Re: Rally Portugal ( Sintra ) Tributo
Relatos:
Cenário: Subida da Lago Azul
Um grupo de "fâns" resolveu apostar entre eles quem seria capaz de tocar com a mão nos carros que passavam!
E veio o Annu Mikkola com o Audi A Quattro com os seus 6oo cavalos a voar baixinho e um dos apostadores resolveu mesmo tentar tocar no carro!.
Conclusão: o Annu seguiu para o fim da classificativa e o "esperto" para o hospital de Cascais.
O Rali. infelizmente, também foi feito disto!
Troço da Peninha.
No fim duma pequena recta (se assim se pode chamar!) uma curva para a esquerda.
Um operador de video francês planta-se no cimo duma pedra a um metro do asfalto, monta o tripé e mete o olho no visor.
Ás tantas, um Porsche começa a atravessar-se e vai direitinho à pedra.
O operador de câmara dá um passo atraz, e desaparece de pernas para o ar atráz da pedra.
Comentarios naturais depois do violento ataque de riso; Bela reportagem, não te devias filmar a tí próprio?.
Em Sintra, no início do Rali, as escolas simplesmente fechavam, já que não valia apena abrirem porque a estudantada estava toda nos troços!
Houví variadas vezes os jovens dizerem uns para os outros: A esta hora estava a levar com a matemática!, ou; que se lixe o teste, mas tinha de vir para aquí!`
Era um dia para aprender outras coisas, outras realidades e ao mesmo tempo divertirem-se.
Sintra no hotel junto ao autódromo.
Ia eu a caminha da Lagoa Azul e vi sair do hotel a "força Aérea da Finlandia!", O Alen, O Vatanen e o Salonen" mas iam de "duas pernas motrizes"
No ano em que o Joaquim Santos teve aquele horrivel acidente com o Ford RS 200, estava eu no ultimo troço em cima de um pequeno muro já quase no final do troço e ainda consegui ver os primeiros 15 ou 16 pilotos. Mas um pouco à minha frente estava um gajo deitado que roncava mais que os Audi ou os Lancias. Não sei se foi por ter deixado de ouvir os carros ou se foi por ter ouvido as bocas do pessoal que passava, levantou-se mas com a buba que estava não se deve ter lembrado que estava em cima de um muro e mandou cá um espalho ! Havia pessoal que era mesmo inconsciente .... e também foi por isso que deixou de haver a ronda de Sintra ...
Em 1986 eu também estava no troço da Lagoa Azul, onde o Quimsan se despistou... Estava duas curvas mais á frente!
Quando se soube da saída do joaquim Santos - pelo rádio - , o ppl primeiro ficou naquela que não era nada de mais e que mais uma meia hora e retomavam a passagem do rallie. Mas ao fim de algum tempo percebeu-se que a coisa era feia (também pela rádio) e começou tudo a descer o troço, em direção à curva da àgua - ou melhor dizendo, umas curvas depos da da água. E já só lá estavam os vestígios da saída do caso do Santos - nao tinha passado mais de uma hora ou hora e meia!
Mas já se sabia na PEC que as equipas de fábrica abandonavam a prova em memória das vítimas e foi a debandada geral... para casa, com a tristeza de quem adivinhava já que as passagens de Sintra (e Lagoa Azul e Peninha) ficaram com o destino traçado naquela manhã...
Em 1986 com 3 amigos decidimos ir ver a ronda de Sintra. Por volta das 21 horas de 3ª feira lá arrancámos de comboio em direcção a Lisboa, nesse tempo ninguém tinha carro. Chegámos a Sintra por volta da 1 ou 2 da manha de 4ª feira. Subir a serra de Sintra áquela hora, com milhares de pessoas já lá, foi uma coisa que me impressionou. Naquela altura nem sabia em que troço estava, limitavamo-nos a seguir o pessoal. Nunca tinha estado em Sintra, por isso para mim era tudo novidade. Fogueiras, eram dezenas, o ambiente era fantástico, rivalidades entre o pessoal, "a nossa curva é melhor que a vossa", "***** de fogueira que voçes têm", "fod... a tua gaja se fosse preciso". Enfim, bocas que ninguém ligava, porque a escuridão era um optimo aliado de quem as dizia. Extraordinário!!
A partir dai, já escolhido o local, foi uma espera de umas 6 horas até os carros passarem, mas o mais castiço era, quando faltava ainda uma hora já o pessoal gritava para ninguém se mexer, porque eles tavam quase ai a vir, dava vontade de rir.
Quando os carros vieram foi de loucos. Milhares de pessoas encavalitadas, de cima das arvores, em todos os locais possiveis e impossiveis.
O 1º a passar foi o Peugeot de Salonen. è uma imagem que não esqueço,o barulho a descer a serra é qualquer coisa de brutal, e o ambiente... só estando lá.
Passaram mais uns 10 carros e depois... nada.
Soubemos depois do acidente do Joaquim Santos, e não houve outro remédio senão vir embora.
Resumindo. Fiz aquela viagem toda, aquela espera de horas para ver uns 10 carros, quando o objectivo era ve-los todos em 3 passagens, 9 horas, 12 horas e 15 horas.
Mas se me perguntar se valeu a pena, SIM valeu.
Nunca mais houve Sintra mas a partir dai passei a ir a Arganil,para mais tarde ir ao Minho, enfim, seguir o Rali. Tenho muitas saudades desses tempos, que sei que nunca mais vão voltar.
Nem com o Rali no mundial no Algarve a coisa nunca mais irá ser a mesma.
Saudades.
Rali de Portugal 1986
Viver de perto o pesadelo
Infelizmente, vivi demasiado perto o pesadelo que foi aquela manhã de Março de 1986. Fui com uns amigos bem cedo, e como sou do Cacém, fomos por dentro de deixámos o carro perto da prisão do Linhó.
A partir daí foi sempre a pé pela Lagoa Azul, até onde julgávamos que poderíamos ver o melhor espectáculo possível. Todos os sistemas de apoio ao troço já estavam montados e existiam bombeiros, ambulância e vários carros da organização parados na zona do princípio do troço.
Andámos cerca de dois quilómetros, até à curva e ficámos uns bons metros acima do nível da estrada, na bancada natural que existe por fora, de modo a que podíamos ver bem parte da descida, a curva toda, e também a saída.
A animação era grande e durante horas não deixaram de passar milhares e milhares de espectadores, a pé pela estrada. Cerca das 8h30m, começaram a passar os 00 e 0, ou outros carros, isso já não me lembro bem. O que me lembro é que a estrada tinha agora rails constituídos por milhares e milhares de pernas, mesmo em cima do limite do asfalto. Não garanto se os pés estavam na terá ou no asfalto, mas admito para quem visse de dentro dos carros que a estrada deveria parecer mais estreita.
Depois de algum tempo com os assobios da praxe, cada vez que passava uma mocinha mais jeitosa, o pessoal começou a arrumar-se finalmente para o começo do espectáculo.
O Salonen parecia um míssil, Depois um Lancia, Alen, Toivonen, biasion, o Audi ouvia-se quase desde o início do troço, os ratérs eram incríveis, a redução antes da travagem era fenomenal. Passaram os lindíssimos Ford RS 200, os esquisitos MG Metro 6R4 e por fim o Renault 5 Turbo do Moutinho.
A seguir vinha o número 15. Ouvi o barulho, a primeira vez que o vi, vinha ligeiramente atravessado para a esquerda, depois chicoteou para o outro lado e saiu disparado para dentro do público que estava a 30 metros de mim, à esquerda em baixo.
O que se passou de seguida é difícil de relembrar, pois a confusão foi absolutamente incrível. Fiquei impávido, cerca de dois minutos, um dos meus amigos foi de imediato para junto da zona do acidente. A confusão que se instalou foi brutal, e quando pouco depois passou um MG Metro, que eu nem acredito como não parou, pois ele podia pensar que o público português era maluco, mas o que se passava na altura só poderia querer dizer que algo tinha sucedido.
Havia pessoas a acenar, outras quase a colocarem-se à frente do carro, que desacelerou muito, mas nunca parou. O mesmo sucedeu nos carros seguintes, julgo que o Bica, mas esse não vi bem. Entretanto desci e a confusão junto ao carro era imensa. Viam-se vários corpos no chão, um ou outro completamente imóvel, por trás e do lado esquerdo do carro que parou com a traseira na pequena valeta.
Ouviam-se gritos, e várias pessoas que se percebia que tinham as pernas partidas. O desespero era grande e de repente ouviram-se sirenes. Era a primeira ambulância, e segundo o que me disse um amigo meu, o Pedro, o primeiro carro a parar foi um Alfa, que mais tarde soube ter sido o Rufino Fontes.
A pouco e pouco foram chegando ambulâncias, e depressa se percebeu que havia vários mortos, julgo que três, mas nunca tive a certeza, até porque as notícias que li depois foram díspares.
Mais do que com os feridos, que esses, vi poucos, pois não quis chegar-me demais para a confusão, já que havia lá gente que chegasse e sobrasse.
O que me transtornou mais foi a cara com que a maioria das pessoas que por ali vagueava estava. Eram caras de horror e por vezes detia-me junto a grupos de pessoas que ouviam alguém que viveu ainda mais por dentro o que se passou pois estavam no local do acidente.
Havia pessoas sentadas a chorar, faces de puro terror, que certamente viram imagens mais fortes do que eu, ainda assim, não me esquecerei do que a maioria daquelas caras transmitiam. Puro terror.
Nesta altura já se tinha percebido que não ia haver mais rali, pelo que só restava regressar. Havia ainda muita gente sentada à espera, mas a verdade é que muito do futuro dos ralis tinha ficado ali naquela valeta. Dois meses depois soube da notícia da morte do meu piloto preferido e nessa altura percebi que jamais voltaria a ver aquelas magníficas máquinas, com aqueles excelentes pilotos.
Voltando um pouco atrás, eu não sou capaz de entender que tanta gente possa ser tão inconsciente. Ainda que alguns se submetam, por vezes a alguns locais perigosos na ânsia de ver o mais e melhor possível, ainda sou capaz de entender, agora que milhares e milhares de pessoas, durante anos a fio, se coloquem em locais perigosos, ou ainda pior, à frente dos carros nunca fui nem nunca serei capaz de entender. Porque será que existe assim tanta gente tão estúpida? Acham que os carros nunca se despistam? Apesar de serem aqueles os melhores pilotos do mundo, não acham que um simples problema mecânico pode deitar tudo a perder? Perder a vida num espectáculo? Entendo que há acidentes e que por vezes, por exemplo a guiar na estrada, abusamos, e podemos ter azar, mas há coisas que são inexplicáveis.
Sucedeu em 1986, mas podia ter sucedido muitos anos antes, e o que se faz actualmente com as zonas espectáculo e o controle do público não é nada mais nada menos algo que as pessoas por si próprias deviam ser capazes de fazer. Defenderem-se, terem a consciência do que é perigoso e do que nem tanto. Mas não são. A maioria, como já li em blogs e sites, já está a mandar-se contra a organização do próximo Rali de Portugal, porque em 2005 e 2006 tinham muitas estradas cortadas e não podiam andar como queriam.