Cronica de Segarra Marques em
:: CLASSICCLUBE ::
"Cá vai a prometida crónica sobre a minha mais que inesperada participação nas Legend Boucles de SPA 2010.
Para já e comparando com o Monte Carlo, a coisa passou-se toda ao contrário.
Monte, muito bom resultado e pouco gozo. Boucles, mesmo muito gozo e resultado mediano.
Mas tudo começou quando o meu amigo Ton Koster me liga na 6ª feira à noite perguntando se eu posso ir às Boucles com ele no sábado seguinte, porque infelizmente o filho Raymond e habitual navegador dele no estrangeiro não poderá estar no banco direito do DAF 55 Marathon por problemas de ordem pessoal. All my support to you, Raymond.
Após a muito recente ida ao Monte, a minha imediata resposta é que lamento muito mas com muita pena minha, não posso ir. Desligo e a minha cabeça começa de imediato a fervilhar. Lembro-me logo de quando em 1998 fui forçado a dizer que não a um convite do meu amigo Neil Revington para fazer com ele a Targa Tasmânia e penso que não me perdoarei nunca recusar um outro convite tão especial.
Atiro-me à net para ver o programa e o horário da prova. Chego à conclusão de que só preciso da 6ª feira livre e de lugar num voo para Bruxelas.
Com o aval do meu ex-piloto e “amigo patrão” Pinto Antunes, (obrigado António) tiro a 6ª feira de férias, consigo lugar no voo das 8h para Bruxelas, onde apanho um Clio alugado.
Chego a SPA por volta das 14h onde me encontro com o Ton e com o Ed Von Tongelen que nos vai dar assistência. Eles já fizeram as verificações da papelada e as técnicas mas eu preciso ainda de assinar uns documentos. Posso dizer-vos que o Ed é um conceituado especialista em preparação e assistência de clássicos, também piloto, e grande companheiro como vim a descobrir.( Aproveitem para espreitar
www.VonTongelenAutosport.nl onde poderão ver para lá de tudo o que diz respeito ao Ed, um artigo e uma reportagem fotográfica sobre a nossa participação nas Boucles).
Devo dizer-vos que desde que tomei a decisão de ir à prova tentei por todos os meios obter a maior informação possível sobre como tudo se passa mas com muito pouco êxito, o que me preocupa realmente.
Com a ajuda do Sr. Director P.B.G. (o meu sincero obrigado, Pedro) consigo o contacto do Joseph Lambert ( quem melhor poderia tirar-me as dúvidas?) com quem fica desde logo agendado um briefing para a tarde de 6ª feira.
O Lambert é inexcedível e, para lá de trazer o roadboock do ano anterior, dissipa-me todas as dúvidas. Também recomenda calçarmos o DAF com uns M+S de preferência.
Assim fazemos mas chegamos à conclusão de que na frente não cabem por serem de maior altura que os contactos que estão montados. Decide-se por M+S na traseira e manter os contactos na frente o que virá a manifestar um sensível desequilíbrio entre os dois eixos para lá dos M+S terem uma borracha demasiado dura. Todo o nosso rallye irá ser condicionado por isso.
E está na hora de ir calibrar. Ainda não vos disse que tive uma grande decepção quando vi que o Ton tem montado um simples Retrotrip quando nas Boucles são aceites todos os equipamentos. Pior ainda quando chego à conclusão que a nossa calibração é 106!!!
Mas iremos para a batalha com o que temos.
Neste caso específico, ou seja com o DAF, só poderemos pensar em resultados à classe como é óbvio. Com um 1108c.c não dá para mais mas mesmo assim teremos que nos bater com os Cooper S que são vários, com os Alfa 1300, os Saab , o Mini Marcos, etc.
O ambiente em SPA é indescritível. Montes de gente na partida e que se manterá presente nos troços mais “sonantes” como a Clémentine , a la Redoute e o Paradis e até à chegada já de madrugada. Como passamos várias vezes pela cidade daí o nome de boucles, o pessoal vai-se lá mantendo aos magotes, demonstrando um real entusiasmo pelo que nós também muito gostamos, os rallyes de clássicos.
Primeiro troço Ster. Muito gelado e manhoso. Vemos alguns carros já fora da estrada e o Ton joga perfeitamente à defesa, não arriscando nada tentando apalpar o comportamento do carro com tão díspar jogo de pneus. 95º tempo entre 136 concorrentes.
Troço 2 Creppe, um troço curto em que fazemos 77º e subimos para 91º.
Segue-se o mítico Clémentine. 33º, e esta hem?, com subida para 73º.
O 4º troço Theux, irá revelar-se funesto para as nossas aspirações como viemos a descobrir só no Domingo quando eu já ia de regresso a caminho do avião.77º tempo mais uma penalização de 600 pontos!!! Descida óbvia para 112º. Até agora ainda não sabemos a que se deveu. Estou neste momento à espera de resposta a um e-mail pedindo ao menos uma explicação para os 600 pontitos.
5º troço Stoumont, 45º , com subida para 94º.
Já que falo em Stoumont devo dizer-vos que em paralelo com os Classic, nós os da regularidade a 50, correm os craques da média a 80. Não é bem assim, mas é sempre bem mais rápida que a nossa e fazem os troços noutra ordem e um número diferente de vezes que nós. Nós uma vez Stoumont e eles 3 vezes por exemplo.
Não vos vou continuar a maçar com as classificações. Quem quiser vê-las em detalhe, meta Boucles de SPA 2010 no google e veja tudo em pormenor.
Ainda viemos a fazer um 36º em Redoute 1. Este e outros dois troços tinham um figurino muito curioso. Imaginem um troço de cerca de 6 kms com partida lançada e onde se fazem por exemplo 4 voltas ao troço com uns atrás dos outros com ultrapassagens, disputa de travagens etc. Num destes, fomos passados por um BMW 2002 TII mas ultrapassámos um Dolly Sprint e um Triumph TR2 “Francorchamps”. Não sabem o que é? Posso dizer-vos que era feito mesmo na Bélgica. Se se interessam pela história da Triumph procurem na net que vale a pena.
A desgraça veio quando no 12º troço, a estrada ficou bloqueada bem como nos troços 13 e 15 que foram anulados devido a um nevão monstro que nos acompanhou até SPA e se prolongou pela noite toda. Muito estranho o facto de terem sido classificados 13 concorrentes que conseguiram fazer o 15º troço, levando todos os outros 2250 pontos!!!
Muito injusto pois também nós lá conseguimos chegar e nos disseram que não havia troço para ninguém.
Acabamos em 70º, 6º da classe e teríamos sido 49º sem os tais 600 pontos de que ainda desconhecemos a origem.
No entanto e apesar de tudo isto, tenho a dizer-vos que foi talvez o rallye mais duro e completo que fiz até hoje. Alcatrão seco, molhado, terra, lama, neve, gelo, bons, maus e péssimos pisos. Entrar no carro às 9h 30’, 3 saídas para “pee”, uma sandocha às 19h e sair da baquet às 00h 30’.
Dá bem para perceber porque razão os belgas aviam tudo. É que estão habituados a RALLYES a sério. Para quem fez a etapa Viseu / Viseu do RPH do ano passado, posso dizer-vos que foi uma mera brincadeira de meninos comparada com as Boucles.
Se gostava de repetir? Sem dúvida ainda mais que o Monte Carlo. Um só dia que dá muito mais gozo que 4 a caminho do Mónaco com os “Turinis” todos.
Sem almoços, sem jantares, sem cerimónias de distribuição de prémios, mas muuuuuuito rallye.
Para lá das fotos que já mandei ao nosso Paulo Almeida, penso que em breve o Ton já tenha metido no Youtube os filmes que fizemos inboard e que eu tive a felicidade de “ver ao vivo”.
Para acabar, o meu público obrigado ao Ton Koster pelo convite que tive o prazer de poder aceitar e também pela agradável companhia e profissionalismo do Ed Von Tongelen acompanhado pelo Rick.
José Segarra Marques
P.S.
Já me esquecia.
Vejam também no site oficial as classificações dos craques.
Os 4 primeiros foram o Thiry, o Waldegaard, o Snyers e o Loix!!!"
