Ford Ford Cortina Mk2 1300 Deluxe

Ford Cortina Mk2 1300 Deluxe de 1967. É um série 1 pre-crossflow, com mudanças ao volante e bancos corridos.
Diários de Bordo

Ford Ford Cortina Mk2 1300 Deluxe

António José Costa

Regularidade=Navegação, condução e cálculo?
Portalista
A escrita é viciante e deslumbrante.
E a reparação parece feita, de forma auto didacta e gratuita.
 
OP
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Santos António

Santos António

Veterano
Capítulo XX

Desta é que foi!
É provável que não saibam, mas fez já um ano que me iniciei nestas coisas da mecânica. Foi um sucesso estrondoso, o qual não pude evitar anunciar aos 4 ventos aqui no portal na altura devida. Está aqui o relato, se quiserem saber: Intervenção mecânica
Não foi uma intervenção no Elefante Branco, demasiado precioso para experiências desta natureza, mas foi uma forma de ganhar coragem para um dia mais tarde me aventurar nas entranhas do bichinho. Esse dia chegou!
Há já algum tempo que perdi o amor aos € e comprei umas peças cosméticas para substituir no Cortina. Usadas, porque sou forreta, mas em todo o caso aquilo que eu considero um melhoramento, ainda que ligeiro. Consistem as ditas numas lentes para os piscas, que estavam estaladas e comidas do sol, e nuns frisos dos faróis, porque os que tinha estavam riscados e amolgados. Estes também estão, mas um pouco menos. Este material tem andado na bagageira há meses, e viu agora a luz do dia porque um dos piscas fundiu. Um pisca fundido pode não parecer grande obstáculo para a maioria dos adeptos da bricolage, mas eu fui sempre estranho e não pertenço a maiorias, pelo que a tarefa se me afigurava formidável. E já que tinha que chegar ao pisca, porque não mudar o tal material, antes que apodrecesse nas catacumbas da bagageira? Além disso era véspera de um acontecimento importante, o festival de históricos no Autódromo do Algarve, e achei que o Elefante podia ir um pouco mais apresentável. Fui-me a ele. Surpreendentemente, correu razoavelmente bem. Tirei 5 parafusos, cada um de seu feitio, e depois foi só puxar e o friso saíu sem grande dificuldade. Porreiro, pá! Depois desaparafusei mais 5 parafusos e a lente também saíu docilmente, apesar de a borracha vedante ter vindo atrás, ressequida e desfeita em mil bocados. Espero que não faça falta. 19110003.JPG

Troquei o pisca, e antes de pôr tudo no sítio, fui experimentá-lo: funcionava. Estou um mecânico de primeira, já começo a pensar em dispensar definitivamente o Sr. Dr.. Enquanto estava com o olho na mão, aproveitei para ensaiar uma modernice que li na internet: comprei umas lâmpadas de led para usar nos mínimos. A 2€ a dúzia, nem um forreta como eu consegue resistir. Tirei o mínimo, pus o led e... nada. Calma, nem tudo está perdido. Virei o led ao contrário, ensaiei de novo e... Voilá! Uma luz branquinha, límpida e pura, nada como a que tinha antes, toda amarelada e gasta. Grande mecânico sou. Um mestre do tuning. Voltei a pôr tudo no sítio, com muito cuidado, não esquecendo a lente "nova", esta
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apertei os 5 parafusos todos iguais, e fui confirmar se continuava tudo a funcionar. Parecia uma árvore de Natal! A luz branquinha brilhava como a estrela de Belém, e o pisca piscava como o trenó do Papai Noel. Só não funcionavam era os 2 ao mesmo tempo. Com os mínimos ligados, cada vez que acendia o pisca, apagava o mínimo. Como nas ambulâncias. Enfim, o Elefante Branco não é nenhuma ambulância, portanto toca a tirar os 5 parafusos e a pôr a luz amarela e gasta, para ver se o problema se mantém. Não. Problema resolvido. Não quero saber de mais invenções tuning, fica para outro dia, porque estava a anoitecer e ainda me faltava o outro farol. Coisa fácil, agora que já sei como se faz. Curiosamente, do outro lado o mínimo não apagava completamente quando o pisca piscava, apenas perdia intensidade.
Hora de ir aos aros dos faróis.

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O "novo" e o velho, lado a lado. Iguaizinhos, não é? Não, não são bem iguaizinhos, embora a diferença não seja tão grande quanto eu gostaria. Tinha planeado lavá-lo, encerá-lo e polí-lo com um produto da especialidade que comprei numa loja das redondezas e que garantia que devolvia aos cromados automóveis o esplendor de outrora, mas já estava farto disto tudo, e sobretudo continuava a anoitecer a olhos vistos, portanto fiquei-me por uma esfregadela rápida com o dito produto. Melhorou um pouco, não muito. Não lhe tirou os riscos, nem as amolgadelas. Ainda assim, são menos do que as que tinha.
Com grande delicadeza pus o aro do lado direito, apertei os 5 parafusos diferentes, que seguram o farolim no lugar, e recuei um passo para observar a obra. Uma verdadeira Mona Lisa! Com um olho só, faltava o outro. Segui o mesmo procedimento, e não consegui pôr o aro. Não encaixava, não batia certo. E como não encaixava, também não segurava o farolim, que teimava em não se aguentar no sítio. Comecei a maldizer a minha vida, o que faço com esmero e frequência, e para ali andei para trás e para frente, puxando daqui e empurrando dali, tentando alinhar os furos todos para que pudesse enfiar-lhe ao menos um parafuso, mas sem sucesso. E isto á luz do telemóvel, que o coitado do júnior foi obrigado a usar como se fosse uma gambiarra. Criança nenhuma devia ser obrigada a ouvir aquilo que chamei ao farol, mas vou considerar isso como uma lição de desenvolvimento de vocabulário. Para cúmulo dos inconvenientes, tinha combinado ir jantar fora com umas amigas, pelo que tive que deixar a obra a meio, na expectativa de ficar à volta daquilo até às 4 da madrugada para que estivesse pronto no dia seguinte.
A seguir ao jantar tive que fazer apelo a toda a minha força de vontade, que nunca foi muita, para resistir aos convites para ir beber uns drinks, em vez de voltar para o olho do Elefante. É que nem tinha força de vontade, nem vontade de fazer força, mas com um esforço sobre-humano, deixei as garotas para trás e voltei ao serviço. Compreendi que o carro não está tão direito como deveria estar, e embora a diferença não seja muita, apenas uns milímetros, é o suficiente para que o alinhamento dos furos seja menos que perfeito, o que obriga a contorcionismos que de outra forma seriam desnecessários. A outra forma é a do farol do lado esquerdo, onde tudo correu bem. Antes que fossem 4 da manhã, experimentei o aro velho, aquele que tinha mais riscos que o aro novo, e quando serviu, fiquei tão contente que já nem o tirei de novo. Fica para a próxima.
Disto tudo, tirei uma valiosa lição: não me meter em cavalarias que parecem fáceis em tutoriais do youtube. Da próxima vez vou ao Sr. Dr.

Contudo, há também boas notícias, e essas são que no sábado de manhã pude, como previsto, fazer uma visita ao Autódromo para ver as velhas glórias, e fi-lo ao volante do Elefante Branco, como se tudo estivesse bem. Desta vez tirei uma foto ou outra, para pôr aqui.
Um cafezinho antes de me fazer à estrada:
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À chegada, a categoria do clássico impõe-se, e mesmo sem perguntar nada sou convidado a estacionar no espaço da "exposição". O pobre do Mazda não teve tanta sorte, teve que ficar no parque dos convidados. Fui o primeiro a chegar, nem tinha bem a certeza se o parque da "exposição" era ali, porque não havia nada exposto, mas lá abandonei o bicho, e, como no ano passado, houve uns calhambeques que estacionaram ao lado do poderoso Ford Cortina, sem se aperceberem que empalideciam e ficavam mal vistos, ao lado de semelhante companhia. IMG_20171028_101531.jpg

Gostaria de ter deixado o meu carro em 1º plano, como convinha, mas estava contra o sol, não se via nada.
Passado um bocado, a 2ª fila tinha este aspecto:

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Pareceu-me que este ano havia menos diversidade, quer no parque dos curiosos, quer de concorrentes. Não tirei muitas fotos, mas não podia terminar sem uma última ilustração.

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Não cheguei a ter oportunidade de perguntar ao sr se queria trocar, mas agora que já tenho um aro do farol trocado, calculo que seja uma forte probabilidade. Embora seja verdade que a minha provecta viatura tenha já atingido a mítica marca dos 5000km espero que isso não a desvalorize. IMG_20171105_160743.jpg
 

Anexos

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João Luís Soares

Pre-War
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Delegado Regional
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Já li duas vezes e adorei em ambas.

A questão dos LED deve ter a ver com a massa do circuito, mas eu entendo tanto disso como tu. Limpaste bem todos os contacto ao fazer a mudança?

Quanto ao aro do farol, tens de tirar uma foto ao desalinhamento para a malta opinar.
 

António José Costa

Regularidade=Navegação, condução e cálculo?
Portalista
Como sempre ficamos presos...

...O TVR tambem é giro, um plástico que se borrifa para o que os outros plásticos pensam :)
 
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Santos António

Santos António

Veterano
Já li duas vezes e adorei em ambas.

A questão dos LED deve ter a ver com a massa do circuito, mas eu entendo tanto disso como tu. Limpaste bem todos os contacto ao fazer a mudança?

Quanto ao aro do farol, tens de tirar uma foto ao desalinhamento para a malta opinar.


Quanto ao led, hei de lá voltar. Do aro do farol, nem vale a pena tirar fotos: a olho nu não se nota nada, a diferença deve ser milimétrica. Apenas o suficiente para que não entre. É daqueles desalinhamentos em que o parafuso tem que entrar de esguelha...
 

António José Costa

Regularidade=Navegação, condução e cálculo?
Portalista
Um Ferrari ou Aston Martin, qualquer humano rico que goste minimamente de carros compra, nem que seja porque fica sempre bem para mostrar, um TVR hoje em dia e "antigamente" só um Petrolhead do melhor adquire e se "consome" com ele.
 

Paulo Bombaça

Veterano
Se quiseres montar os LED's e para isso não acontecer tens de usar umas resistências, o consumo do led é inferior à lâmpada por isso é que isso acontece. Opinião pessoal mantém as lâmpadas originais fica melhor ;)
 
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Santos António

Santos António

Veterano
Capítulo XXI

Sucedeu uma desgraça.
Será talvez sintomático que venha a ser relatada no capítulo XX, as duas cruzes não parecem prenunciar nada de bom. Uma cruz só, marca o lugar do tesouro, duas cruzes, parece um cemitério. Começando pelo princípio:
Embora não tenha havido material ou justificação para capítulos, o Elefante Branco não tem estado completamente parado. Ao fim de semana, cumprindo o meu papel de condutor de domingo, lá me dou ao trabalho de levantar "cedo" (para mim, levantar, seja a que horas for, parece sempre cedo) e vou buscar o bichinho para ver se ainda respira e ir tomar café. Vamos os dois de braço dado dar uma voltinha pela cidade, fazer uma compra ou outra que seja necessária, ou até alguma que seja completamente desnecessária, porque o importa é uma desculpa para tirar o animal do curral, ver o mar e dar umas voltas de rotunda, sempre um passatempo interessante. Foi assim na semana passada. Fui bater à porta da Tina, olá como estás, deixa cá ver como estás de fluidos, queres vir dar uma voltinha? Ela faz-se de esquisita, agora não me apetece, estou com dor de cabeça, tenho preguiça, deixa-me em paz que ainda é cedo. Eu insisto, anda lá que o dia está bonito, estás aqui fechada há uma semana inteira, anda passear comigo. Lá se deixa convencer, ao fim de 5 minutos de dar à chave e ao pedal, e consigo finalmente trazê-la para a luz do dia, onde fica a trabalhar aos soluços, porque está fria, porque está frio, enquanto eu vou fechar o portão. Coisas de mulher... Por isso os carros são feminino para os ingleses, eles lá sabem.
Pois a semana passada foi assim, como nas outras. Uma semana à espera que o tempo melhorasse, e o amigo S. Pedro, que também deve ter um clássico e compreende estas coisas, lá interrompeu a chuva no domingo. O mar estava bonito, o café estava quente, as compras eram poucas, as rotundas fizeram-se devagar. Fui almoçar. Levei a carripana, tirei uma fotografia para pôr aqui, porque algum dia escreveria um capítulo e depois não tinha foto nenhuma. IMG_20180107_130125.jpg
Foi durante o almoço que o desastre aconteceu: começou a chover! Tivesse eu imaginado que poderia acontecer e teria adiado as compras por uma semana. Não estava nos meus planos molhar o brinquedo, pode desbotar ou encolher. Já o meu avô não molhava o dele, e por alguma razão seria. Fiquei deveras contristado, mas já não havia nada a fazer, a não ser acabar a feijoada e devolvê-lo ao estábulo. Foi o que fiz, debaixo de chuva. Começo a ter dúvidas quanto à devoção do S. Pedro à causa dos clássicos. As boas notícias são que não meteu água e que os limpa para-brisas funcionam na perfeição. Julgo que só têm uma velocidade. A alternativa é não funcionarem tão bem como eu julgava, mas a velocidade que têm foi suficiente para a chuva que caiu. A outra consequência é que mudou de cor outra vez. A cor de fábrica era Branco Arminho, passou depois a branco sujo e neste momento, com toda a lama e óleo da estrada é quase cinzento. Um dia terei que o lavar, mas se já não o queria molhar, é um dilema que terei que resolver. Talvez o possa mandar limpar a seco.
Mas isso foi na semana passada. Como esta semana também não choveu, fui dar outro passeio, este um pouco mais longo. O mesmo protocolo de donzela a fazer-se cara, mas lá saiu finalmente, e pude observar o miminho que lhe tinha arranjado: um cartão para pôr no chão e apanhar as pingas de óleo. É só extravagâncias! IMG_20180119_111542.jpg
Na verdade tem até diversos cartões porque pinga por diversos sítios, mas sabem o que se diz dos carros ingleses: se não há óleo debaixo deles, é porque não há óleo dentro deles. Além deste miminho concedi-lhe um outro: pus-lhe gasolina. E até aditivo, porque foi Natal há pouco tempo e a gasolina que tinha era do ano passado. De acordo com o meu Fuelio, atingiu a respeitável marca dos 5208 Km, e gastou 8,77 litros aos 100. Como pretendo um carro que não gaste mais de 5, vou passar a andar apenas 50 km. As boas notícias é que dei outro passeio muito agradável, pelo campo, a observar as vaquinhas e as estevas. Até tirei outra foto: IMG_20180119_124306.jpg
Como o não é só o carro que precisa de miminhos, e o dono, apesar de tudo, ainda não precisa de cartões no chão, foi necessário arranjar uma compensação. IMG_20180119_130514.jpg
Aqui o cartão foi o de crédito. Ou de débito...
O regresso foi feito com muita tranquilidade, como a ida, sempre por caminhos pouco frequentados, para evitar maus encontros, mas desfrutando sempre do luxo e privilégio que é conduzir um Ford Cortina, que se portou sempre à altura (embora não fosse difícil, não lhe exigi muito).

E aqui está como se consegue passar 20 minutos a escrever no computador e não dizer absolutamente nada. Serve a presente para não deixar morrer o tópico e me relembrar daqui a 2 anos que fui dar um passeio de Cortina. A ver se brevemente tenho uma avaria ou um acidente para ter alguma coisa que relatar...
 

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Rafael Isento

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Muito bom, mas cuidado com o que se deseja. Uma avaria (daquelas que se resolvem facilmente) ainda vá que não vá, agora acidente? Irra...
 

JorgeMonteiro

...o do "Boguinhas"
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António José Costa

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A escrita mantêm-se deliciosa, a leitura é por isso obrigatória.
Com 5208km, já outras aventuras se foram dando é dar largas à imaginação e deixar-nos a sonhar com o Cortina ;).
E daqui a uns tempos sempre se pode vir cá ler o que fizemos, eu por vezes faço isso nos meus para me relembrar por exemplo, quando troquei o óleo, é que esqueço-me de colocar o papelinho com a troca, ou de colocar logo a indicação no meu ficheiro de excel:).
Obrigado pela partilha.
 

Nelson Santos

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Fantástico! Não há como não ler este tópico! Adorei cada momento.
Estás no capítulo XX, mas digo que mais XX capítulos e este tópico já dava um livro bem catita, pensa nisso.

Obrigado por este momento delicioso. E ainda bem que todo o tormento inicial agora faz valer todos estes momentos!
 
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Santos António

Santos António

Veterano
Muito bom, mas cuidado com o que se deseja. Uma avaria (daquelas que se resolvem facilmente) ainda vá que não vá, agora acidente? Irra...

Bem, eu só queria material para não deixar morrer o tópico. Na verdade não precisa de ser nada de dramático. Talvez uma avaria na máquina do café ou o porta-luvas que não feche bem. E por acidente, também não insisto que seja catastrófico. Pode ser um acidente de percurso, ou um acidente cardio-vascular. Bolas, destes também não! Tenho que ter mais cuidado com a forma como me exprimo. Lagarto lagarto lagarto!

Eu aqui a ler o tópico todo apreensivo à espera da desgraça, e não aconteceu nada!? Chuva??

Isto foi uma técnica que aprendi a ver telejornais, hábito pernicioso que felizmente não alimento, a não ser ocasionalmente: anuncia-se uma catástrofe em altos berros para chamar a atenção, e depois pare-se um rato, como a montanha. A alternativa é começar todos os posts por SEXO! SEXO! SEXO!

E daqui a uns tempos sempre se pode vir cá ler o que fizemos,

A verdade é que estive a reler o tópico desde o início e não só havia dados dos quais já não me lembrava, como houve também emoções que não me lembrava de ter sentido. Mas foi até para não esquecer estas coisas que comecei a escrever este tópico.


Estás no capítulo XX, mas digo que mais XX capítulos e este tópico já dava um livro bem catita, pensa nisso.

Mais XX capítulos de avarias, despesas, dores de cabeça, chatices, dúvidas e incertezas? E às vezes um passeiozito pelo campo? Isso não é um livro, é uma epopeia, uma tragédia. Até já estou a vê-lo, com encadernação a couro nos escaparates da livraria do Centro Cultural de Belém e na biblioteca da Assembleia da República, o nosso Presidente a comentá-lo entre 2 beijinhos a velhotas da Praia de Mira, o Elon Musk a mandá-lo para o espaço nas mãos do Starman. Ficava bem com uma introdução do André Citroen ou do Henry Ford, com edição em audiobook narrado pelo James Earl Jones. Depois vendia os direitos cinematográficos para o George Lucas escrever um guião e dá-lo ao James Cameron para realizar uma trilogia protagonizada pelo Sylvester Stallone e a Raquel Welch. É capaz de ser boa ideia.
 
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Santos António

Santos António

Veterano
Capítulo XXII

Corria o ano de 2018. Estava eu em Lx a folhear as páginas de classificados do meu telemóvel quando encontrei um anúncio modesto que referia grelhas para Cortina Mk2. Olhei para as imagens, ampliei-as tanto quanto um telemóvel de 5' permite, e concluí que uma das grelhas estava em melhor estado que as minhas. Sim, o plural é intencional: tenho 2 grelhas, uma na frente do carro, entre as luzes, e outra na mala, para as emergências. Aquela que me despertou a curiosidade era diferente das que tenho, uma vez que era toda cromada, enquanto que as minhas são parcialmente cromadas. Grelhas.jpg
Uma rápida consulta aos fóruns da especialidade confirmou que ambas eram admissíveis no meu clássico pelo que após um rápido telefonema para confirmar disponibilidade e obter indicações geográficas, pus-me a caminho de Alcântara na minha viatura do séc XXI, que se encontra munida de um dispositivo futurista com um nome estrangeiro e que dá indicações quanto ao percurso a percorrer até um destino pré-determinado. Pré-determinei o destino e segui escrupulosamente as direcções durante os primeiros 300m, findos os quais decidi que percebia mais daquilo que uma máquina que nunca tinha vivido em Lisboa, e virei à esquerda quando a menina recomendava que virasse à direita. Big mistake, porque passado 1 km estava encravado no trânsito enquanto a menina pacientemente recalculava o percurso para se acomodar às minhas exigências, o que fez com notável eficiência, uma vez que me levou por ruelas e calçadas, como o Rui Veloso, até à porta de um barracão fantástico que deve ter sido em tempos habitado por Ali-Babá e os 40 políticos, pois se encontrava atulhado de jóias e preciosidades de diversas qualidade e proveniências. Entre frigoríficos de diversas idades, relógios de parede, cuco e clepsidras, pinturas e gravuras, bicicletas, ferros de engomar e peles de gazela e vaca, pontificavam um Fiat 124, outro 127 e um VW Brasilia, em diversos estados de conservação. E algures na gruta maravilhosa, bem no fundo da gruta maravilhosa, enterrado entre miríades de lixo maravilhoso, jazia não uma, mas duas grelhas de Ford Cortina MK2, assim como de uma dúzia de outros carros e modelos. Como sempre, a peça não fazia jus à fotografia, pois estava algo empenada e amolgada, mas apesar disso estava em melhor estado do que as minhas, pelo que após algum tempo de animada cavaqueira, lá abri os cordões à bolsa e subtraí a preciosidade ao espólio do Ali Babá. Estava nos meus planos lavá-la, limpá-la, poli-la, dar-lhe uma marretadas para a endireitar um pouco, e perder uma tarde a retirar a minha grelha da frente, eventualmente substituir o aro da luz que tinha ficado por trocar e num fim de semana auspicioso rumar ao centro do país numa viagem que se afigurava épica, na minha viatura facelift para participar num convívio/reunião de que tinha ouvido falar e que deveria incluir diversos aficcionados da modalidade e suas gloriosas Donas Elviras. Chegado a casa, fui visitar o Elefante Branco ao estábulo e na mala guardei cuidadosamente a minha grelha nova e, embora na altura não o soubesse, os meus planos.

A poucos dias do final do mês de Fevereiro, decidi-me por uma excentricidade. Mais uma. Lavei o carro! Agarrei numa escova e num balde com água, um garrafão de champô automóvel para cabelos oleosos, porque o selector da caixa ainda verte um bocadinho, e botei mãos à obra. Molhei, esfreguei, enxaguei e enxuguei. Não se notou diferença quase nenhuma. A verdade é que aquilo que eu julgava ser sujidade, são afinal defeitos na pintura. Quanto mais olho para o Elefante, mais imperfeições lhe descubro. Enfim, terá melhorado um bocadinho, não muito, mas ficou pronto para outro passeio.
Tendo cobardemente declinado o convite para ir a Coimbra, por motivos vários e fastidiosos, agendei uma viagem ao encontro de Armação, sempre interessante e participado, e que requeria uma logística ínfima. Como sou uma pessoa precavida e organizada, deixei para a véspera, antes do jantar, a tarefa de substituir a grelha velha pela grelha menos velha. Outro big mistake. Esqueci-me que dava o Benfica. Quando me dirigia para a garagem a fim de proceder à intervenção estética, fui desviado por indivíduos mal intencionados que me obrigaram a ver o jogo e beber umas cervejas, manifestamente contra a minha vontade. Procede daí que a intervenção planeada ficou quase concluída, porque, previsivelmente, as coisas não correram conforme previsto. Para tirar a grelha foi necessário remover os frisos das luzes, e embora a substituição da grelha fosse simples, o malfadado friso que já tanto trabalho me tinha dado da outra vez (capítulo XX), mostrou-se igualmente renitente e, também como já tinha acontecido, ficou para o outro dia, antes da partida, a conclusão dos trabalhos. Supondo, claro, que conseguiria fazer em 15 minutos da manhã de sábado o que não consegui em 3 horas da noite de domingo.
Pois foi isso mesmo que aconteceu, com a ajuda de um amigo que tem mais paciência do que eu, lá conseguimos pôr tudo no lugar (aproximadamente) e rumámos em direcção à costa algarvia apesar do mau tempo prometido mas não concretizado.
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Em Armação, a habitual panóplia de automóveis entusiasmantes, variando entre o Jaguar Type E e o Mercedes W123, e algo que me chamou a atenção e que há algum tempo não via por cá: IMG_20180304_121941.jpg
Quanto ao Elefante Branco, lá ficou no quase anonimato, exibindo discretamente a sua menos velha grelha.
O antes... IMG_20180225_160115.jpg

E o depois...
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Talvez tenha sido a nova grelha que chamou a atenção de um senhor de idade que falava estrangeiro com sotaque estrangeiro e que rodeou o carro observando-o com ar entendido (para mim toda a gente que olha para o carro com atenção tem ar de entendido, particularmente se for de idade) e pediu para o ver por dentro, tendo inclusivamente adoptado uma pose acrobática, insuspeitada num senhor daquele grupo etário, pondo-se de pernas para o ar para espreitar debaixo do tablier, que me confidenciou que já tinha tido muitos carros daqueles, e que o meu, em particular, era um caso raro, sendo dos primeiros dos MK2. Aquilo que ele me disse eu já sabia ou desconfiava: os bancos corridos, as mudanças ao volante, o volante fininho, o motor pre-crossflow contribuem para o tornar pouco vulgar, pelo menos na terra dele, onde me disse que valeria bom dinheiro. Nesta altura fiquei interessado e perguntei qual era a sua ideia de "bom dinheiro", antecipando já a venda do chasso e consequente aquisição de uma ilha da micronésia onde me pudesse reformar. O seu palpite, embora não fosse uma oferta, foi à volta de 10000£.
Foi a melhor notícia do capítulo XXI.
 

Anexos

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Nelson Santos

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Portalista
Mais um fantástico capítulo! Mas o que eu gostava mesmo é de o ter visto em Coimbra! Ai ai que este elefante não é dado a grandes viagens!
 
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Santos António

Santos António

Veterano
Mais um fantástico capítulo! Mas o que eu gostava mesmo é de o ter visto em Coimbra! Ai ai que este elefante não é dado a grandes viagens!
Talvez não seja, mas o problema foi mesmo o dono. E daqui do Algarve é mais do dobro do caminho do que de Lisboa. Contudo, do que li, o rei da festa foi mesmo o Taunus. Confesso que de todas as fotos que vi, é para mim aquele que sobressai, mesmo sem ter lá estado.
Julgo que já vi mencionada algures a sugestão de um novo encontro em Portalegre, com bom tempo. Para mim seria mais acessível, e não há sítio melhor do que o Alentejo. Seria uma viagem memorável, se acontecesse.
 
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