Aplicar Primários E Lixando A Água

Luis C Matos

Clássico
ANTES DE AVANÇAREM NA LEITURA – Por uma questão de não me envolver em demasiados termos técnicos que possam complicar o entendimento popular imediato, muitas vezes nas minhas explicações uso formas comparativas que possam ajudar o leitor na sua melhor tarefa. Situações de molhar, desengordurar e doses são comparadas a situações comuns como quem limpa vidros ou passa álcool com um guardanapo sobre superfícies delicadas como os ecrãs de portáteis ou de televisão. Meias de nylon, Ketchup, manteiga e outros itens são aqui formas ilustrativas para dar a melhor ideia comparativa ao seu utilizador de como é que certas situações devem ser resolvidas.

As chamadas lixas de água somente podem ser usadas com a ajuda de água, isto é, colocando as lixas num balde com água limpa e este método já bem conhecido de “lixagem por molhado” possui a finalidade de a lixa não se empanar, evitar que o pó produzido fique em suspensão no ar e claramente não deixar sobreaquecer (por dilatação indesejável) a superfície e os seus produtos a serem lixados de forma a criar uma superfície aveludada e lisa ao tacto no final já que os processos de pintura ou cobertura de primários mesmo com as melhores pistolas e produtos saem com uma inevitável superfície irregular e rugosa que são precisos “desbastar por lixagem” de modo a acentuar as mesmas irregularidades nascidas por pressão de ar, lixo do próprio produto e pulverização uniforme e quase criar uma superfície tão lisa quanto um espelho e obter, assim, uma superfície final sem marcas e muito mais preparada para receber tinta e conseguir um acabamento final liso e sem marcas.



Uma folha de lixa de água, tamanho A4 deve ser dobrada em 4 partes e recortada com um X-acto ou faca afiada de modo a obter um maior rendimento de trabalho e trocar as mesmas quando a lixagem começa a ser já mais esforçada e quando para tal a lixa já se mostra demasiado gasta com alto risco de marcar a superfície em vez de a aplainar e alisar. Podem ser usadas com a mão nua ou com a ajuda de um pequeno taco de borracha macia (idêntica à de uma borracha escolar) cuja superfície seja, pois, a mais plana que for possível.



Quando aqui falo de tacos para lixar com água não me refiro aos pesados tacos de borracha pretos, mas sim, pois, a pequenos tacos do tamanho ligeiramente maiores do que 2 isqueiros BIC um em cima do outro. Tais tacos (em borracha e cor de laranja) encontram-se à venda em casas de distribuição de tintas automotivas (ainda não os encontrei em outros lados até ao momento).



Antes de usar as lixas de água deve-se, pois, manter as mesmas 5 a 10 minutos na água (não é necessário submergir forçadamente as mesmas na água e sim deixá-las naturalmente a boiar na água) antes de executar qualquer trabalho e durante a lixagem deve-se regar com esponja ou pano a zona que vai sendo lixada e quando a superfície sendo muito grande ir também mudando a água do balde, de tempos a tempo, que vai ficando suja. Podem usar em todos os casos tanto água fria ou água morna.



As lixas mergulhadas em água, tem a tendência natural para ficarem enroladas como um charuto. Nada de errado aconteceu aqui e as lixas estão, pois, aptas a 100% para serem usadas.



Resulta, pois, deste acto de lixagem com água e lixas uma boa saída final de excedentes – onde o pó misturado com a água – tem a denominação de “excedente pastoso” e permite um alisamento da superfície (corte fino) e abatimento de defeitos e asperezas resultantes dos próprios primários no acto da sua pulverização que é sempre irregular dado que as fábricas de automóveis o fazem por mergulho em tanques em vez de pulverizarem com pistola como nós o fazemos.



Nesta forma de lixar a água não é preciso carregar a lixa com imensa força e sim com uma pressão ligeira e quase sempre numa direcção paralela.



Aqui há, pois, quem lixe manualmente e quem possua lixadeiras em que seja possível serem controladas na sua rotação para uma velocidade adequada de lixagem, mas a recomendação das empresas fabricantes e demais ensaios em laboratórios bem como a experiência adquirida de antigos mestres com muitos e muitos anos de casa recomenda, vivamente, que a lixagem a água seja feita, sempre, manualmente.



O segredo da lixagem manual está aliado à força motriz humana onde somente é aplicada a naturalidade de força muscular considerada útil, apropriada e a velocidade mais correspondente a esse acto de lixar que o mesmo que dizer que só se aplica uma camada de bronzeador através dos dedos humanos e nunca através de máquinas.



Terão aqui que usar um taco de borracha que tem só e somente uma característica de melhor “apoiar a lixa” já que a lixagem à mão nua tem uma tendência de que se deixe fugir a lixa ou então esta se prenda e/ou cole à superfície a lixar e isto é natural acontecer em qualquer lado quando não se segura devidamente, com a mão, a lixa ou não se possui a devida prática de prender as pontas da lixa entre os dedos.



Neste processo cada pessoa deverá tentar por si desenvolver a sua própria técnica de lixar à mão nua já que, pois, nenhuma mão humana, é igual em tamanho ou volume e varia de indivíduo para indivíduo. Usar o taco é a melhor opção de prender a lixa e executar a melhor pressão plana sobre a superfície e começando a lixar à mão irão descobrir por “experiência adquirida” que é complicado manter a lixa fixa à mão nua e só após uma técnica de boa adaptação pessoal é que conseguirão fazer isto mais facilmente e muito mais naturalmente.



Durante a lixagem terão que ir molhando abundantemente a superfície à medida que vão lixando evitando, assim, que as superfícies a lixar estejam secas. Podem ir retirando água do balde ao mesmo tempo que mergulham a lixa na água para a manter molhada e lavar a lixa e a mão que segura a lixa ao mesmo tempo ou usar a técnica de terem um pano limpo (nunca usado anteriormente para outra qualquer finalidade nem de limpar sequer o pó em superfícies secas) para ir mergulhando na água e regar a superfície a lixar tanto para posições verticais quanto para as posições horizontais.



Logicamente que podem optar, no caso de molhar a superfície) pelo uso de um spray (garrafa de limpa vidros bem limpa e com bico de espalhar) e indo aplicando generosa camada de água em cada secção a lixar. Esta situação de molhar constantemente e lixar ao mesmo tempo mantêm a lixa em menor esforço de lixagem e o papel de lixa vai cortar essa superfície de forma muito mais suave e com resultado final muito mais aveludado e obterão uma superfície mais bem preparada para aceitar a tinta.



Note-se bem que todas as superfícies começam a ser lixadas pelo seguinte modo:



- Lixa de Água Grão 600 – Para lixar toda a superfície que contenha primário e indo mais além da pintura até 10 cm em volta da área a pintar.



- Lixa de Água Grão 2000 – toda a superfície que já tenha sido lixada com a 600 e ainda incluindo lixar toda a restante superfície de um painel que vai ser pintado evitando, pois, assim que a restante superfície tenha lixo, pó e demais defeitos que possam prejudicar no final o polimento total da peça após total secagem.



Terminada a lixagem a água através dos grãos 600 e 2000 deve-se, pois, seguidamente lavar com água limpa e de forma abundante a superfície fim de retirar todos e quaisquer detritos resultantes da lixagem. Mas o passo seguinte é “Secar a Superfície” antes da pintura que pode e deve ser feito com uso de papel absorvente (se não tiverem apropriado usem mesmo guardanapos de papel ou rolos de cozinha) e enquanto passam o ar sobre a superfície (isto sempre sem usar elevada pressão que possa causar danos ao primário e pressão elevada ou com bicos de pistolas de sobrar demasiado aproximadas da superfície e capaz de o arrancar e ter que repetir o trabalho), e indo secando a superfície de todo e qualquer lixo que sobre ela se apresente para não prejudicar a pintura.



Feita esta fase, há que passar desengordurante sobre toda a superfície e que podem adquirir nas lojas, mas notem que o desengordurante universal que usamos vem em latas de 5 litros e o preço é um pedaço elevado, mas podem consultar os vendedores sobre outros produtos de marca branca e menor preço.



O desengordurante aqui é aplicado usando um papel absorvente molhado somente de modo a “molhar” a superfície (façam o mesmo que usar um guardanapo de papel molhado em álcool para limpar um ecrã dos vossos computadores ou ecrã de televisão e onde não se pode nem usar em demasiada quantidade nem falhar cantos que contenham dedadas e prováveis marcas que demonstrem descuido de quem limpa) evitando assim o tal aparecimento de manchas oleosas, impressões digitais e outras inconvenientes marcas minúsculas que irão aparecer sob a superfície da pintura já após terem dado a primeira demão de tinta.

Aqui neste acto de desengordurar, caso observem um erro de falta de lixagem numa área, ainda vão a tempo de rectificar o trabalho.



Após a camada de desengordurante que deve “evaporar” quase seguidamente terão que esperar um pouco de tempo para que todo o produto desengordurante se evapore na totalidade, caso contrário terão um grave problema de tinta que vai ter que ser raspada e senão mesmo lixar novamente toda a superfície afectada.



Notem bem – Durante o acto de pulverização por pistola, dos produtos de “Primários” terão que ter em conta os seguintes pontos:



- Primários – NUNCA levam quaisquer tipos de endurecedores e secam por si ao fim de uns minutos e sempre naturalmente. Raramente se adquirem primários que exijam o uso de aceleradores e/ou endurecedores de secagem e estes, de forma especial, não se encontram muito facilmente à venda ao público como possa parecer.



- Primários – SOMENTE são diluídos com diluente celuloso e sempre de modo a que cada dose se assemelhe muito aproximadamente a “Ketchup” onde demasiado grosso irá entupir os bicos da pistola e demasiado diluído causará escorrimento inevitável do primário na superfície.



- Primários – APLICAÇÂO em demasiada força saída da pistola somente é o mesmo que deitar produto ao lixo e em menor pressão é somente colocar demasiado produto sobre a superfície. Ficar parado no mesmo sítio enquanto a pistola pulveriza, levantar ou baixar a distância entre o bico e a superfície, não regular a pistola para um leque uniforme e evitar que a mangueira, roupa, corpo, mãos e demais objectos toquem na superfície enquanto esta vai levando demão de primário é um cuidado a ter em conta para obter um trabalho final de sucesso e rumo cada vez mais aproximado de uma pintura final perfeita.



- Primários – MEXER muito bem com ajuda de uma régua metálica de tamanho superior à lata logo quando abrem a lata a primeira vez, de modo a que as resinas, pigmentos e demais químicos se misturem entre si tal e qual se faz quando se mistura farinha e ovos para um bolo. Caso contrário terão uma bela mistela porque os produtos em latas tem tendência a assentar no fundo das latas.



A melhor opção é deitarem uma dose de primário numa embalagem limpa (podem optar por embalagens plásticas em que muitos Take-Way servem as sopas e/ou pequenas doses de alimentos) e deitar em pouca quantidade o diluente em situação idêntica de umas 3 a 4 colheres de sopa de diluente contra um tamanho de um pacote de manteiga de 250 gramas da marca Pingo Doce que nem embalagem tem a não ser uma película por fora). A ordem correcta é 1º lugar - Primário e somente em 2º o Diluente.



Recomendo, pois, vivamente que antes de aplicarem o primário sobre pistola utilizem uma régua metálica ou outro objecto de modo a misturar muito bem essa dose de primário e diluente e que antes de a deitar na pistola o façam “coar” por um filtro de 180 mícron. Na falta deste filtro específico podem optar por usar, de modo simples e inventivo, uma meia de senhora em nylon e que serve na mesma para o efeito.



Nota - Não peguem na pistola e toca a dispersar por cima da chapa. Esse é um erro comum de iniciantes.



Tenham à mão uma tábua de tamanho que considerem adequado para “praticar inicialmente” e sem préstimo ou até superfície de uma parede coberta com um papel liso (mesmo de embrulho) e “experimentem” ai se a calibração da pistola está adequada, se não há demasiada nem escassa saída de ar e se a pulverização é a pretendida na distância de 7 a 8 cm acima da superfície, caso contrário se a pistola tiver entupido (porque não diluíram suficientemente bem a mistura de primário e diluente) ou porque os bicos da pistola não foram lavados ou não são adequados a tal produto acabam a ter uma grande esturricada de primário sobre a superfície que terão de deixar de secar totalmente e depois voltar, inevitavelmente, a lixar com água.



NOTEM - Se tiverem esquecido uma qualquer superfície por mais pequena que esta seja e que tenha sido reparada com betume, betumes esquecidos de lixar, colas ou resíduos de autocolantes, mástiques de vidros e outras colagens, resinas mal secas, fibras, pó de lixagem anterior, óleos e gorduras do vosso próprio corpo deixadas acidentalmente por apoio das mãos em cima da chapa e outros químicos ainda por secar terão entre mãos outro problema onde a “Fusão” química de elementos diferentes que compõem cada um deles entrarão em ebulição química não visível a olho nu e causarão uma total “incompatibilidade” entre produtos e levará à ruína o vosso trabalho.



DAR PRIMÁRIO E CONTINUAR A TRATAR SUPERFÍCIES (?)



Logicamente que há quem lixe uma superfície e vá aplicando, por diversas razões, quase de imediato uma camada de primário. Mas, eu que não estou para meias medidas e sei bem que tal só sucede quando para tal se tem a devida prática e saber, informo os leigos que optam por este sistema que tal só é possível desde que:



- Se tenha lixado, limpo, desengordurado as superfícies a que se pretendem dar cobertura de primário a fim de evitar a ferrugem e outros factores porque não se possuem os locais, estufa e meios apropriados para evitar certos inconvenientes amadores de quem quer trabalhar por sua conta e risco e cujo trabalho não seja para fazer de imediato mas sim com calma e tempo consoante disponibilidades pessoais.



- Se tenha após a aplicação dos primários deixados os mesmos secar na sua totalidade, evitando a todo o custo danificar as coberturas e demãos já aplicadas bem como não depositar sobre tais superfícies cobertas por primário gorduras acidentais ou sobre elas admitir qualquer outra lixa (seca ou molhada) máquinas ou nelas bater acidentalmente com objectos que possam arranhar a superfície já considerada apta à pintura.



Dito isto, somente se trabalha num sistema destes de “lixar, limpar, dar demão de primário” quando uma viatura não possa ser imediatamente levada a uma mais rápida conclusão do trabalho na sua totalidade. Podem fazer mas dentro de normas e a isto chama-se fazer a obra aos poucos e por fases. Tem a vantagem de deixar secar por maior “cura” os produtos e outra dar tempo ao seu realizador por razões diversas sem ter inconveniente de ir além das possibilidades de momento e sem deixar em descoberto superfícies que sensivelmente criarão ferrugem em simples contacto com o ar.



Se, digo eu, pretendem começar a dar demão num tejadilho já lixado e preparado como acima descrito (lavar, desengordurar, dar primário e deixar secar) podem e devem optar por após boa secagem desta e de outras superfícies cobrir as mesmas com papel de embrulho que tenha 2 faces (uma lustrosa e outra opaca) onde deverão manter a face “lustrosa” virada para a chapa e fixar essa protecção (podem cortar à medida de cada painel) com fita de papel que deve ser sempre colaça em cima do papel e dando a volta para dentro da superfície e nunca colar a fita de papel ou fita-cola directamente sobre superfície que tenha sido já tratada com primário mesmo ainda por lixar e a lixar mais tarde na totalidade da viatura ou painéis.

Já agora não se esqueçam de usar máscaras de papel durante a acção de cobertura por primários. Estes contêm uma química se secagem rápida que pode bem destruir os pulmões. Após terminarem o trabalho arejem o ambiente na totalidade e só voltem lá quando a poeira criada por pulverização assentar. Nunca tenham outras viaturas ou quaisquer bens (telemóveis, relógios, máquinas de lavar, etc.) por perto e nem sequer permitam a presença de terceiros (família, amigos e sobretudo crianças) perto do vosso posto de trabalho. Fazer fogo ou fumar durante o trabalho de pulverizar primário, tintas e vernizes é de consciência de cada um.



A Seguir – Preparando Tintas, os Materiais, o Local e a Viatura para a Pintura
 

Alves Fernando

Veterano
Muito bom Tópico, vou iniciar em breve a aplicação de primário no meu carro e tenho andado a estudar como o fazer e como alisar painéis.
Onde costumi comprar primário(epoxy), sempre me inducaram usar diluente cintetico para diluir o mesmo, estou a fazer errado?

Estou a pensar em algumas zonas evitar colocar betumes e usar primário de enchimento,comi funcionam?

Abraços
 
OP
OP
Luis C Matos

Luis C Matos

Clássico
Caro Fernandes M. Alves

Todo o primário é e tem a função "Primário Enchedor" pois a função dos primários é preencher minúsculos espaços que nós não vemos a olho vivo. Em todos os casos vai ter que lixar o primário na mesma a fim de alisar o mesmo (chama-se a isso desbastar superfície) para a tornar tão fundida e tão idêntica à superfície restante e preparar assim, pois, o melhor caminho da tinta se agarrar à peça. O primário leva sempre, sem falta, diluente celuloso.

Não caia no erro de iniciante de colocar somente primário enchedor sem ter colocado betume para rectificar as devidas mossas porque o primário não enche as irregularidades totalmente e somente aplaina superfícies, isto significa que nas zonas onde colocou betume o primário só vai corrigir o que você fez de errado e não pode ver e serve ao mesmo tempo para melhor fazer aderir a tinta à chapa e sem o primário a tinta não se sustentava em cima da chapa.

Colocar somente primário e pintar por cima é o mesmo que nada fazer senão esconder o que em breve ficará à vista. Em espaços de mossas tem que colocar betume, deixar secar, lixar e só depois aplicar primário já que o betume tem uma certa oleosidade que não deixa grudar bem a tinta à sua superfície e esta não vai aguentar muito tempo.

Leia todos os meus temas por alto. Terá ai boas indicações. O resto é somente fazer bom trabalho. blink.png
 

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Luis Matos,

Bem-haja pela partilha do seu conhecimento.
Para um "maçarico" como eu que não tem/tinha a mais pequena noção do processo de preparação de um veículo para a sua pintura, os seus posts permitem-me ter uma ideia do trabalho envolvido (e as fases por que passa o mesmo).

Cumprimentos,
Vitor Gil
 
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