Com muito segredo, durante a Segunda Guerra Mundial, era desenvolvido o projecto de um pequeno automóvel no interior da fábrica da Renault, nos arredores de Paris. Desde 26 de Junho de 1940, a fábrica de Boulogne Billancourt estava sob o comando dos alemães na França ocupada. E lá não se fabricavam automóveis: eram feitos tanques, caminhões e jipes de guerra.
Os engenheiros Fernand Picard, Charles-Edmond Serre e Jean-Auguste Riolfo pensavam num
carro pequeno, barato e muito económico para se adaptar à nova conjuntura económica que se estabeleceria numa economia aniquilada pela guerra. Três protótipos foram construídos inspirados no modelo KdF apresentado pela Volkswagen em 1939. Era pequeno e com motor traseiro.
Em outubro de 1944 morria o fundador Louis Renault, aos 67 anos. Em seu lugar era nomeado
Pierre Lefaucheux como presidente da Renault, que viria a se tornar uma estatal. Aos poucos, as actividades industriais iam-se retomando. Lançado em 1937, o modelo Juvaquatre, já envelhecido, era o único carro comercializado em 1946 pela empresa do losango.
Finalmente, em Setembro de 1946, o pequeno carro da retomada da Renault era apresentado. Só no final de 1947, porém, é que o Renault 4CV deixava as linhas de produção para ser vendido.
Todos na cor amarelo-areia, que era usada nos veículos militares e estava com um stock altíssimo de tinta.
O carrinho de linhas arredondadas tinha quatro portas, sendo as dianteiras do tipo "suicida", com abertura oposta ao usual. Media só 3,6 metros de comprimento e pesava 600 kg. O pequeno motor, já com cabeçote em alumínio, tinha quatro cilindros em linha, refrigeração a água e era posicionado na traseira, como no Volkswagen. Com 760 cm³ de cilindrada, desenvolvia cerca de 19 cv às 4.000 rpm. As válvulas vinham no cabeçote e a alimentação era feita por um carburador em posição invertida da marca Solex, também francesa.
O câmbio de três marchas não tinha a primeira sincronizada. A velocidade máxima era de 95 km/h, suficiente para um carro urbano naquele tempo. Na frente haviam vários frisos que simulavam uma grade — alguns poderiam pensar que o motor era dianteiro.
Muitos acharam-no demasiado pequeno e a colocação traseira do motor não agradou muitos aos franceses.
No entanto, a Renault já tinha vencido a batalha, ao conceber um carro que tinha um espaço interior agradável e performances muito interessantes para o seu tamanho, além de linhas consideradas modernas e um excelente comportamento dinâmico, graças às suspensões independentes.
Os Franceses, e não só, habituaram-se rapidamente ao 4CV, que acabou por se transformar num fenómeno de vendas, ultrapassando 1,1 milhões de exemplares.
As expectativas mais optimistas foram ultrapassadas e o 4CV ficou na história da Renault como o carro que colocou a marca no caminho do sucesso pós-Guerra.
O pequeno 4CV teve, paralelamente, muito sucesso na competição, especialmente nos Ralis, graças ao seu bom desempenho e baixo peso. Até nas mais famosas pistas brilhou e, em 1950, por exemplo, três 4CV monopolizaram os lugares do pódio da sua classe nas 24horas de Le Mans.