João: sabes que me tiraste o sono? Não só não adormeci a pensar nisto como às 5:30 já estava de olho aberto. A pensar nisto.
Estou muito dividido, porque sou um leigo ignorante neste mundo e porque, infelizmente, tenho uma personalidade muito pouco problemática, estando sempre a pôr em causa as minhas próprias decisões.
Por um lado, tenho a certeza absoluta que tens toda a razão do teu lado: recuperar este carro é fazível, mas muito mais caro que comprar o castanho e converter este em banco de peças (ou até vendê-lo, pois tem seguro, inspecção em dia, e está mecanicamente num brinco). A isto acresce que estou mergulhado num mundo que não conheço, com problemas que não domino e com consertos que não sei fazer nem como se fazem. Isto faz-me querer confiar em quem, altruisticamente, me dá a sua opinião (mesmo quando é difícil de ouvir ou ler). E, João, não tenho a mínima dúvida nem quanto aos teus conhecimentos, nem quanto às tuas (boas) intenções. E, no fundo, a tua opinião foi a única que apareceu em face daqueles fundos... Não sei se não há mais por concordarem todos contigo ou porque não têm nada a ver com isso.
Por outro lado, tenho vontade de seguir os trabalhos no vermelho. Não propriamente por ter esperança que estejas enganado (não tenho, nenhuma!). Mas porque a minha ligação ao GS não tem muito de racional... é algo que me dá prazer. E está a dar-me prazer (ainda que um gozo financeiramente desastroso) colocar o GS de novo na estrada. E depois começo a afeiçoar-me a ele... até à cor, que eu tanto detestava. Claro, também podia apaixonar-me pelo castanho (até porque era a cor da GS Pallas Break que os meus pais tinham quando eu nasci)...
Depois, porque este já tem muito de meu. Já tem trabalho, horas de companhia, peças que eu lhe pus, mimos que lhe dei. Até o sorriso das minhas miúdas a vê-lo subir quando o ligo de manhã.
A isto acresce que não tenho comprador para o vermelho nem dinheiro de parte para comprar o castanho; e o vermelho está na estrada, compensando todo o desastre financeiro com umas voltas que me deixam o sorriso nos lábios.
Bom, parece que converti este diário de bordo num divã de psiquiatria...
Sei o que isso é dai alertar para não cometerem os mesmos erros sempre que possível. Em nada estou ligado aos carros e sou 100% amador, dei a cabeçada no primeiro 128, voltei a repetir e só agora começo a descobrir o prazer de mexer em bases mais sólidas e originais. Eu com 500€ meti o último 128 que tenho a andar, não vai ficar imaculado mas tem uma patine única e quando ando nele quero lá saber se os parafusos deviam estar todos zincados. Eu pessoalmente adoro o desafio de restaurar tudo, é cansativo e oneroso mas dá um certo prazer.
Se fosse um Fulvia Zagato não se podia colocar de lado e escolher outro melhor. Agora GS ou Fiat 128 coupé há muitos e há sempre um melhor para aparecer.
Agora penso assim, antes achava que todos se restauravam e trouxe algum lixo para casa. Esse branco que mostrei e está em restauro custou-me 200€ e por gostar tanto dele é que entrou em restauro. Só nos guarda-lamas novos foram quase 400€. Nos últimos anos apareceram carros muito mais interessantes, mais caros inicialmente, mais baratos a longo prazo. E por muito bom que seja o restauro de chapa, não restaurado é sempre outra coisa.
De todo não sou um exemplo, comprei um Rally por 2500€ 1000 vezes mais podre que esse GS. E só se morrer ou com muito azar não o arranjo. Isto afinal não é para se ser racional. E queria trocar o meu vermelho por outro em estado (Lili Caneças), o que realmente foi do meu Pai, ele é que me proibiu. ´Nunca andei nele, nunca o conheci mas porra é o carro que foi mesmo do meu Pai. Ele por exemplo não liga patavina e dá muito mais valor ao que temos, vê o nosso como sendo o dele, eu vejo-o como o 128 que é igual ao dele.
Se eu não soubesse do castanho não teria comentado. Também tenho a certeza que pretende ficar com o Gs mais uns 40 anos.
O último comentário é de alguém que uma vez colocou (e bem) em causa o processo de tratamento dos parafusos e eventualmente a possibilidade de cederem. Achei até alguma piada ao comentário, respeito e de certo modo compreendo. Só que eu já arranquei a roda a um 128, numa travagem para entrar na garagem, o apoio na carroçaria de um tirante da roda cedeu. Tinha sido arranjado e remendado, só que naquele local o cancro está mesmo no interior. É apenas uma curiosidade. Quem me vendeu queria que eu viesse a andar nele (150km) pois conseguia uma IPO sem o carro ir ao centro.