Capítulo XIII
Este capítulo está atrasado. Já lá vão um mês que se cumpriu o primeiro desígnio do Elefante Branco: ir a Armação ao encontro mensal. Grande aventura! Ora aqui fica para a posteridade (sim, essa) como (quase) tudo se passou.
Aproveitando o facto do encontro de Armação calhar ao Domingo, convidei antecipadamente o júnior, companheiro de quase todas as aventuras que metam carros, verdadeiros, televisionados, de Lego ou da hot wheels, e agendámos para a madrugada de dia 6 de Novembro o tão esperado passeio. Levantámo-nos com as galinhas, para não chegar demasiado tarde, e depois do pequeno almoço lá nos fizemos à estrada, na primeira grande viagem da carripana. 54 km, de acordo com o Google Maps. Quase um Paris-Dakar! A viagem fez-se com suavidade. Depois de engrenada a 4ª velocidade, praticamente não foi necessário tornar a mexer na alavanca, e rolámos confortavelmente com o tráfego, sem nunca exceder o limite de velocidade. Mas cheguei a atingi-lo... dentro das localidades, que isto não está para velocidades, e ainda não tenho a certeza de que alguma peça não vá saltar. O puto, contentíssimo por não ter cinto de segurança, passeava alegremente pelo banco de trás, ora à esquerda, ora à direita, frequentemente ao meio, com o queixo quase apoiado no meu ombro, para ver melhor o caminho. Vantagens do banco corrido. Felizmente, com estes travões, uma travagem brusca é algo extremamente improvável, e apesar de o mandar recostar, acabava sempre apoiado no banco da frente, a contar os carros. Finalmente lá chegámos ao destino, e aqui se deu o primeiro grande desapontamento: o mundo não parou para ver chegar o Cortina. Oh, desilusão cruel! Eu, repimpado na poltrona recentemente estofada, inchado como uma lula acabada de rechear, cheio de orgulho pelo meu espada recém voltado ao asfalto, e ninguém ligou nenhuma. Nem trombetas, nem ahs! e ohs! de admiração, nem passadeira vermelha... Um rude golpe no meu novo ego de proprietário de veículo clássico. Só dei realmente nas vistas quando quis recuar o carro para o estacionar e demorei os 5 minutos da praxe à procura da marcha-atrás. Aí sim, senti que toda a gente olhava para mim para ver o que se passava. Enfim, depois do Elefante enfiado no estábulo (ou estrebaria, ou curral, ou seja lá qual for o nome do sítio onde se guardam os elefantes) fomos dar uma volta para ver o que havia por ali. Afinal era esse o objectivo principal da viagem. Passei o telemóvel ao júnior para fazer a reportagem fotográfica, como sempre, e lá fomos admirar os espadas dos outros senhores. Facilmente percebi que um Ford Cortina faz muito mais vista entre os Kias e Meganes lá da rua, do que entre as obras de arte que por aqui estavam expostas. Não admira que não desse nas vistas. Para evitar uma lista extensa, já publicada no local adequado por outras pessoas, apenas aqui deixo um ou outro que me chamou mais a atenção, de entre os registos do júnior:
Ver anexo 1056207
Ver anexo 1056205
Ver anexo 1056206
Um pouco mais á frente, outra machadada no já esfacelado ego. Quando pensava que tinha um carro exótico, que raramente se vê por aí, e que iria contribuir para aumentar a variedade do certame, se não a qualidade, eis que...
Ver anexo 1056209
Pumba, outro Ford Cortina Mk 2. E um GT, ainda por cima, só para me envergonhar, com o meu mísero Deluxe. Já tinha ido a Armação à paisana mais do que uma vez, sem Cortina, e nunca tinha lá visto um carro igual ao meu, e logo no primeiro dia em que o levei... Lá se foi a exclusividade. Atenção, não me interpretem mal: gostei muito de ver o carro, gostei mais ainda de conversar com o proprietário, aprendi bastante e tirei umas quantas dúvidas. Espero que lá apareça mais vezes, e que brevemente os possamos estacionar lado a lado. A união faz a força.
Por volta do meio dia, com o puto já a dizer que estava farto daquilo, que já tinha visto os carros todos, e com a abarriga a dar sinal que tínhamos que ir andando, lá viemos embora. Com uma manobra arriscada saí sem ter que usar a marcha atrás (para evitar embaraçar-me à procura dela outra vez) e pusemo-nos a caminho, dispostos a percorrer de novo os 54 km até casa.
Aqui é que as coisas se começaram a complicar. Já tinha notado uma folga na direcção, mas talvez tenham sido 54 km demais, essa folga aumentou de tal forma que á chegada já quase não conseguia manobrar. Além disto, só quando parei o carro à porta de casa é que reparei numa grande mancha de óleo. DENTRO DO CARRO! Já aconteceu a mais alguém? Se isto não é exclusividade... Já sabia que pingava um pouco, julgo que da caixa de velocidades ou da direcção, mas costumava ficar debaixo da viatura, não lá dentro. Conclusão: fui falar com o Sr Dr, apesar das minhas reticências face ao pouco entusiasmo que tinha desmonstrado anteriormente, e ele veio cá a casa buscá-lo. Logo ali lhe fez o diagnóstico: o óleo dentro do carro vinha do medidor da pressão do óleo ( um record que pelos vistos não ficou bem feito); a direcção folgada, foi os casquilhos que se desfizeram (calculei que algo semelhante acontecesse, depois do carro começar a andar ao fim de estar tanto tempo parado); o óleo debaixo do carro, seria do vedante da caixa de direcção (seja lá isso o que for).
Pronto, voltamos à estaca zero, o carro na oficina e eu na internet à procura de coisas que não sei o que são, com nomes que não compreendo e que tenho que traduzir para inglês. As boas notícias são que já tenho o que me pediram. Ao princípio foi complicado, porque o que me recomendaram foi kits de reparação já não sei bem do quê, os quais continham as peças de que necessitava. Até aqui tudo bem, mas um dos kits custava 50£ e o outro 30£. Mais portes. Procurei mais um pouco e os senhores da Burton Power recomendaram-me umas peças que me ficaram por 17€ (com portes) e que na fotografia eram vermelhas, o que eu achei que iria ficar espectacular debaixo do carro, onde não se vêm, mas que afinal chegaram discretamente pretas. O vedante da caixa de direcção foi mais difícil. Podia fazer-me sócio do clube e comprar-lhes as peças, mas teria que pagar a anuidade, e não vi vantagens nisso (para além de ter acesso às peças, mas espero que o chasso pare de avariar) porque não vou a encontros ou iniciativas que eles organizem. Acabou por ser um senhor muito simpático da Austrália quem se ofereceu para me disponibilizar a peça. Enviou-ma ainda antes de lhe fazer o pagamento e quando fui para regularizar esse pormenor a reposta que tive foi, e cito: "Happy Christmas. Nothing to pay.." Com o coração enternecido e uma lágrima no canto do olho, perante tanta boa vontade, insisti em pagar, até porque posso vir a precisar de mais qualquer coisa, e as boas contas fazem os bons amigos, mas a resposta foi, e cito outra vez: "This is what classic car ownership is all about. To keep the cars going.."
Com a voz embargada de comoção escrevi-lhe a agradecer, e agora tenho que descobrir como eu, que não percebo nada de coisa nenhuma, posso ajudar outras pessoas. Se alguém precisar de uma ajuda para empurrar o carro, fale comigo.
PS: com tanta reportagem fotográfica, o júnior esqueceu-se de tirar fotografias ao meu carro. Nem uma, do seu primeiro grande encontro. Deixo aqui um frame do filme que fiz, para não dizerem que sou sovina nas fotos. Quem dá o que tem...
Ver anexo 1056210