ANGOLA - Factos Históricos do Automobilismo (pré 1975)

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Ricardo Duarte Kadypress
I Grande Rallye de Angola – 1957

Por : Ricardo Duarte / [email protected]

Dois mil quilómetros e estrada atravessando Angola quase de Cabinda ao Cunene, desde a longínqua e desértica Namibe (ex-Moçâmedes) às verdes serras do Uíge passando pelos incontornáveis planaltos da Huíla e Huambo, o itinerário deste rali foi quase um projecto para um futuro itinerário turístico de Angola tantos eram os pontos belíssimos que puderam ser apreciados no decorrer das etapas. Foi o maior desafio automobilístico que se colocou à organização do ATCA - Automóvel Touring Club de Angola. Esta instituição organizou também, em conjunto com esta prova, provas de “velocidade e perseguição” - a Taça Cidade de Luanda e o I Grande Prémio e Angola. O conjunto da três provas constituíram a iniciativa intitulada “Semana Automobilística de Luanda”.
Para o I Grande Rallye de Angola apresentaram-se vinte e sete inscritos que partiram das suas cidades rumo às etapas a cumprir - 16 de Luanda, 3 do Uíge (ex-Carmona), 2 do Lobito, 5 do Namibe e 1 do Huambo (ex-Nova Lisboa).
Cinco provas complementares abrilhantaram este Rallye. As duas primeiras foram efectuadas na nóvel e progressiva cidade de Uíge. No Uíge foi Henrique Ahrens de Novaes em VW quem levou a melhor classificando-se em 1ºlugar no conjunto ponderado das duas provas: 1º lugar na perícia e 4º lugar na prova de velocidade/regularidade a qual foi vencida por Maximino Correia em DKW, carro a 2 tempos conhecido popularmente como “dêkavê”..
Seguiu-se a terceira prova complementar – 400 mts de arranque – que foi disputada em Luanda e que teve como vencedor novamente um piloto do Namibe - Jaime Lúcio dos Santos com um pesado Mercury ao fazer o melhor tempo - 20,45 segundos.
A quarta prova complementar – uma perícia na marginal de Luanda foi ganha por Ferreira do Carmo em DKW.
A quinta e ultima prova complementar foi uma prova de “velocidade e perseguição” em circuito fechado com a extensão de 1.800 mts. Esta prova foi dividida em várias séries de poucos pilotos consoante o tipo de carros e classes. Jaime Lúcio dos Santos haveria de fazer melhor tempo de todas as séries que, naturalmente, tiverem vencedores distintos.
No cômputo geral o jovem do Namibe - Henrique Ahrens de Novaes havia de sagrar-se o vencedor absoluto do I Grande Rallye de Angola e haveria de ser recebido na “terra das Welwitschias”, aquela em que o mar se casa como deserto, em grande apoteose.


Av. Marginal de Luanda com os "bólides" alinhados em espinha para as séries de velocidade com partidas tipo "Le Mans"
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Manuel Santos Baptista,piloto do Namibe, em plena prova de perícia com o seu VW, com uma bancada apinhada de espectadores com "pano de fundo".
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Sebastião Gouveia, 2º classificado na 4ª prova complementar de perícia, em acção com o seu DKW.
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Momento da prova de velocidade por séries em que Jaime Lucio dos Santos (Mercury) ainda persegue Bordalo Pereira (MGA).
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I Grande Rallye de Angola – 1957

Participantes de Luanda (16):

Maximino Morais Correia (DKW)
Eng José Vilhena Borrego (Ford Vedette)
Alfredo Ferreira do Carmo (DKW)
João Alves (Fiat)
Hernâni Viana (DKW)
Sebastião Gouveia (DKW)
Silva Pardal (Humber)
Raul Pelágio (Fiat)
João Caldeira da Fonseca (DKW)
Manuel Carolino (VW)
Ferreira da Silva (VW)
Jorge Pereira Caldas (VW)
António Góis (VW)
Burnay Pereira (VW)
D Maria Elvira Nunes de Azevedo (DKW)
Christian Lane (DKW)

Participantes do Uíge (antiga Carmona), 3:
Arménio Silva (DKW)
António Rolando da Fonseca (DKW)
Manuel Bernardino Fernandes (VW)

Participantes do Lobito, 2:
António Maria da Slva (Ford)
Bordalo Pereira (MG-A)

Participantes do Huambo (antiga Nova Lisboa), 1:
José Caetano Gavião (VW)

Participantes do Namibe (antiga Moçâmedes), 5:
Jaime Lúcios dos Santos (Mercury)
Henrique Ahrens de Novaes (VW)
D Maria Dina Chalupa (DKW)
Manuel Santos Baptista (VW)
Dr Mário Moreira de Almeida (VW)
 
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Ricardo Duarte Kadypress
I Grande Rallye de Angola – 1957

O vencedor, o jovem promissor Henrique Ahrens de Novaes
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O vencedor, o jovem promissor Henrique Ahrens de Novaes, recebendo a taça correspondente à vitória.
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Desfile apoteótico em Moçâmedes de 4 dos 5 pilotos que representaram a cidade no rallye - D. Maria Dina Chalupa, Manuel Santos Baptista, Henrique Ahrens de Novaes e Jaime Lúcio dos Santos.
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Ricardo Duarte Kadypress
1º Leo - Matadi - Leo (1955)
(fonte : J.P. Delsaux)

Pois antes e depois de "Leo - Luanda - Matadi - Leo" houve apenas "Leo - Matadi - Leo".

Em 09 e 10 de Abril de 1955 efectuou-se o primeiro onde parece ter já existido presença portuguesa, a deduzir pelos nomes da "entry-list". Foi ganho pela dupla Lengelé / Martins, em Mercedes 180.
Esteve também presente um casal de apelido Ramos num VW.

Os participantes
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O vencedor
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Ricardo Duarte Kadypress
2º Leo - Matadi - Leo (1956)
(fonte : J.P. Delsaux)

O 2º Leo-Matadi-Leo disputa-se em 31 de Março e 1 de Abril de 1956. A equipa vencedora do ano transacto - Lengelé / Martins tem direito a ostentar o numero 1 mas desta vez, já não vêm de Mercedes 180 mas sim de Plymouth. Contudo não conseguem melhor que um 7º lugar mas mesmo assim subiram ao pódio e já se vê porquê.
A prova teve um pódio inesperado pois 5 equipas ocuparam ex-aequo o primeiro lugar.Menos inédito foi que o 1º lugar do pódio estava representado por cinco carros diferentes: Houthoofd / Saelens (Ford), Van Hoeck - Van Brackel (DKW), Dupont - Bonen (Mercedes), Duray - Delforge (VW) e Vander Pol - Ney (Peugeot 203). Outra curiosidade foi um Citroen 2CV ocupar o segundo lugar do pódio - o 6º lugar.
A importadora da Mercedes para o Congo - a Unimer - apostou forte nesta prova fazendo-se representar por 4 carros (dois 180 a gasolina, um a gasóleo e um 220).

Mapa do trajecto da prova com a indicação de duas localidades angolanas que provam a incursão, embora lateral, em território angolano- São Salvador do Congo (actual Mbanza Congo) e Maquela do Zombo.
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A equipa Mercedes do Congo / Unimer e um "out sider" em DKW todos eles participantes nesta prova.Da esquerda para a direita Sousa / Flandre (MB 220) este Sousa talvez fosse português ou angolano, Grosso / Namur (MB 180), Dupont / Boonen (MB 180) Abeelé / Renglet (MB 180 diesel) e Van Hoeck - Van Braeckel (DKW Cabrio).
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O Mercedes 220 de Sousa / Flandre
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Ricardo Duarte Kadypress
1º Leo - Luanda - Matadi - Leo (1958 )
(o 1º com passagem por Luanda)


(fonte : J.P. Delsaux)

Três dias foram necessários para cumprir esta dura e demolidora prova - 4 - 5 -6- Abril e 1958. Digo demolidora porque de 31 participantes apenas terminaram a prova 7 !
Foi uma estrondosa vitória da marca alemã VW que colocou 4 "carochas" nos 4 primeiros lugares e 5 entre os 7 finalistas da prova.Poucos acreditavam que o calor africano vencesse o excelente sistema de arrefecimento a ar que os motores dos VW possuem.
Dos finalistas,2 equipas levavam nomes portugueses - o 5º classificado Rodrigues/ Marques (Borgward) e o 7º classificado Monteiro / Mycke (Peugeot 203).

Caderno com o Regulamento da Prova
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Capítulo com as Etapas e penalizações onde estão elencadas inúmeras localidades angolanas
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Os belgas trouxeram a técnica das correntes do norte da Europa como se andar na lama fosse como na neve…falta saber se resultou!
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Chegada da equipa vencedora a Leopoldville – Piron / Pirick num VW “carocha” equipado com quatro faróis suplementares e redes de protecção contra as pedras.
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Ricardo Duarte Kadypress
2º Leo – Luanda – Matadi – Leo (1959)
(fonte : J.P. Delsaux)

Pela segunda vez em cinco anos desta prova (que em 1955/56/57 não incluiu Luanda) o percurso por Angola esteve incluído no itinerário, tal como no ano transacto (1958 ).
A gasolineira Móbil Oil continuou a financiar este demolidor rali que se realizou nos dias 27-28 e 29 de Março de 1959 - o pico do verão no território angolano. Desta vez estiveram presentes 34 participantes mas só 10 chegaram à final. A marca alemã VW esteve novamente vitoriosa sendo que dos 10 finalistas, 7 eram VW’s “carocha”…ah…e o pódio, esse, foi todinho preenchido com os ditos “carochas”. Um sucesso desportivo em dois anos consecutivos que certamente teve a sua repercussão no povo de Angola, país onde se venderam centenas destes carros.
Nomes portugueses e angolanos : Rodrigues / Marques (Borgward), 4º classificado e Altino Fraga / Ribeiro (VW), 9º lugar.Altino Fraga foi um piloto que participou em muitas provas de velocidade nos anos 60 e 70 nas pistas angolanas.

Capa do Regulamento da prova
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Placa feita pelo patrocinador
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A dupla vencedora Martin / Meirschaert (VW) presenteados com flores na vitória.
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Ricardo Duarte Kadypress disse:
VII Grande Prémio de Angola em 1964

"Parece que o equipamento fotográfico usado pela Zuid-Africa era um bocado melhor do que o da imprensa local. As imagens do Notícia - exemplo abaixo - parecem pinturas expressionistas."

(foto e comentário de Oliva/Suécia)
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Ricardo: Recomendo a leitura da ultima pag. da Classic e Sports Car de Março deste ano -
Uma curta entrevista com o D.Piper sobre o G.P. de Angola 64 considerando o circuito perigoso mas o local maravilhoso e com algumas estórias divertidas à mistura.
FPF
 
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Ricardo Duarte Kadypress
3º Leo – Luanda – Matadi –Leo (1960)

(Fonte : - J.P.Delsaux)


A terceira edição desta prova com a configuração com passagem por Angola realizou-se entre 15 e 17 de Abril de 1960. Penso que, salvo opinião mais abalizada, foi a ultima edição desta prova *.
Como sempre os números eram sorteados à excepção do nº1 que cabia ao vencedor do ano transacto.
Foi também a única vez em que (certamente por deferência aos participantes portugueses e angolanos que vinham , ano a ano, engrossando o lote de inscritos) o programa foi editado em duas línguas - francesa e portuguesa.
Foi também a primeira vez que um piloto local genuíno africano do Congo – Emmanuel Silou – participou nesta prova. Tal facto teve um relevo enorme e no livro, que constitui a nossa fonte de referência, o autor - J.P.Delsaux – refere Emmanuel Silou como um herói local.
Esta prova veio novamente comprovar a grande resistência dos VW carocha que ocuparam as três primeiras posições.

* Em Junho de 1960 o ex-Congo Belga, ou Zaire, tornou-se independente passado a chamar-se Republica Democrática do Congo e a sua capital, a antiga Leopoldville (nome dado pela presença colonial em honra ao rei Leopoldo II da Bélgica) passou a chamar-se Kinshasa que já era um nome existente antes da chegada dos belgas a África.


Capa do Regulamento da Prova
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Emmanuel Silou, referido como herói local, tirando “a sua sorte” para atribuição do numero de participante
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A equipa Meirschaert / Martin com o VW “carocha” vencedor, aqui na hora da largada. Para além da iluminação reforçada, as buzinas exteriores eram imprescindíveis para afastar os animais durante o percurso.
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Ricardo Duarte Kadypress
Desculpem esta injecção de Leopoldville / Congo. Só voltarei ao assunto R.P.Congo se se proporcionar falarmos das provas de velocidade - Grand Prix Leopoldville - onde partiparam alguns angolanos.Obrigado pela compreensão. E grato ao J.P.Delsaux e seu excelente livro.MERCI BEAUCOUP.
 
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Ricardo Duarte Kadypress
Lotus 30 em Angola
Comentário de Luis Sousa Cougar / Bélgica

"Aquando do ultimo Grande Premio , além do Cobra 7 litros e da Ferrari 275LM, a scuderie Filipinetti ,
inscreveu um Lotus 30 para o piloto Suiço Pius Zund.
Sucede que nos treinos , devido a quebra de uma suspensao o carro foi direito a umas palmeiras tendo
o seu piloto ficado gravemente ferido.
Alguem tem conhecimento ou presenciou este acidente?

Cump Luis"
 
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Ricardo Duarte Kadypress
Lotus 30 em Angola
Comentário de Luis Sousa Cougar / Bélgica

"Ricardo

Este chassis foi aquele que o atca embalou para receber o modelo 23.
Por visto nao se dava bem com os ares de Angola , e no seu regresso às ruas de Luanda ,
ainda foi mais mercecenario ,ao que escapou o Alvaro Lopes.
Eu tenho uma foto do carro no momento em que parte a suspensao e segue direito às palmeiras,
o problema é encontrar a tal foto.
Por curiosidade o numero de chassis era o 13 , e eu nao sou supersticioso .
Se calhar......

Abraço Luis"
 
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Ricardo Duarte Kadypress
Lotus 30 em Angola

Tens razão Luis:

"Chassis #30/L/13
1964 - Automobile Club of Angola

1964 - Ecurie Filipinetti / Driver: Pius Zund. Car appears to have been destroyed in an accident at the 1965 Angolan GP at Luanda, Angola. It was believed that the car had a suspension failure which caused the accident.

Present - Missing"
 
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