Quando a Mercedes fintou a máfia

Carlos Alberto Macedo

Gang dos Rojões
Em 1906, Vincenzo Florio, um grande apaixonado pelo automóvel e pelo emergente desporto que surgiu com ele, instituiu uma alucinante prova de velocidade que se disputou em circuitos traçados nas estradas da Sicília até 1977.

Ao longo da sua história, a prova, que começou em estradas de terra, tendo extensões que variaram entre mais de 400 quilómetros e 1080 quilómetros, premiou sempre o vencedor com uma grossa placa (a Targa) em bronze com um alto relevo.

Era uma das corridas mais prestigiadas do mundo. Arrastava multidões vibrantes, que se deslocavam ao longo do percurso ou se sentavam ao longo das aldeias e vilas que eram atravessadas a velocidades vertiginosas pelos concorrentes. Mas este público era muito "caseiro" e, como não gostava que os carros italianos fossem derrotados nas estradas da Sicília, estava sempre disposto a dar uma mãozinha para ajudar os compatriotas.

Na época, cada marca corria com as cores do seu país. Os automóveis italianos eram vermelhos, os franceses azuis, os alemães brancos, e por aí fora. Bem informados sobre as regras do jogo, os "Capo" de cada aldeola colocavam vigilantes que alertavam para a cor do carro que lá vinha... Se o veículo não fosse vermelho, era certo que no meio da aldeia iriam surgir cadeiras ou carroças, o que obrigava os estrangeiros a travar. Se os "mafiosos" fossem mais aguerridos, esse piloto era pura e simplesmente apedrejado. Talvez por isso, até 1914, a vitória não saiu de Itália. Mas também é certo que, depois da Grande Guerra, a Peugeot venceu em 1919, e a Mercedes ganhou em 1922, debaixo de uma chuva de pedras.

Truque Mercedes

Por isso, em 1924, a marca alemã preparou a prova com uma estratégia defensiva. Inscreveu três modelos de 2,0 litros e 126 cv para dois dos seus pilotos - Christian Werner e Christian Lautenschlager -, acompanhados por Alfred Neubauer, que viria a ser o grande director desportivo da Mercedes.

Não se sabe se o estratega que marcou anos de vitórias da Mercedes teve alguma coisa a ver com a decisão. A história não o refere, mas, depois dos treinos, onde os três Mercedes pintados de branco sofreram tratos de polé, na noite que antecedeu a corrida os alemães tiveram uma ideia genial: pintaram o carro de Werner de vermelho, a cor oficial de Itália.

A nova cor foi como que um livre-trânsito para a vitória. No final dos 432 km, Christian Werner e a Mercedes garantiram a vitória na Targa Florio, com o único carro ofical da história da marca que não teve a cor branca ou prateada. Menos sorte tiveram Lautenschlager e Neubauer, que não foram além do 10.º e 15.º lugares, respectivamente.
 

Anexos

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Manuel Ferreira Dinis

Dinis Vila Real
A Targa Florio é muitas vezes descrita como uma corrida alucinante disputada nas sinuosas estradas da Sicília. Historias como esta aumentam mais o seu fascínio .
 

Andre.Silva

Trapatony
Muito bom. Esta e a dos Silver Arrow, são umas das brilhantes ideias da Mercedes para se tornar mais competitiva...
 
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