David Silva
scuderi
Nascidos em 1979, eu e o meu mano gémeo, o @Daniel P R Silva, habituámo-nos a partilhar tudo desde cedo. E antes que comecem piadinhas, informo já que as namoradas nunca se deixaram enganar (julgam elas ). Começamos portanto a ter as primeiras memórias em plena década de 80. Em casa havia um aficionado Citröen. Com uma barba e bigode à Barrabás, bem ao estilo da época, o meu pai iniciou-se na "Double Chevron" em 1980 com um GS Special de 1974. Em 86 seria substituído por um GSA X3 de 1981 que daria lugar em 92 a um BX 14 RE de 1986. E foi este o carro em que nos encartamos. O carinho pela marca foi-se formando. Ainda não havia circuito Vasco Sameiro em Braga mas as provas automobilísticas estiveram sempre presentes na nossa infância. Todos os anos em Maio realizava-se a Rampa da Falperra onde podíamos ver todos os carros do automobilismo nacional e os galácticos do campeonato europeu de Montanha. Quando não conseguíamos convencer o velhote a ver in loco tínhamos sempre a hipótese de nos levantar bem cedo no Domingo de manhã e substituir a bonecada pela transmissão em direto da RTP2 (bons velhos tempos). E o troféu Visa marcou-nos. Um dos motivos era a participação do piloto bracarense Rui Lages (também correu nos AX, BX, AE86, entre outros), outro motivo era o fascínio de ver um carro que nos parecia tão frágil e pachorrento na estrada, tornar-se diabólico e super aguerrido em pista. Nessa altura a nossa mãe tirava a carta e o carro em que conduzia era um Visa 17 RD. Após o seu encartamento foi ponderado muitas vezes comprar um igual. Felizmente não aconteceu. Seria como marcar um encontro com a irmã do Cristiano antes desta dieta que a tornou mais apet... ...vistosa. Antes era um Visa a diesel, agora é um GT Tonic. Continua feia mas bem melhor que o que estava. Portanto não se perdeu o encanto pelo modelo e isso traduziu-se agora nesta loucura.
Há alguns meses que eu e o meu mano tentávamos conciliar os nossos gostos para entrar num projeto em comum. Comprar um carro, disfrutar, vender e partir para outro projeto. Seria uma forma de usufruirmos de alguns carros que nos dizem algo. Pôs-se a jeito um que foi consensual. Um Citröen Visa GT Tonic de 1986.
Contactado o proprietário, e negociado o valor, julgávamos que iríamos ver o carro a Viseu conforme estava descrito no anúncio. Mas não, o carro estava onde nasceu: Mangualde. Achamos engraçada a coincidência. Com 30 anos de idade o carro estava na cidade onde nasceu, na maternidade PSA de São Cosmado. Mas na realidade nunca saiu de lá. O primeiro proprietário teve-o durante os primeiros 6 anos e vendeu-o em 1992 a um dos colaboradores da Citroen Lusitânia que esteve na linha de produção quando o carro foi produzido. E foi esse o seu dono até ao passado dia 20 de Fevereiro.
Chegados a Mangualde encontramos um carro esteticamente razoável pelo exterior, apesar de uma asquerosa rampa de 4 faróis de nevoeiro que nem me atrevo a mostrar. O carro já é feio o suficiente. Faltavam o lettering GT Tonic e as matrículas pretas.
O interior estava uma confusão! Sujo, mal cheiroso, com algumas pequenas peças em falta. As quartelas das portas estavam uma lástima e a chapeleira tinha sido completamente estuprada para a instalação de 2 colunas que já não existem. O volante não tinha o centro e tinha sido pintado com umas tiras vermelhas que nem com o meu benfiquismo e braguismo juntos consegui compreender.
Fomos fazer o test drive, o carro respondeu vigorosamente apesar dos carburadores pedirem uma boa revisão. Os travões estavam uma lástima.
Confesso que o entusiasmo arrefeceu, mas ficamos desde logo com a sensação que não seria nada muito grave de resolver. Como antigo colaborador da fábrica, o proprietário disse que tinha juntado "umas pecitas" com o tempo e que as incluiria no negócio. "Vamos lá ver isso!" disse eu. 4 portas, 2 motores (caixa embutida), 4 torres de supensão, carenagens exteriores, diversos plásticos interiores, componentes elétricos, 2 conjuntos de carburadores, radiador, sauffage, etc...
Não fosse a perceção imediata que estava a lidar com boa gente e até dava para desconfiar. Estava a fazer negócio com o filho do proprietário, mais novo que eu, desabafou que queria despachar tudo relacionado com o carro porque não se queria lembrar mais para não se arrepender. Era o carro onde tinha feito as viagens de infância. "Já desfiz um negócio com um moço de Viseu porque sabia que ia ver muitas vezes o carro. Quero que vá para longe!" A voz embargada dava-lhe toda a credibilidade.
O entusiasmo inicial do meu irmão não atingia o meu mas os ares de Mangualde fizeram-lhe bem... Perguntei-lhe:
- Então pah? Como é?
Ele respondeu:
- Onde é o Multibanco mais próximo?
Colocava-se agora outro problema. Onde íamos levar tanta tralha? Aquilo estava imundo e a minha cunhada torceu logo o nariz a meter aquilo no carro deles. Só havia uma solução: atulhar o Visa com tudo que pudéssemos sem o sobrecarregar em demasia e deixar o mais pesado para ir buscar na semana seguinte. E assim foi. Sem a confiança de chegar ao destino sem problemas fizemo-nos à estrada.
Em plena A25 a chegar a Vouzela apanhei um cagaço. 3 cães num grande bacanal no meio da estrada obrigaram-me a usar os travões que o Visa não tinha permitindo-me testar o dinamismo da suspensão do carro na finta que tive de lhes fazer. Tirando os travões portou-se muito bem. Quanto aos cães... Até os bichinhos gostam... E quando a vontade aperta há que aproveitar. Espero que não tenham sido interrompidos.
Os 200km da ligação Mangualde - Braga foram cumpridos sem mais sobressaltos, ainda a tempo de almoçarmos em Braga.
O meu pai foi imediatamente convocado para conhecer a máquina e foi com ele que fizemos a primeira intervenção depois do almoço. Tirar aqueles faróis horrorosos da frente. Estava insuportável continuar a olhar para aquilo.
No entanto arranjamos imediatamente destino para a rampa luminosa:
Este é o E46 Coupé do meu pai. Na família desde novo. Tem uma história muito curiosa que alguns de vocês já conhecem. Quando fizer 20 anos conto-a...
Deixo para o próximo post a continuação da aventura. Até já!
Há alguns meses que eu e o meu mano tentávamos conciliar os nossos gostos para entrar num projeto em comum. Comprar um carro, disfrutar, vender e partir para outro projeto. Seria uma forma de usufruirmos de alguns carros que nos dizem algo. Pôs-se a jeito um que foi consensual. Um Citröen Visa GT Tonic de 1986.
Contactado o proprietário, e negociado o valor, julgávamos que iríamos ver o carro a Viseu conforme estava descrito no anúncio. Mas não, o carro estava onde nasceu: Mangualde. Achamos engraçada a coincidência. Com 30 anos de idade o carro estava na cidade onde nasceu, na maternidade PSA de São Cosmado. Mas na realidade nunca saiu de lá. O primeiro proprietário teve-o durante os primeiros 6 anos e vendeu-o em 1992 a um dos colaboradores da Citroen Lusitânia que esteve na linha de produção quando o carro foi produzido. E foi esse o seu dono até ao passado dia 20 de Fevereiro.
Chegados a Mangualde encontramos um carro esteticamente razoável pelo exterior, apesar de uma asquerosa rampa de 4 faróis de nevoeiro que nem me atrevo a mostrar. O carro já é feio o suficiente. Faltavam o lettering GT Tonic e as matrículas pretas.
O interior estava uma confusão! Sujo, mal cheiroso, com algumas pequenas peças em falta. As quartelas das portas estavam uma lástima e a chapeleira tinha sido completamente estuprada para a instalação de 2 colunas que já não existem. O volante não tinha o centro e tinha sido pintado com umas tiras vermelhas que nem com o meu benfiquismo e braguismo juntos consegui compreender.
Fomos fazer o test drive, o carro respondeu vigorosamente apesar dos carburadores pedirem uma boa revisão. Os travões estavam uma lástima.
Confesso que o entusiasmo arrefeceu, mas ficamos desde logo com a sensação que não seria nada muito grave de resolver. Como antigo colaborador da fábrica, o proprietário disse que tinha juntado "umas pecitas" com o tempo e que as incluiria no negócio. "Vamos lá ver isso!" disse eu. 4 portas, 2 motores (caixa embutida), 4 torres de supensão, carenagens exteriores, diversos plásticos interiores, componentes elétricos, 2 conjuntos de carburadores, radiador, sauffage, etc...
Não fosse a perceção imediata que estava a lidar com boa gente e até dava para desconfiar. Estava a fazer negócio com o filho do proprietário, mais novo que eu, desabafou que queria despachar tudo relacionado com o carro porque não se queria lembrar mais para não se arrepender. Era o carro onde tinha feito as viagens de infância. "Já desfiz um negócio com um moço de Viseu porque sabia que ia ver muitas vezes o carro. Quero que vá para longe!" A voz embargada dava-lhe toda a credibilidade.
O entusiasmo inicial do meu irmão não atingia o meu mas os ares de Mangualde fizeram-lhe bem... Perguntei-lhe:
- Então pah? Como é?
Ele respondeu:
- Onde é o Multibanco mais próximo?
Colocava-se agora outro problema. Onde íamos levar tanta tralha? Aquilo estava imundo e a minha cunhada torceu logo o nariz a meter aquilo no carro deles. Só havia uma solução: atulhar o Visa com tudo que pudéssemos sem o sobrecarregar em demasia e deixar o mais pesado para ir buscar na semana seguinte. E assim foi. Sem a confiança de chegar ao destino sem problemas fizemo-nos à estrada.
Em plena A25 a chegar a Vouzela apanhei um cagaço. 3 cães num grande bacanal no meio da estrada obrigaram-me a usar os travões que o Visa não tinha permitindo-me testar o dinamismo da suspensão do carro na finta que tive de lhes fazer. Tirando os travões portou-se muito bem. Quanto aos cães... Até os bichinhos gostam... E quando a vontade aperta há que aproveitar. Espero que não tenham sido interrompidos.
Os 200km da ligação Mangualde - Braga foram cumpridos sem mais sobressaltos, ainda a tempo de almoçarmos em Braga.
O meu pai foi imediatamente convocado para conhecer a máquina e foi com ele que fizemos a primeira intervenção depois do almoço. Tirar aqueles faróis horrorosos da frente. Estava insuportável continuar a olhar para aquilo.
No entanto arranjamos imediatamente destino para a rampa luminosa:
Este é o E46 Coupé do meu pai. Na família desde novo. Tem uma história muito curiosa que alguns de vocês já conhecem. Quando fizer 20 anos conto-a...
Deixo para o próximo post a continuação da aventura. Até já!
Anexos
Última edição: