[SIZE=medium]31 de Dezembro de 1986, 22.15 p.m.[/SIZE]
[SIZE=medium]Saio aos comandos do Sunbeam da Granja, casa dos meus avós, a caminho de Cinfães, a caminho da noite, que prometia…[/SIZE]
[SIZE=medium]Às 22.45 já estava na festa na garagem do café Angola.[/SIZE]
[SIZE=medium]Lá fora estava frio, cá dentro o ambiente aquecia rapidamente e as paredes da garagem começavam a transpirar.[/SIZE]
[SIZE=medium]Mal entrei encontrei quem queria, a madrinha do meu afilhado…[/SIZE]
[SIZE=medium]A tocar estavam os do costume… incluindo meu tio com o seu Farfisa ([/SIZE]
[SIZE=medium]http://en.wikipedia.org/wiki/Electronic_organ[/SIZE][SIZE=medium]) e a Leslei ([/SIZE]
[SIZE=medium]http://en.wikipedia.org/wiki/Leslie_speaker[/SIZE][SIZE=medium]).[/SIZE]
[SIZE=medium]Um cigarro ou dois pro social e bora lá dançar com a madrinha, enfim tentar dançar que aquilo estava cheio como um ovo e para nos mantermos em pé tínhamos que dançar em constantes mudanças de direcção para evitar os abalroamentos mais fortes e as pisadelas mais pesadas.[/SIZE]
[SIZE=medium]A noite estava a começar bem.[/SIZE]
[SIZE=medium]Às 23.15 nova corrida nova viagem, a madrinha foi passar o ano com os pais e eu corri para a Granja. Os meus primos, o meu velhote, a minha irmã e os meus avós estavam à espera.[/SIZE]
[SIZE=medium]Meia-noite, passas, champanhe, votos e a alegria de passar o ano com a família.[/SIZE]
[SIZE=medium]Mas a madrinha vivia em Cinfães e num estante voltava ao baile, não há tempo a perder, bora lá pro Sunbeam.[/SIZE]
[SIZE=medium]Fosse pelo champanhe, fosse a adrenalina misturada com a aselhice, ao fazer inversão de marcha dou um suave toque no muro, seria dos primeiros de uma longa lista que perdura até hoje, de pequenos toques. Mas não era grave, naquela época o Sunbeam era pau para toda a obra e toques e beijos tinha ele um pouco por todo o lado, bom beijos… houve muitos.[/SIZE]
[SIZE=medium]Bora lá dar gás, 1ª, 2ª a fundo, a rampa é íngreme, em alguns momentos quase esgoto a segunda na velha e estreita rampa empedrada, para logo travar que algumas das curvas têm quase 360º.[/SIZE]
[SIZE=medium]Chega a EN, prego na 2ª, 3ª, 4ª, 3ª, 4º, 3ª, 2ª e assim sucessivamente, as curvas já as conhecia bem e algumas havia que eram sempre da mesma maneira com a traseira a ameaçar passar prá frente, mas só ameaçar, afinal já naquela época era um condutor cool, quase. Voei os 16 km.s que me levavam ao destino.[/SIZE]
[SIZE=medium]Volto pro baile, o ambiente já estava tropical, temperatura lá fora 0º, cá dentro 40º e 80% de humidade, as paredes da garagem do Angola choravam, escorriam, emocionada e copiosamente.[/SIZE]
[SIZE=medium]A madrinha sorri, bora lá beijinhos de ano novo e… vamos dançar, lutar no meio a multidão, agora ainda mais animada e trôpega com o champagne (e muita cervejola).[/SIZE]
[SIZE=medium]Mais uma fatia de bolo-rei, mais uma taça, mais um copo… a noite avança a grande velocidade e o baile continua como um ovo.[/SIZE]
[SIZE=medium]Eramos comportados, lá para as 05.00 levo a madrinha a casa, de Sunbeam claro. Beijinho na face e fica combinado; encontramo-nos depois do almoço, vamos dar uma volta de carro.[/SIZE]
[SIZE=medium]Ui, já estava a ver estrelinhas no céu, enfim ainda era de noite.[/SIZE]
[SIZE=medium]Esperei que a madrinha do meu afilhado entrasse em casa como fazem os cavalheiros.[/SIZE]
[SIZE=medium]A coisa promete, está a orvalhar, os paralelos estão húmidos como gosto, estou contente… 1ª, 2ª, travão da mão, tudo à esquerda, 1ª a fundo.[/SIZE]
[SIZE=medium]Perfeito, a noite tinha corrido bem e o 1º pião de uma longa série que haveria de fazer naquela rua saiu quase perfeito. Outros houve em que as guias dos passeios se aproximaram perigosamente, se o meu avô sonhasse…[/SIZE]
[SIZE=medium]Regresso então a casa numa toada tranquila e pensativa, a noite tinha corrido bem, o dia seguinte prometia ser ainda melhor.[/SIZE]
[SIZE=medium]As horas de sono aproveito para imaginar como aprisionar a madrinha do meu afilhado e passaram rápido. Toca a levantar que há um cabrito para virar.[/SIZE]
[SIZE=medium]Ah, tenho que dar a volta ao meu avô para que volte a emprestar o Sunbeam, mas não foi difícil quando percebeu que era por uma boa causa e a noite de passagem de ano, de todos os perigos automobilísticos, já tinha passado sem incidentes.[/SIZE]
[SIZE=medium]Mais 16 Km.s para Cinfães, mais 100 buracos para driblar e 50 curvas para controlar, com meia dúzia para escorregar.[/SIZE]
[SIZE=medium]Chego ao destino dum destino que se iria repetir muitas e muitas vezes.[/SIZE]
[SIZE=medium]A nina já estava à minha espera, vamos até ao café, conversa, mais um pouco de conversa e finalmente vamos dar uma volta de Sunbeam, pois.[/SIZE]
[SIZE=medium]Levamos “velinhas” a bordo, …, na terrinha, naquele tempo, um amigo e uma amiga não andavam de carro a passear sozinhos e naquele tempo, momento, ainda eramos só amigos… cada vez mais.[/SIZE]
[SIZE=medium]Conduzo devagar, é importante fazer charme, mostrar descontracção.[/SIZE]
[SIZE=medium]Cidadelhe, Pias, Porto Antigo, Pala, Paços e Carrapatelo.[/SIZE]
[SIZE=medium]Começou a anoitecer, paramos na barragem, as “velinhas” vão ver o rio, é a nossa oportunidade…, tinha ensaiado o gesto enquanto dormia: uma festa na face e…[/SIZE]
[SIZE=medium]… acontece o “bacio” que tardava, foi breve mas perdura. Todos os anos o recordamos no mesmo sítio… no Sunbeam, claro.[/SIZE]
[SIZE=medium]A partir daí o Sunbeam namorou muito, foi o nosso cúmplice. É um carro com muita experiência, com mil aventuras mas felizmente nunca aprendeu a falar, porque se falasse…[/SIZE]
[SIZE=medium]Eu a nina levamos já 27 anos de estrada juntos mas, aqui entre nós, o Sunbeam é meu companheiro há mais tempo, 33 anos.[/SIZE]
[SIZE=medium]Conto com ele para os próximos 33 e com a Nina também, claro…[/SIZE]