Nostalgia...talvez Não - Crónica De José Silva

Conta apagada 31475

Antes Francisco Lemos Ferreira
297956_10150310134988649_167217678648_8041804_4540233_n.jpg
NOSTALGIA… TALVEZ NÃO
Embora tenha começado a assistir a corridas de automóveis com tenra idade, o que me permitiu conviver com alguns dos mais belos automóveis do mundo, com o decorrer dos anos fui-me esquecendo de muitos deles.
A evolução constante do desporto automóvel trazia-me sempre algo de mais competitivo, de mais belo, com performances que me arrastavam para a beira das classificativas e das pistas. Assim aconteceu ao longo de mais de vinte anos, e nunca deixei de ir a uma prova do Mundial de Ralis, do Nacional de Autocross, ou outra qualquer sem que o fizesse sempre com sentido profissional, mas com inegável paixão.
Felizmente assisti a grandes vitórias de Kankunnen, Sainz, Auriol, Biasion entre outros, em provas como o Rali de Portugal, Monte Carlo, Sanremo, Córsega ou Grécia e nunca me passou pela cabeça que um dia essas provas pouco ou nada me diriam, em termos desportivos.
Quis também o destino que vivesse em directo alguns dos sucessos de Senna, Prost ou Mansell, numa altura em que isso representava para mim um verdadeiro sonho, e nunca me passou pela cabeça que um dia essas provas pouco ou nada me diriam, trocando-as em termos televisivos por qualquer corrida de Moto GP, a que nunca dei grande importância ao longo de toda a minha vida.
Por cá percorri milhares de quilómetros, apanhei molhas tremendas, passei noites sem dormir, mas nunca falhava a uma prova do nacional de ralis, ás melhores provas da Montanha ou da Velocidade, sempre movido por uma intensa paixão, em torno do espectáculo que essas provas me ofereciam.
Com tudo isto os carros das décadas anteriores iam caindo no esquecimento, e os sonhos eram transferidos de ano para ano, de Escorts para Fiats, de Commodores para Porsches e por aí a fora, mas sempre acompanhando as modas e evoluções das diferentes modalidades.
Chegou contudo o século XXI, e algo terá mudado, pois gradualmente tudo isso se foi perdendo, aquela paixão pelas provas desvaneceu-se, raramente me sinto motivado para ver provas de carros que não permitem grande espectáculo, dificilmente apanho uma molha para assistir a corridas de velocidade com carros super evoluídos, super caros, super chatos.
Sinto mais admiração por um Cooper, um Escort ou Bmw dos anos antigos que por qualquer destes multicaros Lamborghini, Ferrari ou Aston Martin, que me fazem sentir mais num desfile de misses que numa prova de automóveis. Mesmo nos ralis com todo aquele show-off e tecnologia, não consigo ver passar um Citroen sem me lembrar dum Escort ou um Fiesta sem me lembrar dum Opel Kadett e quando olho para Solberg vejo Kankunnen, para Latvala vejo Vatanem ou Toivonen.
Caramba será do clima será da idade, será nostalgia ?
Talvez não, porque vejo-me outra vez a percorrer quilómetros para ver provas de clássicos, a voltar a viajar com prazer para assistir a provas onde competem esses carros que tinha esquecido durante mais de vinte anos.
A paixão regressou em força, mas veio direcionada para o passado, para todas as belezas tecnológicas que aí se viveram, para o grande ambiente que aí se vivia, para o fair-play com que se faziam coisas tão belas e se construíam momentos tão raros!!!
Ainda pensei, estou velho, mas pasme-se pois em qualquer prova dessas a que me desloco, os jovens são largamente uma maioria, nas provas em que participo, os jovens preenchem as listas de participantes, e sou quase dos poucos “velhos Chalupas” que por lá andam como carinhosamente me apelidam.
Isso deixa-me apreensivo, mas ao mesmo tempo bastante feliz, pois se começo a ter a certeza que o desporto automóvel não terá um grande futuro, pelo menos esses jovens terão um grande passado para recordar e tentar reeditar.
Afinal… o futuro parece que vem do passado, pelo menos nos automóveis!!!
José Silva
Maio 2012

Este post foi promovido a noticia
 

Guilherme Bugalho

BUGAS03
Portalista
"Caramba será do clima será da idade, será nostalgia ?"

Nostalgia não é, e a idade não bate assim .... :lol:
Autentico poema para os meus ouvidos/olhos/cerebro. É o reviver de episódios das nossas vidas, numa altura em que as "distracções", por vezes, eram apenas mais um episódio numa longa lista de aventuras; e que "a vida moderna" se encarregou de terminar.
Obrigado
 

Eduardo Relvas

fiat124sport
Premium
"Caramba será do clima será da idade, será nostalgia ?"
Nostalgia não é, e a idade não bate assim .... :lol:
(...)

:lol: :lol: :lol:

Quem diria que tínhamos aqui um serão de poesia?! :lol:

Mas regressando ao tópico, é a mais pura das verdades, o desporto automóvel actual está lentamente a criar uma apatia estupidificante com as suas eficiências extremas e detalhes analisados de forma cada vez mais anal, sem deixar espaço para o factor humano e emocional. É por isso que os clássicos movem cada vez mais as pessoas.

Eu assisti a muito pouco em termos de provas automobilísticas em miúdo. Tínhamos todos os anos a Rampa de Portalegre, isso sim, mas de resto eram os GP na televisão e pouco mais. Ralis lembro-me de ver alguns resumos mas nunca vi ao vivo. Também convivi de perto com a Baja, por vezes dando apoio a amigos. Mas nunca me disse muito.

Comecei a entusiasmar-me quando assisti a algumas das últimas edições da Rampa, isso sim, porque começaram a integrar Clássicos. Nos anos anteriores a prova tinha começado a perder alguma piada, já não tinha o mesmo gozo de quando se ouviam os carros e se sentia o chão a tremer antes de os vermos. Mas os clássicos dão espectáculo, dão mais para ver o homem que está ao volante a fazer a sua vontade superar a da máquina e das leis da Física, e isso sim é um bom espectáculo.

Depois comecei a ler revistas de clássicos estrangeiras quando fui para a faculdade, e aí fiquei colado. As histórias de corridas lendárias disseram-me muito mais que os correntes, e quanto mais lia, mais queria ler. Os carros em si também sempre foram mais entusiasmantes, com linhas mais arrojadas, mais vincadas, com personalidade que os modernos nunca conseguirão ter.

Quando se gosta verdadeiramente de carros, mais cedo ou mais tarde, vem-se ter aos clássicos. Porque a imperfeição e a simplicidade têm encanto, enquanto o design por comité e o marketing só produzem, como eu lhes chamo, electrodomésticos.

Bem, obrigado por este pedacinho... agora vou de volta para a garagem dar mais uns avanços na BMW...

Um abraço a todos!
 
Topo