Hugo, a história dos farolins dos 166 foi há um ano e tal. Parecia menos menos mas o tempo corre. O problema era exactamente um ano antes, ou dois, ou três. Ainda assim, por muito que um banco de peças deixe de se produzir X anos após a saída de um modelo do mercado, é práctica comum ou que se continuem a produzir ou que abasteçam um volume de stock capaz. Estamos a falar de luzes, coisa comum, não dos pinchavelhos que prendem o tapete ao chão do carro.
Quanto ao mais, os carros no sentido de se saberem serem feitos… acabou há muitos anos. A Alfa perdia dinheiro por cada Giulia Bertone que produzia, apesar do valor em novo equivalente a um Jaguar E. O Giulia actual é um excelente carro, daqueles que melhore interpreta a simbiose do condutor com a estrada, mas qualquer carro hoje, e mesmo os bons, são só extraordinariamente eficientes, seguros, insonorizados entre uma série de outras coisas. Mas são tão somente assemblagens de componentes cada vez mais dominados pela electrónica e pela obsolescência programada. Não interagem da mesma forma com o intérprete de condução. São demasiadamente assépticos. Além do mais a electrónica não envelhece, aliás, a electrónica é binária. Ninguém acha piada a um display de GPS datado (eu não acho a nenhum). É só uma coisa fora de prazo. Sempre vai ser. Ao contrário da mecânica não tem amadurecimento, não tem personalidade, não tem beleza, não perdura, é desprovida de alma. Um farol de um RL Super Sport é uma obra de arte. Um farol full led, que a Alfa Romeo por acaso ainda não tem creio eu, terá o papel de servir um carro actual que alguém ouse conservar um dia como clássico. Não tem valor de peça isoladamente. São casio de mostrador LCD. Nunca serão Breguet ou Patek Philippe. É o que é. E o que é, para quem gosta destas coisas, nunca virá a ser mais do que aquilo que é. Nunca será superlativo, nunca irá amadurecer. Será perecível e finito.
Tudo para dizer que numa indústria que foi feita para as massas e para satisfazer quem não gosta, enquadrada pelo profético epitáfio do Lee Iacocca de que 5 construtores iriam dominar o espaço industrial do automóvel fazem com que a coisa se tenha tornado profundamente banal e desinteressante. Admito quem pense diferente de mim, afinal muitos vão nascer e crescer com aquilo que temos hoje. Mas tal como os clássicos da música, da pintura, da literatura e demais ofícios das artes, a raiz da beleza vai ficando cada vez mais lá para trás. Caberá a quem virá de novo e pense o mesmo de ir buscar esse repositório e tentar vivê-lo, quando muitos já tiveram oportunidade de o reviver.