Ora bem, este é um bom tópico. Logicamente que uns e outros tem uma forma de viver diferente da dos restantes vizinhos. Uns restauram aquilo que é considerado velho enquanto outros compram novo, no fim e ao cabo uns metem a cachola na barraca das ferramentas e outros colocam a tola ao sol de uma qualquer praia.
Mas, vamos a resumir isto dos restauros. É que muita malta que adquire hoje bons popós, podem muito bem, estar sem eles, já nos próximos anos, talvez pela causa da crisite aguda que a todos afecta, talvez por demasiados créditos, talvez por culpa de um sistema social e político que afinal a todos, sem dúvida, confere o seu belo momento de fama e depois lho retira por uma e por mil razões.
É sabido que estar no pódio não dura para sempre, mas quem vive na tal “mó de baixo” pode e sabe sobreviver melhor do que muitos que não conseguem sequer imaginar as suas vidas sem a mais actual maquineta sobre 2 e 4 rodinhas que afinal foi este ano o tal carro do ano e para o ano não passa de um tamanco velho substituído por uma outra marca qualquer.
Mas aqui fica o caso. Eu tive um serviço numa grande refinaria do Norte, que não irei revelar qual é. Tive que esperar na portaria pelos papéis e ordens de serviço que me competia fazer e em quase uma hora de espera pelo aval lá mantive o inevitável diálogo com os dois seguranças de portaria em forma de quebrar a monotonia.
Diante de mim estava um belo parque de estacionamento privado. Metade das Marcas das famosas letras começadas em Audi, Alfa, Bmw, Mercedes, Ford Mondeo. e até o mais recente Mini faziam sobressair ou suspeitar, tanto a mim quanto a qualquer um visitante deste local, e quase de imediato que os seus operários mantêm uma boa linha de crédito e outra de bom poder de aquisição. O parque é VIP e bem anunciado e só para os poucos eleitos que ali podem meter as suas maquinetas.
Às tantas aparece à entrada um antigo e velhinho Mini, na sua quase sumida cor avermelhada, que me pareceu cruzar dignamente o tempo qual carro saído de uma época anterior e transportada para o nosso actual tempo. Fez-me lembrar um cenário do “Regresso ao Futuro”.
O tal senhor já de boa idade e cabelos grisalhos, mal parou à cancela automática, teve logo a mesma em sentido de continência e os próprios seguranças se colocaram de pé e saíram para fora da portaria redobrados de mil e sabe-se lá quantas mais atenções, não fosse o caso de haver um qualquer raio de um estúpido mosquito a chegar a atrapalhar a marcha desta relíquia do século passado que rumou depois, sem mais demoras, ao parque VIP e estacionou em lugar de honra onde se podia ver que o motorista bem habituado ao local estacionou sem hesitações num espaço reservado totalmente para o digno e, para mim, ainda misterioso e intrigante visitante com tal relíquia entre as mais recentes e reluzentes maquinetas do mundo automóvel que fazia um cenário de contrastes de 2 épocas distintas entre um passado e um presente.
Fiquei a pensar: “Ora bolas, este homem acaba de trazer o velho “relógio de bolso do avô e ainda é tratado melhor do que a Rainha de Inglaterra?”.
Tanto quando pude ver, o tal senhor nem se dignou a tirar a chave da ignição e saindo da viatura acabou por nos atirar, a mim e aos seguranças, uma “Boa tarde” e lá se dirigiu às instalações enquanto, aos seguranças, só lhes faltou fazer a tal vénia da praxe dos velhos castelos ingleses.
Perante o meu espanto deste cenário, eu questionei os seguranças:
- Olhem lá, este senhor deve ser antigo empregado e reformado desta refinaria?”
A resposta veio rápida e esclarecedora como quem deixa cair um martelo num pé:
- Não senhor! Este senhor, que acabou de entrar com aquele velho mini, afinal é o dono desta refinaria e de outras!”.
E acabei por ficar caladinho sentado na minha cadeira da sala de espera a pensar que afinal não é o carro que diz nada do dono, mas sim, pois, o que ele possui e depressa me lembrei de um ditado que me veio à cachola e que, aqui e por forças deste post, adapto à situação:
“Quem vê carros, não adivinha quem é que o guia quanto mais quem ela é”.