Conta apagada 31475
Antes Francisco Lemos Ferreira
A evolução constante do desporto automóvel trazia-me sempre algo de mais competitivo, de mais belo, com performances que me arrastavam para a beira das classificativas e das pistas. Assim aconteceu ao longo de mais de vinte anos, e nunca deixei de ir a uma prova do Mundial de Ralis, do Nacional de Autocross, ou outra qualquer sem que o fizesse sempre com sentido profissional, mas com inegável paixão.
Felizmente assisti a grandes vitórias de Kankunnen, Sainz, Auriol, Biasion entre outros, em provas como o Rali de Portugal, Monte Carlo, Sanremo, Córsega ou Grécia e nunca me passou pela cabeça que um dia essas provas pouco ou nada me diriam, em termos desportivos.
Quis também o destino que vivesse em directo alguns dos sucessos de Senna, Prost ou Mansell, numa altura em que isso representava para mim um verdadeiro sonho, e nunca me passou pela cabeça que um dia essas provas pouco ou nada me diriam, trocando-as em termos televisivos por qualquer corrida de Moto GP, a que nunca dei grande importância ao longo de toda a minha vida.
Por cá percorri milhares de quilómetros, apanhei molhas tremendas, passei noites sem dormir, mas nunca falhava a uma prova do nacional de ralis, ás melhores provas da Montanha ou da Velocidade, sempre movido por uma intensa paixão, em torno do espectáculo que essas provas me ofereciam.
Com tudo isto os carros das décadas anteriores iam caindo no esquecimento, e os sonhos eram transferidos de ano para ano, de Escorts para Fiats, de Commodores para Porsches e por aí a fora, mas sempre acompanhando as modas e evoluções das diferentes modalidades.
Chegou contudo o século XXI, e algo terá mudado, pois gradualmente tudo isso se foi perdendo, aquela paixão pelas provas desvaneceu-se, raramente me sinto motivado para ver provas de carros que não permitem grande espectáculo, dificilmente apanho uma molha para assistir a corridas de velocidade com carros super evoluídos, super caros, super chatos.
Sinto mais admiração por um Cooper, um Escort ou Bmw dos anos antigos que por qualquer destes multicaros Lamborghini, Ferrari ou Aston Martin, que me fazem sentir mais num desfile de misses que numa prova de automóveis. Mesmo nos ralis com todo aquele show-off e tecnologia, não consigo ver passar um Citroen sem me lembrar dum Escort ou um Fiesta sem me lembrar dum Opel Kadett e quando olho para Solberg vejo Kankunnen, para Latvala vejo Vatanem ou Toivonen.
Caramba será do clima será da idade, será nostalgia ?
Talvez não, porque vejo-me outra vez a percorrer quilómetros para ver provas de clássicos, a voltar a viajar com prazer para assistir a provas onde competem esses carros que tinha esquecido durante mais de vinte anos.
A paixão regressou em força, mas veio direcionada para o passado, para todas as belezas tecnológicas que aí se viveram, para o grande ambiente que aí se vivia, para o fair-play com que se faziam coisas tão belas e se construíam momentos tão raros!!!
Ainda pensei, estou velho, mas pasme-se pois em qualquer prova dessas a que me desloco, os jovens são largamente uma maioria, nas provas em que participo, os jovens preenchem as listas de participantes, e sou quase dos poucos “velhos Chalupas” que por lá andam como carinhosamente me apelidam.
Isso deixa-me apreensivo, mas ao mesmo tempo bastante feliz, pois se começo a ter a certeza que o desporto automóvel não terá um grande futuro, pelo menos esses jovens terão um grande passado para recordar e tentar reeditar.
Afinal… o futuro parece que vem do passado, pelo menos nos automóveis!!!
José Silva
Maio 2012
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