora a assistir às subidas ora a vêr as máquinas que por lá andavam.
Na rampa impreessionou-me particularmente o Hispano-Suiza, o Volkswagen, o cooper verde e o Moke, claro.
No final da tarde, pela primeira vez, fiz subida a subida da rampa. Não resisiti e duas os três vezes quando dei conta o conta rotações estava encostado nas 7.000, um exagero perigoso. Além disso com o entusiasmo enfirei dois pregos nas mudanças de caixa. Achei então mais razoável fazer a vontade aos comissários e ir mais devagar não fosse ficar agarrado a um rail, ficar sem caixa de velocidades ou sair um cilindro pelo capôt.

Aqui ficam umas fotos da minha passagem pelo Caramulo.
Uma vez a subir e outra a descer tive que parar para esclarecer os espectadores, um chamou Marina ao meu maquinão e estive quase à beira de um ataque de nervos. Outro chamou-lhe Volksol (não me recordo como se escreve) o que sempre é mais razoável.
Em todo o caso quando fiquei parado na subida sempre houve um bacano que me gabou o carro, que estava muito bonito. Babei logo.

Pró ano talvez consiga fazer o Luso-Caramulo
 

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Mário Pio

Detailer
Vauxhall diz o outro wink.png ... mas realmente o Vauxhall Viva Firenza tem a frente muito parecida com o seu Sunbeam

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JP Vasconcelos

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Vauxhall Viva Firenza...

Pois foi mesmo isso que ouvi, foi o amigo que disse?

Não me lembrava deste Viva Firenza, tenho que admitir que é bem fácil confundir a frente
 

António Barbosa

Red Line
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Ora viva JP Vasconcelos, o simples facto de têr um nick-name 'raio de sol' já indicaria algo de positivismo, estas históris vêm apenas confirmá-lo.

Depois de as lêr quase todas, fiquei com uma dúvida de História do Automóvel. Sou vidrado na história do automóel em geral e na história da industria automóvel inglêsa em particular.

Num 'post' de uma das páginas anteriores, referiu umas aventuras com um Austin Metro 1100, ora, de todos os livros, catálogos, artigos de todo tipo e afins, nunca vi nenhuma referência impressa ao facto do Metro têr utilizado um motor 1100.

Creio que o 'post' data as referidas aventuras a 92/93, nessa altura já estava à venda em Portugal uma versão 'face-lift' do Austin Metro que por cá foi sempre vendida com o nome Rover 100 (111 para os 1100 e 114 para os 1400). A minha dúvida será se de facto o modelo já seria um Rover 111, ou se alguém teria 'transplantado' um motor 1100 de um outro modelo (Mini, Allegro, ADO16, etc.) para o seu Austin Metro. Se houverem fotos de algumas dessas aventuras ajudava.

Um abraço, António Barbosa.

P.S. - O engasgar em dias de chuva a partir de determinada velocidade deve-se ao facto do distribuidor nestes motores estar muito exposto para a frente. Nos Austin Metro o radiador ainda protegia qualquer coisa (só a partir de determinada velocidade é que a humidade passava para o distribuidor), num Mini com radiador de lado esse problema acontece a qualquer velocidade num dia de chuva.
 
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António Barbosa disse:
Ora viva JP Vasconcelos, o simples facto de têr um nick-name 'raio de sol' já indicaria algo de positivismo, estas históris vêm apenas confirmá-lo.

Depois de as lêr quase todas, fiquei com uma dúvida de História do Automóvel. Sou vidrado na história do automóel em geral e na história da industria automóvel inglêsa em particular.

Num 'post' de uma das páginas anteriores, referiu umas aventuras com um Austin Metro 1100, ora, de todos os livros, catálogos, artigos de todo tipo e afins, nunca vi nenhuma referência impressa ao facto do Metro têr utilizado um motor 1100.

Creio que o 'post' data as referidas aventuras a 92/93, nessa altura já estava à venda em Portugal uma versão 'face-lift' do Austin Metro que por cá foi sempre vendida com o nome Rover 100 (111 para os 1100 e 114 para os 1400). A minha dúvida será se de facto o modelo já seria um Rover 111, ou se alguém teria 'transplantado' um motor 1100 de um outro modelo (Mini, Allegro, ADO16, etc.) para o seu Austin Metro. Se houverem fotos de algumas dessas aventuras ajudava.

Um abraço, António Barbosa.

P.S. - O engasgar em dias de chuva a partir de determinada velocidade deve-se ao facto do distribuidor nestes motores estar muito exposto para a frente. Nos Austin Metro o radiador ainda protegia qualquer coisa (só a partir de determinada velocidade é que a humidade passava para o distribuidor), num Mini com radiador de lado esse problema acontece a qualquer velocidade num dia de chuva.
Pois o amigo deve ter toda a razão
Era um Austim Metro dos anos 80. Pensei que fosse 1100, mas não tenho a certeza. O Metro tinha sido da minha mãe, não o tinha em grande conta pelas despesas que me foi dando no curto período em que o utilizei e por isso nunca me interessei pelo carro.
Como não era um MG Metro então só podia ter um motor 1.000 cc, o que é fantástico pois o carro tinha um excelente arranque e, tanto quanto me lembro, aguentava-se bem nos 140 podendo se necessário ir um pouco mais além apesar de só ter 4 velocidades, acho. Além disso foi com este carro que aperfeiçoei a técnica da inversão de marcha… imediata.
Não sou grande conhecedor do mundo automóvel por isso é provável que, de quando em vez, escreva uns disparates...
 

António Barbosa

Red Line
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Esclarecido. Esses motores 1000cc, sendo iguais aos anteriores do Mini, tinham sido melhorados para os Metro, subiram a taxa de compressão aumentaram o tamanho do carburador ao mesmo tempo que diminuiram as emissões de poluentes, e conseguiram aumentar a potencia de 38 para 41 CV.

Vou continuando a lêr estes 'post' à medida que vão aparecendo, muito boas histórias.
 

Mário Pio

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JP Vasconcelos disse:
Vauxhall Viva Firenza...

Pois foi mesmo isso que ouvi, foi o amigo que disse?

Não me lembrava deste Viva Firenza, tenho que admitir que é bem fácil confundir a frente

Não fui eu que disse nem estava sequer presente no Caramulo nesse dia mas são 2 modelos muito idênticos na frente e eu já conhecia ambos dai ter tirado as duvidas
 
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Sexta-feira 13…


Na repassada Quinta-feira, quero dizer na quinta da semana passada, fui jantar com antigos colegas de trabalho e amigos de sempre ao Mugasa, em Fogueira, Sangalhos.

Como era um encontro de antigos colegas de trabalho e como todos nós somos já vintage achei que devia fazer a viagem em grande estilo, de Sunbeam, tanto mais que após os afagos que recebeu na Auto Escapes do Marco (não, juro que não me pagam a publicidade, mas merecem, gostam e tratam bem de clássicos) para ir à Inspecção parece que rejuvenesceu uns anos.

Há cerca de um mês fui a primeira vez aos encontros da Srª da Hora e a viagem, principalmente à ida pela marginal (Entre-os-Rios - Porto) foi um mimo que deu até para recordar algumas curvas com pequenas escorregadelas à moda antiga.

A viagem, cerca de 60 km.s correu tão bem que me senti encorajado a fazer 300 km.s para ir ter com os meus antigos colegas com o meu velho maquinão.

O senão era a luz. Os meus olhos estão um bocadinho mais frouxos que há 30 anos atrás e habituados a halogéneos e xénones.

Solução, pedir a um amigo que sabe ligar fios elétricos e isso para montar uns faroizitos de nevoeiro e assegurar uns 20 metros de iluminação ao nível da acuidade visual das lunetas do condutor. Havia que ter em conta as vicissitudes meteorológicas, principalmente na viagem de volta, sabe-se lá a que horas e com que níveis… de colesterol e de etanol.

Os níveis à partida estavam correctos, os do carro e os meus. Na volta asseguro que se mantinham dentro das margens de segurança, os do carro e os meus, enfim mais ou menos.

O jantar foi fantástico, além dos bolinhos de bacalhau, azeitonas e salpicãozito de entrada para acomodar uma ou duas minizitas, daí para frente foi sempre a dar gaz.

Tá-se a ver, amigos que já se não viam há bastante tempo, companheiros de longas jornadas de trabalho pela noite a dentro, só podiam fazer o que sabem, dar gás à língua, à garganta e a tudo daí para baixo.

As iscas estavam divinas, o réquinho que se seguiu além de assado tava bom como o carvalho e o tinto que o amigo JMC trouxe escorregava mais que óleo. O repasto desenferrujava melhor que W40. Cada vez carburávamos melhor, apesar de sermos só quatro tudo somado dava para aí 400 anos, nós e os nossos maquinões, clássicos de alta performance no seu melhor.

Mas havia que voltar, que o que é bom não dura sempre, convém guardar um pouco de energia para a próxima e além disso o dia seguinte era de labuta.

Mas para a volta estava ainda programada uma digestão como deve de ser, uma viagenzinha de 150 km.s pela noite adentro.

Arranco determinado, objectivo: hora e meia para cobrir os 150 km.s, sendo que apenas uns 30 seriam em estrada, no mais era sempre autoroute.

Os primeiro 50 km.s correram sobre rodas, pois ia de carro.

Em Antuã paragem técnica, o galope estava a deixar os cavalos com sede.

Depois de uma boas goladas aos cavalos, como velhos compagnons de route sabemos o que o outro está a sentir só pelo olhar, nada dissemos (eu e o Sunbeam), era para continuar o caminho, estávamos ambos bem.

Arranco, 1ª - 25, 2ª - 45, 3ª - 75, 4ª 100/120 km.s e a emoção recomeçou, a autoestrada é minha, não há chuva nem vento, o que mudaria radicalmente as sensações.

Após a saída de Estarreja passo a ter 3 faixas, quase, só para mim e lá vamos nós lançados no máximo, da velocidade legalmente permitida.

Mas, tenho um sobressalto, já passa da meia-noite é Sexta-feira 13…., depois lembrei-me que não sou supersticioso e fiquei mais tranquilo.

Em todo o caso… começo a sentir coisas, uma leve tremideira. Que raio, será transmissão, experimento baixar a velocidade e a tremideira mantem-se. Aumento a velocidade e rompo a limite legal e ups, vinha a navegar tranquilo numa das três faixas de rodagem mas parece que fui apanhado por uma big onda que faz do meu barquinho uma casca de noz, navego agora aos zigues e aos zagues nas três faixas da autoestrada e no limite vou à berma.

De um momento para o outro vi-me dentro de uma tempestade, era preciso manter sangue frio e mão firme, mas delicada, ao leme.

Corto o vapor e deixo-me ir na corrente. Aos poucos passei a navegar numa só faixa de rodagem e a ondulação vai acalmando embora não consiga ligar dois pontos pelo segmento de menor distância sem constantemente ir negociando derivas ao leme (fonix que complicação para dizer que era quase impossível seguir a direito).

Entretanto a tremideira passou a abanão com tudo a ranger.

80, 60, 40, 20, berma e… paramos. Ufa foi por pouco que não foram para o galheiro dois clássicos de uma vez, eu e o meu velho companheiro de estrada.

Safamo-nos desta, safámo-nos mais uma vez e ficamos cá para contar a história.

Procuro o colete, e venho certificar-me do que já sabia, o Viking M+S da traseira esquerda estava todo estraçalhado.

Agora que tínhamos conseguido sobreviver a esta borrasca era preciso não baixar as armas, ainda não estávamos a salvo e não queríamos morrer na praia, que raio queríamos escrever esta história atá ao fim.

Bora lá, mínimos acesos (ainda não aderimos à modernice dos piscas de emergência) triângulo (de que já só me lembrava dos fugazes encontros anuais de inspecção), chave de fendas para sacar o tampão e a arma de defesa que sempre levo comigo no Sunbeam para o que der e vier, a minha velha chave de rodas em cruz.

Das minhas costa à faixa de rodagem vai um bom metro e meio. A autoestrada tem três faixas. Quase não há trânsito, de quando em vez passa um camião que deixa uma rabanada de vento para trás. É uma recta com kilómetros e a Brisa ou a Brigada não deverão demorar a dar por mim. A noite está límpida e nem tão pouco está frio, ou então era eu que estava bem agasalhado com o colete refletor e a adrenalina.

Era muito azar morrer nestas circunstâncias a mudar uma roda mas todo o cuidado é pouco, afinal é Sexta-feira 13, não sou supersticioso nem acredito em bruxas, mas que las ai ai (ai ai sei lá se é assim que escrevem os hermanos).

Não fosse a circunstância de ter sido apertada por um bruta montes com um chave pneumática de porcas de camiões foi quase fácil sacar a roda.

O problema foi atinar com a sobressalente.

Luz só as dos camiões quando passavam e com a idade a pontaria já não é bem como era, chegou uma altura em que já duvidava que aquela roda fosse dali, com um perno atinava eu, o problema era atinar com todos ao mesmo tempo.

Mas depois de muita luta, esforço, suor e sem lágrimas, lá consegui apontar a jante e meter as porcas, benditas porcas quando as consegui começar a apertar.

Ora portanto… à pois, se for de 4 pernos aperta-se em cruz, se tiver mais é perno sim perno não, é pá já não me lembrava de mudar um pneu.

Pernos apertados, à que baixar o macaquinho devagar e ver o tamanho da barriga do pneu… hum, tem um bocadito de barriga mas é normal para a idade, sei lá quantos anos tem o pneu, penso que não é de origem.

Checklist ao material utilizado, tudo para dentro da mala, bora para dentro do carro, ignição, tirar colete, pôr o cinto e… finalmente vejo pirilampos azuis no retrovisor, tava a ver que os Géninhos da BT não iam chegar a tempo de me desejarem boa viagem e criarem condições de segurança para o take of (ou off, sei lá, quer dizer, arrancar e entrar na faixa de rodagem sem por sem perigo para o tráfego).

Porra os gaijos, logo dois, não pararam iam a bem mais de 200, eram descaracterizados e pela pressa que levavam deviam ir a proteger as costas a algum ladrã., perdão, figurão. Tá bem, não faz mal, afinal não há trânsito e tenho mais que tempo para arrancar em segurança.

Agora é só mais cerca de 100 km.s, sem áreas de serviço no caminho. Mas, se não me lembro da idade do sobressalente então é possível que seja mais velho e carcomido que o que rebentou… hum, o melhor é não passar dos 80, ir sempre a rodar o botão à procura de emissões no velhinho autorádio, é mais autoruído, pensar em coisas animadas, enfim matar o tempo e manter a pestana aberta, pois que isto de andar a 80 numa autoestrada à noite e sem movimento dá quase vontade de sair em andamento, fazer um xixi, tomar um cafezinho e voltar.

Por via das dúvidas desliguei a bem cheirosa chauffage (o francês soa-me sempre tão bem, fica-me tão bem) para diminuir o grau de conforto e aumentar o grau de vigília, afinal não queria dar uma de Marco Fortes (esta é só para olimpistas).

Depois nem hora e meia (a tal hora e meia a contar desde o início começou a contar outra vez) demorou a chegar a casa, entrar de mansinho, não acordar as ninas e esgueirar-me para dentro da cama. Eram 3, às 7 já cantava o galo.

Mais uma voltinha mais uma viagem, que hoje ainda é dia de trabalho, felizmente.

Prontos, isto é que é um diário de bordo, não é? Esforcei-me por usar termos náuticos e tudo.

Desculpem, com o nervoso esqueci-me de tirar as belas das fotografias para os amigos portalistas, fica prá próxima.


Sexta-feira seguinte à Sexta-feira 13/12/2013
 
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