@Miguel Gomes Dinis, ontem fui dormir a pensar no assunto...
Vamos subir um pouco a fasquia e equiparar um pouco as coisas.
Temos então a Giulietta 116 Turbodelta e o 75 Turbo Evoluzione.
Prestações idênticas, mecânicas turbo e cotações em Itália para a mesma condição, idênticas.
E agora? Mais desafiante? Continua o 75 a reunir as preferências?
Continua e reforça.
O 75 não tem nada a perder em acrescentar ruído visual ao discurso, tendo alguma coisa a ganhar do ponto de vista prestacional. A brutalidade de um turbo de outros dias também lhe oferece carácter juntando ao muito que tem.
O Giuletta é mulher. Visuais histriónicos e demasiadamente másculos não vestem de forma feliz a feminilidade da silhueta. O excesso e os elementos não casam com o conceito mais depurado da forma.
Aquilo que ganha no acto perde no tacto.
Além disso o 75 turbo evoluzione tem com os ponto de partida um compromisso de homologação, sendo que o giulietta fica acantonado na precedência e na sucessão por referências muito bem sucedidas na competição, todos marcados por currículos generosamente consagrados (giulia, 75, 155, 156). O ponta de lança da marca na competição contemporâneo ao Giulietta foi o Alfetta GTV. Isto diz muito para onde apontou um (Giulietta) e outro (75), com o primeiro claramente dirigido a elegância e a pose, e o segundo a puxar bem mais da competição e da arena. Naturalmente que em respeito às linhas mestras de um caderno de encargos alfa romeo, nem mesmo giulietta prescindiu de predicados dinâmicos de excelência que em nada trairam os valores e o tributo ao símbolo no meio do scudetto.
O curioso disto é que se tivéssemos estes 2 carros disponíveis para trazer um, estou absolutamente convencido que trarias o melhor carro em absoluto. Também estou certo que eu traria o melhor carro para mim. E estou em crer que ambos traríamos o mesmo carro.
Acho piada, como remate, que partindo dos antípodas o hedonismo conceda a ambos o acto comum de pensar coisas destas antes de dormir.
@HugoSilva... o adorno à função é um acto civilizacional, porém a verdadeira capacidade de fazer do acto de comunicar uma arte consiste em dizer muita coisa através de muito pouco. Como já percebeste até aqui, já lá vão algumas linhas para ainda não ter dito nada, o que é extraordinariamente incapacitante e revelador de que a escrita é como a medida de Paracelsus,
sola dosis facit venenum.
Por outro lado a opinião depende sempre do ponto de vista do observador. A língua portuguesa é um património que deve ser preservado, só que não é. Escreve-se muito mal em Portugal. O simples facto disto não ser feito pode fazer crer por comparação ser aquilo que na verdade não é.
Escrever exige um grau de intimismo, de generosidade e de compromisso social que é preciso respeitar. O desenho é uma linguagem com o mesmo grau de compromisso. A música a mesma coisa. Concordo inteiramente, é efectivamente um acto de amor, de amor pelo próximo. Do "amor pelas coisas belas" como diz o Antonio Lobo Antunes.
E isto leva-me ao que deveria ser o início. Eu não cheguei agora. Ando por aí há muito tempo (desde o inicio diria). Senti a dado momento que era quase indecorosa a posição de voyeur a espreitar pelo buraco da fechadura. Não de tudo mas de alguma coisa. De vir buscar sem deixar, de levar sem trazer, de ver sem ser visto, de ouvir sem tocar.
No fundo é tudo uma comunhão, a coincidência de um grupo de várias pessoas que se cruzaram por um único motivo comum. É como um orquestra de vários instrumentos, com vários movimentos. E os 2 desta história, Giuletta e 75, já deram aqui um bonito recital a várias mãos.