Sunbeam Sunbeam Avenger 1972 - O Meu Sunbeam

Diários de Bordo

Sunbeam Sunbeam Avenger 1972 - O Meu Sunbeam

Fui para as aulas e ao chegar a primeira coisa que fiz foi vir a este tópico ... mais uma vez, parabéns pela forma como descreve o passado. Venha o próximo capitulo meu amigo.

Cumprimentos
 
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JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

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Amigos, camaradas e companheiros portalistas
Os elogios que tão simpaticamente têm postado, além de me deixarem feliz, grato e assim, levanta também um ou dois problemas:
- O meu ego pode ter uma expansão demasiado rápida e os médicos dizem que isso não é bom para a saúde de um clássico, como eu;
- Sinto-me compelido a escrever e não estou certo que a minha mulher acredite que estou sempre a escrever de carros, embora tivesse tido o cuidado de lhe passar por mail a primeira história para aprovação prévia.
Portanto agradeço a todos, mas não sei até onde vou aguentar e a que ritmo. Gostaria de chegar ao hoje para então começar a reportar um diário, semanário que fosse, de bordo, mas cada vez mais receio que isso seja uma longa caminhada e os clássicos gostam de esticar as pernas, mas daí a fazerem maratonas…
Em todo o caso confesso, os comentários simpáticos têm sido a gasolina da coisa.
Obrigado
 
OP
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JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

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Estou a adorar, venha lá o proximo capitulo :D

Caro vizinho de Baião
Não sei qual a juventude do amigo, mas eu sou do tempo em que se fazia mais de 30km.s de curvas para ir a Baião ao Lareira.
A propósito lembrei-me de uma incursão nocturna a Baião no Sunbeam EH do meu avô e por isso vou dar um salto a meados dos anos oitenta e já volto.
Deve ter sido das primeiras vezes que consegui endrominar o meu avô para me emprestar o carro à noite. Era Verão mas estava a orvalhar, conduzi com todo o cuidado até Baião para não estragar a pintura logo das primeiras vezes.
Tive tanto cuidado que quando cheguei a Baião descobri que trazia na tampa da mala um caracol que fez toda a viagem desde Cinfães. Até o caracol se sentiu tranquilo naquela viagem nocturna entre Cinfães e Baião.
Mas eu realmente estava muito empenhado em não asnear nessa noite e, ao contrário dos meus amigos, não me meti nos copos.
No regresso, já perto de Cinfães (em Cidadelhe ante da curva grande?), no meio de grande vosearia etílica dentro do carro resolvi cilindrar os meus amigos e filosoficamente anunciei a propósito de não beber porque tinha de conduzir: eu sou vossa consciência.
Depois de alguns instantes de silencio os meus animados amigalhaços desataram à gargalhada e passados anos ainda gozavam comigo na rua do tipo: olha ali bem a nossa consciência.
Felizmente depois de muitos anos consegui recuperar do trauma:
- Agora sou quase inconsciente e não voltei a encontrar caracóis que quisessem viajar comigo, porque será?
Responda quem souber
JP
 

José Cardoso

Clássico
Ora mais uma bela história ao volante desse Sumbeam.
À 30 anos, estava eu quase a chegar a Baião...
Baião e Cinfães ainda distam os mesmos 30 km com o mesmo trajecto praticamente inalterado, pelo que se quiser voltar a repetir a viagem um destes dias, ainda que sem o caracol :D, poderá faze-lo e será muito bem vindo. O Lareira café ainda mantem em parte a mesma traça de à 30 anos atrás, ainda que a filosofia e a área do espaço tenha alterado um pouco. Modernisses!

Tentando respoder à sua questão:
-Acho que em parte se deve à qualidade dos pneus e do suco que o Sumbeam agora gasta. Muito melhor que à 30 anos :p
 
Amigos, camaradas e companheiros portalistas
Os elogios que tão simpaticamente têm postado, além de me deixarem feliz, grato e assim, levanta também um ou dois problemas:
- O meu ego pode ter uma expansão demasiado rápida e os médicos dizem que isso não é bom para a saúde de um clássico, como eu;
- Sinto-me compelido a escrever e não estou certo que a minha mulher acredite que estou sempre a escrever de carros, embora tivesse tido o cuidado de lhe passar por mail a primeira história para aprovação prévia.
Portanto agradeço a todos, mas não sei até onde vou aguentar e a que ritmo. Gostaria de chegar ao hoje para então começar a reportar um diário, semanário que fosse, de bordo, mas cada vez mais receio que isso seja uma longa caminhada e os clássicos gostam de esticar as pernas, mas daí a fazerem maratonas…
Em todo o caso confesso, os comentários simpáticos têm sido a gasolina da coisa.
Obrigado

O meu amigo, não tenha pressa de chegar ao hoje.
Limite-se a contar essas fabulosas histórias ao ritmo que mais lhe convier... e nós cá continuaremos à espera para as ler!
;)
 
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JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

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Lá em cima, no início, fui anunciando que o meu Sunbeam (raio de sol) eram 4.
Até agora só falei de dois, o FP actual e o EH com que tudo começou.
Um dia vou ter que contar como aparecem o 3º e 4º Sunbeams, mas isso ainda vai demorar porque o 3º Sunbeam apenas o conheci no final do século passado, em circunstâncias aliás muito engraçadas. O 4º Sunbeam já é de este milénio.
Tanto o 3º como 4º Sunbeams são 1600 Super de apenas dois faróis, rectângulares, mas com uns cavalitos mais.
Quando começar a contar a história destes últimos dois Sunbeams os amigos portalistas não vão gostar de algumas passagens porque vai haver canibalismo e abates. Receio mesmo ser apedrejado porque então vão descobrir que atentei contra a vida e integridade de clássicos num passado não muito distante.
Vão também descobrir que afinal não sou um genuíno apreciador de clássicos, apenas ando por aqui porque ganhei afecto a um carro e descobri que por estes lados andavam muitos que sofriam do mesmo, isto é, também tinham carros não tanto pelo seu valor material mas pelo valor afectivo, que não raro é muito mais efectivo e para sempre.
Aqui chegado, ouço já elefantes e outros seres vivos de grande memória a roncar que adormeceram a pensar: o gaijo hoje só vai dar seca e não vai contar nenhuma história engraçada de carros.

Tínhamos ficado naquele ponto em que eu começava a arrancar musgo dos paralelos da calçada da casa dos meus avós, o que começou por volta dos meus 15 anos, no início dos anos 80.
Na verdade apesar de toda a minha ansiedade só com quase 20 anos é que tirei a carta.
No entretanto como o meu avô não me deixava conduzir na estrada ia tirando partido do logradouro da casa que era razoavelmente grande.
Não me lembro exactamente quando foi a primeira vez que, além de pôr o carro a trabalhar, engrenei a primeira (ou terá sido a macha-atrás?), acelerei um pouco e fui aliviando a embraiagem até o carro… ir abaixo.
Mas tenho a certeza que treinei bastante a manobra de deixar o carro ir abaixo e aos poucos fui conseguindo cada vez fazer mais metros, isto é, aplicar tudo o que tinha observado ao longo de vários anos à prática.
Em 1980 o meu avô tinha 70 anos e era uma pessoa de saúde frágil pois toda a vida sofrera de asma e bronquite.
Além disso já se percebeu bem que o meu avô não ligava pevas a carros, apenas os utilizava porque precisava deles.
Assim sendo à que esclarecer que os dotes automobilísticos do meu avô eram muito parcos e era para o lado que ele dormia melhor.
Aliás dormia tão bem que um dia, ainda hei-de contar essa história, o VW 1302 parou contra um talude repentinamente com três pessoas a fazer a sesta, eu, a minha avó e o meu avô, que ia a conduzir. Nada de grave, depois de acordarmos foi só meter marcha atrás, dar gás, desatascar, o que não era difícil num carocha, voltar ao alcatrão e seguir viagem. A isto acresceu uma óptica do lado direito, umas marretadas no guarda-lamas e no para-choques, que já era daqueles grandes e rijos e não se falou mais nisso.
Na minha família, até à minha geração, ou, com mais rigor, até eu começar a conduzir[1], as mulheres conduziam muito melhor que os homens, sendo que o apogeu das condutoras do meu sangue foi a minha avó materna que deveria estar a fazer agora 100 anos se fosse viva. Esta minha avó era um charme em qualquer circunstância e a conduzir além de ser um charme era uma competência. Esta minha avó gabava-se de ter feito exame de condução num Chevrolet enorme do pai em ruas estreitas de Lisboa e foi como limpar o rabinho a bebés, uma limpeza.
Mas como eu tinha nascido fadado para excelência da condução[2] e o meu avô detestava fazer manobras, principalmente se implicasse fazer marcha à ré, fui ganhando o estatuto de manobrador do carro à volta de casa.
Como o percurso era pequeno comecei a fazer a coisa cada vez com mais gás para dar mais pica, pelo menos quando o meu avô não estava por perto. Assim nos meus melhores desempenhos ia buscar o carro atrás de casa, fazia uma tanja a um esteio da ramada e dobrava a esquina da casa em slide controlado entre a dita esquina e o tanque do lado oposto, sobrando cerca de meio metro para cada lado. A coisa corria tão bem que nunca lá deixei nem um bocadinho de tinta e foi assim que aprendi a arrancar musgo à calçada pois o Sunbeam então, como agora, era danado para driftar.
Como o meu avô era médico e aos 70 e tais ainda fazia alguma, já pouca comparada com outros tempos, clínica domiciliária eu ia com ele muitas vezes e nos dias bons as casas ficavam longe da estrada fazendo-se o acesso por caminhos de cabras. Fixe, era aí que eu tomava os comandos, contornava obstáculos, evitava atascanços, o que era fácil de acontecer com a tracção traseira do Sunbeam e ainda dava direito a fazer tangentes milimétricas nos apertos que iam aparecendo. Nos dias verdadeiramente bons a casa do doente ficava um pouco desviada do local onde ficava o carro e além disso era preciso dar a volta para irmos embora o que implicava manobras e percursos suplementares. Era uma festa, com sorte até dava para empandeirar a máquina com a 1ª a fundo e depois só tinha que esperar calmamente no carro que o meu avô acabasse a consulta, o que poderia demorar bastante tempo, porque o meu avô era daqueles que falava com os doentes e os doentes melhoravam só de conversar com ele, magias.
Foi também numa destas saídas com o meu avô que tive a sorte de, apesar de ter estacionado na berma da estrada, a casa do doente ficar um pouco desviada.
No local havia um entroncamento com um largo bem grande e boa visibilidade. Desta vez era o VW 1302. Saí do carro e avaliei o terreno, apalpei o percurso, calculei os ângulos. Projectei mentalmente o que teria de fazer mesmo que algo corresse mal e tivesse que accionar plano de contingência.
Entrei, dei à chave, engrenei a 1ª, assegurei-me que não passava vivalma, pisei o acelerador, arranquei com 40 (35?) cavalos em fúria, alivio um pouco o acelerador dou um golpezinho de direcção à direita e viro repentinamente à esquerda encostando o acelerador no fundo. O pião, para uma primeira vez, saiu quase perfeito, foram 360º em grande estilo e em aceleração, que piões com travão de mão só muito mais tarde, quando consegui por as unhas em carros levezinhos atrás, o que não era ocaso do VW, e travões de mão eficazes, o que não era o caso do Sunbeam.
Assim fui tendo as minhas primeiras descargas de adrenalina, sempre sem maiores consequências.
Ficam para mais tarde outras cenas de adrenalina em que felizmente Nº Senhor estava disponível para mim e deu uma mãozinha para corrigir a trajetória fatal.

Bom fim-de-semana

JP



[1] Se alguém conhecer os gaijos da minha família, não lhes digam nada porque se não podem ter a certeza que vão apresentar argumentos, quase, convincentes, de que estou a mentir.


[2] Excelência? Que modéstia.
 
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JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

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Como agora que começo a escrever é Domingo e quando acabar de escrever já é Segunda, vou fazer uma incursão no futuro.
Andei por aí a espreitar umas imagens do Rally de Portugal Histórico de 2012.
Não sei se concordam comigo, mas ficou-me a impressão que a qualidade das unhas dos drivers é inversamente proporcional à potência das máquinas ou à juventude das mesmas.
Portanto é assim. Ainda este ano vai-me sair um segundo prémio do Euro milhões. O valor do prémio não vai permitir deixar de trabalhar, mas vai dar-me uma botija de oxigénio, daquelas grandes da air liquid. Não vai dar para trocar de casa, mas na impossibilidade de equipar a cozinha com um tecto de abrir (o quarto da minha filha fica por cima) vou fazer umas obritas de melhoramento, a saber:
- Um jacúzi no terraço com solário;
- Um elevador interno com acesso a todos os pisos para salvaguardar as minhas capacidades de locomoção autónoma em 2040;
- Um estúdio para a minha filha por cima da garagem e um sistema de vigilância interna para supervisionar a gandulagem que, previsivelmente, me rondará a casa quando a minha Fifi tiver mais 5 anitos. Também vou adquirir um teaser e, para situações extremas, uma 6,35;
- Vou afundar a garagem e instalar uma espécie de elevador para comportar não 2, mas 4 carros, 2 à séria, mais 1 para a minha mulher levar para escola para se riscado e outro para eu levar para o trabalho, que continuará a ter que ser pequeno, discreto, ladino e bastante potente porque julgo que cada vez mais terei que dar ao slide para salvar a pele;
- Assim como assim, também vou rever o isolamento para obstar a qualquer insinuação de humidade.
Mas o mais importante, vou deixar de pensar vender o último 1600 Super que comprei, que me custou os olhos da cara, isto é, mais que os outros três mais velhos juntos, e vai-me deixar de doer a consciência. Assim vou guardá-lo na renovada e sofisticada garagem, que aliás terá um sistema de desumidificação e manutenção da temperatura constante a 15º para a conservação ser perfeita.
Se a coisa correr bem vou ainda deitar a mão ao 1302 HG-35-04 e, por uma questão de fetiche, poderei ainda comprar um 1303 S de 1976 com panela de escape especial. Claro que também gostava de comprar o Carrera 4 do vizinho e arranjar um 911 de 1965, que nem sei ao certo se existem pois por esta altura o que estava a dar era o 912.
Já repararam que com esta coisa de fazer obras na casa e comprar uns carritos velhos vou voltar ficar teso ainda este ano, mas com o pequeno prémio do euro milhões consigo cumprir parte dos meus sonhos sem que a minha mulher me ponha as malas à porta. Genial.
Mas propriamente quanto ao futuro vai ser assim.
Por volta de 2038/2039 vai-me sair um prémio, agora, gordo do Chino milhões (o euro já era).
Então vou pegar no 1600 Super de 1976, o tal que não cheguei a vender em 2012 por um valor muito inferior ao que tinha pago por ele, e vou começar a finalmente a fazer aquilo para o que o comprei.
Vou levar a pintura à chapa, retirar bancos, estofos e cartelas (é assim que se escreve aquela coisa que forra as portas?).
Depois vou pedir ao companheiro aqui do portal que me diga onde mandou fazer o roll bar do Anglia e mando também fazer um para o meu 1600.
O motor, salvo se encontrar um Lotus em bom estado, vou abrir, rectificar, polir e essas coisas que alguns dos que por aqui andam sabem e contam.
Depois meto uma ignição electrónica, adapto a gasolina 98 sem chumbo e ponho um carburador Weber duplo corpo em vez do Stromberg original de um só corpo e magrinho. Em princípio apenas vou querer cerca de 100 cavalitos, não mais. 100 cavalitos e uns quilos a menos chegam-me e sobram-me, já devem dar uma trabalheira para os manter na estrada. Além disso quero que continue a ser utilizável em estrada e passe na inspecção sem maiores complicações.
Também vou meter um autoblocante discreto e a caixa ou arranjo uma close ou desmancho-a, reforço-a altero-lhe a relação.
Por fora o carro será branco com uma mancha azul do céu ao longo de toda a parte lateral do carro. O Capot do motor também será quase todo do mesmo azul. Também vou colocar um símbolo da Chrysler grande nos dois guarda-lamas traseiros e no meio do capot do motor.
Claro que terei que ou arranjar umas jantes de jeito ou então mandar alargar as originais e depois é só arranjar pneus radiais adequados.
Dentro também devo meter uns manómetros suplementares, se possível da época e talvez nem se aproveite nada do quadrante original. Embora não simpatize também devo instalar, ou pré-instalar, um terra tripe no pendura com uma gambiarrazinha (como se chama aquela coisa que dá luz para ler as notas?).
Na parte final, para recordar o 1500 Super EH com que tudo começou, também vou colocar dois Cibiés redondos e dois S.E.V. Marshall rectângulares com respectivas tampas de plástico. Só ainda não sei se vão ter a mesma disposição que tinham no EH porque este é de dois faróis rectângulares, aliás com um aspecto muito básico. Àh também não faltará o farol de marcha-atrás suplementar com rede de protecção.
E prontos, dou umas voltas num sítio largo ou vou ao Vasco Sameiro, porque então terei pasta para o alugar, e farei uns testes.
A seguir vai à inspecção, não sei se do tipo A, B ou C, e a seguir…
Por esta altura é preciso explicar um pormenor importante, como passei a ser um gaijo com bué de pasta passei a dizer tudo o que me apetecia e a chatear à brava o pessoal do serviço público onde trabalho e tanto vou chatear que vão acabar por me reformar compulsivamente em 2040 quando eu ainda for um jovem de 75 anos.
Então para comemorar a reforma dou a volta à Maria, ou será à Fifi, e inscrevo-me XXXV Rally de Portugal Histórico, altura em que darei muito mais espectáculo que os landriosos (eu queria chamar-lhe nomes mais feios porque por ora tenho-lhes uma raiva que até me apetece morder, mas pode haver algum que ande por aqui e seja muito grande e eu para já apenas sou candidato a cinturão branco) que estiveram presentes no VII Rally de Portugal Histórico 2012 e que podem ser vistos, por exemplo, aqui:



Eu depois conto como foi, até lá…
 
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JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

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De volta aos gloriosos 80s
Após uma escapadela ao futuro volto aos anos 80 para continuar a contar a saga de 4 Sunbeams.
Não acham estranho eu já ter tido 4 Sunbeams quando em Portugal deste modelo não deverão ter sido vendidos mais de uns 500?
Portantos, entre os 15 e 19 anos andei a treinar a técnica de arrancar musgo na calçada com o 1500 Super matrícula EH.
De quando em vez também tinha oportunidade de manobrar o VW à volta de casa, mas com esse não havia maneira de arrancar musgo, pois o bicho, pelo menos com piso seco, não patinava no arranque de maneira nenhuma.
Em todo o caso a minha maior experiência de slides e contra slides foi neste 1302 e quando anda não tinha carta de condução.
Como já fui dizendo lá mais para cima, o meu avô era asmático e sofria de bronquite pelo que, principalmente a partir dos 70 anos, não tinha muito fôlego para esforços.
Assim, num abençoado dia, o meu avô foi a casa de um doente perto de casa, não mais de uns 500/600 metros, mas o percurso era muito acidentado e além disso estava frio pelo que fomos de carro.
O percurso entre a nossa casa e a do doente fazia-se por estradão, mais ou menos particular e por caminho de terra. À ida o meu avô foi a conduzir na minha companhia e na do nosso saudoso pastor alemão, Brown. No percurso havia uma rampa empedrada até meio e em terra daí para diante. Como tinha chovido bastante a rampa a partir da zona em que era de terra estava transformada num lamaçal com sulcos profundos de tractores e da camioneta da padaria que por ali passava todos os dias.
Chegamos ao local e o meu avô basicamente deixou o VW seguir a direito, começou a ouvir-se o fundo, plano, do caro a raspar e a deslizar e foi fácil transpor o desafio.
Mas o pior ia ser à volta, pois então a coisa era a subir e bastante. Foi aí que brilhou, uma vez mais a minha estrela.
O meu avô deve ter-se convencido que o VW ia ficar atolado e não estava disposto a tentar para depois ter se meter ele próprio na lama.
Consegui então convencê-lo a deixar-me tentar.
O meu avô saiu do carro uns bons metros antes e seguiu com o Brown a puxá-lo, pela trela, por um pequeno mas ingreme percurso que dava acesso quase directo a casa.
Podendo andar por aqui algum fundamentalista da defesa dos direitos dos animais, desde já esclareço que o Brown era família e, salvo a circunstância de ser cão, era tratado, para melhor e para o pior, como tal.
Neste contexto o Brown praticamente não tinha obrigações, nem mesmo de guarda pois naquele tempo não nos dávamos muito ao incómodo de pensar no perigo dos ladrões e outros malfeitores.
O Brown, salvo se fosse em zonas movimentadas, andava sempre solto e não obedecia muito prontamente a ordens e por isso às vezes pirava-se e só voltava quando lhe apetecia não sabendo nós muito bem em que vidas andaria quando se pirava, mas suspeitamos até porque as suas semelhante deviam acha-lo um senhor cão, era lindo e metia respeito a quem não o conhecesse, mas na realidade era um doce.
Mas havia uma trela e essa trela tinha praticamente uma única função. De quando em vez o meu avô chamava-o, punha-lhe a trela e o Brown puxava e pacientemente ajudava o meu avô a vencer os caminhos mais ingremes e acidentados. Não tem explicação a ligação daquele cão e do meu avô.
Mas, voltando à ladeira ingreme enlameada.
Seguindo o meu avô com o Brown apeados fiquei com o VW à minha mercê.
A experiência era mais que pouca e portanto antes de empreender a aventura tentei antecipar mentalmente o percurso e as dificuldades que ia ter que enfrentar.
Respirei fundo, arranquei, sai do caminho para o estradão num ângulo apertado de 90º graus e daí para diante o plano era aproveitar os cerca de 20 ou 30 metros de terra seca para ganhar velocidade e amandar-me, literalmente para a lama.
Dito e efeito, logo que entro no estradão na parte de terra sem lama espremi a 1ª e entrei na lama a roncar. Claro que de imediato o carro deixo de andar a direito e passou a andar aos SS como um bêbado, mas como era o meu dia de sorte, aliviei um pouco a aceleração, fui manobrando a direcção progredindo em zigue zague e depois de vários zagues e zigues consegui mesmo passar a zona de lama e chegar a uma zona já empedrada.
Uau, não sabia bem como tinha conseguido, pois verdadeiramente nem eu acreditava que iria conseguir passar o lodaçal, mas afinal eu era um pilotaço, eh eh, o VW até ficou cheio de marcas de lama, parecia que tinha acabado de fazer o Safari.
Na realidade nesse dia pus em prática o que já tinha observado uma vez no mesmo VW em circunstâncias idênticas mas numa distância de cerca de 1 km.
O VW com lama era quase um UMM. A plataforma do chassi era plana e por isso deslizava razoavelmente por cima da lama, não prendia. Depois como era um tudo atrás o carro tinha muita tracção e o importante era não parar. A partir daí era manter a rotação no ponto certo ir ziguezagueando que o bicho conseguia sempre fazer mais um metro e se parasse a solução era meter marcha atrás e conseguir deslocar o caro nem que fosse meio metro para depois voltar a seguir prá frente, que prá frente é que é o caminho, nem que seja aos SS.
Mais tarde descobri no Brazil que uma das vantagens dos fuscas era exactamente esta.
Na época, anos 80, existiam no Brasil grandes extensões de estradas estaduais e locais em terra e na época das chuvas era frequente formarem-se zonas extensas de lamaçal onde só passavam os camiões Mercedes, os jipes Toyota, iguais aos nossos Land Cruiser mas com motor Mercedes, e os fuscas, alguns a cair de velho mas sempre a andar.
Grandes carros.
E prontos, mais um episódio mexicano, que é aliás a nacionalidade dos últimos carochas que se construíram.
Só ainda não consegui é chegar ao ponto de explicar porque raio, de sol, o meu Sunbeam são 4.
Ainda há pachorra?
JP
 
Última edição:
Fantástico... :)

O amigo tem veia. O problema é que está a criar expectativas ao pessoal que acompanha o post e vão querer mais e mais...

Continua a surpreender-nos com essa história cativante. Parabéns.
 
OP
OP
JP Vasconcelos

JP Vasconcelos

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Luis Cristovao

Veterano
Esta narração faz-nos viajar sem sair da cadeira, e percorrer os mesmos caminhos desbravados por esse 1302 e pelo(s) Sunbeam(s).
Continue. Lance um livro. Uma crónica mensal numa revista de clássicos. Etc...

Um abraço,
Luís Cristóvão
 
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