Saab Saab 900 Turbo APC - 1983

Diários de Bordo

Saab Saab 900 Turbo APC - 1983

Rui Durão

Veterano
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Viva,

Como prometido no tópico de apresentação, aqui começo o diário de bordo do meu Saab 900 Turbo de 1983. Nos últimos meses já fiz muita coisa ao carro, mas tenho muito poucas fotos (prometo compensar no futuro).

A fotografia que está na apresentação é do anúncio do vendedor - que estava em Fafe. Ao fim de umas quantas conversas por telefone, numa manhã de agosto de 2017 lá me enfiei no comboio para Guimarães, com encontro combinado para ver o carro.

O vendedor já lá estava à minha espera, com o carro estacionado, e a primeira impressão é positiva, e bate certo com a descrição telefónica - em bom estado geral, dois ou três pontos de ferrugem, interiores em bom estado, portas alinhadas e a fechar bem. Tampa do óleo sem cores estranhas, líquido de refrigeração com bom aspeto, sem ser fresco. Documentos em ordem. Estava a correr bem.

Vamos então dar uma volta para ver como isto anda. Roda a chave (sem antes fazer a figura de urso de tentar enfiar a chave junto ao volante, apesar de estar cansado de saber que nos Saab não é ali...), e primeira surpresa: é verdade que a Saab se dedica a fazer aviões, mas não havia necessidade do carro estar a tentar imitar um. Uma espreitadela rápida debaixo do carro mostra pelo menos um belo buraco no escape a seguir à panela intermédia. Mau, isto não foi falado ao telefone. Vamos seguir.

Umas voltas por Guimarães, um pouco de via rápida, o carro anda direito, trava direito (mais tarde descubro que isso não é bem assim - já lá irei), puxa muito bem numa subida pronunciada... mas o ponteiro da temperatura começa a subir. O vendedor diz que é mesmo assim, estabiliza ali nos 3/4 da escala e já não sobe mais. Vamos lá ver isso, entro em Guimarães outra vez, uns semáforos, pára-arranca, um bocado de trânsito, e de facto o ponteiro não passa dali. As ventoinhas disparam, a coisa parece funcionar.

Regatear o preço porque o escape roto não estava previsto, dar boleia ao homem de volta para Fafe, e começar a viagem de 400 km até casa - num carro com 34 anos, num dia solarengo de agosto. É só pensar positivo.
 

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Antonio Valerio

Clássico
Uma grande máquina, a uns meses andou um 900 turbo de 1992, um carro um pouco mais moderno mas com o aspecto de clássico !

Como esta o sistema de injecção ? Costumam ser um pouco chatos, mas sei que existe quem os refaça no reino unido !

Também tenho um com a carroçaria igual, de 1982 mas é o Gls !
 
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Rui Durão

Rui Durão

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A injeção está muito boa, não tenho fugas de vácuo nem de combustível, ralenti certinho, e o carro acelera bem. Mas a verdade é que o carro tem passado os últimos meses parado, portanto se calhar ainda vou descobrir problemas por aí...
 
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Rui Durão

Rui Durão

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Começa a aventura da viagem...

Estou eu perdido no meio de Fafe, a preparar-me para uma longa viagem até casa. É claro que levei o suporte de telemóvel e o carregador de isqueiro, portanto vamos lá montar isto para descobrir o caminho para casa (ou só para sair de Fafe!). Pois... não dá. O famoso (e impressionante) vidro do 900, com uma curvatura inspirada na dos aviões, não tem um único pedacinho de vidro plano. Portanto, a ventosa do suporte de telemóvel não se agarra em lado de nenhum. Nem no tablier. Nem no retrovisor (sim, tentei, mas a superfície de vidro era mais pequena do que a ventosa). Nem na face do painel de instrumentos, porque este também é... curvo. Pronto, fica o telemóvel pousado em frente ao painel, por trás do volante. Liga o cabo ao isqueiro e... nada. Isqueiro morto (mais tarde descobriria que precisava apenas de uma limpeza, já funciona). Isto está a correr bem.

Procuro uma bomba de gasolina para atestar o depósito, ver a pressão dos pneus, e calha aparecer um intermarché. Aproveito para comprar um litro de óleo, um garrafão de líquido de radiador, fruta, água, vamos lá. Ainda não é meio dia, o o calor já aperta, e eu ainda tenho 400 km para fazer - isto vai correr bem, isto vai correr bem...

Depois de encher o depósito noto que a agulha do indicador de combustível continua no mesmo sítio, ligeiramente abaixo do 1/4 de depósito. Pouco depois, e já a andar, desbloqueou, e saltou para cima, mas depois não parecia descer com os kms. Já não confiei mais na coisa. Pelo caminho parei 4 ou 5 vezes para meter gasolina, porque não sabia que consumos esperar do carro, e sempre aproveitava para lhe dar algum descanso, verificar os níveis, esticar as pernas...
 
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Rui Durão

Rui Durão

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Enquanto os quilómetros vão passando, ao descontraído ritmo de 100-120 km/h, vou reparando e criando uma lista mental dos problemas a verificar. Aquela agulha da temperatura a 3/4 mantêm-se estável, mas aquilo não pode ser assim, tenho de verificar. O vendedor disse-me que o carro tinha levado um radiador novo (e confirmava-se), e se calhar alguma coisa ficou mal feita. O vidro elétrico do passageiro funcionava muito bem, mas o do condutor demorava uma eternidade a subir. O retrovisor exterior do lado do condutor está solto, vibra mas não parece cair. As calhas do teto de abrir estão gastas, e o teto fecha-se com estrondo numa travagem mais pronunciada (da primeira vez que aconteceu quase larguei uma pinguinha...). O que me incomoda mais durante a viagem é a suspensão... em troços mais sinuosos o carro parece um colchão de água. A traseira, particularmente, ainda está a ondular quando o carro já passou para o próximo distrito... parece que vão ser 4 amortecedores. Se faço uma curva pronunciada para a esquerda (uma rotunda num ritmo vivo) o motor falha, e aparece um cheiro a gasolina.

E as coisas boas: os interiores estão mesmo muito bons, para a idade. Há desgaste normal na pele do banco do condutor, a forra dessa porta também não está muito bem presa, mas o banco de trás, do pendura, a alcatifa... tudo muito bom. O tablier não tem uma única racha, o rádio funciona e até dá para vir a ouvir estática o caminho todo (a antena não está com muita saúde). E o melhor de tudo: não gastou água, e se gastou óleo pelo caminho eu não consegui dar conta.

Cheguei a casa sem problemas um pouco depois das 18h, eu com um sorriso a tentar arrancar um sorriso à patroa, que não ficou nada contente com o barulho de um escape que, depois da viagem, não tinha ficado mais silencioso... Tempo de enfiar o carro na garagem e começar a mexer.
 
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Rui Durão

Rui Durão

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Com o carro na garagem, tempo para um olho mais atento. Confirmo o que tinha suspeitado logo que vi o carro, a cor original não era preto. Algures no tempo o carro foi pintado de creme (original) para o preto (atual). E, em parte, essa é a razão para ainda ter o carro parado na garagem, mas já lá vou.
Descubro algumas soluções criativas, como um pedaço de chapa a segurar a chapeleira, porque o cartão já há muito tinha cedido, uma lâmpada H4 de 100w no farol da frente direito, um ralé grande de alumínio deixado no fundo da bagageira, uma solução criativa para a tampa do líquido dos vidros (é uma das coisas que quero procurar numa sucata):
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Começo a tratar das coisas urgentes para conseguir que o carro passasse na inspeção, cuja data se aproximava (sem fotos...): escape novo completo montado em casa (foi a primeira vez, mas correu muito bem), 4 amortecedores, verificar as luzes todas, pastilhas de travão à frente, sangrar o sistema e fazer figas para que passe na inspeção. Dou uma voltinha para testar tudo, e percebo que o carro já não trava a direito, a roda direita trava muito mais, e portanto o carro foge para aquele lado. Mau. Tentativa de afinar os cabos de travão de mão (que neste carro vai às rodas a frente) para compensar... não dá. Quando sangrei o sistema devo ter desalojado uma qualquer quantidade de porcaria, e agora entupi a maxila do lado esquerdo. Uma visita à internet dá para encomendar tubos de travão novos e 2 kits para reconstrução das maxilas. Mas a inspeção está marcada para o dia seguinte, decido ir na mesma porque sempre ganho 30 dias de circulação, mesmo que o carro chumbe.

No dia seguinte, a caminho do centro de inspeção fico quase sem pressão no pedal do travão. Isto vai mesmo correr mal... estou na fila de espera com o carro ligado para ficar bem quentinho, e a bombear o pedal de travão para ver se recupero pressão. Fazer figas, é a minha vez.

O inspector não era muito comunicativo, perguntou-me onde era a marcha atrás, e qual era o problema com o travão de mão (actua nas rodas da frente, pá!). No fim, chamou-me à salinha onde entregam os documentos, e deu-me uma folhinha verde sem qualquer anotação. Um aperto de mão, um bom dia, e sair dali depressa antes que ele mude de ideias...
 

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Antonio Valerio

Clássico
@Rui Durão os saabs por vezes são "duros de roer", a primeira vez que precisei de chamar o reboque foi com o primeiro saab, foi um pouco chato, mas são carros assim que nos dão inúmeras histórias para contar, e ninguém me tira a satisfação de ter mais um problema, defeito reparado ! Se comprasse um carro novo não ia ter com me entreter, as vezes faz-se bem, outras vezes complica e complica...
 
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Rui Durão

Rui Durão

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É verdade que não tenho feito muitos quilómetros com o carro, mas até agora não encontrei nenhum problema que não fosse ou normal para um carro de 35 anos (peças de desgaste, pontos de ferrugem, etc), ou que não fossem resultado das asneiras de quem lhe mexeu antes (parafusos arrasados, instalação elétrica torrada - já lá irei). Até agora, e pelo que tenho lido também nos fóruns internacionais, confesso que não percebo esta fama que se gerou aqui no portal dos clássicos, dos Saab como carros pouco fiáveis...
 
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Rui Durão

Rui Durão

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Já com o obstáculo da inspeção ultrapassado, tempo para olhar para outros problemas que já tinha descoberto. O primeiro, que me preocupava mais, era o da temperatura. O vendedor dizia que tinha metido um radiador novo, e de facto ele tem aspeto de novo. Presumi portanto que o sistema devia estar razoavelmente limpo. O líquido de refrigeração está no nível certo, e apesar de me aparecerem umas pingas no chão depois de estacionar o carro na garagem (portanto, só tem fuga quando o motor está quente), não parece suficiente para justificar a temperatura elevada. Decido retirar o termóstato para o testar numa panela de água a ferver (lá em casa sou adorado de cada vez que faço isto...), e assim que o retiro percebo o problema. Na altura não me lembrei de tirar fotos, mas algum engenheiro de quintal tinha decidido fazer uns furos no anel do termóstato para aumentar o fluxo de líquido de radiador (provavelmente uma solução para desenrascar antes de trocarem o radiador em si), e com isso deram cabo do termóstato, que já não conseguia abrir completamente - portanto, acabaram por piorar o problema, presumo eu. 10€ depois, um termóstato novo com a especificação correta para este motor (82º C), uma voltinha maior para o carro aquecer bem, e problema resolvido. Eventualmente terei de descobrir de onde vem a fuga, mas para já o carro está a funcionar na temperatura certa.
 
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Rui Durão

Rui Durão

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Próximos problemas, que me pareciam de solução simples: o conta-rotações está morto, e as luzes interiores não funcionam - nem quando se abrem as portas, nem a mala, nem quando se tenta ligá-las no interruptor. Uma inspeção rápida à caixa dos fusíveis mostra um possível culpado:

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Aquele fusível nº7 em falta é precisamente o da iluminação interior. O facto do plástico estar derretido junto ao número não indicia nada de bom, mas meto um fusível novo (16A) para ver no que dá... rebenta instantaneamente. Certo, um curto circuito algures, tenho de procurar os diagramas elétricos disto. Entretanto começo a vasculhar todo o sistema elétrico do carro, e descubro restos de um alarme, e de uma instalação de telefone - desta já sabia, porque tenho uma antena no tejadilho que não é original. Isto afinal não vai ser nada simples...
 

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Rui Durão

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Começo a seguir os fios do alarme e da instalação do telefone (ambos desativados), com a ideia de que o problema da iluminação interior podia estar numa qualquer ligação que tivesse sido alterada por estes sistemas. Ao fim de uma tarde de trabalho, dou com o carro neste estado:
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Os fios do alarme estavam ligados a quase tudo: aos vidros elétricos, às luzes, aos interruptores das portas, ao fecho centralizado... Aqui o controlador do fecho centralizado (que já não é o original), cheio de ligações menos cuidadosas:

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Rui Durão

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Lá acabei por descobrir um dos possíveis culpados pelo problema da iluminação interior:

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Cerca de 40cm de fio queimado, na ligação ao interruptor da iluminação interior que fica perto do canhão de ignição. Queimou o tapete, e derreteu o isolamento de borracha do fundo do carro. Foi uma sorte a coisa não ter pegado fogo antes do fusível rebentar... mas ainda não resolvi o problema da iluminação interior.

Entretanto, todos os fios da instalação do alarme e do telefone já foram retirados. Durante o processo, descubro que quando montaram o carro depois da pintura, a parte elétrica foi toda reinstalada "a olho". Tenho vários fios pendurados, sem ligação a lado nenhum, tenho um ponto de massa no tablier que tem apenas um coto de cabo - alguém cortou simplesmente o cabo, e deixou o terminal aparafusado. Esta montagem deverá explicar não só o problema da iluminação interior, como também o problema do rádio não ter memória, do conta-rotações não funcionar (viria a descobrir que esse caso era diferente), e do relógio também no painel de instrumentos não funcionar.

Hoje, o carro ainda está assim: IMG_20180705_185227.jpg

As folhas em primeiro plano são os esquemas elétricos que imprimi do manual de oficina.

Até agora, esta aventura elétrica teve dois efeitos positivos: aprendi a ler esquemas elétricos (que remédio!), e confirmei o muito bom estado da chapa do carro. O piso não tem um único ponto de ferrugem, está em ótimo estado.
 

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JorgeMonteiro

...o do "Boguinhas"
Membro do staff
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Portalista
Que grande empreitada!!!

Ao menos já se fica a conhecer as entranhas do carro para no futuro não haver receio de atacar os problemas.

Obrigado pela reportagem. Nos intervalos dos problemas dos nossos, gostamos de acompanhar os dos outros. :D
 
Muitos carros são abandonados em garagens ou desfazem-se deles a preços simbólicos muito devido a estes serviços de "m****"".

Existem muitos curiosos com porta aberta e sem qualquer tipo de brilho no seu trabalho, profissionalismo 0x0.

Foi uma sorte o carro não ter ardido...continuação de bons trabalhos.
 

Antonio Valerio

Clássico
O problema da má fama dos Saabs prende-se com mecânicos de esquina. A mecânica e da construção dos Saabs é um pouco diferente, a meu ver bastante intuitiva, mas que tem algumas particularidades, e como há muito mecânico que mexe sem saber, e não para uns minutos para tentar perceber o porquê de ser assim, fazem asneira e da grossa, dando depois má fama aos mesmos !

Está ai uma carga de trabalhos, mas pelos menos ficas a conhecer todos os fios do carro, e não há nada como a satisfação após conseguirmos melhorar e colocar as coisas a funcionarem em condições.

Tenho tido tantas coisas já resolvidas,e outras por resolver, mas o sorriso que estes carros proporcionam aos condutores é muito grande, há aliás uma referência no top gear por o Jeremy Clarkson, questionar o porquê do sorriso dos proprietários de saabs , o video,

 
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