Matrículas e Brigada de Trânsito
"O sistema irá detectar em segundos se um carro é roubado ou se não tem seguro 06:30
Veículos da BT vão ter sistema de identificação de matrículas
E se a Brigada de Trânsito tivesse um sistema de leitura automática da matrícula do seu carro que descobrisse em segundos que o seu seguro ainda não foi pago?
Sara Piteira Mota
A segurança na estrada é um tema que está na ordem do dia. Muitas são as campanhas de publicidade que alertam para as consequências do consumo de bebidas alcoólicas e depois conduzir ou que lembram a elevada sinistralidade nas estradas portuguesas. De facto, Portugal tem uma das maiores taxas de sinistralidade e de mortes na estrada de toda a Europa, assim como um elevado número de veículos que circulam sem seguro, inspecção ou mesmo sem selo de imposto autárquico.
É por estas razões e muitas outras que as autoridades apostam nas mais recentes tecnologias.
A última inovação testada pela Brigada de Trânsito (BT) foi um sistema de identificação automática de matrículas em veículos automóveis. Este tipo de equipamento vai ser implementado nos automóveis da BT e vai permitir detectar em segundos se um carro é roubado ou se não tem seguro. Os testes foram feitos há cerca de duas semanas e até agora “o balanço que a BT faz dos testes efectuados com recurso ao equipamento de leitura e reconhecimento automático de matrículas é francamente positivo e demonstrou elevados níveis de eficácia na fiscalização de situações que, de outra forma, seriam praticamente indetectáveis”, explica Lourenço da Silva, major da BT. Este tipo de equipamento será bastante útil, por exemplo, para descobrir veículos furtados. Actualmente, com os recursos existentes é impossível fazer face aos pedidos de localização e apreensão, que são, como é público, na ordem dos vários milhares. O que torna, na maioria dos casos, a tarefa de recuperação dos automóveis quase impossível.
Com este tipo de equipamentos instalados nos carros da BT, grande parte destas situações poderão ser resolvidas. Isto porque o equipamento de detecção está conectado a bases de dados de viaturas em situação irregular, podendo assim ser automaticamente detectadas e interceptadas. Automóveis furtados e viaturas que circulam sem que os seus proprietários tenham regularizado a sua situação fiscal (falta de Imposto Municipal, Imposto de Circulação, Imposto de Camionagem), ou o seguro serão também automaticamente detectadas e apreendidas. Tudo numa questão de segundos.
Costa Cabral, tenente do Comando Geral da Guarda Nacional Republicana (GNR), explicou ao DE que “ainda não é possível definir uma data prevista para a aquisição destes equipamentos”. Em relação ao investimento, tudo vai depender do custo do sistema, da instalação e do número de viaturas onde será instalado o equipamento. E sobre a empresa que os fornecerá, nada se sabe.
Actualmente, os sistemas de reconhecimento de matrículas são utilizados em inúmeros casos onde é necessário fazer a monitorização e controlo de tráfego automóvel, tais como controlo de parques de estacionamento, pagamentos automáticos e gestão de trânsito. A difusão deste tipo de sistemas deve-se à facilidade de utilização, fiabilidade e aos diminutos recursos humanos necessários.
Como funciona o sistema
O sistema é composto por uma câmara fotográfica digital de alta resolução associada a um feixe de infra-vermelhos que de forma permanente “lê” os caracteres das matrículas de automóveis e motociclos que passam pelo seu campo visual. Além do ‘hardware’, está por trás todo um ‘software’ que permite a permanente consulta das bases de dados disponibilizadas, através de um com****dor portátil.
De cada vez que o sistema lê uma matrícula, inicia-se automaticamente uma pesquisa na ou nas bases de dados o que, como é fácil imaginar, acontece em milésimos de segundo. “Ao encontrar a matrícula, o sistema lança um alarme audível e visível, materializado na amostragem do sumário da infracção ou situação em que se encontra o veículo que é fotografado, ficando um registo pendente até resolução. Ou seja, até que seja feita a intercepção do veículo com o correspondente procedimento legal”, explica o mesmo responsável. Actualmente, o sistema que a BT tem implementado apenas filma a matrícula. Depois o guarda faz a pesquisa manualmente no portátil e se for caso disso lança o alerta. No entanto, o tempo que leva a fazer a pesquisa, o veículo em questão já pode estar longe e inalcançável.
Com o sistema agora testado, o carro da BT lê a matrícula enquanto vai atrás do veículo em questão e avisa caso haja problemas. Assim, se o carro for roubado será mais fácil segui-lo e proceder à apreensão. De referir que num dos dias em que o teste foi efectuado na IC 19, o “alarme” não parou de apitar.
Experiências académicas
Em Portugal já existem protótipos de sistemas semelhantes ao testado. Em 2003, foi desenvolvido o projecto de final de curso intitulado “Sistema de Identificação Automática de Matrículas em Veículos Automóveis (SIAMVA)”, por alunos do Departamento de Engenharia de Electrónica e Telecomunicações e de Com****dores, do ISEL (Instituto Superior de Engenharia de Lisboa). O processo iniciava-se com a captura de uma imagem de um automóvel e terminava no reconhecimento dos caracteres existentes na sua matrícula. Aqui foi desenvolvido o software, uma vez que o hardware utilizado reduzia-se a uma máquina fotográfica digital e um com****dor. Na altura, o projecto concluía que “este sistema, devidamente melhorado, isto é, com processamento dedicado, captura da imagem usando iluminação artificial e leitura automática da imagem sem intervenção do operador, poderia ser utilizado no mundo real”. Segundo Arnaldo Abrantes, o docente orientador do projecto, “o objectivo deste plano era o desenvolvimento de métodos de análise de imagem e de reconhecimento de padrões para aplicação ao problema do reconhecimento de matrículas. Os alunos desenvolveram algoritmos específicos e fizeram experiências de campo”. No entanto, este tratou-se de um projecto académico, motivado pelo interesse dos alunos em alguns dos temas leccionados no curso, mas ao qual não foi dado continuidade, em termos de desenvolvimento de um protótipo comercial."
In Diario Economico 21 ABR 2007