Confesso que não entendo parte da tua observação. Eu não concebo falar de alfa romeo sem falar em desenho. Em desenho, de início nem sequer falei em design, falei em desenho, em traço. Também falei do resto e do projecto e de soluções mecânicas, mas atribuir a frieza de não achar nada relativamente ao primeiro acto de linguagem de um carro, e do diálogo que tem connosco que é o desenho e a forma, e se esse carro for italiano, e se esse carro for um alfa romeo, a dimensão desta premissa é tanto maior quanto a definição deles, italianos, enquanto povo.
Desprezar este conceito para mim, é como ir à Villa Borghese e ficar interessado nas fundações ignorando tudo o que os meus olhos vêm. É como olhar para uma mulher de belo traço sem que isso mexa com o nosso lado sensitivo ficando à espera que seja boa dona de casa e extraordinariamente competente nas tarefas enquanto membro do casal. A materialização de um objecto cheio de alma como um "velho" Alfa Romeo depende umbilicalmente de uma forma de comunicação universal que é o desenho. Juro que não consigo perceber uma lógica de sedução que parte imediatamente para a competência e demais considerandos de outras naturezas que não tenha início num olhar, num impacto e numa resposta ou num instinto.
É um preceito e uma retórica universal, um disparo de ansiedade, um instinto básico de reacção perante a ameaça "fight, flight, freeze"...
Percebo tudo o resto, posso concordar até. Na lógica do discurso, e atenção esta é a minha perspectiva e organização funcional com o objecto (e digo objecto no sentido de de perspectiva/alcance, e não de objecto inanimado desprovido de alma, o que julgo que faz toda a diferença), não consigo conceber que se possa partir para uma análise sem um primeiro momento, o que traduzindo a coisa à forma mais simples me leva novamente ao 911. Independentemente da insistência da bizarria projectual no plano teórico, e da excelência técnica no plano práctico, eu seria incapaz de ter um como companheiro apenas de o olhar (aqui há mais coisas mas é esta que pretendo evidenciar).
Viver Itália, viver Alfa Romeo de olhos tapados é prescindir de uma parte muito importante (existindo outras igualmente importantes) de uma composição. Mesmo falando de um 75.
Intriga-me muito a perspectiva de fundamentar conceitos apenas pela objectividade da medida. Consigo enquadrá-la melhor se o carro for alemão ou japonês. Desorienta-me se feita num carro italiano em geral, alfa romeo em particular. Entendo por fim a dificuldade do desafio de traduzir a alma à palavra, o conceito à medida, a óptica à linguagem, e foi esse desafio de uma determinada inquietude levada ao conflito justamente do que aquilo que os olhos vêem poder ser contrariado pelo que a alma sente.