Também não acredito que o futuro dos clássicos esteja condenado ou que paire uma nuvem negra sobre sobre os petrolheads do futuro.
Como tudo na vida, há gostos e paixões para tudo e muitas delas adquirem-se com a idade.
Eu desde miúdo que gosto de carros, mas quando tinha os meus 10-15 anos não dava grande atenção aos clássicos.
Foi algo que senti despertar quando cheguei aos 20s.
A verdade é que vejo bastantes adolescentes hoje em dia (mais do que via antes) a interessarem-se pelos clássicos e basta circular uns minutos pelos grupos nas redes sociais para perceber que há muitos que já têm o "bichinho".
É claro que por vezes - como aconteceu há uns dias - calha um deles colocar uma foto de um 127 e a perguntar que carro é pois nunca tinha visto...
Em suma, até podem não saber que carro é (quem o desenhou ou fabricou, que motorização tem, se é raro ou não, etc.), mas o interesse está lá... E se não sabem, vão à procura, pesquisam, investigam...
O interesse também se desenvolve, aprendendo. E até nesse aspecto os adolescentes de hoje tem uma vantagem adicional, pois tem um acesso muito mais facilitado à informação e ao conhecimento do que a maioria de nós teve na era pré-internet.
Acho que a própria consciencialização sobre os clássicos também evoluiu. Apesar de os carros serem hoje mais descartáveis do que eram antigamente, creio que passou a haver maior preocupação em preservar aquilo que cada um de nós julga poder ser um futuro clássico. Basta dar alguns exemplos com ou menos de 25 anos (Ax Sport, Clio Williams, 106 Rallye, ou mesmo outros mais banais).
Eu tenho um carro de 2002 que, fruto das suas características, já me decidi não vendê-lo. Entre ganhar uns poucos milhares de euros e guardá-lo para o futuro, prefiro optar por esta última. Estou convencido que daqui a 25 anos não me irei arrepender da decisão. Julgo que outros tantos pensarão da mesma fora.
E isto traz à conversa um outro ponto, que não se deve negligenciar. As nossas memórias, aquilo que sonhámos sobre um determinado modelo ou que vivemos com um determinado carro.
O Rafael perguntava há pouco se algum miúdo teria vontade de recuperar um Clio 1.2.
Provavelmente a resposta seria negativa na maior parte dos casos.
No entanto, foi o meu primeiro carro e fiz com ele grande parte da minha vida universitária. Se o encontrasse hoje a circular ou mesmo abandonado (creio que ainda existe), estaria seguramente disposto a comprá-lo por bastante mais do que aquilo que comercialmente vale.
Por muito "nonsense" que possa parecer objectivamente, haverá sempre um maluco disposto a investir num determinado carro, disposto a gastar tempo e dinheiro naquilo que o resto do mundo pode achar um disparate. E ainda bem que assim é, pois é desta forma que conseguimos manter vivo este "hobby".
Tudo isto dito e ainda que possa estar equivocado (espero que não), creio que o gosto e o interesse pelos clássicos estão muito mais democratizados e que não corremos o risco do futuro provar-nos o contrário.