Miguel Gomes Dinis
Veterano
Faz hoje justamente 1/4 de século.
25 anos era eu menino ainda.
Trago comigo na lembrança com a força do prazer, da exultação e da memória aquele que uma vez ultrapassados estes 25 anos veio a confirmar ter sido o melhor tratado de desenho industrial de massas do final do milénio.
Seria fácil pela sua própria natureza transitar para a história caso fosse um "one off" ou um super carro que a marca e o berço justapunham além de si e do seu tempo.
Foi uma berlina familiar média projectada sobre uma plataforma comum e ministrada ainda, nos velhos escritórios de Arese por um punhado de Bravos e um golpe de génio à cabeça.
Do lápis de Walter da Silva, da intenção à forma, o mundo automóvel testemunhou a mais bela interpretação de um objecto comum, despojada de compromissos e de futilidades para 25 anos depois dar com segurança o primeiro passo para a intemporalidade.
O Alfa Romeo 156 foi dos maiores sucessos comerciais da marca com a tónica particular de nunca ter sido moda, mas com o ónus singular de valer de si o estilo de nenhum outro.
A forma como interpretou elementos de carácter da marca e de modelos tão díspares quanto o 1900, o 8c Monza, o Giulia, a Giulietta Nuova, a Berlina 1750, com originalidade, contemporaneidade, sobriedade, exuberância e identidade, sem tirar de si um cm de de carácter que o pendurasse na intenção preguiçosa e pastiche de viver da iconoclastia de um passado trazido ao seu tempo como um New beetle, um new mini ou uma Nuova 500.
Todo este equilíbrio conjuga um conhecimento apurado da marca, do seu carácter e da sua história, e uma capacidade apreciável de o interpretar e de o compor num movimento harmónico original cuja linha autoral se conhece mas que não é mais nenhum do que si próprio.
O 156 não foi o melhor carro do segmento. Não foi o mais habitável, não foi o mais bem construído, não foi o mais práctico, não foi o mais equipado, o mais económico, o mais versátil.
Foi o mais encantador, o mais desejado, o mais velado coupé disfarçado de berlina para o jovem executivo com família recém formada que não se preocupou em gerar consensos para ser feliz.
Foi um modelo médio com uma volta de volante de topo a topo, proporcionalmente áureo, ágil, veloz, tão ou mais sedutor em movimento do que estacionado na berma de um café na costa da Amalfi para "un espresso" rápido.
Fez do automóvel comum objecto de prazer, na antecâmara de uma sociedade ávida de ecrãs, de show off, de exibições pífias aos amigos com habilidades de engenhocas tecnológicas, ambientalismos experimentais, roupas de mau gosto e grelos nos dentes.
Foi um objecto intimista. Egoísta. Hedonista. Um tratado de fórmula e de intenção. Um manifesto de vida, de desenho e de engenharia vertido ao amor das coisas belas como diria o António Lobo Antunes.
25 anos depois do 156, com a proporção fora de escala, a berlina fora de moda, e o automóvel fora de si, conserva o mesmo encanto do dia em que o vi pela primeira vez, no primeiro ano dos corredores da faculdade de arquitectura no canto de um autosport baço e amarelado no final da página de entrada.
Uma obra prima. Genial. Perfeita. Que merecia nome em lugar de número porque estes são para os alemães.
Tanti auguri 156!
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