Nelson Piquet Souto Maior, mais conhecido como Nelson Piquet (Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1952), é um piloto de Fórmula 1 brasileiro, campeão do mundo em 1981, 1983 e 1987.É filho do ex-Ministro da Saúde de João Goulart, Estácio Souto Maior, que por sinal não aprovava sua carreira automobilística; e por isso Nelson usava o nome de solteira de sua mãe, Clotilde Piquet, escrito erroneamente como "Piket" no início da carreira, para esconder sua identidade.
O pai gostaria que o filho fosse tenista profissional, tendo inclusive presenteado o rapaz com uma bolsa numa High School em Atlanta, nos Estados Unidos. Nelson acabou até premiado como um bom tenista. Inclusive o desenho de seu capacete é uma bola de ténis estilizada. Contudo não achava o desporto suficientemente excitante para que tivesse uma carreira completa no mesmo.
Nelson começou a carreira nos kart aos 14 anos onde foi campeão brasileiro em 1971 e 1972. Em 1976 foi campeão da Fórmula Super-Vê. No ano seguine tentou a sorte na Europa, seguindo o caminho aberto por Emerson Fittipaldi. Participando de algumas das provas do Campeonato Europeu de Fórmula 3, terminou em terceiro, com duas vitórias, atrás do italiano Piercarlo Ghinzani e do sueco Anders Olofsson.
Eem 1978, na Fórmula 3 inglesa, sagrou-se campeão e quebrou o recorde de Jackie Stewart de maior número de vitórias numa temporada.A sua estreia na Fórmula 1 aconteceu em um teste oferecido pela já extinta equipa BS Fabrications, de Bob Sparshott, que tinha um McLaren M23. Pouco tempo depois, ainda em 1978, Piquet estreou de fato em uma corrida, o Grande Prémio da Alemanha, em Hockenheimring, com um carro alugado da equipa Ensign. Neste ano, disputaria outros três GPs com o McLaren da BS Fabrications.
Com o carro da pequena equipa inglesa, abandonou na Holanda e na Áustria, terminando em nono lugar na Itália, na corrida em que morreu o piloto sueco Ronnie Peterson. De toda forma, o brasileiro já era visto por muitos como uma promessa -- sua aparição meteórica rendeu elogios e uma profecia certeira do chefe de equipe da BS Fabrications, David Simms. "Aposto meu dinheiro, com quem quiser, que Nelson Piquet será campeão mundial em três anos." No GP do Canadá, já fazia a sua estréia pela Brabham, com um terceiro carro da equipa então comandada por Bernie Ecclestone.
E, assim, Piquet foi confirmado como segundo piloto para a temporada de 1979. Na equipe inglesa, chefiada por Ecclestone e com Gordon Murray como projetcista, Piquet teve como companheiro o austríaco Niki Lauda, já bicampeão, que abandonou a Fórmula 1 temporariamente antes do fim da temporada. Piquet sempre atribuiu a Lauda seu aprendizado sobre como negociar contratos e comunicar suas solicitações aos engenheiros e mecânicos da equipa. O ano, porém, é marcado por alguns acidentes e muitas quebras -- foram 11 abandonos em 15 corridas, apenas três pontos e o 16o lugar na classificação final.
Já no ano seguinte, em 1980, Piquet chegou em segundo no Grande Prémio da Argentina e obteve sua primeira vitória na categoria no Grande Prémio do Oeste dos Estados Unidos, no circuito de rua de Long Beach. Com outras quatro vitórias no ano, Piquet disputou directamente o título com Alan Jones, até a penúltima prova, o Grande Prémio do Canadá --- mas, nesta corrida, Piquet e Jones colidiram na largada, e, após uma segunda largada, Piquet teve que abandonar por uma quebra de motor.
Mas em 1981 viria seu primeiro título mundial, após uma intensa batalha contra o argentino Carlos Reutemann. Na última etapa, no circuito de Las Vegas, também nos EUA, Piquet terminou em quinto lugar, mas Reutemann não pontuou e o brasileiro venceu o campeonato por apenas um ponto de diferença.
No ano seguinte, como em muitos da carreira de Piquet, as inovações técnicas especialmente a adoção do motor BMW turbo --- não permitiram um desempenho suficientemente competitivo. O ponto alto da temporada de Piquet foi um episódio tenso e, em segunda análise, hilariante. Quando estava próximo da vitória no GP da Alemanha, Piquet se aproximou do retardatário Eliseo Salazar e tentou a ultrapassagem na Ostkürve, a chicane norte do circuito de Hockenheim. Salazar não viu Piquet aproximar-se, manteve a trajectória normal, e os dois bateram. Após sair do carro, Piquet partiu para a agressão física contra Salazar, diante das câmaras de televisão, em uma cena que demonstra um pouco do seu temperamento competitivo e explosivo. "Salazar não é piloto, é motorista", declarou Piquet à época. Curiosamente, ambos haviam-se conhecido quando ainda eram recém-chegados à Europa; e, muitos anos depois, chegaram a correr juntos em corridas de Turismo.
Contra a Renault de Alain Prost e as Ferrari de René Arnoux e Patrick Tambay, Piquet consegue em 1983 seu segundo título, na última corrida, o GP da África do Sul em Kyalami. Foi, também, o primeiro campeonato vencido por um carro com motor turbo na Fórmula 1.
Nos dois anos seguintes, Piquet não tem a mesma sorte, e as inovações introduzidas por Gordon Murray na Brabham não são suficientes para alcançar a inovadora McLaren MP4 de Prost e Lauda, que retornara à F-1.
Em 1986 Piquet foi para a equipa de seus dois vice-campeões, a Williams, para desenvolver, junto com seu companheiro de equipa, o inglês Nigel Mansell, o projecto dos motores turbo da Honda. No primeiro ano, o carro mostrou-se competitivo, porém uma sucessão de resultados desfavoráveis e estratégias mal calculadas como na última prova da temporada (GP da Austrália), que levaram Piquet e Mansell a perder o título para Prost. Parte do fracasso deveu-se a um grave acidente sofrido pelo dono da equipa, Frank Williams, que o deixou afastado do comando da equipa por vários meses, e fadado a uma cadeira de rodas pelo resto da vida. Frank foi o responsável pela contratação de Piquet, enquanto o seu sócio e engenheiro-chefe da equipa, Patrick Head, era claramente defensor de Mansell na equipa.
Foi neste ano que, na primeira edição do Grande Prémio da Hungria, Piquet realizou, sobre Ayrton Senna, a ultrapassagem que muitos consideram como a mais bela de todos os tempos na Fórmula 1 no fim da recta dos boxes, pelo lado de fora de uma curva de 180 graus, escorregando nas quatro rodas. O tricampeão Jackie Stewart, comentando a cena, disse que era "como fazer um looping com um Boeing 747".
Em 1987, as Williams dominaram a temporada. Piquet sofreu um grave acidente logo no início do ano, num teste no circuito de Imola, na mesma curva Tamburello que se tornaria famosa pela morte de Ayrton Senna. "Depois desse acidente, a minha visão nunca mais foi a mesma, e eu perdi uma parte da noção de profundidade", declarou Piquet anos depois. Mesmo assim, Piquet e Mansell disputaram o título corrida a corrida e Piquet, para driblar o alegado favorecimento da equipa ao inglês, lançou mão de suas conhecidas artimanhas, como testar com uma configuração ruim do carro, que muitas vezes seria copiada pelos mecânicos de Mansell, e alterá-la completamente minutos antes do treino ou da corrida.
Nos treinos livres para o Grande Prêmio do Japão, Mansell sofreu um forte acidente que, embora não o tenha causado ferimentos sérios, deixou-o sem condições para disputar a prova, e Piquet sagrou-se tricampeão mundial por antecipação.
A Honda, então consagrada com o melhor motor turbo do período, deixou a Williams e em 1988 passou a equipar a McLaren e a Lotus. Para a McLaren, conseguiu a contratação de Ayrton Senna, e para o lugar que Senna deixara na Lotus levou Nelson Piquet com um contrato milionário. Mas o carro amarelo da lendária equipa, projectado pelo engenheiro francês Gerard Ducarouge, mostrou-se problemático. Piquet declarou publicamente que o chassi era "uma *****" e desentendeu-se completamente com Ducarouge. Para 1989, a Lotus contratou Frank Dernie, vindo da Williams; mas a Honda havia deixado a equipa, e o novo motor Judd mostrou-se um dos mais fracos da época.
Desiludido com a Lotus, Piquet assinou contrato com a equipe Benetton para a temporada de 1990. A falta de potência do motor Cosworth V-8 era compensada pelo notável equilíbrio do chassi do carro, e, após algumas boas corridas, Piquet vence o polémico GP do Japão em que Senna atirou o carro propositalmente contra o Ferrari de Alain Prost para sagrar-se campeão. A vitória teve sabor mais especial ainda para Piquet porque o segundo colocado foi o seu amigo de adolescência Roberto Moreno, também pela Benetton, estreando-se como substituto de Alessandro Nannini, que havia sofrido um gravíssimo acidente de helicóptero que lhe amputou um braço.
Piquet também venceu a corrida seguinte, o Grande Prémio da Austrália, após uma manobra arriscada na última volta Nigel Mansell, que ao volante do Ferrari tentava ultrapassar o brasileiro, foi obrigado a travar fortemente e sair da pista na curva mais fechada do circuito, quando o brasileiro, simples e propositalmente, ignorou sua tentativa e seguiu o traçado normal. Um lance sarcástico típico de Piquet no GP de número 500 da história da categoria.
Em 1991, ainda na Benetton, Nelson obteve sua última vitória na F-1 no GP do Canadá, e também em cima de Mansell --- a quem Piquet se referia ironicamente como "uma besta". O inglês liderava com folga e, na última volta, já acenando para os fãs, desligou acidentalmente a chave geral do carro. Piquet, em segundo lugar, passou pelo carro parado de Mansell acenando para o rival. Depois declarou que naquele momento "quase teve um orgasmo". Neste mesmo ano, a Benetton substituiu Moreno pelo jovem talento Michael Schumacher, patrocinado pela Mercedes-Benz, que até então havia disputado apenas sua corrida de estreia na Fórmula 1. Com dificuldades para acompanhar o ritmo do novato, foi a gota d'água para Piquet, já com 39 anos de idade e 204 GPs no currículo, abandonar a categoria máxima.