25 anos Alfa Romeo 156

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Faz hoje justamente 1/4 de século.

25 anos era eu menino ainda.

Trago comigo na lembrança com a força do prazer, da exultação e da memória aquele que uma vez ultrapassados estes 25 anos veio a confirmar ter sido o melhor tratado de desenho industrial de massas do final do milénio.

Seria fácil pela sua própria natureza transitar para a história caso fosse um "one off" ou um super carro que a marca e o berço justapunham além de si e do seu tempo.

Foi uma berlina familiar média projectada sobre uma plataforma comum e ministrada ainda, nos velhos escritórios de Arese por um punhado de Bravos e um golpe de génio à cabeça.

Do lápis de Walter da Silva, da intenção à forma, o mundo automóvel testemunhou a mais bela interpretação de um objecto comum, despojada de compromissos e de futilidades para 25 anos depois dar com segurança o primeiro passo para a intemporalidade.

O Alfa Romeo 156 foi dos maiores sucessos comerciais da marca com a tónica particular de nunca ter sido moda, mas com o ónus singular de valer de si o estilo de nenhum outro.

A forma como interpretou elementos de carácter da marca e de modelos tão díspares quanto o 1900, o 8c Monza, o Giulia, a Giulietta Nuova, a Berlina 1750, com originalidade, contemporaneidade, sobriedade, exuberância e identidade, sem tirar de si um cm de de carácter que o pendurasse na intenção preguiçosa e pastiche de viver da iconoclastia de um passado trazido ao seu tempo como um New beetle, um new mini ou uma Nuova 500.

Todo este equilíbrio conjuga um conhecimento apurado da marca, do seu carácter e da sua história, e uma capacidade apreciável de o interpretar e de o compor num movimento harmónico original cuja linha autoral se conhece mas que não é mais nenhum do que si próprio.

O 156 não foi o melhor carro do segmento. Não foi o mais habitável, não foi o mais bem construído, não foi o mais práctico, não foi o mais equipado, o mais económico, o mais versátil.

Foi o mais encantador, o mais desejado, o mais velado coupé disfarçado de berlina para o jovem executivo com família recém formada que não se preocupou em gerar consensos para ser feliz.

Foi um modelo médio com uma volta de volante de topo a topo, proporcionalmente áureo, ágil, veloz, tão ou mais sedutor em movimento do que estacionado na berma de um café na costa da Amalfi para "un espresso" rápido.

Fez do automóvel comum objecto de prazer, na antecâmara de uma sociedade ávida de ecrãs, de show off, de exibições pífias aos amigos com habilidades de engenhocas tecnológicas, ambientalismos experimentais, roupas de mau gosto e grelos nos dentes.

Foi um objecto intimista. Egoísta. Hedonista. Um tratado de fórmula e de intenção. Um manifesto de vida, de desenho e de engenharia vertido ao amor das coisas belas como diria o António Lobo Antunes.

25 anos depois do 156, com a proporção fora de escala, a berlina fora de moda, e o automóvel fora de si, conserva o mesmo encanto do dia em que o vi pela primeira vez, no primeiro ano dos corredores da faculdade de arquitectura no canto de um autosport baço e amarelado no final da página de entrada.

Uma obra prima. Genial. Perfeita. Que merecia nome em lugar de número porque estes são para os alemães.

Tanti auguri 156!
 
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António_Vidal

Veterano
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Portalista
Faz hoje justamente 1/4 de século.

25 anos era eu menino ainda.
Tinha eu meio ano de vida, lembro-me de ser catraio e perguntar a todos "por que raio é que aqueles carros tinham a matrícula de lado". Marcou de tal forma que, por força do destino, hoje tenho um. Perante o parque automóvel atual, parece um carro pequeno e as rodas 16 parecem rodinhas sobretudo ao lado dos SUV da moda, mas chama à atenção como se estivesse ainda a sair do Lidl da Av. Fernão de Magalhães...

Não me referia ao Lidl obviamente, mas sim à majestosa Quadrifofio. A evolução nem sempre é no bom sentido


Como tributo lá fui eu esticar as pernas ao meu 156 na bela N16 (quando digo esticar as pernas é só abusar do chassis competente, o pobre coitado do 1.6 faz o que pode)...
 

JP Vasconcelos

Raio de Sol
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Faz hoje justamente 1/4 de século.

25 anos era eu menino ainda.

Trago comigo na lembrança com a força do prazer, da exultação e da memória aquele que uma vez ultrapassados estes 25 anos veio a confirmar ter sido o melhor tratado de desenho industrial de massas do final do milénio.

Seria fácil pela sua própria natureza transitar para a história caso fosse um "one off" ou um super carro que a marca e o berço justapunham além de si e do seu tempo.

Foi uma berlina familiar média projectada sobre uma plataforma comum e ministrada ainda, nos velhos escritórios de Arese por um punhado de Bravos e um golpe de génio à cabeça.

Do lápis de Walter da Silva, da intenção à forma, o mundo automóvel testemunhou a mais bela interpretação de um objecto comum, despojada de compromissos e de futilidades para 25 anos depois dar com segurança o primeiro passo para a intemporalidade.

O Alfa Romeo 156 foi dos maiores sucessos comerciais da marca com a tónica particular de nunca ter sido moda, mas com o ónus singular de valer de si o estilo de nenhum outro.

A forma como interpretou elementos de carácter da marca e de modelos tão díspares quanto o 1900, o 8c Monza, o Giulia, a Giulietta Nuova, a Berlina 1750, com originalidade, contemporaneidade, sobriedade, exuberância e identidade, sem tirar de si um cm de de carácter que o pendurasse na intenção preguiçosa e pastiche de viver da iconoclastia de um passado trazido ao seu tempo como um New beetle, um new mini ou uma Nuova 500.

Todo este equilíbrio conjuga um conhecimento apurado da marca, do seu carácter e da sua história, e uma capacidade apreciável de o interpretar e de o compor num movimento harmónico original cuja linha autoral se conhece mas que não é mais nenhum do que si próprio.

O 156 não foi o melhor carro do segmento. Não foi o mais habitável, não foi o mais bem construído, não foi o mais práctico, não foi o mais equipado, o mais económico, o mais versátil.

Foi o mais encantador, o mais desejado, o mais velado coupé disfarçado de berlina para o jovem executivo com família recém formada que não se preocupou em gerar consensos para ser feliz.

Foi um modelo médio com uma volta de volante de topo a topo, proporcionalmente áureo, ágil, veloz, tão ou mais sedutor em movimento do que estacionado na berma de um café na costa da Amalfi para "un espresso" rápido.

Fez do automóvel comum objecto de prazer, na antecâmara de uma sociedade ávida de ecrãs, de show off, de exibições pífias aos amigos com habilidades de engenhocas tecnológicas, ambientalismos experimentais, roupas de mau gosto e grelos nos dentes.

Foi um objecto intimista. Egoísta. Hedonista. Um tratado de fórmula e de intenção. Um manifesto de vida, de desenho e de engenharia vertido ao amor das coisas belas como diria o António Lobo Antunes.

25 anos depois do 156, com a proporção fora de escala, a berlina fora de moda, e o automóvel fora de si, conserva o mesmo encanto do dia em que o vi pela primeira vez, no primeiro ano dos corredores da faculdade de arquitectura no canto de um autosport baço e amarelado no final da página de entrada.

Uma obra prima. Genial. Perfeita. Que merecia nome em lugar de número porque estes são para os alemães.

Tanti auguri 156!
É lá, começo a achar que também devo ter um, eu que sou mais tipo 50s years de vida
 

João Paulo C. Ribeiro

Pre-War
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Faz hoje justamente 1/4 de século.

25 anos era eu menino ainda.

Trago comigo na lembrança com a força do prazer, da exultação e da memória aquele que uma vez ultrapassados estes 25 anos veio a confirmar ter sido o melhor tratado de desenho industrial de massas do final do milénio.

Seria fácil pela sua própria natureza transitar para a história caso fosse um "one off" ou um super carro que a marca e o berço justapunham além de si e do seu tempo.

Foi uma berlina familiar média projectada sobre uma plataforma comum e ministrada ainda, nos velhos escritórios de Arese por um punhado de Bravos e um golpe de génio à cabeça.

Do lápis de Walter da Silva, da intenção à forma, o mundo automóvel testemunhou a mais bela interpretação de um objecto comum, despojada de compromissos e de futilidades para 25 anos depois dar com segurança o primeiro passo para a intemporalidade.

O Alfa Romeo 156 foi dos maiores sucessos comerciais da marca com a tónica particular de nunca ter sido moda, mas com o ónus singular de valer de si o estilo de nenhum outro.

A forma como interpretou elementos de carácter da marca e de modelos tão díspares quanto o 1900, o 8c Monza, o Giulia, a Giulietta Nuova, a Berlina 1750, com originalidade, contemporaneidade, sobriedade, exuberância e identidade, sem tirar de si um cm de de carácter que o pendurasse na intenção preguiçosa e pastiche de viver da iconoclastia de um passado trazido ao seu tempo como um New beetle, um new mini ou uma Nuova 500.

Todo este equilíbrio conjuga um conhecimento apurado da marca, do seu carácter e da sua história, e uma capacidade apreciável de o interpretar e de o compor num movimento harmónico original cuja linha autoral se conhece mas que não é mais nenhum do que si próprio.

O 156 não foi o melhor carro do segmento. Não foi o mais habitável, não foi o mais bem construído, não foi o mais práctico, não foi o mais equipado, o mais económico, o mais versátil.

Foi o mais encantador, o mais desejado, o mais velado coupé disfarçado de berlina para o jovem executivo com família recém formada que não se preocupou em gerar consensos para ser feliz.

Foi um modelo médio com uma volta de volante de topo a topo, proporcionalmente áureo, ágil, veloz, tão ou mais sedutor em movimento do que estacionado na berma de um café na costa da Amalfi para "un espresso" rápido.

Fez do automóvel comum objecto de prazer, na antecâmara de uma sociedade ávida de ecrãs, de show off, de exibições pífias aos amigos com habilidades de engenhocas tecnológicas, ambientalismos experimentais, roupas de mau gosto e grelos nos dentes.

Foi um objecto intimista. Egoísta. Hedonista. Um tratado de fórmula e de intenção. Um manifesto de vida, de desenho e de engenharia vertido ao amor das coisas belas como diria o António Lobo Antunes.

25 anos depois do 156, com a proporção fora de escala, a berlina fora de moda, e o automóvel fora de si, conserva o mesmo encanto do dia em que o vi pela primeira vez, no primeiro ano dos corredores da faculdade de arquitectura no canto de um autosport baço e amarelado no final da página de entrada.

Uma obra prima. Genial. Perfeita. Que merecia nome em lugar de número porque estes são para os alemães.

Tanti auguri 156!
Muito melhor o texto que o carro...
 

José de Sá

"Life's too short to drive boring cars"
Portalista
Excelente "artigo" @Miguel Gomes Dinis, digno de ser publicado numa revista da especialidade.

Ontem fiquei a saber de tal facto pelo facebook....

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Não querendo deixar passar tal dada em claro, fui ao casão buscar o V6 para dar uma volta com ele e aproveitar para meter gasolina antes da subida de preços.

IMG_20221009_111822.jpg

Afinal...... a bateria não tinha carga suficiente para o carro trabalhar :(

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Acabei por me satisfazer sozinho com o catalogo da época :ph34r:

IMG_20221009_113155.jpg

IMG_20221009_113207.jpg
 

João Paulo C. Ribeiro

Pre-War
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Porque consideras o carro menos bom?
Atenção, não é uma crítica, fiquei mesmo curioso.
Tive uma Sportwagon durante cerca de uma década e não tive grandes razões de queixa.
Aceito que o meu comentário possa ter sido interpretado assim.

Mas não foi isso que eu queria dizer.

O 156 é um carro muito bonito. A 156 SW é ainda mais. É um carro com uma fiabilidade aceitável e não tem vícios ou defeitos acentuados.

Mas não é um Alfa Romeo de puro sangue. Se quisesse ser maldoso diria que era um FIAT Marea de luxo e bem desenhado. Sim eu sei dos V6.

Um dos carros modernos que mais me espantou foi uma 159 SW Ti 3.2 V6 24v que conduzi há uns anos. Mesmo essa não era o que os Alfa Romeo eram nos anos setenta. Quem nunca experimentou a diferença do que era um verdadeiro Alfa Romeo em relação aos carros pão com manteiga da altura não me vai entender mas hoje os Alfa são apenas mais um carro só que bem desenhado.

Já o texto pareceu-me acima do que se escreve por aqui e lá por fora.

Só isto.
 
OP
OP
Miguel Gomes Dinis
@João Paulo C. Ribeiro não concordo.

Ou até posso concordar numa apreciação mais transversal e excedente à marca Alfa Romeo onde cabe um conceito globalizado e vaticinado pelo Lee Iaccoca há 70 anos atrás, mas já lá irei.

Se dissermos que um 145/6 ou um 155 comungam de excessivas afinidades com os Fiat contemporâneos, sim.

Se dissermos que o 164 é produto de sinergia com o Croma, o Thema e o Saab 9000, menos. O 164 foi o projecto mais diferenciado e autonomamente motorizado de todos os 4.

Se dissermos que o 156 é um Fiat mais elegante, não. De todo.

A única coisa que o Alfa 156 importa da Fiat é a plataforma tipo III, mas de tal forma evoluída que já nada tem a ver com esta, e o bloco dos motores twin spark com cabeça alfa romeo (e os JTD common rail, pioneiros à data, nos quais pelo propósito não vejo qualquer problema na partilha dentro do grupo). O bloco é muito pouco para definir a identidade de um motor.

O Alfa Romeo 156 tem duplos triângulos altos na frente e multilink atrás. Tem - 0,39º de Camber e Caster a 3º nas versões Sport com eibach e bilstein de série. Tem uma direcção muito mais comunicativa e de melhor leitura. Portanto tem tudo (muito) melhor e (muito) diferente do que qualquer Fiat do seu tempo.

Na verdade, e para quem gosta do automóvel para o que ele é feito só não tem tracção atrás, mas nas versões mundanas de 4 cilindros não tem rigorosamente nada a temer por comparação com um BMW E46 contemporâneo.

Evidentemente que quando a cilindrada e o peso acrescentem momento ao eixo de viragem abre-se um range muito maior que vai comodamente até aos 343cv do M3 e se fica pelos 250cv do GTA. É este o único entrave evidente do 156, e não é do 156, é do limite da física no seu tempo. Não é sensato porque não é (era) possível usar 300cv (que em tese seriam possíveis de extrair com alguma facilidade do 3.2 Busso) num tudo à frente.

A questão dos Alfa Romeo Milano, bom, os modelos pré - guerra estavam no zénite do que o automóvel tinha para oferecer, os modelos pré-fiat estavam no topo da oferta do que um construtor generalista tinha para oferecer. A oferta actual (que é escassa e desactualizada para os bizarros padrões de consumo dos dias de hoje) é do mais competente que se pode encontrar. O Giulia que foi verdadeiramente pensado pela equipa importada da Ferrari foi o Giulia Quadrifoglio. Um 2.2 Diesel herdou muito da versão topo, basta olhá-lo nas entranhas com atenção, tudo ao contrário do que é comum que passa pelo projecto apimentado de uma versão pensada para ser base. O Giulia foi projectado do topo para a base desde o princípio.

Portanto, dizer que um 156 não é um verdadeiro Alfa Romeo e de pleno direito é tão errado quanto dizer que piano vertical não merece o nome do instrumento.

A Alfa Romeo faliu várias vezes no curso da sua história. Muitas vezes por má gestão, outras tantas porque construía carros que valiam mais do que custavam (o que continua a ser má gestão). O 156 foi sumo espremido da meia laranja que ficou até à última gota, o que foi feito com o coração e a alma que só esta marca, e com todas as vissicitudes, consegue com tão pouco.

O Alfa Romeo 156 é um EXTRAORDINÁRIO automóvel, e um EXCELENTE Alfa Romeo. Foi o Giulia 105 do seu tempo. E foi tudo que um Alfa Romeo deve ser com aquilo que se pode ter. É um produto de imensa virtude e de carácter defeito. Não pode e não é possível ser confundido com nenhum outro desde o momento que se olha, passando pela generosa e autêntica experiência de o conduzir, e acabando 25 anos depois a fazer com que sempre que vejo um pare e lhe tire o chapéu que não tenho.

Quanto ao mais, e voltando ao início. A Alfa Romeo já não é o que foi. É verdade, é sê-lo-á menos. Ainda está semana o Luca Di Montezemolo disse que da indústria automóvel italiana sobra parte da Ferrari conjugada com um bem sucedido projecto financeiro.
Mas pergunto, alguma marca é aquilo que foi? O Lee Iaccoca vaticinou que a Industrial automóvel reduzir-se-ia no futuro a 5 grandes grupos. Diria que anticipou bem o caminho que a história acabou por cumprir.

Quando da Europa resta o R&D sobra a montagem de componentes que o mundo inteiro globalizado construiu. E quando se globaliza certo é que ou se fica para trás, ou se fica igual a muitos.

Uma coisa é certa, se hoje um 156 entrou no primeiro patamar da consagração que o tempo amadureceu, daqui a mais 25 só poderá consolidar-se mais ainda quanto à posição que construiu por direito.
 
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João Paulo C. Ribeiro

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Opiniões...

só alguns comentários...

Ou até posso concordar numa apreciação mais transversal e excedente à marca Alfa Romeo onde cabe um conceito globalizado e vaticinado pelo Lee Iaccoca há 70 anos atrás, mas já lá irei.

Se dissermos que um 145/6 ou um 155 comungam de excessivas afinidades com os Fiat contemporâneos, sim.

Se dissermos que o 164 é produto de sinergia com o Croma, o Thema e o Saab 9000, menos. O 164 foi o projecto mais diferenciado e autonomamente motorizado de todos os 4.

Se dissermos que o 156 é um Fiat mais elegante, não. De todo.

Aqui estamos de quase de acordo. O 164 é muito elegante. O V6 é fascinante. E no entanto o SAAB, para mim, com o motor turbo é mais cativante e até em algumas circunstancias mais excitante de conduzir. E chega ao fim da viagem...

A única coisa que o Alfa 156 importa da Fiat é a plataforma tipo III, mas de tal forma evoluída que já nada tem a ver com esta, e o bloco dos motores twin spark com cabeça alfa romeo (e os JTD common rail, pioneiros à data, nos quais pelo propósito não vejo qualquer problema na partilha dentro do grupo). O bloco é muito pouco para definir a identidade de um motor.

O Alfa Romeo 156 tem duplos triângulos altos na frente e multilink atrás. Tem - 0,39º de Camber e Caster a 3º nas versões Sport com eibach e bilstein de série. Tem uma direcção muito mais comunicativa e de melhor leitura. Portanto tem tudo de diferente para (muito) melhor e (muito) diferente do que qualquer Fiat do seu tempo.

Pois é. Tudo verdade. Mas... não achei muito diferente. (nunca andei nos V6 2.5 e/ou 3.0). Nem vou comentar os Diesel. Fiaveis são.

A oferta actual (que é escassa e desactualizada para os bizarros padrões de consumo dos dias de hoje) é do mais competente que se pode encontrar. O Giulia que foi verdadeiramente pensado pela equipa importada da Ferrari foi o Giulia Quadrifoglio.

Curiosamente o actual Giulia está mais perto do que a Alfa foi em tempos. Mas 'too little too late'.

O Alfa Romeo 156 é um EXTRAORDINÁRIO automóvel, e um EXCELENTE Alfa Romeo. Foi o Giulia 105 do seu tempo. E foi tudo que um Alfa Romeo deve ser com aquilo que se pode ter. É um produto de imensa virtude e de carácter defeito. Não pode e não é possível ser confundido com nenhum outro desde o momento que se olha, passando pela generosa e autêntica experiência de o conduzir, e acabando 25 anos depois a fazer com que sempre que vejo um pare e lhe tire o chapéu que não tenho.

Aqui é que estamos em total desacordo. O 156 não foi o Giulia 105 do seu tempo. Tentou ser. Tem linhas belas e elegantes. Mais que os 105 nos anos sessenta. Bem equipado, com um chassis relativamente competente, com uma fiabilidade superior à dos Alfa do período dourado de que tanto gosto. E no entanto não teve o êxito que deveria ter tido. Talvez por ser o produto de compromissos difíceis ou mesmo impossíveis. Talvez porque não se demarcou suficientemente do que os concorrentes ofereciam. Quando apareceu achei fantástico. Depois...

Mas pergunto, alguma marca é aquilo que foi?

Claro que sim. E algumas estão muito melhor. Olha a Peugeot.

Quando da Europa resta o R&D sobra a montagem de componentes que o mundo inteiro globalizado construiu. E quando se globaliza certo é que ou se fica para trás, ou se fica igual a muitos.

E estamos outra vez de acordo.

De qualquer forma....

Temos opiniões diferentes sobre esse carro.

Não gosto do 156?

Claro que gosto.

Mas não o ponho no pedestal em que alguns portalistas o colocam.

Quem nunca experimentou na época a diferença do que era um verdadeiro Alfa Romeo em relação aos carros pão com manteiga da altura nunca me vai entender
 
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OP
OP
Miguel Gomes Dinis
Aqui estamos de quase de acordo. O 164 é muito elegante. O V6 é fascinante. E no entanto o SAAB, para mim, com o motor turbo é mais cativante e até em algumas circunstancias mais excitante de conduzir. E chega ao fim da viagem...

Não tenho opinião sobre o Saab para além do motor (Tive um 93 que nada teve a ver com isto, era um autêntico Frankenstein com restos de Opel e motor JTD. Uma coisa estranhíssima). Andei muito num Fiat Croma quando criança, e até na versão popular desta joint venture encontrava alguns encantos que o identificavam como italiano, nada de extraordinariamente marcante.
Quanto à chegada ao fim da viagem é preconceito, não tenho interesse em dirimir.

Aqui é que estamos em total desacordo. O 156 não foi o Giulia 105 do seu tempo. Tentou ser. Tem linhas belas e elegantes. Mais que os 105 nos anos sessenta. Bem equipado, com um chassis relativamente competente, com uma fiabilidade superior à dos Alfa do período dourado de que tanto gosto. E no entanto não teve o êxito que deveria ter tido. Talvez por ser o produto de compromissos difíceis ou mesmo impossíveis. Talvez porque não se demarcou suficientemente do que os concorrentes ofereciam. Quando apareceu achei fantástico. Depois...

O chassis não é relativamente competente. É MUITO competente. Não vou entrar na discussão estéril de que é mais competente que o quê, até porque não conheço a fundo a concorrência directa inteira do seu tempo, mas vou dizer com grande margem de segurança, porque também conheço muito bem a unanimemente considerada melhor concorrência (BMW E46) e posso afirmar com muita confiança que não é melhor. Se comparada com a versão Sport equivalente do 156 diria que não chega a ser tão bom (sempre 4 cilindros, bem entendido).

O 156 é o carro do segmento D que menos cedeu a compromissos e mais se comprometeu com o fulano que gosta verdadeiramente de automóveis, e que herdou o espírito e a vontade que conheceu ou entendeu conhecer do Giulia 105. A comparação aqui não é directa, seria até descabida dada a concepção e o tempo que separa os 2, mas é extraordinário perceber que não obstante tudo isto, e se excluirmos o 155 da equação, desde o Giulia até ao... Giulia a sensação é imediatamente familiar como estando ao volante de um Alfa Romeo.

Quanto a demarcações, é exactamente pelo dito, e de longe, a berlina que mais se demarca das demais do seu tempo. Pelo desenho, pela pureza espartana de um essencial desenhado e um acessório inexistente, pela direcção, pela suspensão, pela experiência de condução, pela linha de cintura, pela claustrofobia interior... por tudo. Numa corrente de iguais é o mais diferente do que se podia encontrar.

Diria que passaste pelo carro sem o ver, e que se o viste, clamorosamente não o conseguiste entender, o que é estranho porque no diálogo deste carro connosco o difícil é não perceber aquilo que ele tão expressivamente nos oferece.

Pois é. Tudo verdade. Mas... não achei muito diferente. (nunca andei nos V6 2.5 e/ou 3.0). Nem vou comentar os Diesel. Fiaveis são.

O 156 não teve 3.0 v6, teve 2.5 e 3.2 no GTA. Curiosamente, ou não, não é no V6 que o 156 exalta as suas maiores virtudes. Conduzir um 156 V6 é uma experiência nobre e sublime, mas composta a 2 momentos paralelos, um é o carro que perde qualquer coisa no seu equilíbrio pelo peso à frente, outro é o privilégio de ter como companhia o V6 Busso debaixo do capot, pela capacidade, pelo desempenho, pelo encanto e pela sinfonia.

Claro que sim. E algumas estão muito melhor. Olha a Peugeot.

Todos os carros e marcas estão melhores do que alguma vez foram. Curvam melhor, andam mais, são mais seguros e globalmente competentes. Não é esse o argumento que pretendi convocar, porque se o fosse, este espaço onde estamos não faria qualquer sentido. Estando-me genericamente nas tintas para os Peugeot, confesso, são o produto acabado, esses sim, do que acabas de elencar relativamente aos 156. São um conjunto pragmático que pretende dar resposta à solicitação do mercado. São um excelente produto na óptica empresarial na medida em que entregam o que o mercado pretende massivamente e com margens de lucro bem maiores por unidade do que fizeram, o que configura um excelente modelo de gestão... o que não poderia ser menos interessante quanto ao que estamos aqui a falar. (Parabéns Carlos Tavares, excelente trabalho para o grupo de accionistas. Digo-o sem ponta de ironia e com toda admiração, a mesma que tenho pela BASF e pela Unilever, respectivos líderes de mercado).

De qualquer forma....

Temos opiniões diferentes sobre esse carro.

Não gosto do 156?

Claro que gosto.

Mas não o ponho no pedestal em que alguns portalistas o colocam.

Quem nunca experimentou na época a diferença do que era um verdadeiro Alfa Romeo em relação aos carros pão com manteiga da altura nunca me vai entender

O 156 não foi colocado num pedestal, por mim, pelos portalistas ou outros. Foi ele que lá se pôs. Com todo o mérito diga-se de passagem.

Continuo a dizer que passaste ao lado do 156 que não é, de todo, um pão com manteiga. É cozinha de autor com verdadeiro paladar.

Conheço felizmente bem vários (muitos) Alfa Romeo do tempo em que faziam carros para perder dinheiro. São extraordinários.

São aquilo que devem ser, para lá do que se pode ter.

O 156 também é o que deve ser, só que dentro do que se pode ter.

O que mudou aqui foi tempo, momento e disponibilidade financeira. Quanto à integridade e personalidade, não é menos alfa romeo que nenhum outro porque conseguiu fazer muito com pouco, sendo que traduzir exatamente isto na sua época cumpre um desafio que só com a alma de sempre foi possível superar com brilhantismo.

Nota:

Tenho uma 159. Quase nada deste discurso se lhe aplica, e aqui sim, um Alfa Romeo 156 é verdadeiramente MAIS Alfa Romeo do que um 159 algum dia foi.
 
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