Expor os jovens aos automóveis clássicos... em movimento - um contributo para a causa :)

José H Almeida

Portalista
Portalista
Não quis deixar de partilhar uma experiência que excedeu as minhas expectativas.
Apesar de o "meu" carocha até estar certificado como viatura de interesse histórico, eu defino-o mais como viatura de divulgação histórica. Não fica muito tempo parado, mesmo com chuva circula e vai fazendo sorrisos por onde passa. Acho que é o verdadeiro embaixador do hobby dos clássicos.
Mas um automóvel é - "veículo cujo movimento resulta de mecanismo próprio, sem intervenção de força exterior." - movimento aqui é a palavra chave e o que o distingue de um quadro num museu.
Assim, resolvi começar a expor a juventude ao tipo de mobilidade que havia antigamente e acho que a experiência correu bem. Fiz uma explicação prévia das particularidades deste carro e de como eram as condicionantes antigamente de andar de carro. Por exemplo, que ao contrário dos automóveis modernos, este carro está feito para se arrastar com as avarias, como por exemplo, mesmo só com dois cilindros a funcionar, porque não havia assistência em viagem, nem telemóveis para pedir ajuda. Para mim também foi uma experiência interessante ao ver que eu e eles temos o mesmo objecto à frente mas estamos a ver coisas diferentes. Coisas que nunca tinha valorizado como "não tem cintos atrás!", "tão pequenino por fora e tão grande por dentro!" (sim as portas são finas), "como é que se estaciona sem espelho do lado direito" e desfazer alguns mitos como "num acidente este carro aguenta-se melhor que os novos" - resposta "num acidente grave eu morro logo que ele desfaz-se" (depois enviei-lhes uns vídeos sobre o assunto).

Seguiu-se o passeio que proporcionei a quatro jovens adultos no VW 1300L 1970 e que nunca tinham andado num automóvel clássico. O que era para ser um passeio curto, alongou-se para ampliar a experiência dado o entusiasmo mostrado e perguntas feitas (como consegue subir a N313 da Régua para Vila Real com cinco pessoas? Conseguiu! A uma velocidade constante de 70km/h). O passeio teve pontos altos, entre outros, como atingirmos a velocidade máxima de 120km/h na autoestrada (praticamente vazia). Nota: o carro está mecanicamente em condições. Pode-se ouvir uma passageira a dizer duas vezes "que fixe!" e de facto é :) Não pensei que chegasse a marcar 120km/h relativamente depressa, carregado e ligeiramente a subir.


E, não podia falhar a buzina, segurança acima de tudo (acho que foi um hábito que se perdeu).


No fim e em parque fechado deixei-os conduzir 50 metros a três deles, a quarta não tinha carta de condução, para terem a experiência completa.
A prova, ainda parados a explicar como funciona a caixa de velocidades:
Imagem WhatsApp 2023-09-29 às 16.00.00.jpg
As vinhas na N313 a caminho da Régua (não fomos lá). É aqui que o carro está como peixe na água, estradas contemporâneas. Uma das ocupantes, que já conhecia a estrada, disse que dentro deste carro a paisagem até tinha outro encanto, achei que estava a exagerar, mas lá está gerações diferentes vemos coisas diferentes.
Imagem WhatsApp 2023-09-29 às 15.55.55.jpg
O percurso (±25km)
Screenshot 2.jpg
Reações finais que me fizeram chegar:
"Mais uma vez, muito obrigada pela experiência que nos proporcionou! Eu, que não percebo nada de carros e fui apenas porque havia uma vaga [faltou um "inscrito"], fiquei completamente entusiasmada e até me doíam as bochechas no final de tanto sorrir! "
O jovem que se vê na foto:
"Cumpri parte do meu sonho de criança, conduzir um carocha ( agora falta a outra parte, ter um, ahaha)" - Foi o Herbie que o fez sonhar.

A esta outra forma de expor a juventude aos carros clássicos, aproveito para mencionar um projecto no Reino Unido "The Classic Car Loan Project" ("O Projeto de Empréstimo de Carro Clássico"). Desculpem a tradução directa "Um jovem motorista [geralmente com 25 anos ou mais - tem a ver com o seguro] recebe um carro clássico do nosso grupo para dirigir e cuidar durante o período de empréstimo de um ano. O projeto foi concebido para reduzir o risco e proteger todas as partes em todos os pontos." Depois há uma série de condições. Foi uma forma que arranjaram de atrair mais jovens para uma atividade que, pelo menos por lá, se queixavam que estava a envelhecer, começou com meia dúzia de carros e vai com 20.

Já não vou para jovem, considero-me apenas o "cuidador" destes carros que os mantém operacionais para que continuem a poder ser usufruídos pelas gerações mais novas. Acredito que estes carros me vão sobreviver, mas para isso é preciso que haja jovens que os continuem a manter depois de eu já não o poder fazer.

Já tenho pelo menos mais três jovens que querem fazer a experiência, a que faltou e mais dois. Vão ter de aguardar, pois o carro está a fazer uma revisão num jovem mecânico de 80 anos.
 

Luis Sousa

Veterano
Excelente iniciativa! Obrigado pela partilha!
Acima de tudo explicar que estamos perante mecânica pura, não há eletrónica (que eles sabem bem o que é) pelo meio. Das melhores experiências que tive foi andar (como pendura) num Karmann Ghia no autodromo do estoril quando era mais novo, também deu 120km/h na reta da meta.
 

António José Costa

Regularidade=Navegação, condução e cálculo?
Portalista
Não quis deixar de partilhar uma experiência que excedeu as minhas expectativas.
Apesar de o "meu" carocha até estar certificado como viatura de interesse histórico, eu defino-o mais como viatura de divulgação histórica. Não fica muito tempo parado, mesmo com chuva circula e vai fazendo sorrisos por onde passa. Acho que é o verdadeiro embaixador do hobby dos clássicos.
Mas um automóvel é - "veículo cujo movimento resulta de mecanismo próprio, sem intervenção de força exterior." - movimento aqui é a palavra chave e o que o distingue de um quadro num museu.
Assim, resolvi começar a expor a juventude ao tipo de mobilidade que havia antigamente e acho que a experiência correu bem. Fiz uma explicação prévia das particularidades deste carro e de como eram as condicionantes antigamente de andar de carro. Por exemplo, que ao contrário dos automóveis modernos, este carro está feito para se arrastar com as avarias, como por exemplo, mesmo só com dois cilindros a funcionar, porque não havia assistência em viagem, nem telemóveis para pedir ajuda. Para mim também foi uma experiência interessante ao ver que eu e eles temos o mesmo objecto à frente mas estamos a ver coisas diferentes. Coisas que nunca tinha valorizado como "não tem cintos atrás!", "tão pequenino por fora e tão grande por dentro!" (sim as portas são finas), "como é que se estaciona sem espelho do lado direito" e desfazer alguns mitos como "num acidente este carro aguenta-se melhor que os novos" - resposta "num acidente grave eu morro logo que ele desfaz-se" (depois enviei-lhes uns vídeos sobre o assunto).

Seguiu-se o passeio que proporcionei a quatro jovens adultos no VW 1300L 1970 e que nunca tinham andado num automóvel clássico. O que era para ser um passeio curto, alongou-se para ampliar a experiência dado o entusiasmo mostrado e perguntas feitas (como consegue subir a N313 da Régua para Vila Real com cinco pessoas? Conseguiu! A uma velocidade constante de 70km/h). O passeio teve pontos altos, entre outros, como atingirmos a velocidade máxima de 120km/h na autoestrada (praticamente vazia). Nota: o carro está mecanicamente em condições. Pode-se ouvir uma passageira a dizer duas vezes "que fixe!" e de facto é :) Não pensei que chegasse a marcar 120km/h relativamente depressa, carregado e ligeiramente a subir.


E, não podia falhar a buzina, segurança acima de tudo (acho que foi um hábito que se perdeu).


No fim e em parque fechado deixei-os conduzir 50 metros a três deles, a quarta não tinha carta de condução, para terem a experiência completa.
A prova, ainda parados a explicar como funciona a caixa de velocidades:
Ver anexo 1288611
As vinhas na N313 a caminho da Régua (não fomos lá). É aqui que o carro está como peixe na água, estradas contemporâneas. Uma das ocupantes, que já conhecia a estrada, disse que dentro deste carro a paisagem até tinha outro encanto, achei que estava a exagerar, mas lá está gerações diferentes vemos coisas diferentes.
Ver anexo 1288612
O percurso (±25km)
Ver anexo 1288613
Reações finais que me fizeram chegar:
"Mais uma vez, muito obrigada pela experiência que nos proporcionou! Eu, que não percebo nada de carros e fui apenas porque havia uma vaga [faltou um "inscrito"], fiquei completamente entusiasmada e até me doíam as bochechas no final de tanto sorrir! "
O jovem que se vê na foto:
"Cumpri parte do meu sonho de criança, conduzir um carocha ( agora falta a outra parte, ter um, ahaha)" - Foi o Herbie que o fez sonhar.

A esta outra forma de expor a juventude aos carros clássicos, aproveito para mencionar um projecto no Reino Unido "The Classic Car Loan Project" ("O Projeto de Empréstimo de Carro Clássico"). Desculpem a tradução directa "Um jovem motorista [geralmente com 25 anos ou mais - tem a ver com o seguro] recebe um carro clássico do nosso grupo para dirigir e cuidar durante o período de empréstimo de um ano. O projeto foi concebido para reduzir o risco e proteger todas as partes em todos os pontos." Depois há uma série de condições. Foi uma forma que arranjaram de atrair mais jovens para uma atividade que, pelo menos por lá, se queixavam que estava a envelhecer, começou com meia dúzia de carros e vai com 20.

Já não vou para jovem, considero-me apenas o "cuidador" destes carros que os mantém operacionais para que continuem a poder ser usufruídos pelas gerações mais novas. Acredito que estes carros me vão sobreviver, mas para isso é preciso que haja jovens que os continuem a manter depois de eu já não o poder fazer.

Já tenho pelo menos mais três jovens que querem fazer a experiência, a que faltou e mais dois. Vão ter de aguardar, pois o carro está a fazer uma revisão num jovem mecânico de 80 anos.

Excelente, não é fácil, a larga maioria dos adolescentes (idade dos meus filhos) não quer saber de automóveis, motos ou similares, no entanto verifico com o aumentar da idade um pequeno grupo a aumentar com gosto por estas loucuras mecânicas, com diferentes perspectivas da s nossas obviamente, mas pelo menos a olhar para elas, esperemos que estás máquinas do tempo, tenham os seus cuidadores no futuro e não se tornem meros objectos de arte estática.
 

Samuel

Veterano
Boa iniciativa.
Outro detalhe (nesta época em que se fala tanto do ambiente e do impacto 'agressivo' de que estes automóveis veteranos atualmente gozam) são carros em que uma grande parte das coisas que avariam, têm arranjo e são consertáveis - não são como os modernos 'ecológicos' que quando alguma coisa (e são cada vez maiores e mais complexas) avaria, vai para o lixo e põe-se uma nova (seja por ser impossível materialmente, economicamente ou ignorantemente). Claro que nem todos acharão piada a isso... Mas não custa tentar.
 

João Luís Soares

Pre-War
Membro do staff
Premium
Delegado Regional
Portalista
Muito obrigado pela partilha desta iniciativa.

Essa ideia que levaste avante é uma oportunidade para a malta nova conhecer os Clássicos, um Portal para os Clássicos.

Conhecer mexendo, experimentando e tomando parte ativa é uma maneira eficaz de esse contacto ser uma aprendizagem e dar frutos mais tarde.
 
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José H Almeida

José H Almeida

Portalista
Portalista
Obrigado pelas palavras de apoio.
Pois, ver é uma coisa, mexer é outra. O João Soares já batizou "Portal para os Clássicos", agora é só replicar esta abordagem.
Em relação à facilidade de reparação vejam o vídeo como mudar a correia do gerador em 5 segundos (não tentem isto em casa, eu nunca tentei). Nunca se esqueçam que este carro é um projecto dos anos 30, como o FIAT Topolino, Citroen 2CV, Ford 7, Austin 8, Morris Eight entre outros. Renault 4 e Mini já são outro campeonato.
 
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