Bem, eu vou ter de fazer o papel de advogado do diabo... Haveria muito a dizer sobre orçamentos... não é um tópico simples, e qualquer profissional que se preze e que lide com clássicos não os faz.
Por muito que nos custe racionalizar isto, quando se mexe num carro com uma certa idade o mais certo é que além do problema identificado (e que até pode ter sido mal identificado e revelar-se completamente diferente depois de se mexer) se descubram outros que estavam à espera de ser "descobertos"... isto não significa que seja de alguma forma maldade da pessoa que procura fazer mais uns trocos, mas é a inevitabilidade de um carro que já passou há muito a sua expectativa média de vida. E isto é um facto incontornável.
Eu optei por fazer vida nestas coisas e sei bem como são. Ainda há umas semanas estive de volta de um clássico dos anos 50 de um amigo, que entrou na minha oficina para resolver um pequeno problema eléctrico, e acabou por saír com uma afinação de carburadores, de travões, uma reparação a um comutador dos piscas, uma peça refabricada por mim e um depósito de gasolina novo!
Nada disto foram problemas provocados por mim, e faço questão de os demonstrar às pessoas sempre que posso, porque sei que muitas vezes há uma preocupação com os gastos, mas temos de nos mentalizar que temos um carro que queremos que dure, e então se se vai fazer uma intervenção, vale a pena ser bem feita. Ou nos dispomos a gastar o dinheiro que for necessário para ser bem feito, ou estamos a remediar. E o meu amigo continua a ser meu amigo, e ficou encantado com a diferença porque agora o carro se conduz muito melhor que antes, e a perda de gasolina finalmente foi resolvida.
E os profissionais acabam por não querer mexer neles por causa destas questões... o trabalho é sempre mais complicado do que se anteviu, e se levam muito mais do que estimaram, ficam logo mal vistos.
Ainda há dias estava a falar disto com um pintor que trabalha mesmo ao lado da minha oficina, e ele foi peremptório em afirmar que com clássicos nunca faz orçamentos. Ele até prefere levar menos à hora porque sabe que são inevitavelmente trabalhos mais prolongados, mas só faz bem feito (e já vi alguns trabalhos que ele executou e ficam de facto muito bons). Estas coisas não são baratas, e se vamos fazer temos de nos mentalizar disto. Ou acham que não há quem fosse capaz de fazer um restauro com a qualidade do @João Pereira Bento ? Claro que sim, mas querem mesmo saber quanto custaria?
O trabalho de chapa também é muito inglório porque não é fácil (bate-chapas verdadeiramente bons conheço 2 ou 3), e é sempre pior do que parecia antes de ser desmontado. Quantas vezes já desmontei um painel que tinha duas ou três bolhinhas e descobri que estava todo minado quando removi a tinta? Nem sei... é muito complicado antever. E por muito que nos custe, um profissional tem a porta aberta para gerar algum dinheiro, que também tem de comer e pagar as contas ao final do mês... há que ter compreensão de parte a parte.
Além disso, há a questão da desmontagem e montagem. Desmontar é simples (às vezes...), montar é sempre complicado. Muitos pintores recusam simplesmente fazer esse tipo de serviço, e alguns nem recebem os carros se não vierem já desmontados e prontos a intervencionar, só lidam geralmente com concessionários e stands com oficina própria que fazem essas partes para poupar algum dinheiro e agilizar o serviço. São influências da mentalidade moderna do serviço com retorno rápido, e muitos profissionais já formataram o seu serviço a estes moldes.
Posto isto tudo, há o velho adágio... "preço é o que se paga, valor é o que se recebe". Quando o serviço é de qualidade, mesmo que tenha sido caro, acaba por se aceitar. Mas quando só olhamos ao valor, raramente somos bem servidos. Portugal é dos países onde a mão-de-obra é mais barata na UE (há especialistas em clássicos no Reino Unido a levar o triplo e mais), e ainda temos bons profissionais, mas temos de nos mentalizar que se queremos ser bem servidos temos de pagar de acordo com isso. E os nossos clássicos merecem ser bem tratados, para continuarem por cá a desafiar a obsolescência durante muitos anos mais. Eu sei que nenhum de nós nada em dinheiro como o Tio Patinhas, mas há que ter esta noção.
Bem, posto todo este "testamento", e retornando ao trabalho em causa, é tudo uma questão de discutir com a pessoa e saber se há disposição para o resolver ou não. Analisar bem os problemas que se apresentam, saber se a pessoa tem disponibilidade para os consertar, e em que moldes. Ver se se justifica investir nessa solução ou se haverá outra mais simples e económica. Mas acima de tudo, perceber se a pessoa está de facto disponível a fazer um trabalho de confiança, e se há capacidade para o pagar.
Se não conseguires fazer agora tudo, é investir em ir fazendo o trabalho por fases. Resolver de imediato os problemas mais gravosos, e aos poucos ir investindo nos restantes. Se conseguires encontrar uma porta em melhor estado, por exemplo, pode ficar mais em conta do que reparar essa. É uma questão de investigar, mas tens de ser paciente e falar isso com calma com o profissional que escolheres.
Um abraço!
Por muito que nos custe racionalizar isto, quando se mexe num carro com uma certa idade o mais certo é que além do problema identificado (e que até pode ter sido mal identificado e revelar-se completamente diferente depois de se mexer) se descubram outros que estavam à espera de ser "descobertos"... isto não significa que seja de alguma forma maldade da pessoa que procura fazer mais uns trocos, mas é a inevitabilidade de um carro que já passou há muito a sua expectativa média de vida. E isto é um facto incontornável.
Eu optei por fazer vida nestas coisas e sei bem como são. Ainda há umas semanas estive de volta de um clássico dos anos 50 de um amigo, que entrou na minha oficina para resolver um pequeno problema eléctrico, e acabou por saír com uma afinação de carburadores, de travões, uma reparação a um comutador dos piscas, uma peça refabricada por mim e um depósito de gasolina novo!
Nada disto foram problemas provocados por mim, e faço questão de os demonstrar às pessoas sempre que posso, porque sei que muitas vezes há uma preocupação com os gastos, mas temos de nos mentalizar que temos um carro que queremos que dure, e então se se vai fazer uma intervenção, vale a pena ser bem feita. Ou nos dispomos a gastar o dinheiro que for necessário para ser bem feito, ou estamos a remediar. E o meu amigo continua a ser meu amigo, e ficou encantado com a diferença porque agora o carro se conduz muito melhor que antes, e a perda de gasolina finalmente foi resolvida.
E os profissionais acabam por não querer mexer neles por causa destas questões... o trabalho é sempre mais complicado do que se anteviu, e se levam muito mais do que estimaram, ficam logo mal vistos.
Ainda há dias estava a falar disto com um pintor que trabalha mesmo ao lado da minha oficina, e ele foi peremptório em afirmar que com clássicos nunca faz orçamentos. Ele até prefere levar menos à hora porque sabe que são inevitavelmente trabalhos mais prolongados, mas só faz bem feito (e já vi alguns trabalhos que ele executou e ficam de facto muito bons). Estas coisas não são baratas, e se vamos fazer temos de nos mentalizar disto. Ou acham que não há quem fosse capaz de fazer um restauro com a qualidade do @João Pereira Bento ? Claro que sim, mas querem mesmo saber quanto custaria?
O trabalho de chapa também é muito inglório porque não é fácil (bate-chapas verdadeiramente bons conheço 2 ou 3), e é sempre pior do que parecia antes de ser desmontado. Quantas vezes já desmontei um painel que tinha duas ou três bolhinhas e descobri que estava todo minado quando removi a tinta? Nem sei... é muito complicado antever. E por muito que nos custe, um profissional tem a porta aberta para gerar algum dinheiro, que também tem de comer e pagar as contas ao final do mês... há que ter compreensão de parte a parte.
Além disso, há a questão da desmontagem e montagem. Desmontar é simples (às vezes...), montar é sempre complicado. Muitos pintores recusam simplesmente fazer esse tipo de serviço, e alguns nem recebem os carros se não vierem já desmontados e prontos a intervencionar, só lidam geralmente com concessionários e stands com oficina própria que fazem essas partes para poupar algum dinheiro e agilizar o serviço. São influências da mentalidade moderna do serviço com retorno rápido, e muitos profissionais já formataram o seu serviço a estes moldes.
Posto isto tudo, há o velho adágio... "preço é o que se paga, valor é o que se recebe". Quando o serviço é de qualidade, mesmo que tenha sido caro, acaba por se aceitar. Mas quando só olhamos ao valor, raramente somos bem servidos. Portugal é dos países onde a mão-de-obra é mais barata na UE (há especialistas em clássicos no Reino Unido a levar o triplo e mais), e ainda temos bons profissionais, mas temos de nos mentalizar que se queremos ser bem servidos temos de pagar de acordo com isso. E os nossos clássicos merecem ser bem tratados, para continuarem por cá a desafiar a obsolescência durante muitos anos mais. Eu sei que nenhum de nós nada em dinheiro como o Tio Patinhas, mas há que ter esta noção.
Bem, posto todo este "testamento", e retornando ao trabalho em causa, é tudo uma questão de discutir com a pessoa e saber se há disposição para o resolver ou não. Analisar bem os problemas que se apresentam, saber se a pessoa tem disponibilidade para os consertar, e em que moldes. Ver se se justifica investir nessa solução ou se haverá outra mais simples e económica. Mas acima de tudo, perceber se a pessoa está de facto disponível a fazer um trabalho de confiança, e se há capacidade para o pagar.
Se não conseguires fazer agora tudo, é investir em ir fazendo o trabalho por fases. Resolver de imediato os problemas mais gravosos, e aos poucos ir investindo nos restantes. Se conseguires encontrar uma porta em melhor estado, por exemplo, pode ficar mais em conta do que reparar essa. É uma questão de investigar, mas tens de ser paciente e falar isso com calma com o profissional que escolheres.
Um abraço!