Quando não nos apetece ir para a garagem...

Eduardo Relvas

fiat124sport
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Ok, é hora de o admitir... eu adoro desafios, especialmente aqueles que a maioria descarta logo como impossíveis. E de vez em quando gosto de arranjar uns diferentes para ocupar aquelas horas vagas em que já não apetece ir sujar as mãos num clássico qualquer.

Geralmente acaba por ser de alguma forma ligada com tecnologia e se possível daquelas obsoletas, e foi assim que surgiu a ideia deste novo projecto. A semente foi plantada um dia em que andava a pesquisar objectos para decorar o meu novo espaço de trabalho, e de repente me lembrei do telefone. Não seria giro ter um telefone de disco na secretária? Mas já ninguém os usa... será que é impossível?

Umas horas de pesquisa mais tarde, descobri que: 1 - não era impossível; 2 - não era simples; 3 - não havia material nem ninguém por perto a quem pudesse recorrer, mas existiam kits de conversão no estrangeiro. O meu apetite começou logo a ser espicaçado.

Depois de mais pesquisar, encontrei alguma informação, mas nada que me esclarecesse a operação correcta das normas usadas nas nossas linhas telefónicas fixas nacionais. O especialista que contactei no Reino Unido vendeu-me as peças mas, por não conhecer o sistema nem os telefones, disse-me logo que não poderia dar assistência. Ok, seja... não há-de ser assim tão complicado.

Tratei de comprar um telefone, e depressa o abri para o ver por dentro...

IMG_9199%20Large_zpsxcxhhogl.jpg

A grande diferença para um telefone actual está no disco. A marcação de números nas redes analógicas era conseguida por impulsos (cortes no sinal), feitos por um conjunto de platinados no mecanismo do disco:

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Aqui junto ao disco vê-se parte da conversão, que implica adaptar o telefone ao funcionamento correcto da rede e substituir a parte dos impulsos por um circuito que conta os impulsos no disco ao rodar e os substitui pelo tom adequado (aquele som que se ouve quando tocamos numa tecla dos telefones modernos).

IMG_9201%20Large_zpsy2qdjehp.jpg

O circuito do telefone em si não é sobejamente complicado, mas estamos a tentar incorporar nele uma tecnologia para a qual ele nunca foi pensado, apesar da versatilidade (e qualidade) da construção, que já previa alguma adaptabilidade consoante os sistemas onde fosse necessário enquadrá-lo:

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Convenientemente, os serviços dos CTT incorporavam no interior da tampa o diagrama eléctrico do telefone, para se ter a certeza de onde ligar tudo...

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E depois de uns serões a estudar tudo, a comparar com os modelos ingleses (dos quais fiquei a saber que os nossos telefones nacionais derivam directamente) e a perceber as diferenças das redes (a inglesa é bastante diferente, embora os telefones sejam similares), lá se resolveu tudo... e já posso voltar a discar números, algo que não fazia desde os anos 90! :D

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Ninguém sonha o gozo que me dá agora telefonar a alguém... embora ainda quase tenha um ataque cardíaco quando isto toca! :lol:

Vou ter de arranjar outro para ficar em casa quando levar este... já não quero outra coisa! :)

Entretanto já mandei vir uns fios em verde para condizerem com o telefone, e a lente do centro onde se coloca o papel com o número. Alguém tem um original dos CTT que me possa digitalizar?

Já agora, se alguém quiser voltar atrás no tempo e ter um telefone em condições, digam... posso converter os vossos, ou fornecer um já adaptado.

Um abraço a todos!
 

Anexos

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João Luís Soares

Pre-War
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Ok, é hora de o admitir... eu adoro desafios, especialmente aqueles que a maioria descarta logo como impossíveis. E de vez em quando gosto de arranjar uns diferentes para ocupar aquelas horas vagas em que já não apetece ir sujar as mãos num clássico qualquer.

Geralmente acaba por ser de alguma forma ligada com tecnologia e se possível daquelas obsoletas, e foi assim que surgiu a ideia deste novo projecto. A semente foi plantada um dia em que andava a pesquisar objectos para decorar o meu novo espaço de trabalho, e de repente me lembrei do telefone. Não seria giro ter um telefone de disco na secretária? Mas já ninguém os usa... será que é impossível?

Umas horas de pesquisa mais tarde, descobri que: 1 - não era impossível; 2 - não era simples; 3 - não havia material nem ninguém por perto a quem pudesse recorrer, mas existiam kits de conversão no estrangeiro. O meu apetite começou logo a ser espicaçado.

Depois de mais pesquisar, encontrei alguma informação, mas nada que me esclarecesse a operação correcta das normas usadas nas nossas linhas telefónicas fixas nacionais. O especialista que contactei no Reino Unido vendeu-me as peças mas, por não conhecer o sistema nem os telefones, disse-me logo que não poderia dar assistência. Ok, seja... não há-de ser assim tão complicado.

Tratei de comprar um telefone, e depressa o abri para o ver por dentro...

Ver anexo 1056551

A grande diferença para um telefone actual está no disco. A marcação de números nas redes analógicas era conseguida por impulsos (cortes no sinal), feitos por um conjunto de platinados no mecanismo do disco:

Ver anexo 1056552

Aqui junto ao disco vê-se parte da conversão, que implica adaptar o telefone ao funcionamento correcto da rede e substituir a parte dos impulsos por um circuito que conta os impulsos no disco ao rodar e os substitui pelo tom adequado (aquele som que se ouve quando tocamos numa tecla dos telefones modernos).

Ver anexo 1056553

O circuito do telefone em si não é sobejamente complicado, mas estamos a tentar incorporar nele uma tecnologia para a qual ele nunca foi pensado, apesar da versatilidade (e qualidade) da construção, que já previa alguma adaptabilidade consoante os sistemas onde fosse necessário enquadrá-lo:

Ver anexo 1056554

Convenientemente, os serviços dos CTT incorporavam no interior da tampa o diagrama eléctrico do telefone, para se ter a certeza de onde ligar tudo...

Ver anexo 1056555

E depois de uns serões a estudar tudo, a comparar com os modelos ingleses (dos quais fiquei a saber que os nossos telefones nacionais derivam directamente) e a perceber as diferenças das redes (a inglesa é bastante diferente, embora os telefones sejam similares), lá se resolveu tudo... e já posso voltar a discar números, algo que não fazia desde os anos 90! :D

Ver anexo 1056556

Ninguém sonha o gozo que me dá agora telefonar a alguém... embora ainda quase tenha um ataque cardíaco quando isto toca! :lol:

Vou ter de arranjar outro para ficar em casa quando levar este... já não quero outra coisa! :)

Entretanto já mandei vir uns fios em verde para condizerem com o telefone, e a lente do centro onde se coloca o papel com o número. Alguém tem um original dos CTT que me possa digitalizar?

Já agora, se alguém quiser voltar atrás no tempo e ter um telefone em condições, digam... posso converter os vossos, ou fornecer um já adaptado.

Um abraço a todos!

Adorei!

Eu quase não uso telefone, mas é uma ideia a pensar...
 

Pedro Seixas Palma

Pre-War
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Curiosamente no meu anterior trabalho tínhamos um telefone de disco que ainda funcionava (isto foi no ano passado!). Sempre pensei que a central se encarregava de interpretar os impulsos e que não era necessária qualquer conversão. Como a central era certamente obsoleta, não deve ser regra.
Também tenho por aqui um telefone para decoração, acho que o vou ligar para ver se funciona.
 

afonsopatrao

Portalista
Portalista
Espectacular! Que boa ideia! Tenho para cá uma série de telefones de disco, é bom saber que não morreram de vez!
 

antonioconceicao

Portalista
Portalista
Brutal, esse verde devia ser opcao pois lembro me em preto ; )

Alguem se lembra para que era essa tampa ( yellow arrow)
IMG_9209%20Large_zpsw0phvn8g.jpg

Antonio
 

Anexos

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Rafael S Marques

Pre-War
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Delegado Regional
Portalista
Fantástico Eduardo, tens é que explicar melhor o processo de conversão.
Abraço.
 

António José Costa

Regularidade=Navegação, condução e cálculo?
Portalista
Espectacular! :thumbs up:
A resiliência é uma grande virtude, entre outras claro.
Acho difícil ter um telefone desses outra vez, faziam um barulho do cacete e eu passo-me um bocado com isso:).
 
OP
OP
Eduardo Relvas

Eduardo Relvas

fiat124sport
Premium
Curiosamente no meu anterior trabalho tínhamos um telefone de disco que ainda funcionava (isto foi no ano passado!). Sempre pensei que a central se encarregava de interpretar os impulsos e que não era necessária qualquer conversão. Como a central era certamente obsoleta, não deve ser regra.
Também tenho por aqui um telefone para decoração, acho que o vou ligar para ver se funciona.

Os serviços foram gradualmente deixando de suportar esta função, poderia ser por ainda haver essa central que suportasse esse tipo de marcação na rede local do serviço e enviava a solicitação para o exterior já convertida.

O telefone em si até pode funcionar, dependendo de quando foi usado a última vez, mas geralmente não têm nenhum dos elementos de conversão necessários para funcionar devidamente numa rede digital, e podem causar interferências com os outros serviços de rede (hoje quase todos temos serviços através da banda larga). A maioria dos telefones de disco foi retirado do serviço entre o final dos anos 80 e princípios da década de 90.

Brutal, esse verde devia ser opcao pois lembro me em preto ; )

Alguem se lembra para que era essa tampa ( yellow arrow)
Ver anexo 1056596

Antonio

António, se bem me lembro aí podia ser montado um interruptor, mas já não sei ao certo qual a função, talvez fosse uma função para desactivar o microfone (mute). Sei que também podia levar outros em baixo para desactivar a campainha e para chamadas internas dentro da mesma rede local.

Fantástico Eduardo, tens é que explicar melhor o processo de conversão.
Abraço.

Não é fácil, Rafa... levei imenso tempo a decifrar isto, e o processo varia entre os vários modelos de telefone, é preciso saber interpretar os diagramas de cada um para descobrir onde fazer as ligações do circuito integrado, quer na placa do telefone quer no disco, porque o mecanismo do disco é bastante complexo (tem 3 pares de contactos tipo platinados).

Mesmo a conversão básica do telefone depende do modelo em questão, porque há que medir resistências para ver se é preciso adicionar alguma suplementar e instalar rectificadores para suprimir picos de sinal caso ainda não os tenham.

O circuito integrado vai buscar corrente ao telefone e isola o disco da placa. A partir daí, ele conta os impulsos quando se disca e substitui pelo tom adequado na linha.

Espectacular! :thumbs up:
A resiliência é uma grande virtude, entre outras claro.
Acho difícil ter um telefone desses outra vez, faziam um barulho do cacete e eu passo-me um bocado com isso:).

Há opções para reduzir o toque, eu ainda experimentei, mas tirei porque gosto dele a dar aquele estardalhaço todo... :lol:

Um abraço a todos!
 
Eduardo, eu há bem pouco tempo tive a mesma ideia, fui então ao sotão da casa dos meus pais e peguei no telefone de disco preto para trazer para Lisboa para converter, mas antes de o meter na mala do carro lembrei-me de o ligar à ficha. FUNCIONOU.
Tenho até um vídeo da minha filha a discar os nrs e fazer uma chamada completamente doida com aquilo. (isto de nascer na era dos ecrans touch...)

Agora gostava de perceber porque funciona ele sem qualquer adaptação.
 
OP
OP
Eduardo Relvas

Eduardo Relvas

fiat124sport
Premium
Eduardo, eu há bem pouco tempo tive a mesma ideia, fui então ao sotão da casa dos meus pais e peguei no telefone de disco preto para trazer para Lisboa para converter, mas antes de o meter na mala do carro lembrei-me de o ligar à ficha. FUNCIONOU.
Tenho até um vídeo da minha filha a discar os nrs e fazer uma chamada completamente doida com aquilo. (isto de nascer na era dos ecrans touch...)

Agora gostava de perceber porque funciona ele sem qualquer adaptação.

Porque ainda há troços de rede que devem ter centrais mais antigas a geri-las e ainda suportam esse serviço. Por vezes em zonas mais remotas os serviços ainda não são inteiramente digitais, e houve muito equipamento na fase de transição que ainda suportava o sistema antigo, embora os telefones tenham sido gradualmente retirados do serviço. No Reino Unido ainda há fornecedores de serviço que suportam este sistema, mas a tendência é para desaparecer. Quem ainda tiver linhas antigas da PT provavelmente ainda pode ter acesso à marcação por impulsos se for uma zona mais afastada dos grandes centros, onde as actualizações são mais rápidas.

Em Lisboa já não marca, pois não? Pode receber normalmente, mas já não deve marcar.

Acho que ficava melhor na consola central...:lol::lol::lol:

Havia uns rádio-telefones nos anos 60 nesse estilo... Olha o James Bond a telefonar do seu Bentley no primeiro filme da saga...

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Não sei quanto tempo funcionou, esse serviço só tinha suporte nalgumas zonas muito limitadas, mas nos grandes centros urbanos chegou a existir e manteve-se durante uns anitos, até à invasão dos telefones GSM.

As primeiras ideias deste estilo de sistema são anteriores à II Guerra Mundial, mas é nos Estados Unidos em 1945 que começam as primeiras experiências, encontrei aqui um relato

two_way_radiotelephone-300x236-thumb-479x376-1496.jpg
 

Anexos

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João P Silva

Veterano
Eu tenho um telefone destes de disco, em cinza que era dos meus avós maternos.

Ele recebia chamadas e tocava o som da campainha.. Mas ao discar (marcar) os números não assumia e dava erro.
 
OP
OP
Eduardo Relvas

Eduardo Relvas

fiat124sport
Premium
Eu tenho um telefone destes de disco, em cinza que era dos meus avós maternos.

Ele recebia chamadas e tocava o som da campainha.. Mas ao discar (marcar) os números não assumia e dava erro.

Exactamente. Quer dizer que o telefone ainda foi adaptado às novas normas de ligação (se bem recordo houve uma fase de transição nos anos 80 em que se passaram a usar só dois fios, antes eram 3), mas a linha já não suporta a marcação por impulsos, que são basicamente uma interrupção da linha sequencial. Hoje em dia na maioria dos serviços só já é suportada a marcação por tons, por isso os discos já não podem trabalhar normalmente. Esta adaptação que eu fiz resolve isso.
 
Exactamente. Quer dizer que o telefone ainda foi adaptado às novas normas de ligação (se bem recordo houve uma fase de transição nos anos 80 em que se passaram a usar só dois fios, antes eram 3), mas a linha já não suporta a marcação por impulsos, que são basicamente uma interrupção da linha sequencial. Hoje em dia na maioria dos serviços só já é suportada a marcação por tons, por isso os discos já não podem trabalhar normalmente. Esta adaptação que eu fiz resolve isso.
 
Bom dia caro Eduardo
Parabens pela idea e tempo que investiu para resolver esse quebra-cabeças !
Tenho 2 telefones de disco e gostaria de os ter a funcionar em Lisboa e Castelo de Vide.
Actualmente tenho serviços da NOS, será possivel liga-los à "caixa" e/ou a um rooter (wi-fi) com a sua modificação ?
Cumprimentos
José Gentil
 
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