Santos António
Veterano
PREÂMBULO
Não sei se será este o melhor local para contar esta história, mas uma vez que pretendo manter um registo das reparações, recuperações ou restauros, auferindo simultaneamente de conselhos, sugestões e reparos, espero que não seja descabido nem infrinja qualquer regra.
A HISTÓRIA
Tudo começou num vulgar dia de trabalho, no local de trabalho, numa pausa do trabalho.
Para queimar uns minutos, nada melhor que folhear anúncios de automóveis no telemóvel e sonhar com os carros que nunca virei a ter. Aliás é passatempo que partilho com um colega, ao qual é hábito atirar os anúncios à cara com um comentário do tipo "este é que era bom para ti". E aguardar o contra-ataque.
Entre Mercedes, Jaguares e Range Rovers, apareceu um Cortina, o qual despoletou a curiosidade de procurar os dois Cortinas da minha vida: o do meu pai (no qual aprendi a conduzir) e o do meu avô.
Este carro do meu avô trago-o sempre à baila quando se fala de carros antigos, porque era mimado como um filho serôdio: sempre guardado em garagem, era tapado com uma cobertura, mas nunca sem primeiro lhe limparem o pó e pôr calços nas rodas, para não esforçar o travão de mão. Nunca foi lavado, que a água lhe podia fazer mal, e só saía quando o tempo estava bom. Geralmente uma vez por semana, para dar o passeio domingueiro. Uma vez por ano vinha a Lisboa ver a família, mas sem passar dos 60, que o meu avô não era pessoa dada a velocidades. E naquele tempo só havia a A1 e a A2 (que ainda não chegava a Setúbal), e o percurso não passava por nenhuma delas. Este carro teve-o o meu avô cerca de 20 anos e quando decidiu desistir de conduzir pô-lo à venda por 150 contos. Tão novo como quando saíu do stand e com a adição das capas nos estofos e a Nossa Senhora no tablier. Prometeu-me então que se ninguém lhe pagasse os 150 contos mo ofereceria. Estive quase para lho comprar, mas nem sei se foi a ganância de vir a ter um carro de borla ou o facto de que não tinha onde o guardar, fiquei à espera da dádiva e, claro, o velhote vendeu o carro. Reza a história (e eu ainda me cruzei com ele várias vezes) que rapidamente o Cortina se sujou, perdeu os tampões das rodas para ficar mais racing, ganhou umas amolgadelas e faleceu pouco tempo depois espetado contra uma árvore. Ficou-me a memória e algumas fotos que hão de andar por aí perdidas nos albuns da minha mãe.
Ora neste dia fatídico de troca de anúncios tropecei num Ford Cortina MK2 quase igualzinho ao Bem Feitinho (era a alcunha dele, por causa da matrícula BF), e por graça (e porque estava em Lisboa e não em Famalicão, Guarda ou Bragança) mandei um e-mail, depois telefonei, depois fui vê-lo, e quando fui passar o Natal já não me saía da cabeça. Afinal não estava assim tão caro (julgo eu) e na impossibilidade de comprar o Miura ou o SM, aqui estava um carro velho, quase clássico, que eu podia ter e já se sabe que quando há um carro quase clássico que podemos ter, nós, pimba. E agora já cá canta.
O NOME
Baptizei-o Elefante Branco por vários motivos. Como saberão (ou não) era costume os reis do sudeste asiático oferecerem aos nobres de quem não gostavam, um elefante branco. Como o bicho era sagrado, não se podia matar, comer ou vender e como sagrado que era tinha que ser mantido de acordo com preceitos rigorosos e dispendiosos o que levava frequentemente à ruína do infeliz contemplado. Mais ou menos o meu destino.
E ainda por cima o carro é branco.
E grande como um elefante.
E suponho que beba como um.
O CARRO
É um Ford Cortina 1.3 (surpresa!) julgo que de 1967. O documento único não diz a data da 1ª matrícula, mas diz que é a versão Deluxe. Ainda bem porque assim tenho finalmente um carro de luxo. Tem 4 portas e não anda. Entre outras coisas não tem bateria. Disseram-me na altura da compra que tem um problema na direcção, mas trabalha. Eu vi-o a trabalhar, mas por pouco tempo, porque não tinha gasolina. Mas trabalha. Trabalhou... Ao que parece está parado há dois anos (dentro de portas) e parece asseadinho. Já está entregue ao mecânico, que ainda não teve tempo de começar a investigá-lo, mas espero que esteja para breve. O meu propósito é pô-lo a andar. Inspeccioná-lo e passear com ele ao domingo (como o avô). Não pretendo parar em lado nenhum porque visto de longe nem parece muito mau e far-me-á fazer boa figura, mas quem se aproximar verá que tem uma quantidade de borbulhas na cara.
EU
...não percebo nada de mecânica. Isso não é bom, nem barato. Espero ir aprendendo algumas coisas, mas na verdade tenho muito receio de tocar seja no que for, porque costumo estragar mais do que arranjo. Tenho sincera esperança de poder contar com as sugestões e conselhos dos portalistas que tenham carros iguais, parecidos, ou que simplesmente percebam de mecânica. Vou provavelmente ter necessidade de comprar peças, e não imagino onde. Haverá maneira de as obter aqui pelo barlavento algarvio, ou será necessário ir a Lisboa? Para já vou aguardar o que o mecânico tem para dizer, mas até eu consigo ver que preciso de borrachas para as portas. Como não é isso que impede o carro de andar, não é urgência nenhuma, mas será que isso é a metro, ou tem que ser específico para aquele carro? É possível que o mecânico consiga peças através dos seus contactos habituais, mas será mais barato tentar descobri-las noutro lado?
Enfim, já é muita conversa, vamos às fotos:
Não sei se será este o melhor local para contar esta história, mas uma vez que pretendo manter um registo das reparações, recuperações ou restauros, auferindo simultaneamente de conselhos, sugestões e reparos, espero que não seja descabido nem infrinja qualquer regra.
A HISTÓRIA
Tudo começou num vulgar dia de trabalho, no local de trabalho, numa pausa do trabalho.
Para queimar uns minutos, nada melhor que folhear anúncios de automóveis no telemóvel e sonhar com os carros que nunca virei a ter. Aliás é passatempo que partilho com um colega, ao qual é hábito atirar os anúncios à cara com um comentário do tipo "este é que era bom para ti". E aguardar o contra-ataque.
Entre Mercedes, Jaguares e Range Rovers, apareceu um Cortina, o qual despoletou a curiosidade de procurar os dois Cortinas da minha vida: o do meu pai (no qual aprendi a conduzir) e o do meu avô.
Este carro do meu avô trago-o sempre à baila quando se fala de carros antigos, porque era mimado como um filho serôdio: sempre guardado em garagem, era tapado com uma cobertura, mas nunca sem primeiro lhe limparem o pó e pôr calços nas rodas, para não esforçar o travão de mão. Nunca foi lavado, que a água lhe podia fazer mal, e só saía quando o tempo estava bom. Geralmente uma vez por semana, para dar o passeio domingueiro. Uma vez por ano vinha a Lisboa ver a família, mas sem passar dos 60, que o meu avô não era pessoa dada a velocidades. E naquele tempo só havia a A1 e a A2 (que ainda não chegava a Setúbal), e o percurso não passava por nenhuma delas. Este carro teve-o o meu avô cerca de 20 anos e quando decidiu desistir de conduzir pô-lo à venda por 150 contos. Tão novo como quando saíu do stand e com a adição das capas nos estofos e a Nossa Senhora no tablier. Prometeu-me então que se ninguém lhe pagasse os 150 contos mo ofereceria. Estive quase para lho comprar, mas nem sei se foi a ganância de vir a ter um carro de borla ou o facto de que não tinha onde o guardar, fiquei à espera da dádiva e, claro, o velhote vendeu o carro. Reza a história (e eu ainda me cruzei com ele várias vezes) que rapidamente o Cortina se sujou, perdeu os tampões das rodas para ficar mais racing, ganhou umas amolgadelas e faleceu pouco tempo depois espetado contra uma árvore. Ficou-me a memória e algumas fotos que hão de andar por aí perdidas nos albuns da minha mãe.
Ora neste dia fatídico de troca de anúncios tropecei num Ford Cortina MK2 quase igualzinho ao Bem Feitinho (era a alcunha dele, por causa da matrícula BF), e por graça (e porque estava em Lisboa e não em Famalicão, Guarda ou Bragança) mandei um e-mail, depois telefonei, depois fui vê-lo, e quando fui passar o Natal já não me saía da cabeça. Afinal não estava assim tão caro (julgo eu) e na impossibilidade de comprar o Miura ou o SM, aqui estava um carro velho, quase clássico, que eu podia ter e já se sabe que quando há um carro quase clássico que podemos ter, nós, pimba. E agora já cá canta.
O NOME
Baptizei-o Elefante Branco por vários motivos. Como saberão (ou não) era costume os reis do sudeste asiático oferecerem aos nobres de quem não gostavam, um elefante branco. Como o bicho era sagrado, não se podia matar, comer ou vender e como sagrado que era tinha que ser mantido de acordo com preceitos rigorosos e dispendiosos o que levava frequentemente à ruína do infeliz contemplado. Mais ou menos o meu destino.
E ainda por cima o carro é branco.
E grande como um elefante.
E suponho que beba como um.
O CARRO
É um Ford Cortina 1.3 (surpresa!) julgo que de 1967. O documento único não diz a data da 1ª matrícula, mas diz que é a versão Deluxe. Ainda bem porque assim tenho finalmente um carro de luxo. Tem 4 portas e não anda. Entre outras coisas não tem bateria. Disseram-me na altura da compra que tem um problema na direcção, mas trabalha. Eu vi-o a trabalhar, mas por pouco tempo, porque não tinha gasolina. Mas trabalha. Trabalhou... Ao que parece está parado há dois anos (dentro de portas) e parece asseadinho. Já está entregue ao mecânico, que ainda não teve tempo de começar a investigá-lo, mas espero que esteja para breve. O meu propósito é pô-lo a andar. Inspeccioná-lo e passear com ele ao domingo (como o avô). Não pretendo parar em lado nenhum porque visto de longe nem parece muito mau e far-me-á fazer boa figura, mas quem se aproximar verá que tem uma quantidade de borbulhas na cara.
EU
...não percebo nada de mecânica. Isso não é bom, nem barato. Espero ir aprendendo algumas coisas, mas na verdade tenho muito receio de tocar seja no que for, porque costumo estragar mais do que arranjo. Tenho sincera esperança de poder contar com as sugestões e conselhos dos portalistas que tenham carros iguais, parecidos, ou que simplesmente percebam de mecânica. Vou provavelmente ter necessidade de comprar peças, e não imagino onde. Haverá maneira de as obter aqui pelo barlavento algarvio, ou será necessário ir a Lisboa? Para já vou aguardar o que o mecânico tem para dizer, mas até eu consigo ver que preciso de borrachas para as portas. Como não é isso que impede o carro de andar, não é urgência nenhuma, mas será que isso é a metro, ou tem que ser específico para aquele carro? É possível que o mecânico consiga peças através dos seus contactos habituais, mas será mais barato tentar descobri-las noutro lado?
Enfim, já é muita conversa, vamos às fotos: