Sunbeam Sunbeam Avenger 1972 - O Meu Sunbeam

Diários de Bordo

Sunbeam Sunbeam Avenger 1972 - O Meu Sunbeam

João Luís Soares

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Já agora, fica uma "resposta".

Sim, a Escola de Condução França ainda existe na Rua Fernandes Tomás.
 
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Raio de Sol
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A história de 1, 2, 3, 4 raios… de sol

Resolvi sair do armário, abrir a caixa (de pandora?), pôr a boca no trombone e partilhar algumas histórias do meu Sunbeam.

O título
O meu Sunbeam tem a matrícula FP-96-69. Sim o meu tem matrícula, está em meu nome e se for apanhado em alguma manobra ilegal é altissimamente provável que eu vá a bordo, ao volante.
Mas, voltando ao título, o meu FP (isto não é nenhuma piadola à moda do Porto) na realidade são 1, 2, 3, 4 Sunbeam (s).
Na verdade o FP é o sucessor do EH, qualquer coisa, branco com capota preta de vinil.
Do EH, nascido algures entre 1972 e 1973, apenas lhe conheço verdadeiramente a história a partir de 1980.
A coisa foi mais ou menos assim…
O meu avô nasceu em 1910, era médico e desde novo sofria de asma e bronquite (que raio tem isto a ver com a história?).
Por causa da bronquite e da asma quando acabou o curso pirou-se do Porto em busca de melhores ares.
Como os meus bisavós tinham uma quintarola junto ao Douro no concelho do Marco, o meu avô resolveu atravessar o rio e foi parar a Cinfães (sim essa terra que aparece nas estatísticas do INE como sendo a segunda mais pobre do país, mas é mentira é só para enganar).
Como isto se passa nos anos 30 já todos perceberam que o EH ainda não tinha nascido, portanto vão ter que esperar mais um pouco.
O meu avô adorava HPs (Horse Power’s), equídeos percebem? Ok cavalos de quatro patas que se montam.
Não falhava uma feira de S. Martinho em Penafiel para ver as novidades cavalares e quando conseguia juntar uns cobres, para o que nunca teve muito jeito, trocava de montada por uma melhor, pelo menos quando se não enganava.
Depois haveria muitas histórias de cavalos para contar, mas agora não pode ser porque temos que chegar a 1972/1973 para o EH ver a luz do dia.
O meu avô era um garboso cavaleiro, aliás foi praticamente a única vaidade que lhe conheci, salvo a vaidade que tinha na minha avó que era a loirinha de olhos verdes mais bonita que vira em toda a sua vida e que desde o primeiro olhar aprisionou o seu coração para sempre.
Voltando à história, principal, agora vou romancear um pouco para acelerar e evitar que todos os elefantes fiquem a roncar.
Apesar de trocar com alguma frequência de cavalos o meu avô sempre teve o dom de fazer com que os seres vivos que com ele privassem lhe ganhassem afecto e os cavalos não eram excepção.
O meu avô era também um homem de afectos o que incluía os seus altivos ginetes.
Naquela época, dizem, além de poucas estradas haver, sítios existiam que para lá chegar nem caminho havia, mas apenas carreiros, veredas.
Num dia aziago voltava o meu avô a casa depois de ir consultar um “doente” a sua casa, que ficava pouco antes do fim do mundo e anoitecendo cedo por ser já inverno. Seguia apeado o meu avô e o cavalinho seguia-o como um cãozinho num desses carreiros que era preciso percorrer. Mas num momento malvado o cavalo escorregou no musgo húmido e caiu borda a baixo uns 2 ou 3 metros.
O meu avô logo o socorreu que para cuidar das almas como dos corpos não faz muita diferença entre as cavalgaduras e os cavalos propriamente. Mas o bichinho caiu mal, magoou-se numa pata e nas costelas, foi preciso quase levá-lo ao colo até casa, foi um suplício.
O Cavalinho magoou-se seriamente e foi preciso tomar a decisão última e brava, abreviar-lhe o sofrimento e mandá-lo para o céu dos cavalos.
Este acidente abalou muito o meu avô, aquele era o cavalo, dos vários que teve, com que(m) melhor se entendia. Cumprimentavam-se, falavam do tempo, discutiam diagnósticos e se no regresso a casa encontrassem uma encruzilhada mais embaralhada o meu avô não discutia com o cavalo e acatava a sua escolha sobre o rumo a seguir.
Não sei bem, mas o meu avô devia estar perto dos 40 quando acabou por aceitar o destino e transformar o estábulo em garagem.
Na época, mesmo em Cinfães os automóveis eram já maquinetas comuns entre as gentes que podiam e que não eram muitas já se vê.
Carta de condução não sei onde meu avô a foi a arranjar, mas se andou na escola, a escola não devia ser grande coisa.
E pronto, o meu avô comprou um carro em 10ª mão e estreou-se em grande estilo, comprou um Austin vermelho descapotável um dos de uma mão cheia que terão sido então importados e que não sei o modelo, pois nunca o vi nem mesmo em fotografias.
Fotografias de cavalos e a cavalo o meu avô tinha algumas mas de carros e de carro praticamente não existem.
O Austin era um caro bestial que, já nessa época, passava a vida a dar-lhe o amoque. O meu avô ficava desnorteado, mas não havia nada a fazer, quando o bicho não queria andar não havia empurrão que o fizesse mudar de ideias.
Felizmente que lá na terá além de um ou dois médicos também havia um taxista que era mecânico e mesmo sem telemóveis sempre se arranjava maneira de pedir socorro ao Sr. Jaime. Este chegava com ar bonacheirão e perguntava: então Sr. Dr. o que tem o doente?
O meu avô não respondia como lhe apetecia porque tinha o Sr. Jaime em grande conta e além disso não estava em posição de praguejar, só tinha que aguardar e depois seguir as instruções.
O Sr. Jaime, que também devia ser mágico, olhava para o motor pegava numas chaves de qualquer coisa, vinha dar ao motor de arranque, voltava ao motor, espreitava-lhe as entranhas, mandava o meu avô pôr o carro a trabalhar et, a dada altura, voilà o carro pegava e voltava a funcionar como, quase, novo até ao próximo achaque em que mais uma vez o Sr. Jaime seria chamado para fazer magia.
Este Austin derreteu o juízo ao meu avô, mas era um descapotável vermelho de meter vista e até tinha uma alavanca para aliviar o escape e pô-lo a roncar que até parecia uma máquina.
O pior era quando chovia. Não, não era um problema de bobine, era mesmo um problema hidroinsolúvel, chovia como lá fora. Mas para grandes males grandes remédios e vai daí passou a estar equipado com um novo acessório, um oleado. Com o oleado estendido na capota era mais estanque que os Pandur das nossas tropas.
Segundo um irmão da minha avó foi também um espectáculo ver o Austin a roncar de escape aberto a subir 31 de Janeiro, no Porto com o oleado em cima. Os transeuntes adoraram e o meu tio, que nem era crente, deu graças a Deus por ninguém saber que o dono de tão bizarra viatura era o seu cunhado.
Avançando, penso que depois deste Austin veio um Ford em 5ª mão. Deste não reza a história, isto é, devia pegar e andar, que era para isso que o meu avô o queria, e de tão certinho que devia ser não ficaram histórias para contar.
Depois penso que comprou outro Ford, um Prefect. Ou seria um Anglia? Não sei, tenho que consultar o acervo histórico da família pois existem uma ou duas fotos do carrito que também não deixou grandes histórias para contar, pegava e andava. Cumpria a missão.
Não sei se terá comprado outros, mas algures à volta de 65 o meu avô comprou um… Skoda verde alface, que esse já eu conheci. Penso mesmo que foi o primeiro carro onde tive o gosto de… enjoar.
Mas perguntar-me-ão os mais atentos: onde raio foi o médico da aldeia habituado a cavalos desencantar um Skoda? Ainda por cima novo.
A explicação tenho que a especular em surdina que estas coisas nunca se sabe.
O meu avô era do contra. Claro.
O Skoda era fabricado na, então, Checoslováquia portanto era uma questão de princípio, juntava-se o útil, o carro, ao agradável, provocar o olhar de soslaio dos mais esclarecidos do regime que sabiam que, apesar de verde, o carro era vermelho.
O Skoda penso que era um LB, a matrícula. O modelo seria um MB 1000 ou 1100.
O Skoda tinha um focinho todo catita, parecia que sorria.
Por alturas de entrar para a escola, em 71, tirei uma fotografia sentado dentro da mala, que era à frente pois que como sabem, os entendidos, o Skoda era um tudo atrás.
Não tenho a certeza, mas julgo que o Skoda MB 1000 ou 1100 era, já na época, um pachorrento, não era carro para grandes adrenalinas o que para o meu avô estava óptimo. O importante era pegar, principalmente no Inverno, e andar ainda que devagar e o Skoda não se negava.
Mas pelo uma vez o Skoda deu espectáculo.
Fomos ver a neve ao Marão. Ainda antes da pousada, se São Gonçalo, começaram a encostar carros à berma, alguns atascados. Mas o Skoda sempre a ronronar mansinho não desistia e foi dos poucos que foi até ao cimo e voltou sem uma única atascadela e tudo isto com o meu avô ao volante, que tinha nascido para trotear e galopar, não para pilotar.
Mas o destino foi madraço para o Skoda.
A Skoda não tinha rede de assistência em Portugal e poucos mecânicos gostavam de lhe pegar pois parece que o bicho era diferente das modas da época.
Então para mudar o óleo e fazer revisões, lembro que o carro foi comprado novo, o meu avô levava o Skoda à oficina da Saab em Costa Cabral, no Porto. Na altura, apesar de diferentes, parece que eram os mecânicos da Saab os mais capacitados a mexer no Skoda e além disso tinham também acesso às peças.
Tudo correu bem até que numa dessas revisões saímos do Porto depois do almoço, viemos pela Marginal a fora mas ainda antes de Entre-os-Rios o carro calou-se e não mais se fez ouvir. Diagnóstico: motor gripado. Pois, apesar dos mecânicos da Saab serem os mais capacitados, não apertarem devidamente o bojão do cárter, o carro veio a fazer chichi escuro desde o Porto e ao fim de uns 35/40 Km.s colou, calou-se, estancou e acabou.
Bem acabar acabar não acabou, mas a rectificação do motor demorou muito tempo até porque eram necessárias peças do lado de lá da cortina de ferro e as relações com os comunas não eram as melhores.
Entretanto o meu avô já não tinha cavalos e precisava de um carro para a sua vida de João Semana.
Então um amigo emprestou-lhe um carro que tinha por lá mais ou menos parado, um Volkswagen de 1950 e poucos, daqueles de vidro duplo atrás, com botão para dar ao motor de arranque, o acelerador penso que era uma espécie de rolamento e já tinha piscas mas não sei se eram de série.
O meu avô adorou, aquilo é que era um carro. Dava-se à chave e começava a trabalhar como um relógio suíço e para andar só tinha que meter gasolina e trocar o óleo de quando em vez. O bicho não gastava água nem aquecia, aparentemente, pois nem ponteiro de temperatura tinha.
O meu avô tinha descoberto o carro que lhe convinha. O Volkswagen tinha quase 20 anos mas não falhava nunca.
O Skoda acabou por ser reparado, mas o meu avô vendeu-o logo ao preço da uva mijona, que ele também não sabia fazer negócios melhores.
Como o Volks era emprestado foi à Guerin e comprou um de, mais ou menos, 68 (seria um LD?). Era um 1300 leite com café escuro que, apesar de não ser, parecia novo.
O meu avô que nunca tinha gostado de carros descobrira agora um carro que gostava, o Volkswagen carocha e não é que aparece no consultório um Zé Brasileiro português do mundo a dizer-lhe que ia voltar para o Brazil (na época ainda era com Z) mas queria vender o Volkswagen que comprara e estava praticamente novo. O meu avô, que nem era homem de gastar o dinheiro, que não tinha, fechou o negócio na hora, 30 ou 40 contos para lá e um 1302S para cá.
Um 1302S? Mas aquilo era uma máquina e o meu avô só tinha unhas para cavalos.
A coisa durante uns tempos era assim… O meu avô sempre foi muito distraído, passou a ter dois Volkswagens, de cor era parecida, embora o 1302S fosse mais claro, os para-choques eram diferentes mas isso eram bizantinices para o meu avô. Assim o meu avô pegava no Volkswagen que estivesse mais à mão, dava à chave engrenava a 1ª, arrancava e só então percebia em qual dos dois estava, pois o 1302S não se limitava a arrancar, segundo o meu avô saltava.
Mas isto de ter dois carros era coisa que não era para os cabedais do meu avô, que além do mais não precisava de dois carros para nada.
Então pega no 1300 (ou seria 1200?) e no 1302S vai à Guerin e anuncia: se eu deixar os dois aqui e comprar um novo ainda tenho que pagar alguma coisa?
- Sim Sr. Dr. tem que pagar alguma coisa. Olhe temos ali o novo modelo 1302, com novos interiores, novo volante, quatro piscas, um brinco e a fiabilidade de sempre e não é caro, custa 80 contos. Portanto com os dois carros que dá à troca e mais 15 (20?) contos leva um carro novo.
Negócio fechado. É aqui que entra para a família o 1302 HG-35-04. Não era S mas era novo e cheirava a novo. Que cheirinho.
Estamos em 1973, o EH, qualquer coisa, branco com capota preta de vinil já tinha nascido, mas eu ainda não sabia.
Querem saber mais?

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Um Skoda parecido em http://www.flickr.com/photos/leicester-vehicle-photography/5512960566/

Fotos de Volks e Fords há muitas mesmo aqui no portal portanto é só fazer as contas, perdão, procurar.
Acredita nisto:
Deves ser o único, em toda esta comunidade, que consegue "colar" o pessoal ao monitor, sem uma única imagem "à vista"!

Continua, que o pessoal agradece! ;)


Boas

Para não ficarema pensar que invento tudo o que escrevo, que é só blá blá blá e não posto fotos

aqui vão os últimos achados do baú do meu tio (o tal que arrancou o meco kilométrico com o VW 1302)


Ver anexo 293590

afinal sempre existe uma foto do primeiro carro do mu avô, o tal Austin descapotável que tinha amoques frequentes. Como eu não sei, alguém sabe qual o modelo e o ano?

Ver anexo 293592

o segundo caro do meu avô, penso, o tal Prefect

Ver anexo 293591

aqui com os meus velhotes a fazerem-se à fotografia com o meu tio, o puto sentado no carro

Ver anexo 293598

agora o tal Skoda que gripou e eu, acho

Ver anexo 293595

agora chega o VW 1302, a ser lavado por mim pelo meu tio na tal rampa onde aprendi a arrancar musgo

Ver anexo 293596

aqui o mesmo 1302 pilotado pelo tal do meco, mas agora com mais domínio da máquina e também com mais larguesa para evitar obstáculos duros e maciços

Ver anexo 293597

e finalmente o primeiro dos 4 Sunbeams, o famoso 1500 Super vinil EH à saída da rampa do musgo.

Como vêm nem tudo o que escrevo é inventado, é apenas romanceado com saudade

Boa noite
 

Anexos

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  • Ford Prefect.jpg
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  • Ford Prefect GD.jpg
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  • VW HG-35-04.jpg
    VW HG-35-04.jpg
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  • VW 1302 HG.jpg
    VW 1302 HG.jpg
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  • Skoda ....jpg
    Skoda ....jpg
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Como alguns se recordarão o primeiro choque petrolífero ocorreu no início dos anos 70.
Frequentemente a gasolina esgotava-se nos postos da SACOR e da SONAP e formavam-se filas enormes de automóveis que iam avançando empurrados à mão.
Ao fim de semana não se vendia gasolina pelo que uma viagem de carro de ida e volta a Lisboa era uma aventura.
Assim em plena crise petrolífera fizemos uma viagem de ida e volta no Simca 1100[font=Times New Roman'][2][/font] da minha tia.
O carro era praticamente novo e o que mais lembro é que passava a vida engasgado no tráfego do Porto[font=Times New Roman'][3][/font], mas na EN 1 o Simca corria com desenvoltura e conforto.

Como não havia gasosa à venda na viagem de volta, Domingo de manhã, a estrada estava praticamente deserta e a minha tia, uma das Micheles Moutons da família, aproveitava para dar gás e não raramente o Simca amandava-se bem para lá dos 120.
Só que o depósito não dava para fazer os 600 km.s de ida e volta e mais as voltas de Linda-a-Velha, Caxias e Paço de Arcos.
Por isso o Simca seguia com dois ou três bidons de gasolina de contrabando na mala.

[font=Times New Roman'][2][/font] http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=4zyR2DRPB48&feature=endscreen

[font=Times New Roman'][3][/font] Desculpe lá amigo Marco de Alcains…



O Simca só se engasgava porque queria estrada e mais estrada e nada de para arranques :lol: :lol: :lol: , e não deixou ninguem mal.
Cada vez mais interressantes e cativantes as histórias, venham mais!!!!
Forte Ab.
Marco Pereira
 
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A minha avó instrutora num Mazda 818 parecido com este...






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Até o início dos anos 70 existia uma licença especial de condução que permitia a um candidato a encartado conduzir acompanhado por um condutor encartado experiente.
Apesar de o meu avô não ser grande espingarda como condutor, lembro-me, no tempo do Skoda, de irmos passear num Domingo solarengo na estrada do Montemuro, no tempo em que esta ainda não estava concluída, não atravessando ainda a serra para Castro Daire.
Dois ou três quilómetros após sairmos da vila paramos e passou para o volante uma filha de um casal amigo que andava a tirar a carta e lá seguimos o passeio que incluiu cuidadosas manobras de inversão de marcha.
Anos mais tarde, quando já a estrada rasgava a serra até Castro Daire, foi a vez da minha avó materna, que contrariamente ao (s) meu (s) avô (ós) era uma irrepreensível condutora, dar uma lição de condução a um primo que por essa época estava a tirar a carta.
Aliás por essa altura esta minha avó também reensinou a mãe deste meu jovem primo a conduzir.
Reensinou porque tinha carta de condução mas deixou de conduzir e então foi necessário reaprender desde o início. Foi então a minha avó que a reiniciou nas lides automobilísticas num Austin Mini.
A princípio foi difícil, mas depois com os ensinamentos da minha avó renasceu uma condutora fiável que com quase 80 anos se aventurava desde Lisboa a Cinfães sozinha ou com os netos. Só não gostava de autoestradas e até ao fim fez sempre a viagem pela EN1, EN2 e EN321.
Voltando à aula de condução da minha avó, nesta época, 77/78, os instruendos já só podiam conduzir com instrutores e em carros de instrução, mas os hábitos antigos perduravam.
O ritual repetiu-se, dois ou três quilómetros depois de sairmos da vila e do alcance da vista da GNR o meu jovem primo passa para os comandos.
Eu seguia atrás com o meu irmão ou com um primo da minha idade.
O jovem condutor arranca suavemente no Mazda 618 branco com capota de vinil, como o primeiro Sunbeam desta história, e a subida da serra faz-se tranquilamente sempre em 4ª que o Mazda tinha uma excelente alma e mesmo a baixa velocidade conseguia vencer as maiores subidas da serra sem necessidade de recorrer à 3ª.
Chegados ao cimo da terra, nas Portas do Montemuro, paramos, como era da praxe, no largo junto à capelinha. Ficamos por ali um bocado a ver a paisagem e respirar ar puro até que voltamos ao Mazda para iniciarmos a viagem de regresso.
O Mazda estava parado paralelamente à estrada a uma distância de cerca de três metros.
O Jovem aprendiz põe o motor a funcionar, engrena a 1ª, acelera, alivia a embraiagem e começam os problemas.
Para voltar à estrada apenas era necessário flectir ligeiramente à esquerda para entrar obliquamente na estrada, mas… o Mazda começou a roncar e a patinar.
Pensei que era apenas um arranque à fangio, mas o caro em vez de seguir em direcção à estrada vai em frente, passa por cima duns calhaus que tinham ficado no largo de uma feira e toma a direcção do monte, a baixo.
Com o Mazda a roncar e a escoicear as rodas de trás a minha avó dá um golpe na direcção e consegue que o carro se desvie da ribanceira e siga para a estrada, só que entramos na estrada praticamente na perpendicular e a minha avó dá outro golpe de volante para evitar seguir em direção ao talude e consegue apontar o Mazda na direcção certa enquanto insistia para o inexperiente condutor tirar o pé do acelerador o que acabou por acontecer e logo a minha avó puxou o travão de mão conseguindo imobilizar o carro.
Uf, foi por pouco que não gastei mais uma vida, é que quando paramos eu, que seguia no banco atrás do condutor, tinha-me levantado e atirado literalmente para o volante onde já tinha as mãos quando finalmente paramos.
Tá-se mesmo a ver, se embatêssemos saia disparado pelo para-brisas e fé em deus.
Tinha 13 ou 14 anos e a minha reacção foi instintiva, não conseguia compreender porque raio o condutor não conseguia colocar o Mazda na direcção certa pelo que tentei resolver a coisa com as minhas próprias mãos.
Felizmente não foi preciso e a coisa correu bem, se não… enfim coisas do tempo em que as crianças andavam soltas nos carros, nem que o condutor fosse aprendiz.
Já agora, anos mais tarde um amigo que não estava habituado a beber meteu-se no etílico e apanhou uma tosga das antigas.
Na hora de virmos embora o amigo, condutor, fez uma enorme sucessão de piões num grande terreiro antes de se decidir a vir embora.
Nem um quilómetro tínhamos andado, para o carro, abre a porta e sem sair do lugar… vomita.
Hum… voltamos a arrancar e seguimos viagem calmamente, muito mais do que habitualmente, pelas curvas da EN 222.
O problema é que depois dos vapores etílicos da euforia começaram a chegar os vapores da sonolência e fui-me apercebendo que o amigo até virava nas curvas, o problema é que começou a desfazer as curvas com delay e a solução foi… ele começava a fazer a curva e eu que, seguia ao lado, ajudava a desfazer a curva.
Assim fizemos cerca de 10 km.s e pelo menos uma vez ainda tive dar um golpe na direcção para, além de uma tangente, evitar uma secante num carro que se cruzou connosco.
Histórias … a não contar aos nossos filhos para não pensarem que eramos uns autênticos irresponsáveis.

Boas noites, já deu o vitinho…
 
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JP Vasconcelos

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Os comentários não podiam ser mais simpáticos, mas sendo um jovem maçarico nestas coisas cada vez tenho mais receio de escrever banalidades que, como diz a minha filha, são.... secaaaa

Boa semana
 
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Uma oficina, um NSU PRIZ 500 e um Fiat 600
Entre os meus 10 e 14 anos só andava a pé de casa para a escola e nem sempre.
Nesta fase a minha bicicleta, a tal equipada de origem com uma única velocidade para subir, descer e também para planar, era uma espécie de prolongamento do corpo e sentia-me mesmo fora de água se fosse à vila a pé.
Se os neurónios aguentassem teria muitas histórias com a bicla, mas como não estava equipada com motor de combustão interna, o motor era mesmo externo (moi meme), não vou para aqui arrastar histórias de pendor ecológico que não têm o doce perfume do petrol.
Em todo o caso e para que conste, tanto quanto me lembro a minha última façanha com este meu saudoso veículo foi a pedalar de Mira para Aveiro numa bela manhã de Verão, por estradas que atravessavam verdejantes pastos por onde se pavoneavam grandes vacas leiteiras, tendo completado a segunda metade da tirada sem um dos dois cilindros, isto é, só com um pedal.
Mas chegamos à meta a Aveiro, quando ainda não havia bucas (penso que é este o nome das bicicletas de utilização comunitária) e a tempo de despachar a bicla no comboio com a preciosa anotação do ferroviário de serviço que tratou do despacho; derivadas peças partidas (sic).
Retomando a coisa, dependendo dos horários escolares passava manhãs ou tardes inteiras a andar para cima e para baixo de bicicleta, mas com vários pontos de paragem obrigatórios.
Um dos pontos de controlo ou paragem obrigatória era a oficina do.. mecânico, bem no centro da vila, mesmo ao lado do salão paroquial e estrategicamente para poder controlar os andamentos e os imbientes.
Não me recordo porque razão comecei a parar na oficina, possivelmente porque era na época a oficina onde o meu avô mandava o VW arranjar, aí comparecendo regularmente, por norma, para endireitar a chapa mercê de obstáculos vários que persistiam em colidir com o carro.
Das amizades que fui travando com os mecânicos, uma perdura até hoje por várias razões e também porque é até hoje o mecânico que trata do carro do meu avô apesar do meu avô ter já partido para o universo há mais de 20 anos.
Este amigo, entre muitas benfeitorias, restaurou o meu Sunbeam actual em 2003 e há coisas, histórias, que a escrita não saberia expressar e por isso, por hora, vão continuar preservadas na minha memória e na amizade.
Mas da oficina do .. mecânico as recordações são tantas quanto o tamanho do baraço que as puxe.
Infelizmente as longas horas que aí passei não foram suficientes para aprender a mecanar talvez por achar que aqueles artífices tinham artes que eu jamais conseguiria alcançar.
Sempre fiquei impressionado coma forma como detectavam e conseguiam reparar avarias fossem mecânicas fossem eléctricas, admirava as suas competências e não me considerava capaz de seguir os seus paços e aprender os seus dons.
Depois havia as reparações de chapa, recuperar grandes ou pequenas moças, com cinzel de ourives, massa para aplanar e lixa para alisar.
Por vezes ainda acontecia o milagre dos cortes e enxertos onde a chapa se tinha ido embora ou estava tão enferrujada que não era mais possível devolve-la à vida.
Era então a vez dos mestres pegarem nas rebarbadoras, nos maçaricos e reconstituirem pedaços, não raro longos, que a vida dura e húmida tinha levado.
Lembro-me particularmente das embaladeiras, eram cortadas, enxertadas como nova chapa soldada, cinzeladas, aplanadas com massa, alisadas com lixa, depois o primário, a tinta, a massa de polir e voltavam então a refulgir como novas. Quase um milagre, o ressuscitar para uma vida nova.
Destas reparações vêm-me à memória de imediato a de uma VW Variant azul com capota branca e de um Citroén Ami amarelo esverdeado que ressuscitou de um longo sono. Ficou lindo, confortável e novo por muito e bens anos como primeiro carro do amigo contínuo lá da escola até à troca, anos mais tarde, por uma linda Brasília cor de laranja.
Os carros por esse tempo ainda eram um bem desejado que para muitos só era alcançável com muito trabalho e prolongadas poupanças.
Os meus amigos mecânicos tinham uma pequena vantagem para almejar o desejado carro.
Não raramente sobravam carros na oficina, fosse porque eram velhos de mais para reparar fosse porque o custo da reparação não compensasse, fosse pelo que fosse.
Assim lembro-me de dois destes carros que dois amigos mecânicos adquiriram para si e nos quais iam trabalhando um bocadinho todos os dias fora do horário de trabalho e quando não havia carros de clientes para reparar.
Um foi um NSU Prinz 500 bicilíndrico e outro foi um, o, Fiat 600 com portas de abrir para trás.
O NSU, como o Fiat, era um carro abandonado na rua junto à oficina há já longo tempo e quando o conheci tenho ideia que não tinha motor ou pelo menos não o tinha montado.
Aos poucos foi sendo reparada a chapa e a pintura com as invocadas magias do cinzel, do fogo do maçarico, da massa lixada, primário, pintura massa de pulir à força de braço e dedicação. Ao fim de alguns meses o NSU exibia-se castanho que até parecia novo.
Depois foi o motor onde foi insuflada nova alma com o sopro das mãos daqueles magos da mecânica.
Mais uma revisão na direcção, na suspensão, no travões e eis que chega o dia em que o pequeno motor 500 bicilíndrico ressuscita. Mais um ajustes de ouvido e chave de fendas e o motor respira como se nunca estivesse estado morto.
E então a prova final, o teste de estrada.
Testemunha privilegiada de todo este milagre, tive honras de seguir a bordo no teste da verdade.
O jovem mecânico finalmente põe o seu sonho em macha e arrancamos suavemente na descida da rua da oficina.
Em frente ao Angola, o café, tomamos a esquerda, passamos o posto da GNR, seguimos em frente, finda o paralelo e seguimos para a pista de testes, a estrada das Portas por onde passam tantas das recordações que por aqui vou contando.
O percurso é a subir, dois adultos e um adolescente, são lastro pesado para o pequeno NSU carregar e a subida vai-se fazendo de forma cautelosa sem esforçar a máquina que foi dando mostras de saúde.
Meia dúzia de quilómetros volvidos e o senso determina que regressemos à base.
É então a vez do colega mecânico que mais havia ajudado e a quem se reconhecia mais experiência e autoridade tomar os comandos do pequeno NSU.
Este bom companheiro de trabalho tinha tanto de jeito para a profissão como de falta de tino a conduzir. Não tinha carro, apenas motorizada, mas sempre que era necessário testar o acerto da reparação de um carro do cliente conduzia como se o limite fosse o úlitmo centímetro de berma e as rotações as últimas 10 ou 20 antes do motor entregar a alma ao criador.
Nestas condições se o carro passava o teste estava bom e pronto a ser entregue ao cliente.
Mas agora ele estava a arrancar com o NSU, era a descer e eu ia lá dentro.
Devem ter sido os 6 ou 7 km.s mais assustadores da minha vida. No arranque, apesar de o motor dar mostras de estar a atingir o ponto de ebulição, a coisa foi razoável que o NSU não era máquina para arranques muito apressados, mas depois era sempre a descer, o motor não mais baixou do seu limite máximo, as mudanças foram subindo até à 3ª ou 4ª, que não estou certo se era de três o quatro velocidades, os dois cilindros davam o que tinham e o que não tinham e eu não sei mais descrever a corrida porque entrei em transe, rezei, implorei, deixei de distinguir as curvas das rectas e convenci-me que não ia sair dali com vida ou pelo menos inteiro.
Não sei descrever, a ideia com que fiquei foi de que fizemos a viagem de regesso, a descer, sempre de prego nas rectas e nas curvas e logo ali o NSU deve ter atingido, ou mesmo superado uns estratosféricos 100 km.s.
Tenho ideia que nesta ocasião gastei mais uma vida e das 7 iniciais, ficaram 5 já descontando a que tinha sido gasta no Datsun 1200.
Depois há a história, a longa história, do Fiat 600, mas é tarde e tanto os meus usados olhos como os treinados olhos dos companheiros portalistas devem ser preservados.
Fica então para depois a história fantástica do 600.
Boa noite, ou, boa madrugada que já faltou mais para o dia raiar e eu ir trabalhar (até rima).

[font='Times New Roman'']JP 09.11.2012[/font]
 

Moises Trovisqueira

MTrovisqueiraF
Portalista
FABULOSO :D , como eu me identifico nestas tuas viagens ao passado, mais! quero mais!
PS. até vou mais bem disposto pra malha.
 
Mas chegamos à meta a Aveiro, quando ainda não havia bucas (penso que é este o nome das bicicletas de utilização comunitária) e a tempo de despachar a bicla no comboio com a preciosa anotação do ferroviário de serviço que tratou do despacho; derivadas peças partidas (sic).

[font=Times New Roman']JP 09.11.2012[/font]

Se me permite uma correcção JPV, a bicicleta de Aveiro é a BUGA (bicicleta urbana grátis de Aveiro).
E venha a próxima historia!!!
Forte Ab Marco Pereira
 
OP
OP
JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

Raio de Sol
Premium
Portalista
[font='Times New Roman'']Agora o Fiat 600[/font]
[font='Times New Roman'']Da época em que frequentava a tal oficina ficou um amigo para sempre que até hoje tem tratado dos Sunbeam(s).[/font]
[font='Times New Roman'']Não sei se antes se depois do NSU 500, penso que antes, o meu amigo comprou um Fiat 600 dos anos 50 que esteva abandonado junto à oficina por longo tempo.[/font]
[font='Times New Roman'']Aliás no tempo em que o 600 esteve abandonado quase aconteceu uma desgraça.[/font]
[font='Times New Roman'']O 600 estava parado no cimo de uma rampa, presumo que seguro pelo travão de mão e por uma velocidade engrenada, provavelmente a marcha atrás.[/font]
[font='Times New Roman'']Como nesses idos tempos lá pela terra não ocorriam actos de vandalismo, calculo que o 600 por ali estivesse sem estar trancado.[/font]
[font='Times New Roman'']Então uma vez, ao princípio da noite, um miúdo aventureiro cismou de se meter dentro do Fiat e começar a mexer, mas a dado altura deve ter destravado o carro e desengrenado a velocidade ou carregado na embraiagem.[/font]
[font='Times New Roman'']Resultado o Fiat lançou-se pela rampa abaixo com o puto lá dentro que nem saltar podia pois o carro abria as portas para trás. [/font]
[font='Times New Roman'']Mas como Nosso Senhor deita a mão ao menino e ao borracho a quase desgraça acabou com o 600 parado dentro do pátio de uma casa e o puto a fugir a grande velocidade antes que fosse açoitado pela ousadia e quase desgraça.[/font]
[font='Times New Roman'']O 600 voltou para o local habitual e, além de travado e engatado, passou a estar calçado, fechado e com as rodas viradas para a parede para que se alguém tivesse a ousadia de voltar a entrar no carro e conseguir que começasse a descer a rampa o mais provável é que ao fim de poucos centímetros o carro ficasse encostado ao muro sem males de maior.[/font]
[font='Times New Roman'']Por ali ficou o 600 por mais longo tempo até que o amigo se aventurou na sua recuperação.[/font]
[font='Times New Roman'']Tanto quanto lembro o carro não tinha avarias particularmente graves, o maior problema era ter estado anos exposto à intempérie.[/font]
[font='Times New Roman'']Assim foi sendo limpo, remendado onde precisava, revisto o motor, velas, parte eléctrica e ao fim de horas, muitas, de dedicação renasceu com uma linda pintura cinzenta, que então não era moda, e capota em lona, pois era descapotável.[/font]
[font='Times New Roman'']Fiz vários pequenos percursos neste carro tratado com cuidado pelo meu amigo.[/font]
[font='Times New Roman'']Mas cuidado não quer dizer pisar uvas e o Fiat, sem ser sujeito a esforços extremos, deslocava-se bem ligeiro nas voltas na terra até porque o condutor tinha mais que unhas e mesmo sem puxar muito pelo motor a habilidade de condução chegava e sobrava para o fazer rolar velozmente.[/font]
[font='Times New Roman'']Este Fiat é vivo e de boa saúde e tem, de certeza, grandes histórias para contar.[/font]
[font='Times New Roman'']Aliás só no início dos anos 90 este meu amigo arranjou outro carro para o seu dia a dia, comprou um Renault 21 diesel porque o Fiat já não era o carro ideal para trabalhar todos os dias e ainda ter que fazer deslocações frequentes de dezenas de quilómetros.[/font]
[font='Times New Roman'']Mas o 600 foi tendo vários up grades que não permitem a sua homologação pelos certificadores do parafuso, mas que ficou um carro do caraças ai isso ficou.[/font]
[font='Times New Roman'']Um dos problemas para a utilização diária era a iluminação que era fraquinha até porque as ópticas originais estavam gastas. Solução? Duas ópticas novinhas de motorizada e, salvo uma observação atenta, não se nota nada.[/font]
[font='Times New Roman'']O maior problema era mesmo os travões, além de serem pouco eficazes desafinavam logo após serem afinados, ao ponto de serem afinados para o carro ir à inspecção e depois chegavam à inspecção, a cerca de 30 km.s já desafinados.[/font]
[font='Times New Roman'']Não sei se este problema acabou por ser resolvido, mas ainda há poucos anos o meu amigo referia que este como sendo o calcanhar de Aquiles do carro.[/font]
[font='Times New Roman'']Aliás penso que o único acidente que o meu amigo teve com o 600 foi por causa dos travões. Ia almoçar, ou vinha de almoçar, com o tempo contado seguindo atrás do Simca 1300 do ex-presidente da Câmara que, fosse pelo que fosse, acionou os tavões de disco com servofreio e o resultado foi que o Fiat parou a dar um beijo apaixonado na traseira do Simca, ainda por cima, contava o meu amigo, nas barbas do juiz e do delegado lá da terra que seguiam calmamente no passeio e foram testemunhas privilegiadas do arrebatamento do Fiat pelo Simca.[/font]
[font='Times New Roman'']Solução? Na altura a solução foi reparar a traseira ao Simca[font='Times New Roman''][1][/font], o que fez pela suas próprias mãos, e passar a deixar mais espaço para os carros que seguiam à frente, principalmente dos equipados com travões de disco com servofreio, que aliás o meu amigo teve oportunidade de testar a eficiência quando, depois de reparar o Simca o foi entregar ao dono. “É pá aquilo trava mesmo bem como é que havia de consegui parar a tempo”…[/font]
[font='Times New Roman'']O outro problemazito do 600 é que era um 600.[/font]
[font='Times New Roman'']Solução? Up grade para 127…[/font]
[font='Times New Roman'']Sim, o 600 levou com o motor de um 127 que tinha sobrado de um 127.[/font]
[font='Times New Roman'']Resultado do motor do 127 com a caixa de 600 num peso pluma?[/font]
[font='Times New Roman'']É melhor sair da frente, pelo menos até aos 100 não são muitos os clássicos que conseguem fazer melhor e para fazer as curvas lá da terra era preciso ter boas unhas e muito boa máquina para bater o meu amigo no seu 600/127.[/font]
[font='Times New Roman'']Lembro-me aliás que no dia de uma refrega eleitoral termos recebido a notícia que tinham furado os pneus ao 600/127 e era preciso ajudar.[/font]
[font='Times New Roman'']Lá fomos nós no Sunbeam EH, com o originário dono ao volante e que não era nada peco, ao encontro do nosso amigo. Já a chegar ao destino vemos o 600/127 a vir em sentido contrário na mexa pelo que logo fizemos inversão de marcha e fomos no seu encalço e no encalço seguimos só não conseguimos foi apanhá-lo.[/font]
[font='Times New Roman'']Só em Cinfães, percorridos cerca de 15 km.s, apanhamos o nosso amigo já a tomar um cafezinho e a inteirar-se do resultado das eleições nas restantes freguesias. Moral da história Fiat 600/127 1 / Sunbeam[font='Times New Roman''][2][/font] 1500 Super 0.[/font]
[font='Times New Roman'']Lembro-me também de ouvir um amigo a contar que participou num Rally, mais ou menos, Paper neste 600/127 e como no último percurso vinham a queimar o tempo entraram na vila de gás. A última pergunta do paper era indicar o número de janelas do hospital mas, contava o meu amigo, a pressa era tanta que quando passaram frente à fachada do hospital aquilo mais parecia um comboio em andamento.[/font]
[font='Times New Roman'']Nesse mesmo dia o 600/127 deu show na prova de perícia. O meu amigo sacou-lhe a porta do condutor para melhor controlar os mecos e foi um tal levantar pó que deixou toda a concorrência para trás.[/font]
[font='Times New Roman'']Mas o 600/127 é um carro que exige cuidados.[/font]
[font='Times New Roman'']Durante muito tempo a dor de cabeça foram os travões que, penso, entretanto se resolveu com um up grade.[/font]
[font='Times New Roman'']Ao 600/127 convém que o dono seja mecânico ou pelo menos perceba da coisa e saiba meter as mãos à obra.[/font]
[font='Times New Roman'']Recordo-me de ouvir o meu amigo dizer que era necessário afinar ou rever frequentemente os sinoblocos (seja lá o que isso for).[/font]
[font='Times New Roman'']Mas a melhor história que posso contar deste 600/127 passa-se na praia de Mira, a quase 200 Km.s da terra.[/font]
[font='Times New Roman'']As minhas primeiras férias com amigos longe da tutela da família foram no parque de campismo do FAOJ na Praia de Mira quando tinha, penso, 16 anos.[/font]
[font='Times New Roman'']Num Sábado de manhã a rebentar de gente num Agosto quente do início dos anos 80 sigo pela estrada desde o parque de campismo para o centro Mira juntamente com uma torrente de gente que não cabia nas bermas e obrigavam os carros a circular em para arranca e então, no meio da babel, surge a visão:[/font]
[font='Times New Roman'']- O 600 (127) de 1950 e qualquer coisa (não estou certo se é um MT ou um OP) de capota aberta com o meu amigo, a mulher e a roulotte!!! Sim a puxar uma roulotte.[/font]
[font='Times New Roman'']Para mim foi uma enorme alegria aquela visão, cumprimentei efusivamente o meu amigo, por pouco tempo, é certo, porque tínhamos interrompido a procissão dos carros e os que vinham atrás já destilavam calor e ansiedade.[/font]
[font='Times New Roman'']Ok, não era bem uma roulotte, era um misto de roulotte com tenda de campismo, era daquelas roulottes de abrir e ficava uma tenda, mas não se pense que era levezinha.[/font]
[font='Times New Roman'']Anos mais tarde tive que puxar uma Citroen Ami 8 (ou por aí) com o Sunbeam para que a Ami conseguisse subir o estradão da casa dos meus avós com uma destas roulottes atreladas.[/font]
[font='Times New Roman'']Este 600 inspirou aliás alguns outros que no início dos anos 80 foram recuperados lá na terra, mas só este perdura e está para lavar e durar.[/font]
[font='Times New Roman'']Grande máquina…[/font]



[font='Times New Roman''][font='Times New Roman''][1][/font] Pronto, tinha que aparecer um Simca, não é amigo Marco?[/font]

[font='Times New Roman''][font='Times New Roman''][2][/font] Ò Marco, desculpe lá…[/font]
 

Moises Trovisqueira

MTrovisqueiraF
Portalista
[font='Times New Roman'']Agora o Fiat 600[/font]
[font='Times New Roman'']Da época em que frequentava a tal oficina ficou um amigo para sempre que até hoje tem tratado dos Sunbeam(s).[/font]
[font='Times New Roman'']Não sei se antes se depois do NSU 500, penso que antes, o meu amigo comprou um Fiat 600 dos anos 50 que esteva abandonado junto à oficina por longo tempo.[/font]
[font='Times New Roman'']Aliás no tempo em que o 600 esteve abandonado quase aconteceu uma desgraça.[/font]
[font='Times New Roman'']O 600 estava parado no cimo de uma rampa, presumo que seguro pelo travão de mão e por uma velocidade engrenada, provavelmente a marcha atrás.[/font]
[font='Times New Roman'']Como nesses idos tempos lá pela terra não ocorriam actos de vandalismo, calculo que o 600 por ali estivesse sem estar trancado.[/font]
[font='Times New Roman'']Então uma vez, ao princípio da noite, um miúdo aventureiro cismou de se meter dentro do Fiat e começar a mexer, mas a dado altura deve ter destravado o carro e desengrenado a velocidade ou carregado na embraiagem.[/font]
[font='Times New Roman'']Resultado o Fiat lançou-se pela rampa abaixo com o puto lá dentro que nem saltar podia pois o carro abria as portas para trás. [/font]
[font='Times New Roman'']Mas como Nosso Senhor deita a mão ao menino e ao borracho a quase desgraça acabou com o 600 parado dentro do pátio de uma casa e o puto a fugir a grande velocidade antes que fosse açoitado pela ousadia e quase desgraça.[/font]
[font='Times New Roman'']O 600 voltou para o local habitual e, além de travado e engatado, passou a estar calçado, fechado e com as rodas viradas para a parede para que se alguém tivesse a ousadia de voltar a entrar no carro e conseguir que começasse a descer a rampa o mais provável é que ao fim de poucos centímetros o carro ficasse encostado ao muro sem males de maior.[/font]
[font='Times New Roman'']Por ali ficou o 600 por mais longo tempo até que o amigo se aventurou na sua recuperação.[/font]
[font='Times New Roman'']Tanto quanto lembro o carro não tinha avarias particularmente graves, o maior problema era ter estado anos exposto à intempérie.[/font]
[font='Times New Roman'']Assim foi sendo limpo, remendado onde precisava, revisto o motor, velas, parte eléctrica e ao fim de horas, muitas, de dedicação renasceu com uma linda pintura cinzenta, que então não era moda, e capota em lona, pois era descapotável.[/font]
[font='Times New Roman'']Fiz vários pequenos percursos neste carro tratado com cuidado pelo meu amigo.[/font]
[font='Times New Roman'']Mas cuidado não quer dizer pisar uvas e o Fiat, sem ser sujeito a esforços extremos, deslocava-se bem ligeiro nas voltas na terra até porque o condutor tinha mais que unhas e mesmo sem puxar muito pelo motor a habilidade de condução chegava e sobrava para o fazer rolar velozmente.[/font]
[font='Times New Roman'']Este Fiat é vivo e de boa saúde e tem, de certeza, grandes histórias para contar.[/font]
[font='Times New Roman'']Aliás só no início dos anos 90 este meu amigo arranjou outro carro para o seu dia a dia, comprou um Renault 21 diesel porque o Fiat já não era o carro ideal para trabalhar todos os dias e ainda ter que fazer deslocações frequentes de dezenas de quilómetros.[/font]
[font='Times New Roman'']Mas o 600 foi tendo vários up grades que não permitem a sua homologação pelos certificadores do parafuso, mas que ficou um carro do caraças ai isso ficou.[/font]
[font='Times New Roman'']Um dos problemas para a utilização diária era a iluminação que era fraquinha até porque as ópticas originais estavam gastas. Solução? Duas ópticas novinhas de motorizada e, salvo uma observação atenta, não se nota nada.[/font]
[font='Times New Roman'']O maior problema era mesmo os travões, além de serem pouco eficazes desafinavam logo após serem afinados, ao ponto de serem afinados para o carro ir à inspecção e depois chegavam à inspecção, a cerca de 30 km.s já desafinados.[/font]
[font='Times New Roman'']Não sei se este problema acabou por ser resolvido, mas ainda há poucos anos o meu amigo referia que este como sendo o calcanhar de Aquiles do carro.[/font]
[font='Times New Roman'']Aliás penso que o único acidente que o meu amigo teve com o 600 foi por causa dos travões. Ia almoçar, ou vinha de almoçar, com o tempo contado seguindo atrás do Simca 1300 do ex-presidente da Câmara que, fosse pelo que fosse, acionou os tavões de disco com servofreio e o resultado foi que o Fiat parou a dar um beijo apaixonado na traseira do Simca, ainda por cima, contava o meu amigo, nas barbas do juiz e do delegado lá da terra que seguiam calmamente no passeio e foram testemunhas privilegiadas do arrebatamento do Fiat pelo Simca.[/font]
[font='Times New Roman'']Solução? Na altura a solução foi reparar a traseira ao Simca[font='Times New Roman''][1][/font], o que fez pela suas próprias mãos, e passar a deixar mais espaço para os carros que seguiam à frente, principalmente dos equipados com travões de disco com servofreio, que aliás o meu amigo teve oportunidade de testar a eficiência quando, depois de reparar o Simca o foi entregar ao dono. “É pá aquilo trava mesmo bem como é que havia de consegui parar a tempo”…[/font]
[font='Times New Roman'']O outro problemazito do 600 é que era um 600.[/font]
[font='Times New Roman'']Solução? Up grade para 127…[/font]
[font='Times New Roman'']Sim, o 600 levou com o motor de um 127 que tinha sobrado de um 127.[/font]
[font='Times New Roman'']Resultado do motor do 127 com a caixa de 600 num peso pluma?[/font]
[font='Times New Roman'']É melhor sair da frente, pelo menos até aos 100 não são muitos os clássicos que conseguem fazer melhor e para fazer as curvas lá da terra era preciso ter boas unhas e muito boa máquina para bater o meu amigo no seu 600/127.[/font]
[font='Times New Roman'']Lembro-me aliás que no dia de uma refrega eleitoral termos recebido a notícia que tinham furado os pneus ao 600/127 e era preciso ajudar.[/font]
[font='Times New Roman'']Lá fomos nós no Sunbeam EH, com o originário dono ao volante e que não era nada peco, ao encontro do nosso amigo. Já a chegar ao destino vemos o 600/127 a vir em sentido contrário na mexa pelo que logo fizemos inversão de marcha e fomos no seu encalço e no encalço seguimos só não conseguimos foi apanhá-lo.[/font]
[font='Times New Roman'']Só em Cinfães, percorridos cerca de 15 km.s, apanhamos o nosso amigo já a tomar um cafezinho e a inteirar-se do resultado das eleições nas restantes freguesias. Moral da história Fiat 600/127 1 / Sunbeam[font='Times New Roman''][2][/font] 1500 Super 0.[/font]
[font='Times New Roman'']Lembro-me também de ouvir um amigo a contar que participou num Rally, mais ou menos, Paper neste 600/127 e como no último percurso vinham a queimar o tempo entraram na vila de gás. A última pergunta do paper era indicar o número de janelas do hospital mas, contava o meu amigo, a pressa era tanta que quando passaram frente à fachada do hospital aquilo mais parecia um comboio em andamento.[/font]
[font='Times New Roman'']Nesse mesmo dia o 600/127 deu show na prova de perícia. O meu amigo sacou-lhe a porta do condutor para melhor controlar os mecos e foi um tal levantar pó que deixou toda a concorrência para trás.[/font]
[font='Times New Roman'']Mas o 600/127 é um carro que exige cuidados.[/font]
[font='Times New Roman'']Durante muito tempo a dor de cabeça foram os travões que, penso, entretanto se resolveu com um up grade.[/font]
[font='Times New Roman'']Ao 600/127 convém que o dono seja mecânico ou pelo menos perceba da coisa e saiba meter as mãos à obra.[/font]
[font='Times New Roman'']Recordo-me de ouvir o meu amigo dizer que era necessário afinar ou rever frequentemente os sinoblocos (seja lá o que isso for).[/font]
[font='Times New Roman'']Mas a melhor história que posso contar deste 600/127 passa-se na praia de Mira, a quase 200 Km.s da terra.[/font]
[font='Times New Roman'']As minhas primeiras férias com amigos longe da tutela da família foram no parque de campismo do FAOJ na Praia de Mira quando tinha, penso, 16 anos.[/font]
[font='Times New Roman'']Num Sábado de manhã a rebentar de gente num Agosto quente do início dos anos 80 sigo pela estrada desde o parque de campismo para o centro Mira juntamente com uma torrente de gente que não cabia nas bermas e obrigavam os carros a circular em para arranca e então, no meio da babel, surge a visão:[/font]
[font='Times New Roman'']- O 600 (127) de 1950 e qualquer coisa (não estou certo se é um MT ou um OP) de capota aberta com o meu amigo, a mulher e a roulotte!!! Sim a puxar uma roulotte.[/font]
[font='Times New Roman'']Para mim foi uma enorme alegria aquela visão, cumprimentei efusivamente o meu amigo, por pouco tempo, é certo, porque tínhamos interrompido a procissão dos carros e os que vinham atrás já destilavam calor e ansiedade.[/font]
[font='Times New Roman'']Ok, não era bem uma roulotte, era um misto de roulotte com tenda de campismo, era daquelas roulottes de abrir e ficava uma tenda, mas não se pense que era levezinha.[/font]
[font='Times New Roman'']Anos mais tarde tive que puxar uma Citroen Ami 8 (ou por aí) com o Sunbeam para que a Ami conseguisse subir o estradão da casa dos meus avós com uma destas roulottes atreladas.[/font]
[font='Times New Roman'']Este 600 inspirou aliás alguns outros que no início dos anos 80 foram recuperados lá na terra, mas só este perdura e está para lavar e durar.[/font]
[font='Times New Roman'']Grande máquina…[/font]



[font='Times New Roman''][font='Times New Roman''][1][/font] Pronto, tinha que aparecer um Simca, não é amigo Marco?[/font]

[font='Times New Roman''][font='Times New Roman''][2][/font] Ò Marco, desculpe lá…[/font]

Quer dizer que com jeitinho esse 600/127 portas mal criadas ainda nos vai enterrar!
Mais uma bela história, obrigado.
 
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