Alba - O Automóvel Português

Marco Pestana

MarcoSprint MarcoVW61
Hoje estive a ler com tempo e calma a MC de Janeiro com o grande e bom artigo sobre os carros Sport Portugueses dos anos 50!

Estão de parabéns!

Ao Adelino Dinis, pelo trabalho e a atenção merecida ao "porduto" nacional, e fruto da paixão e criatividade de Portugueses...

Ao Francisco Lemos Ferreira, pela colaboração importante e interessante sobre o motor 100% nacional do ALBA!

BEm dizia que ESTE tópico, era na minha opinião, o mais importante tópico neste Portal dos Clássicos ( todos os restantes tópicos são interessantes, é certo! ) porque despertou a opinião pública, concretamente quem ama os clássicos, a lutar pela sua defesa...

Espero que o ALBA venha a ter um restauro, ou mais não seja uma intervenção que o ponha a brilhar como merece...

Obrigado Francisco!

Abraço!
 

nuno maurício

Veterano
Exelentes documentos, para um puto como eu que gosta de clássicos estas coisas são sempre muito interessantes e despertam-me imensa curiosidade. Parabéns amigo Lemos.
 

Miguel Monteiro

YoungTimer
Este tópico é para mim dos melhores, senão o melhor tópico que li até hoje.
De facto o que é nacional é bom! :D
Sou também da opinião de restaurar o ALBA, “quanto mais original melhor”, “a patine”, mas digam lá se restaurado não ficava muito mais bonito?! São opiniões.. É certo que não está todo podre e a cair aos bocados mas merecia um verdadeiro restauro e a colocação do motor de origem. O DM não foi restaurado? Foi! E está invejável, com uma pinta descomunal! eheh :huh:
Como referi são opiniões, todos pensamos de maneira diferente, se o carro fosse meu, eu restaurava-o. Está de facto indiscutivelmente original (á excepção do motor claro!), foi o carro que mais gostei de ler na MC nº23 (o melhor numero até hoje) só tive pena de não aprofundarem cada um como deve ser, talvez o pudessem fazer nas próximas publicações, cada um dos 3 por revista.
Este tópico está mesmo muito bom, aprendi imenso e como devem calcular é estranho um rapaz de 16 anos interessar-se tanto por carros como diriam os meus amigos ”a cair de podres”, mas com um carro espectacular como o ALBA, um tópico, pesquisa, entrevista de qualidade já para não falar do espectacular artigo na MC da autoria de Adelino Dinis que para alem de conciliar a historia de três carros 100% (ou quase) nacionais fala-nos sobre a historia da Abarth! É de facto um número a não perder, comprei as 23 + 0! E esta está qualquer coisa de extraordinário. É fácil ficar acordado até “ás tantas” a ler este tópico com a MC aberta ao lado mesmo para quem como eu chegou a casa ás 6 da manha depois de uma noitada! eheh :D
Um abraço,
Miguel Monteiro
 

João de Góis Silva

Tiffosi inveterado...
Olá a todos.
Após ter lido cuidadosamente todo o conteúdo deste magnífco tópico acerca do que deveria ser um dos nossos motivos de orgulho nacional em larga escala, houve algumas dúvidas que surgiram e que irei colocar quando toda a cronologia e informação que recolhi estiver concluída e compilada adequadamente.
No entanto, e não querendo abusar como 1ª postagem, pergunto se alguém poderia fazer a amabilidade de disponibilizar digitalizações da Motor Clássico nº 23 que, infelizemnte, quando fui para adquirir, já tinha sido substituída pelo número actual e podia acontecer que me repondesse a algumas inconsistências e dúvidas que me assaltam.

Muitos parabéns pelo fantástico trabalho que está aqui feito e continuem na busca por informação acerca desta belíssima máquina, ainda por cima nacional!!

Cumprimentos
 

David Silva

scuderi
Ora mt bem. Só hoje tive oportunidade de concluir a leitura de fio a pavio deste que é o melhor Tópico do nosso Portal...
Para o afilhado Francisco Lemos Ferreira, deixo um agradecimento especial por toda esta enxurrada de informação valiosíssima sobre a ALBA. Já não há adjectivos pra te qualificar. És o maior.:D
Quanto ao nosso querido OT, confesso que a teoria da patine não me escandaliza minimamente. Acho que o carro na condição em que está consegue transmitir muito mais da sua história. Agora, também concordo que é inevitável um restauro profundo a curto/médio prazo... Penso que esta empreitada merece ser planeada ao pormenor e sem olhar a custos. Falo a nível mecânico, carroçaria, chassis e interiores... Aliás, creio que este monumento de 4 rodas, depois de passar pelo restauro rigorosíssimo, deverá percorrer o mundo, para dar a conhecer à estrangeirada que por cá também se percebe de carros e que não temos razões nenhumas para nos envergonharmos com nenhum cidadão das grandes potencias automobílisticas.
Lendo este tópico e imaginado-o perfeitamente restaurado não custa nada imaginar o lindo OT no meio dos Bugattis e afins num Palm Beach ou num Villa d'Este a exibir com orgulho o Twin Cam tuga que nos transmite um orgulho enorme... Elegância tem ele... Creio que isso é indiscútível....
 

David Silva

scuderi
João de Góis Silva disse:
Creio que se quiz referir a Pebble Beach Concours d'Elegance e o Villa d'Este Concorso d'Eleganza... :huh:;)

João existem os dois concursos de elegancia (Palm na Flórida e Pebble na Califórnia), mas de facto tens razão. O Peeble Beach é o mais conhecido e conceituado.

Quanto ao termo tuga, creio que pelo facto de não te agradar não será imperioso que não o utilizemos. Cada um dá o sentido que quer à palavra e creio que só com muito esforço é que os portalistas o interpretariam da forma que tu interpretaste. De qualquer forma já vi que não te agrada mesmo por isso vou tentar não o utilizar mais quando estiveres por perto...:D

Não sei porquê, mas sinto que vais ser uma mais valia pro Portal... Sê muito bem-vindo a esta família!
 

João de Góis Silva

Tiffosi inveterado...
Bom, tal como tinha "prometido", aqui vai o meu apanhado de toda a informação que recolhi acerca dos ALBA. Vai ser uma postagem algo longa mas espero sinceramente que valha a pena. Peço a todos os que estejam interessados e que estejam dentro do assunto (nomeadamente o Francisco Lemos Ferreira e o Manuel Ferreira Dinis... ;) ) que por favor façam a revisão do texto, indicando o que está correcto... mas especialmente o que não está!
De seguida colocarei uma série de questões que não consegui esclarecer, a ver se alguém está mais dentro disto do que eu.

Cumprimentos.


Durante os anos 50 deu-se o aparecimento de vários pequenos fabricantes de automóveis com o intuito de participar nas provas organizadas pelo ACP e que eram muito populares então. Um dos nascidos nesse “movimento” foi o ALBA, criação de António Augusto Martins Pereira, filho do proprietário da metalurgia ALBA, em Albergaria-a-Velha.
A ALBA é a designação pela qual era conhecida a empresa criada em 1921 inicialmente chamada de Fundição Lisbonense, posteriormente alterada para Fundição Albergariense, e assumindo em 1923 o nome do seu fundador Augusto Martins Pereira, nascido em 1885 em Sever do Vouga. Utilizando um símbolo desenvolvido por Daniel Constant, a empresa tornou-se conhecida em todo o país e nas colónias por ALBA, as três primeiras letras e a ultima da palavra Albergaria. A ALBA foi mais tarde adquirida pelo grupo português DURIT e recentemente foi veiculada a informação de que parte da fábrica ALBA (actual METALFA:cool: iria ser desactivada (deslocalizada), sendo transferida para as instalações da FUSAG (em Águeda) adquiridas pelo grupo por “constrangimentos legais e urbanos impedem a fundição Alba de continuar a laborar onde está localizada”.
O primeiro Alba foi concebido por António Augusto de Lemos Martins Pereira e construído em 1952 na fábrica ALBA com a ajuda de Ângelo de Oliveira e Costa, de Albergaria (tinha uma oficina de reparação de carros “artilhados” no Porto, o que ajudou no desenvolvimento do carro) e Francisco Corte Real Pereira (como exímio piloto e mecânico), bem como de toda uma equipa de engenheiros, fundidores, carpinteiros e técnicos “residentes” na fábrica ALBA. Segundo António Pereira, não era de seu intuito ser um construtor de automóveis. Como entusiasta automóvel e fascinado com os nossos FAP e D.M., decidiu que iria também fazer um carro seu. Tendo em conta que tinha por trás a fábrica metalúrgica mais avançada e com recursos da época, logo iniciou o projecto. O ALBA foi então baseado no chassis dum Fiat 508 C 1100 (mais especificamente o 508-C-229808) fortemente modificado, de longarinas com travessas de reforço, cuja parte traseira foi cortada e invertida, a fim de reduzir o centro de gravidade do veículo. Esta não foi a única modificação feita ao chassis. Também uma armação tubular foi construída para colocar a carroçaria em alumínio estampado à mão (feita por um chapeiro do Porto, Sr. José, contratado por António Martins Pereira exclusivamente para fazer a carroçaria do ALBA durante o horário de serviço) e a própria suspensão dianteira foi reconstruída propositadamente para o ALBA, inspirada na suspensão Gregoire da época, com novo triângulo superior e molas helicoidais específicas, de forma a reduzir o peso do conjunto. Já a alma da máquina consistia no motor Fiat 1089cc que o 508 C trazia originalmente mas fortemente modificado a fim de melhorar as performances (novas árvores de cames de competição, válvulas especiais e mola interior das válvulas instaladas directamente sobre as touches são só alguns exemplos das alterações introduzidas), produzindo assim por volta de 70cv. No entanto, embora a potência possa parecer algo pouca, era mais que suficiente para mover os pouco mais de 500kg do ALBA com celeridade até aos 180km/h, tanto que a caixa de velocidades Fiat, de 4 velocidades (sincronizada apenas na 3ª e na 4ª velocidades), recebeu também relações novas, mais longas, já que tinha apenas metade do peso para puxar (quando comparado com os 1100kg do Fiat 508 C original) e mais potência à disposição. A sua carroçaria tipo barchetta de estilo quase italiano pintada de cor clara e com as riscas longitudinais amarela e azuis tornavam-no inconfundível. Após este primeiro carro, seguiu-se um segundo com estilo e características semelhantes (o vermelho a que chamarei doravante Alba 1100, matrícula TN-10-82)), e mais dois, sendo um deles o chamado Alba LN, construído para Francisco Formigal Luzes mas cujas modificações no motor foram feitas pelo destinatário. António Augusto Pereira refere ainda a existência de uma carroçaria ALBA feita para um D.M. Destes, os dois primeiros tinham chassis “Alba” (Fiat fortemente modificado, mais largo e baixo), enquanto os restantes eram só adaptados de Fiat, pois tinham distância entre-eixos menor.
Embora os ALBA fossem concebidos apenas com a competição automóvel em vista, isso não impediu que fossem homologados pela DGV para uso nas estradas públicas (também não nos esqueçamos que nesta época os pilotos conduziam os carros até às provas…), tanto que todas as unidades tiveram que ter essa aprovação (assinados por um Engenheiro Mecânico e após um exame de homologação).
O facto de o uso dos motores 1100cc ser recorrente nessa época em carros deste género prendia-se com o facto de o ACP ter uma categoria específica de Sport para carros com cilindradas de 750cc até 1100cc, bastante concorrida pelos baixos custos inerentes quando comparados com a categoria máxima. O ALBA fazia portanto parte desse grupo e não é de admirar que na estreia, no Circuito de Vila do Conde em 1952, Francisco Corte Real Pereira (corrida na qual o 2º ALBA foi inscrito mas não chegou a participar) o levasse ao segundo lugar da classificação final da categoria e, no ano seguinte, a primeira vitória no Circuito Internacional do Porto, na corrida reservada à classe 1100 e um segundo lugar em Monsanto. A prova do ACP I Taça Cidade do Porto de 1953 foi de 148,180km, divididos em 20 voltas à pista, cujo perímetro era de 7.407m, e contou com nada mais que 8 pilotos portugueses em 13 inscritos. O ALBA de Corte Real Pereira ainda teve um curioso despique com Abílio Barros, em FAP mas a partir da segunda volta o ALBA “foi-se embora”, vencendo à média de 119,207km/h!
Já o seu proprietário participa principalmente em provas de regularidade e em ralis (uma vez que havia prometido ao seu avô não conduzir em provas de velocidade pois este tinha medo que o neto se magoasse), com varias vitórias à classe. Por exemplo, em 1954 participa no Rali da Montanha e no Rali “A Mundial” e em Agosto de 1955, no Rali a Guimarães.
Em 1954, o ACP modificou os regulamentos e a classe passou a ter o limite nos 1500cc. Isto abriu a porta à entrada de uma série de adversários de marcas estrangeiras, nomeadamente a Porsche e Denzel. E António Augusto Pereira, “farto” de ser ultrapassado pelos Porsche, decidiu colocar um motor 1500cc no primeiro Alba (que chamarei de ALBA 1500, matrícula OT-10-54). Inicialmente, contactou a Maserati para a aquisição de uma unidade italiana mas após lhe terem pedido 89.000$00 por um motor, este respondeu: “Por esse preço sou capaz, eu mesmo, de fazer um novo!”
Como era leitor assíduo de publicações técnicas de mecânica, iniciou então a planificação daquele que, até à data, é possivelmente o único motor de concepção e produção nacional para um veículo automóvel. O ALBA 1500 era um motor bastante moderno para a época, um 4 cilindros em linha de 1490cc com bloco e cabeça fundidos em alumínio (que, afinal de contas, era a especialidade da fábrica ALBA...), dupla árvore de cames em “V” à cabeça, comandadas por carretos, nas quais eram instalados na extremidade os dois distribuidores (“alimentados” por duas bobines) que “acendiam” duas velas por cilindro. Estes distribuidores Bosch foram fabricados propositadamente para o ALBA, o que “obrigou” um técnico da marca a deslocar-se a Portugal para verificar "in loco" o motor e as necessidades dos técnicos. O motor, tal como os contemporâneos Maserati e Gordini de cilindrada semelhante, era quadrado (diâmetro e curso de 78mm) e tinha uma cabeça tipo “cross-flow” de elevada eficiência que, alimentado por dois carburadores Solex 36 duplos laterais, produzia cerca de 100cv de potência, que permitia ao Alba 1500 atingir os 200km/h e assim bater os Porsche que “irritavam” António Augusto Pereira.
Um evento curioso ocorreu aquando de a equipa ter concluído a montagem do motor ALBA 1500. Uma vez que não tinham banco de ensaios, a forma que arranjaram foi montar o motor numa armação metálica numa sala e ligá-lo a um motor de arranque. Esse, no entanto, era muito especial: consistia num motor eléctrico ligado ao motor por meio duma correia que guiava um tacho com uns parafusos encostados contra o volante! Assim que ligaram o motor eléctrico, o ALBA 1500 arrancou, segundo as palavras de António Augusto Pereira, “com um barulho agradável” mas não tardou que começasse a soar um ruído metálico muito estranho. Isso fez com que toda a gente em redor fugisse com receio que ser o início e o fim da vida do ALBA 1500 mas afinal o ruído tratava-se... dum dos parafusos do tacho que se tinha desapertado! Quando o tacho saltou, o motor voltou a fazer um som agradável, “nem parecia um motor de explosão, soava mais a um dínamo!” Foi motivo de celebração com direito a champanhe e tudo! A ALBA ainda fundiu mais um bloco mas ficou por aí. O que rodou nesse dia continua a ser único.
Houve no entanto um receio que assaltou António Pereira acerca do motor ALBA 1500: embora se tratasse duma unidade muito equilibrada (a perfeita equilibragem propositada de todas as peças do motor ajudava à quase inexistência de vibrações de funcionamento), a taxa de compressão era muito elevada, o que poderia levar a danos irreversíveis quando em provas de velocidade. Como tal, procedeu-se à redução da cabeça dos pistões a fim de resolver essa situação, embora trouxesse uma inevitável perda de potência ao motor, que mesmo cifrando-se nos 90cv viria a verificar-se ser mais que suficiente para bater a concorrência.
Até o ALBA 1500 entrar em competição, o ALBA 1100 conduzido por Corte Real Pereira recebeu um motor Peugeot (proveniente dum 203) cuja cilindrada de 1290cc foi ampliada para 1325cc, com o qual participou no Circuito da Boavista em 1955 e 1956 mas não tinha andamento sequer para o Fiat que anteriormente montava (chegava a ser menos potente que este...), quanto mais para o ALBA 1500...
A estreia do Alba 1500 no entanto não foi das mais felizes. Sem pistas de testes, cronometragens manuais (e só normalmente feitas nos testes para as provas de velocidade) e afinações “a dedo”, tanto o 1500 pilotado por António Augusto Pereira como o 1100 com motor Peugeot inscritos na II Taça Cidade do Porto não se conseguiram chegar sequer a classificar. Na III Taça Cidade do Porto em 1955 também não foram felizes pois embora inscritos não chegaram a participar. Mas a falta de sorte rapidamente acabaria, ganhando em Agosto de 1955 os dois Rallies de Guimarães (a estreia efectiva do ALBA 1500) e sendo vencedor absoluto do Rally do Vinho do Porto à Régua, ambos com António Augusto Pereira ao volante. Em 1958, em Vila Real, Corte Real Pereira no 1100 (que aqui já apresentava a carroçaria que actualmente traz, colocada neste por motivos desconhecidos) e António Augusto Pereira no Alba 1500, abandonam ao fim de duas voltas, à média de 93,970km/h. Já as provas de velocidade, logicamente, não eram efectuadas pelo proprietário. Aí, chegou a conduzir o ALBA 1500 o Januário Capela, o João Manuel Nunes dos Santos e um outro piloto de Coimbra cujo nome o Sr. António Augusto Pereira não se conseguiu recordar aquando da entrevista, por exemplo, em Monsanto, enquanto o ALBA 1100 era tripulado por “Constantino” ou Castro Lima. A última prova de que há memória os ALBA participarem foi em 1961, no Rally do Salgueiros, onde obteve a terceira posição absoluta, com Corte Real Pereira ao volante. Já um dos outros ALBA ficaria pelo caminho mais cedo quando numa corrida em Vila Real ficou acidentado e se perdeu totalmente num incêndio.
O destino dos ALBA foi, no entanto, bastante distinto entre si. Enquanto o ALBA 1500 se manteve na posse de António Augusto Pereira (que ainda o possui), o Alba 1100 e o restante sobrevivente desapareceram sem deixar rasto. Infelizmente, a sorte do ALBA “twin cam” não foi a melhor: foram-lhe roubados os distribuidores um dos carburadores e metade do outro (?!). Dado que os primeiros foram feitos por medida, não puderam mais ser substituídos e forçaram a trocar esta peça de arte automóvel por um mais comum Simca de 1089cc, com dois carburadores Zenith 36 DI e também ele trabalhado no sentido de melhorar as performances. É este o motor que hoje em dia ainda anima o carro de António Augusto Pereira. Em 2006 o dono concedeu-o então ao Museu do Caramulo que desde então tem vindo a proceder ao seu “restauro”, havendo ainda a possibilidade de no futuro se voltar a operacionalizar o motor ALBA 1500 para o devolver ao veículo.
Já o ALBA 1100 esteve “desaparecido” até por volta de 1976 reaparecer à venda num stand de automóveis usados na Av. Álvares Cabral, em frente ao Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, tendo sido segundo o vendedor, propriedade do Conde de Monte Real. Apesar de não estar restaurado e não trabalhar há bastante tempo, apresentava-se em bom estado de conservação e a única peça danificada era o volante que estava partido, faltando a parte superior do aro. O preço de venda era 30 contos. Ele foi então comprado por um senhor de Lisboa que o passou ao actual proprietário em troca… de um quadro! O dono, um ex-oficial do Exército residente na Costa do Estoril, procedeu então a um extraordinário restauro da última carroçaria que foi “vestida” no Alba 1100, trocando no entanto o motor Peugeot 1300cc "preguiçoso" por um Fiat 1089cc como originalmente havia sido montado nesta unidade, só que mais "civilizado". Este voltou a ser mostrado ao público, após tantos anos de “desaparecimento” no II Salão Automóvel Antigo - Contemporâneo da Moita, entre 31 de Outubro e 4 de Novembro de 2001.
Do último ALBA desconhece-se ainda o paradeiro.
 

João de Góis Silva

Tiffosi inveterado...
Então assim sendo, aqui vão as dúvidas que me assaltaram durante a pesquisa. Se não fosse assim pedir demais ao amigo Francisco Lemos Ferreira (para além de mostrares ao teu padrinho o texto que te exponho acima... ), poderias perguntar-lhe mais estas questões:

1) No teu texto, referes que o ALBA do Corte Real Pereira, inicialmente movido pelo Fiat 1089cc, recebeu posteriormente um Peugeot de 1290cc aumentado para 1325cc. No entanto, em outras fontes já leio 1354cc. Qual é o valor certo? O ALBA vermelho ainda tem esse motor, correcto?

2) O ALBA que o Corte Real Pereira levou ao Rallye do Salgueiros em 1961 e teve o terceiro lugar absoluto. Esse ALBA era o OT, correcto? E já tinha o motor Simca?

3) O António Augusto Pereira refere que o ALBA 1500 foi retirado do OT porque lhe haviam roubado os distribuidores e o s carburadores. Como é que isso aconteceu mesmo?

4) Nas fontes escritas há sempre referência ao motor actual do OT como sendo um Simca de 1089cc mas numa entrevista que António Pereira deu ele refere ser um 1340cc. Qual é efectivamente a cilindrada?

5) Há várias referências ao terceiro ALBA ter "morrido" incendiado um acidente em Vila Real. Qual terá sido o ano em que isso aconteceu?

6) Na primeira entrevista que o amigo Francisco fez ao padrinho, ele diz que dois carros tinham chassis ALBA e os outros dois Fiat, dos quais o OT era um dos que tinha chassis ALBA. Mas noutra entrevista (deverá ter sido a uma rádio ou assim...) este refere que o OT tinha um chassis de origem Fiat mas fortemente modificado, já que todos os chassis eram de origem Fiat (até o seu estava no livrete como um Fiat reconstruído...). Estaria ele a chamar chassis ALBA aos mais fortemente modificados?

7) Qual é o significado dos gansos (ou lá que ave estilizada se trate...) desenhados na frente como parte do lettering ALBA?

8) Confirma-se a existência algures do tal motor Alfa Romeo de cilindrada reduzida ou isso são só rumores infundados?

Se me assaltar mais alguma, colocarei, OK?

Cumprimentos a todos
 

João Paulo Ferreira

Portalista
Portalista
Relativamente ao Alba OT-10-54, o primeiro construído, a sua história está bem documentada. Tendo tido apenas um proprietário, o seu construtor, é possível seguir o seu percurso desportivo e as evoluções técnicas de que foi alvo.

Já quanto ao segundo carro construído, TN-10-82, tem uma história muito mais misteriosa existindo muitas lacunas e imprecisões.

Pretendo pois deixar aqui o meu modesto contributo para tentar reconstruir um pouco a vida atribulada deste pequeno carro desportivo de fabricação nacional que quase foi meu.

Este segundo Alba terá sido construído ainda em 1952, à semelhança do primeiro, tendo por base um chassis Fiat 508 muito modificado e um motor 1100 também de origem Fiat e preparado para competição. A carroçaria em alumínio formada sobre uma estrutura tubular era muito semelhante à do OT-10-54.

Segundo rezam as crónicas o Alba TN-10-82 foi muito utilizado nas diversas provas desportivas que se realizaram em Portugal durante os anos 50, no entanto as imagens da participação deste carro em competição são raras.

Uma foto tirada em Vila-Real em 1958 mostra este carro já com uma carroçaria diferente da inicial. Esta carroçaria, bastante menos elegante e elaborada que a original, deixa presumir a ocorrência de um grave acidente e uma posterior reparação “económica”. É com esta ultima carroçaria que o carro se apresenta ainda hoje.

Quanto aos motores, sabemos que teve inicialmente um Fiat 1100 “artilhado” e posteriormente, em 1954, quando o ACP mudou as regras, um de origem Peugeot 203 de 1290 cm3 alargado a 1325 cm3 com o intuito de o manter competitivo na nova classe “até 1500”. Contudo este motor viria a revelar-se menos potente que o motor Fiat original. Em 1976 quando tive a oportunidade, gorada, de adquirir este Alba ele ainda tinha montado este motor Peugeot 203.

Como já contei neste tópico, vim a conhecer a pessoa que comprou o Alba, em 1976, com o intuito de o trocar por um quadro com um amigo, que ainda o tem.

Tenho assim informação de que o carro não se encontra na margem sul do Tejo mas sim na Costa do Estoril, onde reside o seu proprietário, e que este depois de comprar o carro trocou o motor Peugeot, que era demasiado preparado para uma utilização normal, por um Fiat 1100, como originalmente, mas “civilizado”.

Junto umas fotos, já aqui publicadas, mas que mostram as duas versões de carroçaria que este carro teve e deixo uma questão: Alguém sabe em que ano, e porquê, a frente deste carro foi modificada ????
 
Última edição:

João de Góis Silva

Tiffosi inveterado...
João Paulo Ferreira disse:
Relativamente ao Alba OT-10-54, o primeiro construído, a sua história está bem documentada. Tendo tido apenas um proprietário, o seu construtor, é possível seguir o seu percurso desportivo e as evoluções técnicas de que foi alvo.

Já quanto ao segundo carro construído, TN-10-82, tem uma história muito mais misteriosa existindo muitas lacunas e imprecisões.

Pretendo pois deixar aqui o meu modesto contributo para tentar reconstruir um pouco a vida atribulada deste pequeno carro desportivo de fabricação nacional que quase foi meu.

Este segundo Alba terá sido construído ainda em 1952, à semelhança do primeiro, tendo por base um chassis Fiat 508 muito modificado e um motor 1100 também de origem Fiat e preparado para competição. A carroçaria em alumínio formada sobre uma estrutura tubular era muito semelhante à do OT-10-54.

Segundo rezam as crónicas o Alba TN-10-82 foi muito utilizado nas diversas provas desportivas que se realizaram em Portugal durante os anos 50, no entanto as imagens da participação deste carro em competição são raras.

Uma foto tirada em Vila-Real em 1958 mostra este carro já com uma carroçaria diferente da inicial. Esta carroçaria, bastante menos elegante e elaborada que a original, deixa presumir a ocorrência de um grave acidente e uma posterior reparação “económica”. É com esta ultima carroçaria que o carro se apresenta ainda hoje.

Quanto aos motores, sabemos que teve inicialmente um Fiat 1100 “artilhado” e posteriormente, em 1954, quando o ACP mudou as regras, um de origem Peugeot 203 de 1290 cm3 alargado a 1325 cm3 com o intuito de o manter competitivo na nova classe “até 1500”. Contudo este motor viria a revelar-se menos potente que o motor Fiat original. Em 1976 quando tive a oportunidade, gorada, de adquirir este Alba ele ainda tinha montado este motor Peugeot 203.

Como já contei neste tópico, vim a conhecer a pessoa que comprou o Alba, em 1976, com o intuito de o trocar por um quadro com um amigo, que ainda o tem.

Tenho assim informação de que o carro não se encontra na margem sul do Tejo mas sim na Costa do Estoril, onde reside o seu proprietário, e que este depois de comprar o carro trocou o motor Peugeot, que era demasiado preparado para uma utilização normal, por um Fiat 1100, como originalmente, mas “civilizado”.

Muito obrigado pelas novas informações. Já corrigi o texto supraposto considerando esses dados. Por favor, verifique se está correcto.

Manuel Ferreira Dinis disse:
As informações sobre as prestações do carro em Vila Real e nunca ouvi nenhuma referencia a um incêndio com este carro.
O Comércio do Porto, segunda-feira, 14de Julho de 1958.

Poderia colocar o recorte do jornal em tamanho maior? Não se consegue ler... E para além disso, tratando-se da edição de 1958, não imposibilita que esse incêndio não se tenha dado noutra edição, pois não?

Como disse, a informação desse incêndio veio de várias fontes, nomeadamente de participantes cá do Portal mas que, como qualquer outra informação, cadece de confirmação...


Com os melhores cumprimentos
 
OP
OP
C

Conta apagada 31475

Antes Francisco Lemos Ferreira

Anexos

  • cinetimage002.jpg
    cinetimage002.jpg
    40.5 KB · Vistos: 1
  • cinetimage002.jpg
    cinetimage002.jpg
    40.5 KB · Vistos: 0
  • cinetimage002.jpg
    cinetimage002.jpg
    40.5 KB · Vistos: 0
  • cinetimage002.jpg
    cinetimage002.jpg
    40.5 KB · Vistos: 0

João de Góis Silva

Tiffosi inveterado...
Manuel Ferreira Dinis disse:
Caro João de Góis Silva

A Alba somente participou com o 1500 na prova de Sport em 1958 com Francisco Corte Real Pereira.

Apresentação

Caro Manuel,

Eu não estou a dizer nada em contrário disso. Aliás, o 1500 é o OT-10-54, como referi no texto, é o único Alba 1500 construído. E eu julgo que está explicito que foi o 3º Alba a arder numa prova em Vila Real, tal como já foi referido aqui por outrém. Sendo o OT o 1500 e o TN o 1100/1300, jugo que esse terá ardido, então, antes da mudança dos regulamentos em 1954, tendo aí o motor Fiat 1089cc. Mas isso são apenas assumpções minhas que cadecem de confirmação ou negação. Para isso pedi a ajuda do pessoal do Portal, para esclarecer isto. Eu até admito que não tenha havido qualquer Alba incendiado, mas para tal preciso de provas.

Com os melhores cumprimentos
 
Última edição:

Manuel Ferreira Dinis

Dinis Vila Real
Uma mais valia para o debate.

A convite do Manuel Dinis acedi a participar neste debate sobre a marca portuguesa Alba. Faço-o com muito gosto, não só pela simpatia do Manuel mas também porque a informação que tenho vindo a coligir sobre a marca me permite poder clarificar alguns dos aspectos menos conhecidos destes belos automóveis. Com efeito, se tudo correr como previsto estará para breve a edição do meu livro dedicado a esta singular marca portuguesa e por isso parece-me oportuno aproveitar as informações que recolhi junto de pessoas que estiveram directamente envolvidas no projecto para esclarecer alguns equívocos e naturais erros que decorrem dum fórum e da paixão que ele envolve.
Nunca é demais enaltecer o fenómeno que surgiu em Portugal com a criação de inúmeras marcas nacionais destinadas à competição. Se o número já é surpreendente, o que se poderá dizer da sua qualidade de construção que lhe permitia enfrentar com dignidade o que de melhor se fazia então na Europa, sobretudo em Itália e França – que eram os países onde se produziam os melhores «specials» de pequena cilindrada do após-guerra. A escolha da base Fiat/Simca para a generalidade dos nossos pequenos automóveis de Sport não é assim inocente pois existia abundante literatura, muita informação empírica e, sobretudo, muitos componentes disponíveis para proceder à optimização de motores, suspensões e travões. Gordini era uma referência incontornável mas a partir do final dos anos 40 nascem marcas de competição em Itália como cogumelos. Quem tiver interesse neste assunto pode consultar, por exemplo, o livro «La Sport e i suoi artigiani (1937-1965)» que dá uma panorâmica muito completa dessa actividade efervescente que, de alguma forma, influenciou os nossos pilotos e mecânicos.
Palhinhas deu o primeiro passo nesta direcção, aproveitando um chassis de um Adler – marca alemã muito popular nos anos 30 – ao qual lhe adaptou um motor Fiat 1100. Nascia assim o FAP, de Fiat Adler Palhinhas. A sua aparição em 1950, ainda com a carroçaria Adler, agitou as «hostes portuguesas» contribuindo para o aparecimento de outros construtores: o Ford Ardum ainda nos finais de 1950, a DM, em 1951, a Alba, em 1952, a PE e a Etnerap, em 1953; mais tarde, a LNA, a Olda, o MG Canelas, o MG Aranhiço, o Marlei, o Morsilca, o AR, o Fiat de Correira Leite, o APM. É um período de ouro, inigualável, na história do automobilismo português, tanto mais que, ao mesmo tempo, o ACP conseguia trazer até nós alguns dos melhores pilotos do mundo que lutaram com os nossos «gentlemen drivers» dotados de bom material de fábrica (Casimiro de Oliveira, Vasco Sameiro, Fernando Mascarenhas, Nogueira Pinto, Joaquim Filipe Nogueira, Borges Barreto) logrando com as condições possíveis organizar três provas a contar para o campeonato Mundial de Fórmula 1.
A protecção inicial aos automóveis de Sport de pequena cilindrada, que culminou com a organização de corridas reservadas exclusivamente a esta classe, foi um sucesso e uma alavanca notória para o aparecimento dos automóveis portugueses. A I Taça Cidade do Porto, organizada em 1953 no Circuito da Boavista, contou com 20 inscritos, dos quais 13 o faziam recorrendo a automóveis portugueses. Que melhor rácio pode definir este fenómeno?
Os automóveis Alba
Vamos falar então, sucintamente, dos automóveis Alba construídos como tal. São apenas três: o OT-10-54 que foi desenvolvido ao longo de 1952, pintado em amarelo claro; o TN-10-82, que surgiu em 1953, também pintado em amarelo claro; e, finalmente, o último Alba – exclusivamente desenvolvido por Francisco Corte Real Pereira – com a matrícula LA-11-18 e que foi construído em 1955, com uma carroçaria vermelha.
A prova de estreia do Alba foi o III Circuito de Vila do Conde que se realizou no dia 31 de Agosto de 1952. Corte Real Pereira foi obrigado a desistir devido a problemas mecânicos. No IV Circuito de Vila do Conde realizado em 27 de Setembro desse ano, o Alba voltou a participar e desta feita, sim, obtém o segundo lugar e a Volta mais rápida na corrida reservada à sua classe. Não é portanto, verdade que o Alba tivesse obtido na estreia a segunda posição tal como não é correcto dizer-se que houve um segundo Alba inscrito em Vila do Conde por uma simples razão: não havia outro Alba. O TN-10-82 só ficaria acabado no princípio do Verão de 1953 o que é confirmado por António Augusto Martins Pereira que numa entrevista à revista «O Volante» em Março de 1953 afirma que nessa mesma altura estavam ainda a construir o segundo carro, destinado a Noémio Capela. Esse segundo Alba chegou a ser inscrito na I Taça Cidade do Porto, em 1953 – destinado a Manuel Nunes dos Santos – sendo esta a primeira prova em que aparecem dois ou mais Albas inscritos, mas por falta de afinação ou por não estar realmente pronto, não chegou a participar sequer nos treinos. Capela teve um papel interessante na história da Alba uma vez que financiou este segundo automóvel mas sempre o disponibilizou para a equipa de Albergaria participar, em várias ocasiões, com dois automóveis em provas de velocidade e de regularidade. Aliás, por curiosidade, refira-se que Noémio Capela apenas faria uma única prova ao volante do seu Alba, o III Rali Rainha Santa em Coimbra, em Julho de 1954.
Em 1953, o Alba tem a mais retumbante vitória da sua carreira: na prova destinada às viaturas de Sport com pequena cilindrada (1100 cc) denominada Taça Cidade do Porto. Esta vitória – facilitada graças aos problemas técnicos do FAP de Abílio de Barros – mostrou o potencial da nova marca e colocou definitivamente a Alba no léxico do automobilismo nacional.
O terceiro Alba é da responsabilidade exclusiva de Corte Real Pereira, que mantém a designação Alba por respeito e amizade a Martins Pereira. É neste automóvel que se utiliza exclusivamente o motor de seis cilindros Alfa Romeo – embora ele tenha nascido com o motor Peugeot 1.3 – e é, provavelmente, com a carroçaria deste automóvel – embora com o chassis TN-10-82 e com uma frente redesenhada – que a Alba escreve as suas últimas páginas na década de 60, mais concretamente em 1961, com a participação no Rali Nocturno do Salgueiros e no III Rali a Espinho – a última prova da Alba – pintado em azul marinho com riscas brancas.
Os falsos Albas
Há tendência – aliás visualmente compreensível – para incluir o Alba LN, mais tarde designado oficialmente por LNA – no lote dos automóveis produzidos pela Alba, pois este LNA é similar exteriormente aos automóveis de Martins Pereira e Corte Real Pereira. Contudo, o que há de comum entre um LNA e um Alba é precisamente apenas a carroçaria que o Dr. Francisco Luzes, mentor desse projecto, encomendou directamente a Martins Pereira. Toda a parte mecânica, o chassis, o motor e as suspensões foram desenvolvidos autonomamente o que é confirmado por carta do próprio Dr. Francisco Luzes ao ACP por ocasião da sua inscrição na II Taça Cidade do Porto. Há, aliás, uma fotografia bastante curiosa – que será publicada no meu livro – onde se vê António Augusto Martins Pereira a olhar com manifesta curiosidade para o «capot» aberto do LNA sob o olhar atento e orgulhoso de Francisco Luzes, que corria com o pseudónimo de «Constantino».
Para terminar esta argumentação, há um exemplo coevo que demonstra claramente este raciocínio: o segundo Etnerap, com a matrícula FC-17-71, surgido em 1954, é sob o ponto de vista mecânico uma viatura similar à dos seus concorrentes, com um chassis Fiat/Simca e um motor de 1089 cc, mas possui uma carroçaria Porsche – com um radiador frontal o que fez grande confusão aos jornalistas estrangeiros na época. Ora, é claro que não é por essa razão que o devemos classificar como um Porsche. A partir de 1955, inclusivamente, Francisco Luzes – reconhecendo tacitamente o erro de ter denominado ab initio o seu veículo com um Alba LN – apressa-se a corrigir esse erro exigindo dos organizadores e da imprensa em geral que o automóvel seja denominado por LNA, objectivo que é obtido na prática.
O outro falso Alba é um «remake». Trata-se de um DM, com a matrícula NS-12-39 que correu na I Taça Cidade do Porto pelas mãos de José Ferreira da Silva e que mais, tarde, adquirido pela família Martins Pereira recebeu uma carroçaria Alba. Penso, aliás, que este automóvel nunca foi sequer acabado. Não pode ser por isso considerado como um verdadeiro Alba.
A novela dos motores
Sem pretender alongar-me demasiado neste tema, há um aspecto que me parece importante fixar desde logo: o motor 1500 Alba nunca correu em circuitos, pelo que é falso que tenha participado na Boavista ou em Vila Real. O motor 1500 que aparece nas listas de inscritos da Boavista em 1955, nos treinos da Boavista em 1956 (onde o Alba de Corte Real teve um aparatoso acidente) ou em Vila Real, em 1958 é o «seis cilindros» de origem Alfa Romeo. O motor Alba 1500 era um projecto fantástico mas nunca teve oportunidade (sobretudo financiamento) para ser desenvolvido – tinha, por exemplo, problemas de lubrificação o que fez com que Martins Pereira desenhasse um circuito de lubrificação suplementar com tubos que circulavam fora do bloco. Mesmo que tivesse 90 ou 100 cv – o que só podemos admitir por estimativa pura visto que o motor nunca foi a um banco para ser medido – nunca poderia concorrer com os motores Porsche que tinham, já nessa altura, 120 cv nas versões cliente que controlavam os circuitos portugueses. Este motor foi estreado no Rali a Guimarães de 1955 e é a partir desta prova que o «capot» do Alba recebe uma tomada de ar dinâmica, que não existia até então, bem visível nas fotografias e que é a configuração que o automóvel tem ainda hoje.
Como os outros automóveis portugueses que o precederam (FAP e DM) o bloco de origem era o do Fiat 1100 que tinha um diâmetro de 68 mm e um curso de 75 mm. Martins Pereira e Corte Real Pereira desenvolveram uma versão para circuitos em que o diâmetro subia para 68,3 mm atingindo-se a cilindrada máxima regulamentar de 1099 cc – contra os 1089 cc da versão base.
Infelizmente, numa jogada «estratégica» de ruinosas consequências, o ACP, pressionado pelos pilotos financeiramente saudáveis, alargou o limite superior da classe de Sport reservada às pequenas cilindradas, para os 1500 cc, permitindo que os Denzel, primeiro, e os Porsche, depois, dizimassem a concorrência e o próprio interesse das corridas. Por essa razão, a partir de 1954, os construtores portugueses foram «obrigados» a desenvolver os seus motores numa direcção para a qual não estavam preparados nem tinham capacidade financeira para tal: o aumento da cilindrada por aumento do diâmetro dos cilindros.
Assim, o bloco Fiat/Simca passou a conhecer duas evoluções: uma com os cilindros «quadrados» em que o diâmetro subia para 75 mm, obtendo-se uma cilindrada de 1325 cc – este «exercício» já havia sido feito por Gordini, alguns anos antes e foi efectuado por Palhinhas – e no segundo perfil, atingindo-se o limite de fiabilidade do bloco, por não ser comportável acomodar camisas de cilindros mais largas, o diâmetro atingia os 76 mm, conseguindo-se uma cilindrada final de 1360 cc. Foi com um bloco destas dimensões – e não com o Alba 1500 – que Corte Real Pereira participou, sem sucesso, na II Taça Cidade do Porto, por exemplo – fez apenas uma volta e desistiu com um princípio de incêndio. Foi também com este motor 1360 que Martins Pereira fez a maioria das suas provas de regularidade até à produção do novo 1500.
Existe depois o motor Peugeot, pelo qual Corte Real Pereira tinha alguma predilecção devido à forma da cabeça hemisférica e ao posicionamento das válvulas à cabeça, que eram predicados que o motor Fiat não tinha – apesar da cambota de três apoios e da árvore de cames lateral. Este motor era um 75x73, com uma cilindrada de 1290 cc – Fernando Palhinhas levou-o ao extremo aumentando o diâmetro para 80 mm obtendo uma capacidade final de 1468 cc e foi assim que tentou resistir, primeiro à avalanche «teutónica» e depois à inglesa, com o motor Coventry Clímax.
Há casos em que não há possibilidade de determinar com rigor o motor utilizado por cada um dos Alba nas diferentes provas mas em conversa quer com o António Augusto Martins Pereira quer com a família de Corte Real Pereira é possível estabelecer alguns princípios de utilização: o Alba 1500 foi sempre utilizado por AAMP, o motor Peugeot e o bloco Alfa Romeo foram sempre exclusivo do Francisco – há uma única excepção em que o mecânico electricista Carlos Miranda, por impossibilidade de Corte Real, utiliza o Alba LA-11-18 com o motor 6C. Os blocos Fiat/Simca (1089, 1099 e 1360) foram utilizados pelos dois em várias provas e pelos outros pilotos dos Alba, a saber: Elísio de Melo, Noémio Capela, Baltazar Vilarinho, Castro Lima, Manuel Nunes dos Santos e Alves Barbosa.

Do recenseamento que eu efectuei durante a pesquisa para o livro, os Albas inscreveram-se em 38 provas, participaram em 37 e obtiveram 43 resultados desportivos, entre os quais se contabilizam dez vitórias (à classe e absolutas). A mais extraordinária vitória foi, sem dúvida, a da I Taça Cidade do Porto, que teve efectivamente repercussão nacional, mas a vitória no Rali Vinho do Porto em 1955 é um marco no automobilismo nacional por ter sido a primeira obtida por um automóvel com um motor de concepção nacional. Há apenas uma única prova, a II Volta ao Minho, disputada em Setembro de 1955 em que a equipa Alba contou com a participação de três veículos para Corte Real Pereira, Martins Pereira e Baltazar Vilarinho.
Quanto ao acidente a que se referem no V. debate, ele não ocorreu em Vila Real – onde o único Alba inscrito, com uma preparação mecânica deficiente, correu pouco e devagar. Podem confirmá-lo, aliás, no livro do Carlos Guerra.
Não conheço, aliás, nenhum acidente seguido de incêndio com qualquer um dos Alba. O acidente mais espectacular mas que, felizmente, não teve consequências de maior, foi o que se registou na Boavista, nos treinos em 1956, onde o automóvel capotou. Mas a família de Corte Real Pereira confirma que o carro foi vendido algum tempo depois, sem problemas de maior.
Quanto aos gansos, eles terão sido desenhados por um amigo do Ângelo Costa – que teve algum protagonismo a nível do desenvolvimento dos motores – e Martins Pereira, que gostou do viu, adoptou-os no seu automóvel.
Espero, assim, ter contribuído para esclarecer algumas dúvidas naqueles que têm pela Alba e pelos seus criadores uma estima incalculável. E, ao mesmo tempo, despertar a V. curiosidade para o livro que há-de sair no Verão deste ano.

José Barros Rodrigues
 
Última edição:

João de Góis Silva

Tiffosi inveterado...
Caro amigo José Barros

Muito lhe agradeço pessoalmente por ter vindo ao debate esclerecer alguns pontos sobre esta extraordinária máquina. Lendo a sua exposição e confrontando-a com a informação que juntei (e anteriormente aqui coloquei), algumas dúvidas me assaltaram. Se puder partilhar essa informação connosco, ficava-lhe bastante agradecido:

- Refere que foram construídos três Albas mais o LNA e o DM de carroçaria Alba (perfazendo os 5 que António Augusto Lemos Pereira sempre referiu), sendo os Albas o TN, o OT e um LA. Será então este o terceiro Alba desaparecido (usando assim o tal Alfa Romeo 6C 1750 reduzido, correcto?). Quando foi vendido após o tal acidente, usava o motor Peugeot 1300 ou o Alfa Romeo 6C?

- Pelo que me deu a entender, diz que o segundo Alba (o TN) usava motor Simca 1300, o Peugeot era no 3º Alba. Mas um quase-proprietário assegurou-me que este montava o Peugeot 1300, o que corrobora o contado por AALP... Estou um pouco confuso a esse respeito.

- Depois, refere que esse terceiro Alba era o carro de Corte Real Pereira mas, uma vez mais, AALP refere várias vezes que o segundo Alba era o conduzido por CRP. Poderia clarificar essa situação?

- Diz que o ALBA 1500 não dava pedalada aos Porsche. Mas o senhor António Augusto Pereira disse várias vezes em várias ocasiões que "os Porsche já não me chateavam com o motor ALBA"... Certamente compreende porque aceito a palavra dele como fidedigna...

Irei então rever a informação que detenho e cruzá-la com a que acabou de facultar e tirar mais conclusões e dúvidas.

A redacção de tal livro acerca dessa máquina deixa-nos todos em rejubilo e certamente que gostaria de adquirir um exemplar para mim. Por acaso não pode dizer-nos como será distribuído nem o preço dum exemplar. Se não for muito caro, encomendo-lhe já um!!

Espero não ter feito perguntas demasiado "ignorantes". Os melhores cumprimentos.
 

Manuel Ferreira Dinis

Dinis Vila Real
Mais umas preciosas informações do historiador José Barros Rodrigues

Caro Amigo

Venho uma vez mais ao seu contacto para tentar esclarecer estas dúvidas. Dos três Albas que foram construídos, dois (o OT-10-54 e o TN-10-82) foram desenvolvidos pela dupla Martins Pereira/Corte Real Pereira em colaboração com o Ângelo Costa. O terceiro Alba (LA-11-18) foi feito por iniciativa do Corte Real, tendo o António Augusto colaborado pouco neste modelo. A partir de 1955, o CRP participa em diversas provas apenas com o LA. Antes, entre 1952 e finais de 1954, o CRP faz provas apenas no OT. Em geral, até 1955, sempre que AAMP participava usava o OT e o Corte Real não corria. Em 52, 53 e 54 CRP apenas fez provas de circuito para a Alba e sempre usando o OT: Vila do Conde por duas vezes em 52; Boavista e Monsanto, em 53; Boavista e Monsanto em 54. Ou seja, até 1958, CRP nunca fez qualquer prova no segundo Alba, o TN – ou, melhor dizendo, eu não conheço nenhuma prova em que CRP tenha usado o TN, até 1958. A família do CRP não tem exacta a data da venda do LA mas presumo que tenha sido logo após Vila Real – se ele participou com o LA no circuito transmontano – ou em finais de 1956, depois do II Rali Vinho do Porto, em que o automóvel teve um acidente. Algures entre 56 e 61, CRP compra o TN. Na minha opinião, tendo em conta que CRP participa ainda com o o motor 6C em Vila Real, a venda só deverá ter sido efectuada após a realização do circuito transmontano. CRP, ao adquirir o TN, coloca-lhe a carroçaria semelhante à do LA com uma frente redesenhada, ao qual aplica o motor Peugeot – motor com que a viatura estava equipada antes de ser adquirida pelo actual proprietário, pelo que presumo que o Francisco terá vendido o Alba LA com o motor Alfa Romeo.
É no TN, embora com uma carroçaria diferente da original, que CRP faz os últimos dois ralis da história do Alba. De qualquer forma, é importante ter em atenção que a troca de motores era uma acção muito frequente nestas equipas, e faziam-no sem qualquer tipo de problema, o que pode gerar evidente confusão.
Em relação ao motor Alba 1500, e uma vez que tem fácil acesso a AAMP pergunte-lhe objectivamente se ele fez alguma prova de circuito e ele dir-lhe-á taxativamente que não. E o silogismo é fácil de obter:

1) Martins Pereira nunca fez provas de circuito
2) O motor Alba 1500 só andou pelas mãos de Martins Pereira
Logo – O motor 1500 nunca fez circuitos

A eventual questão «Porsche-Alba» residia apenas nos circuitos pois foi aí que a mudança regulamentar imposta pelo ACP à classe mais pequena dos Sport veio adulterar a relação de forças. Veja-se o que aconteceu logo após essa modificação. Em 1954, apenas se realizaram dois circuitos em Portugal. Na Boavista, os Denzel, com motor Porsche, fizeram 1º e 2º - com o brilhante Olda a obter o 3º lugar. Em Monsanto, na Taça Governador Civil de Lisboa, os Denzel fizeram 1º, 2º e 4º, ficando o Abílio Barros em FAP, no 3º e CRP, no Alba OT em 5º. Em 1955, na Boavista, os Porsche Spyder obtiveram os três primeiros lugares – falhou o 4º lugar que em condições normais caberia a Fernando Mascarenhas – e em Monsanto ocupariam as quatro primeiras posições. Em 1956, na Boavista, a Taça Cidade do Porto é ganha por um Cooper-Climax, ficando atrás quatro Porsche, um Lotus-Climax e dois Maserati. Ou seja, naturalmente, a classe mais pequena dos Sport, com a passagem do limite máximo para 1500 cc, roubou a competitividade aos automóveis portugueses, a espaços defendida pelo Olda, pelo MG Canelas e pelo FAP de Abílio Barros. Ao mesmo tempo, a Alba nesses mesmos circuitos não tinha resultados práticos: em 1954, CRP e Elísio de Melo desistem ambos na Boavista; no Monsanto CRP obtém um meritório 5º lugar e Castro Lima um 13º; em 1955, os Albas inscrevem-se mas não participam e em 1956, CRP tem um acidente espectacular nos treinos da Boavista que o impede de participar na prova.
Vamos agora ver algumas das provas efectuadas pelo OT com motor 1500. Foram feitas seis provas, entre 1955 e 56, obtendo 3 vitórias, um 3º e um 4º lugares. Essa versão estreou-se em Guimarães, em 1955 e AAMP venceu a sua classe à frente de um Triumph, de um Chevrolet e de um Allard. Vence, em termos absolutos no Vinho do Porto e no Rali «A Mundial», e na II Volta ao Minho, AAMP termina em 2º na classe, atrás de Fernando Mascarenhas, em Porsche. Não me parece, portanto, que se possa falar em qualquer incómodo para os Porsche pois a verdadeira incomodidade estava nas provas de velocidade, onde a Alba deixou de ser competitiva, por razões administrativas.
Há um detalhe importante: o motor 1500 Alba nasceu para competir com os motores Porsche que equipavam os Denzel e os Porsche Spyder nos circuitos, mas os atrasos na construção e uma eventual inadaptação para trabalhar à carga máxima durante muito tempo fez alterar a estratégia do construtor que o usou apenas em provas de regularidade em que a classificação se definia por pequenas provas regulamentares (perícias, aceleração-travagem, rampas de curta duração). O mérito, absolutamente fantástico, de AAMP e de CRP não está na presumida rivalidade com a Porsche mas sim no facto de terem desenhado e construído um motor que fica na história do automobilismo nacional. E já é muito.
 

João Paulo Ferreira

Portalista
Portalista
Absolutamente esclarecedor !!!!
No entanto ainda fica uma duvida no ar, porque razão CRP alterou a carroçaria do TN-10-82 ????
Será que há resposta para isto ??? Foi acidente ????
Na foto de Vila Real é o TN- ou o LA- ???

Mais uma nota final: Os Denzel têm motor Denzel, e não Porsche, mas a origem comum é VW.
Um abraço , João Ferreira
 

João de Góis Silva

Tiffosi inveterado...
Caríssimo senhor José Barros Rodrigues:

Muito obrigado pela colaboração extraordinária que teve neste tópico e pelos esclarecimentos que deu. Terei assim que rever a minha redacção que coloquei anteriormente, de acordo com os factos por si declarados.
Bem, se não foi a ideia que deixei passar no meu texto então foi lapso meu mas tenho plena consciência de que o OT com AALP nunca correu em provas de velocidade pois o próprio dizia ter prometido ao avô que não o fazia, uma vez que este temia que o neto se magoasse nessas corridas. Assim, foi erro de interpretação da minha parte da declaração de AALP acerca dos Porsches. Uma vez que este venceu os 356 Spyder numa das provas de rallye poderia ter sido o que o levou a declarar isso, não? Eu entendo que de início talvez desse concorrência aos Porsches mas de facto a falta de desenvolvimento (que obviamente desconhecia mas julgo perfeitamente natural) poderá ter ditado a perda de competitividade perante a "armada estrangeira"... E também estou a par do problema da alta taxa de compressão vs. perda de potência do 1500...

Tal como disse anteriormente, aguardo com espectativa o lançamento do livro acerca deste NOSSO ORGULHO e apenas espero que seja mais em conta que o livro sobre o Manoel de Oliveira e o Edfor (que teimosamente chamavam "Ford Especial Lemos & Pereirinha":wacko:)... Diga-me que o livro chega ao Algarve... senão terei que lhe encomendar um!

Melhores cumprimentos
 
OP
OP
C

Conta apagada 31475

Antes Francisco Lemos Ferreira
Foto que não conhecia do Alba na Taça Cidade do Porto de 1954 cedida por Cougar ( Bélgica). Obrigado!
bbfvds.jpg
Corte Real Pereira a volante
 
Última edição:

orlando patrício

orlandopatricio
Não sei se já aqui tinha sido referido mas a titulo de curiosidade, o Sr António Augusto não fazia circuitos a pedido do seu avô que queria evitar algum tipo de acidente com o seu neto que era quem o ajudava na administração da fábrica Alba pois o pai do sr António Augusto nesta altura já era falecido.
Inclusivé o avô Augusto Martins Pereira se calhar devido ao medo nunca mostrou grande entusiasmo pelas aventuras motorizadas do seu neto, mas quando alguém visitava as instalações tinha muito orgulho em mostrar e falar do "Albinha" o nome que carinhosamente é dado pela família ao ALBA OT.
 
Topo