A Doorne Aanhangwagen Fabriek, DAF, foi fundada em Born, Holanda, pelos irmãos Hubert e Wim Van Doorne. Eles produziam implementos agrícolas desde 1927, caminhões desde 1952 e fizeram seu primeiro carro, o DAF 600, em 1958, quando o "A" passava a significar Automobiel. O pequeno sedã com motor de dois cilindros horizontais opostos (boxer) a quatro tempos, arrefecido a ar, de 600 cm3 e 22 cv já trazia como única opção a transmissão de variação contínua Variomatic.
O DAF 33, no alto, e sua transmissão: para cada roda, um conjunto com correia e duas polias, cujo diâmetro variava para gerar as "infinitas" relações de marcha
O sistema consistia em dois pares de polias com cavidade cônica, cada par ligado por uma correia de borracha. O motor girava as polias primárias, que através das correias conduziam as secundárias, estas movimentando as rodas traseiras. Como havia um conjunto de polias e correia para cada roda, não era preciso diferencial. A mudança de relações era comandada por uma válvula eletromagnética de acordo com o vácuo no coletor de admissão (o que indicava a solicitação de maior potência pelo acelerador), pelo mesmo princípio de alguns ciclomotores, como o Caloi Mobylette, e motonetas.
As polias "fechavam-se" e "abriam-se" de modo a variar de diâmetro efetivo, alternando a posição da correia em sua cavidade. Isso produzia uma ampla variação na relação de transmissão, como se fossem marchas trocadas continuamente, sem intervalos ou "degraus" -- a publicidade da DAF falava em "1001 opções para a relação ideal". Para a marcha à ré o sistema invertia o sentido da primeira polia, para que tudo trabalhasse inversamente.
O DAF 750, depois renomeado Daffodil, era uma versão mais potente do 600, este pioneiro na transmissão Variomatic. O motor permanecia um boxer de dois cilindros arrefecido a ar
Naturalmente havia problemas, um deles a incapacidade da correia de lidar com motores de alto torque. Para o motorista, o efeito era curioso: a velocidade subia enquanto o motor permanecia estável na rotação de torque máximo. Embora uma boa medida em termos de economia de combustível e emissões poluentes, o som não era exatamente agradável -- este seria o maior obstáculo à CVT mesmo nos anos 80, quando polias mais robustas, com tecnologia aeronáutica, haviam eliminado o problema de resistência.
Depois do 600 vieram DAFs mais potentes, como o 750 (versão de 30 cv do 600) e o 33, ambos de 750 cm3 e também dotados de Variomatic. O 750 ficou conhecido como Daffodil, contração de DAF e krokodil, ou crocodilo, em alusão à aparência de sua frente. Os modelos seguintes foram desenhados pelo italiano Giovanni Michelotti: o 44, com um boxer de 850 cm3 e 44 cv; o 55, com motor Renault de quatro cilindros em linha, arrefecimento líquido, 1.100 cm3 e 50 cv; e o 66, um 55 modernizado, com 1.300 cm3 e 55 cv.
Os modelos 44, 55 e 66 foram desenhados pelo italiano Michelotti. O 55, ao lado, foi o primeiro com motor Renault de quatro cilindros, mantendo a transmissão inovadora da marca
Em 1975 a DAF era absorvida pela Volvo, que passava a fabricar na Holanda, sob sua marca, o modelo 66 e depois o 343 (que seria o DAF 88), mais tarde rebatizado 340. Este último foi o primeiro a oferecer opção entre Variomatic e caixa manual de quatro ou cinco marchas, tendo sido produzido até 1991. Depois dele a Volvo fabricou em Born a série 400 (hatchback 440, sedã 460, cupê 480 ES) e a atual linha 40 (sedã S40 e perua V40), mas nunca mais utilizou a transmissão de variação contínua.
Por outro lado, a Van Doorne Transmissie (VDT) lançou a Transmatic, uma evolução da antiga transmissão dos DAFs, que em 1999 passou a equipar como opção o Nissan Primera. Ao lado da Audi Multitronic, a VDT comprova que a idéia pioneira dos irmãos holandeses fazia todo o sentido e só precisava ser aperfeiçoada.