Eu acho que o que muita gente estava a dizer é que essa sensação de que o Rui fala depende muito do clássico que se tem (não me pareceu ser um ataque ao Fiesta, mas apenas isso).
Quanto à minha contribuição para discussão:
Eu não tenho experiência com clássicos (infelizmente o GS ainda está nas boxes), mas faço do Uno muitas vezes o meu carro do dia-a-dia. É certo que o Fiat Uno, lançado em 1983, é já porventura de concepção mais avançada do que o Fiesta mk2 e, por isso, imagino que a minha experiência seja mais próxima da de um carro moderno do que de um clássico. Na verdade, apesar de terem sido produzidos na mesma altura, há uma diferença abissal entre o meu actual Uno e o defunto Citroën Visa que tive em tempos; diferença que se deverá principalmente ao facto de o Uno pertencer já à geração seguinte de utilitários.
Dito isto (e reconhecendo que a experiência de um Fiat Uno possa não ser a de um verdadeiro clássico) sinto que o Uno é um carro fabuloso para o dia a dia. Ainda que a eficácia do aquecimento ou da insonorização sejam inferiores a um carro actual (pois são, reconheço!), a verdade é que isso é compensado com muitas coisas em que, pura e simplesmente, o Uno é muito melhor que um carro moderno. Mesmo. Passo a enumerar.
1- O tamanho. Não demos por isso, mas os carros hoje são muito maiores que outrora. Nos utilitários, isso é sintomático. O Uno, que nos anos 80 me parecia um utilitário gigante, hoje parece mínimo ao pé de um 208, Punto ou Clio. É impressionante. Ora, essa diferença de tamanho confere uma brutal agilidade, seja a encontrar lugares para estacionar, seja a passar em ruas estreitas.
2- A superfície vidrada: as superiores exigências actuais de segurança dos carros tiveram como efeito a redução da superfície vidrada dos carros modernos. Basta olhar para qualquer um: linhas de cintura muito elevadas, com o vidro a partir de bem mais acima do que antigamente. Conclusão: os carros antigos são muito mais luminosos, alegres. Têm enorme visibilidade para todos os ângulos, o que facilita imenso o uso em cidade.
3- A resposta mecânica de um carro carburado: o facto de não haver um computador a fazer contas para converter a força que se faz no pedal do acelerador em gasolina injectada — mas um cabo que abre a borboleta em tempo real — gera enorme agilidade. Aqueles milissegundos que um sistema de injecção electrónica (associada a acelerador fly by wire) desperdiça são determinantes na hora de entrar numa rotunda ou num cruzamento. A resposta de um carro carburado é sempre mais imediata. E isso é uma vantagem gigante na utilização citadina.
4- Os consumos: sim, reconheço que isso não é uma vantagem de qualquer clássico. Mas é vantagem do Uno. A inexistência de sistemas antipoluição faz com que os FIRE carburados funcionem com mistura pobre, almejando consumos fabulosos. Com a introdução do catalisador em 1992/1993, os consumos aumentaram muito. Assim, o Uno faz 5 litros em estrada e 7 numa cidade sinuosa como Coimbra. O actual FIAT 500 com o motor Fire (agora cheio de electrónica) gasta bem mais.
Estas quatro vantagens são coisas em que o Uno é, de facto,
melhor do que um carro actual. E, por isso, torna-se menos irracional usá-lo intensivamente.
(Sim, eu sei... O Uno não é um clássico. Mas lá chegará. )