Caros amigos,
Chego agora aqui, e constato alegremente que a discussão já vai encaminhada.
Amigo Helder, eu não sou nenhum Jay Leno. Quem me dera, mas não sou. E mesmo ele começou do nada, nos primeiros tempos da carreira dormia no carro. Carro esse que ainda tem, diga-se de passagem, e faz questão de trabalhar em todos eles.
Eu não quero diminuir nada nem ninguém na sua forma de ver os clássicos, quero apenas mostrar que a ideia do clássico que não é usado é altamente prejudicial à sobrevivência de todos os recursos à nossa volta. Se todos optarmos por apenas embelezar os nossos carros e nunca os usar, tirando uma ou outra casa de bate-chapas e pintura, o resto vai tudo às urtigas. E depois?
Já para não falar na vertente familiar... quantas vezes não vemos carros que foram coleccionados ao longo dos anos por um desses senhores exóticos que nunca tiram os carros da garagem, serem depois vendidos ao lote em leilão quando ele morre? Os filhos não lhes ligam, eram peças de museu em quem ninguém tocava. Não tiveram certamente o gozo de andar com eles, de ter aventuras neles.
O uso continuado é de longe a alternativa mais saudável para manter um clássico. Claro que nem todos nós podemos dar-nos ao luxo de os usar como carro do dia-a-dia, mas há muitos que são plenamente capazes disso. E se não todos os dias, pelo menos com muita regularidade.
Eu não sou contra os restauros, só acho é que muitas vezes caímos no restauro demasiado precioso e depois temos medo de usar os carros. Eu paro o meu carro na rua, vou com ele ao supermercado, deixo-o de capota aberta em toda a parte. Vai levar e buscar os miúdos à escola, já serviu para transportar coisas que não cabem em mais lado nenhum, e nunca se nega. E fez 45 anos esta semana, é o mais antigo deste modelo em Portugal e faz parte de uma série extremamente rara, da qual não há mais nenhum no país.
Não tenho receio? Claro que tenho, mas não o deixo é tomar conta de mim. E prefiro arriscar do que ficar sem gozar tudo o que puder do meu carro. E também fico a olhar para ele de vez em quando, seja na garagem ou na rua. Adoro ver o reflexo dele nas montras quando passo pelas lojas.
A mim o que me preocupa é que de facto vamos tendo cada vez menos gente capaz de fazer o que quer que seja, já se começa a sentir e bem. Aqui há tempos estive a estudar um motor pré-guerra que em vez de bronzes de cambota e bielas tem o metal fundido directamente no bloco. Quem faz disto hoje em dia? Ninguém, pelo menos aqui pelos meus lados. Conhecia um mecânico que fazia disso (foi um dos meus mestres, felizmente), mas já não está entre nós... E foi uma coisa que não cheguei a aprender.
Quem arranjará os nossos clássicos daqui por uns anos? Vamos ter de os parar todos por não terem tomadas USB?
Um abraço a todos!
Chego agora aqui, e constato alegremente que a discussão já vai encaminhada.
Amigo Helder, eu não sou nenhum Jay Leno. Quem me dera, mas não sou. E mesmo ele começou do nada, nos primeiros tempos da carreira dormia no carro. Carro esse que ainda tem, diga-se de passagem, e faz questão de trabalhar em todos eles.
Eu não quero diminuir nada nem ninguém na sua forma de ver os clássicos, quero apenas mostrar que a ideia do clássico que não é usado é altamente prejudicial à sobrevivência de todos os recursos à nossa volta. Se todos optarmos por apenas embelezar os nossos carros e nunca os usar, tirando uma ou outra casa de bate-chapas e pintura, o resto vai tudo às urtigas. E depois?
Já para não falar na vertente familiar... quantas vezes não vemos carros que foram coleccionados ao longo dos anos por um desses senhores exóticos que nunca tiram os carros da garagem, serem depois vendidos ao lote em leilão quando ele morre? Os filhos não lhes ligam, eram peças de museu em quem ninguém tocava. Não tiveram certamente o gozo de andar com eles, de ter aventuras neles.
O uso continuado é de longe a alternativa mais saudável para manter um clássico. Claro que nem todos nós podemos dar-nos ao luxo de os usar como carro do dia-a-dia, mas há muitos que são plenamente capazes disso. E se não todos os dias, pelo menos com muita regularidade.
Eu não sou contra os restauros, só acho é que muitas vezes caímos no restauro demasiado precioso e depois temos medo de usar os carros. Eu paro o meu carro na rua, vou com ele ao supermercado, deixo-o de capota aberta em toda a parte. Vai levar e buscar os miúdos à escola, já serviu para transportar coisas que não cabem em mais lado nenhum, e nunca se nega. E fez 45 anos esta semana, é o mais antigo deste modelo em Portugal e faz parte de uma série extremamente rara, da qual não há mais nenhum no país.
Não tenho receio? Claro que tenho, mas não o deixo é tomar conta de mim. E prefiro arriscar do que ficar sem gozar tudo o que puder do meu carro. E também fico a olhar para ele de vez em quando, seja na garagem ou na rua. Adoro ver o reflexo dele nas montras quando passo pelas lojas.
A mim o que me preocupa é que de facto vamos tendo cada vez menos gente capaz de fazer o que quer que seja, já se começa a sentir e bem. Aqui há tempos estive a estudar um motor pré-guerra que em vez de bronzes de cambota e bielas tem o metal fundido directamente no bloco. Quem faz disto hoje em dia? Ninguém, pelo menos aqui pelos meus lados. Conhecia um mecânico que fazia disso (foi um dos meus mestres, felizmente), mas já não está entre nós... E foi uma coisa que não cheguei a aprender.
Quem arranjará os nossos clássicos daqui por uns anos? Vamos ter de os parar todos por não terem tomadas USB?
Um abraço a todos!