Re: Clássico do mês de Maio de 2009 - Fiat 124
Bem, vamos lá então pôr a história do 124 de pé.
O modelo foi o primeiro de muitos que na época, à falta de melhor ideia, ficaram com a denominação do código de projecto interno da Fiat. Esta numeração tinha sido reiniciada no pós-guerra, com os números iniciados em 1 para os ligeiros e o 2 para os pesados. O primeiro projecto novo foi o 100, mais conhecido como Fiat 600. O 101 foi o 1400, o 102 foi um projecto abortado de veículo topo de gama, e o 103 foi o 1100... e por aí fora.
O 124 surge como substituto do 1100 (acima), carro de segmento médio bastante bem sucedido (foi o primeiro Fiat a ser produzido em mais de um milhão de unidades, proeza que o 600 só viria a conseguir mais tarde). No entanto, já nesta altura surge a ideia de, com uma plataforma de motores polivalente, conseguir produzir modelos ligeiramente acima deste segmento e assim resolver parcialmente também a sucessão dos 1300/1500, bem como as carrinhas e versões desportivas destes modelos.
A carroçaria representa o primeiro grande avanço ao ser mais larga, mais comprida, mais espaçosa, com maior visibilidade em todo o perímetro e mais baixa que o 1100, mas ainda assim resultar significativamente mais leve.
Os motores serão da autoria do Ingegniere Aurelio Lampredi (acima à esquerda, juntamente ao seu colega e rival Gioachino Colombo), desde 1955 instalado na Fiat após a infame "debandada" nesse mesmo ano quando vários projectistas se insurgiram contra Enzo Ferrari e foram despedidos da sua empresa.
O motor por ele concebido de raiz para o 124 é uma unidade excelente, e que na altura era bastante avançado. Como sinal de um cuidado desenho, a cambota tem 5 apoios, ao contrário dos 3 que era comum ver-se nos motores de 4 cilindros da época. É também muito mais robusto que o motor do 1100, embora consiga ser bastante mais leve.
A versatilidade é um traço de raiz, pois foram desde o início projectadas 3 variantes:
- o "1200", que equiparia o 124 normal e a carrinha
- o "1400" da versão "luxo"
- o "1400 bialbero" para as versões desportivas que já faziam parte do elenco.
Os 1200 e 1400 são arquitecturas mais simples e conservadoras, com árvore de cames no bloco, mas é um motor muito bem conseguido. Na primeira versão, o 1200 produz 60 cv, que mais tarde com ligeiras revisões passariam a 65.
O 1400 e o 1400 bialbero são baseados nas mesmas dimensões de base, que permite que os blocos de ambos sejam rectificados nas mesmas máquinas. Aliás, a cilindrada é perfeitamente idêntica, mas os motores são completamente diferentes da cambota para cima.
O motor bialbero ou twin-cam é um dos clássicos intemporais da engenharia automóvel, e será a primeira versão de uma longa e extremamente bem sucedida família de motores de cariz desportivo, e apresenta um desenho extremamente cuidado. Desde as câmaras de combustão hemisféricas, o tipo mais eficaz, passando pelo desenho da cabeça em crossflow, as duas cames à cabeça movidas por uma correia de distribuição (o primeiro motor produzido em grande escala a fazer uso desta solução) e outras soluções de primeira, este motor estava desde o primeiro instante destinado a ser um vencedor. Será o motor mais bem sucedido de toda a história do Mundial de Ralis, já que no total levou à conquista de 10 títulos mundiais!
A primeira versão produz uns excelentes 90 cv a partir dos mesmos 1438 cc que no motor 1438 de came no bloco apenas liberta 70.
Falando do chassis, a suspensão dianteira segue o que de melhor se faz em desenhos deste tipo, com dois triângulos sobrepostos e o conjunto mola/amortecedor alojado no interior, algo que só surgia nos melhores desportivos. Na traseira, surge ainda um eixo rígido (economia a quanto obrigas), mas muito bem localizado, podendo mesmo dizer-se que seria o avôzinho dos modernos "multilink". Na primeira versão, equipa ainda ambos os eixos com barras estabilizadoras.
Mas a grande novidade, que era totalmente inédita, aparece no campo da segurança activa ao ser o primeiríssimo carro deste segmento a ser equipado, em todas as versões, com travões de disco às 4 rodas, o que conferia uma segurança e potência de travagem muito além de qualquer concorrente. Entre todos estes elementos, tem-se os ingredientes que compõem um excelente chassis, que confere total confiança ao condutor e um comportamento dinâmico excelente.
A segurança continua a ser um tema explorado activamente pelos engenheiros da Fiat, que nele introduzem inovações como colunas de direcção articuladas, servo-freios, entre outros. Inclusivamente já se executam alguns crash-tests, com vista à melhor adequação da protecção dos passageiros contra o impacto.
(continua)