Fiat Fiat 127 (1978) - Diário De Bordo

[Eduardo Relvas]

Ontem efectivamente começaram os trabalhos mas, como eu previa, o tempo foi pouco e acabou por ser pouca coisa. Comecei com um pormenor pequenino mas que para mim significou muito:



Esta jante estava sem centro desde os anos 80, quando um idiota duma casa de pneus aqui da cidade o perdeu, e levei mais de 20 anos para tropeçar num igual. Há já alguns anos que aqui o tinha na garagem, mas como o carro tem estado parado nunca lho meti. Desde que o carro é meu que nunca o tinha tido, finalmente foi corrigido este detalhe.

Entretanto fui dar volta ao stock de peças e sacar esta cremalheira que sabia que tinha foles em condições:



De resto, verifiquei que ambos os foles de ligação entre a caixa e os semieixos tinham fuga, por isso como só tinha um, hoje fui comprar outro. Mais uma vez, verifica-se que é excelente um destes carros como clássico de uso frequente... não só havia em stock na loja, como custou a exorbitância de 5,40€...

Assim, já temos o arsenal todo para arrancar com os trabalhos amanhã... como a metereologia dá bom tempo para o fim-de-semana, posso pôr o Spider a arejar enquanto o 127 entra na "sala de operações" para uma geral ao trem dianteiro...

Um abraço a todos!

 

[Carlos Vaz]

Ui!

Ao tempo que eu estava á espera disto!!!!!!!!!

Aliás, quando andavas á procura de algo para dar "descanso" ao Spider e compraste o 128 (ainda bem), esta foi uma das minhas sugestões, recolocar o 127 na estrada!

Este DB eu não vou poder perder!

 

[Eduardo Relvas]

Bem, vamos lá pôr a história em dia.

Como referi antes, na lista de emendas estavam basicamente todos os foles do trem dianteiro. Assim, a situação requeria cirurgia profunda, por isso o Spider cedeu o lugar dele na garagem. Os trabalhos esperaram pelo fim dos dias de dilúvio, e assim que o tempo melhorou fez-se a troca:



Como se ia trabalhar na caixa, o primeiro trabalho foi esvaziar o óleo:



O bujão da caixa é magnético, e como sempre, vai recolhendo alguma limalha, tal como podem ver. No entanto, é bem pior o nível de porcaria exterior, como se constata pelo aspecto da base... quando está limpo, o corpo exterior é todo roscado de uma ponta à outra:



Bem, como se iam sacar as transmissões fora, tem de se desapertar as porcas de cubo dianteiras, mas com as BWA não dá, por isso tenho de assentar as rodas no chão com a jante sobressalente, e aí sim dar o desaperto:



Passado pouco tempo, o lado do condutor já estava totalmente despido, tanto da transmissão como da cremalheira:



Como podem notar, a ponteira da direcção saíu fora, e a pinça de travão foi posta de lado para não ficar a esforçar o tubo. Notei que esta pinça devia estar ligeiramente presa no apoio e a não centrar correctamente, porque uma das pastilhas estava quase nova enquanto a outra está nas lonas. Está visto que temos de dar uma geral no sistema quanto antes... mais um para a lista.

No chão, as ferramentas multiplicam-se, e vão levando consigo os restos mortais das peças falidas...



Passado um bocado, a transmissão já estava renovada e pronta a montar novamente. A homocinética ainda estava em bom estado, foi limpa e reatestada de massa consistente, mais o fole novo. O semi-eixo estava embaganhado de uma ponta à outra, foi todo limpo, e a zona onde assenta o fole da caixa foi despolido com uma lixa de água banhada em óleo, e depois limpo. O fole novo do lado da caixa foi oleado (os retentores só contêm o óleo se eles próprios forem lubrificados, se forem postos em seco podem danificar-se) e enfiado no sítio. A coroa de rolamentos está em bom estado, foi recolocada no lugar, e pronto, temos um lado armado:



Aqui podem ver a ponta do semi-eixo com a coroa do lado da caixa e o fole novo:



E na outra ponta, o fole da homocinética já selado no sítio com um par de cintas de aperto novas...



Depois foi repetir a mesma operação do outro lado. No entanto, esta homocinética estava em pior estado, e troquei-a por uma nova que aqui tinha guardada.



Nota-se a diferença de aspecto, e vem com uma porca de freio nova:



Entretanto limpei as falanges de aperto dos foles à caixa, que também estavam mais que porcas... aqui já estão no sítio:



Entretanto o trabalho parou porque empanquei na montagem dos foles da cremalheira de direcção. O do lado do condutor entrou sem espiga, porque tem um bocal grande. O do pendura tem sido uma novela de todo o tamanho... hoje vou voltar ao ataque nele com outra táctica, a ver se resulta. Como apanha uma zona maior e vai apertar no corpo da cremalheira mais fino, o bocal é muito estreito e a borracha não gosta muito de ser esticada sobre a rótula. A ver se é desta.

Entretanto estive a dar carga à bateria dele, mas apesar de a ter aceite, não está muito católica... cheira-me que não tem safa. O carro tem andado a circular com a que comprei para o Cortina, mas tem a chatice de ter os bornes ao contrário, e obriga a torcer ligeiramente os cabos para fazer as ligações. De resto tudo bem, mas era preferível ter a disposição correcta. Paciência...



Vamos a ver se é hoje que se termina esta batalha... já estou com saudades do animal!

Um abraço a todos!

 

[Paulo Jorge Coutinho]

Mestre Fiat em acção!

 

[Eduardo Relvas]

Bem, já está tudo de volta ao sítio, mas desta vez não há direito a fotos porque a patroa levou a máquina para o trabalho e ainda não a devolveu...

A coisa até correu bem, tirando duas complicações: a primeira foi o bendito (ao contrário) do fole de direcção do lado do pendura, que se fartou de dar guerra. Mas com a táctica de o mergulhar em água quente e deixar uns minutos esticado num cone para alargar, lá foi ao sítio. Não sem ter dado guerra, mas o mais teimoso sou eu, por isso tinha de se vergar à minha vontade!

Depois, ao montar as transmissões, o que me metia mais medo era aparafusar os colares dos foles internos à caixa. São uma zona delicada, porque dificilmente entram direitos (o fole empurra a chave para fora) e o alumínio deixa desfazer as roscas com facilidade. Tenho uma rosca do lado do pendura que já teve de ser aberta um tamanho acima por causa dessas brincadeiras... e não queria mais. Mas essa parte correu bem.

Já quando fui meter a ponteira no cubo... não entrava! Mau... toca de ir buscar a homocinética velha, e comparar... o estriado da nova é maior! Seguiram-se uns momentos de expletivas daquelas que não dá jeito transcrever... e mais de meia-hora bem suja (estava cheia de massa nova) para sacar aquilo do lugar, porque o freio mal se via.

Depois de limpar a velha, atestar de massa e voltar a montar tudo, estive a analisar a coisa com calma, e percebi que embora esteja rotulada para 127, também está para o 128 e outros modelos, por isso deve ser para alguma versão mais potente e não para este modelo. Ora bolas...

Bom, mas depois de todos estes contratempos, lá se aparafusou tudo no lugar, apertos dados e carro no chão. Atestar a caixa, verificar que não deita nada fora. Depois redistribuir os veículos pela rua para deixar saír este, e dar um test-drive. Resultado? Magnífico... continua a ser impressionante o quão leve e imediata é a resposta da direcção deste carro. Parece um kart...

Amanhã (ou sábado, possivelmente)... alinhamento de direcção (convém), palas e re-inspecção.

Um abraço a todos!

 

[Paulo Jorge Coutinho]

Foi um longo serão, mas pleno de resultados positivos!


Foi mesmo pena a falta de fotos...

 

[Eduardo Relvas]

(...) Foi mesmo pena a falta de fotos...

Desta vez tenho, mas não são muito melhores que não ter... Troquei de telemóvel (o touchscreen irrita-me), e voltei a andar com um da idade da pedra, logo as fotos são... bem, vejam por vocês mesmos.

Ontem de manhã fui finalmente tentar alinhar a suspensão, mas a casa estava num bulício enorme, marquei para a tarde. Aqui está a máquina à porta aguardando pacientemente a sua vez...



Descobrimos que um dos braços inferiores também está quase a pedir a reforma, e que um dos suportes da panela de escape tinha falido. Aproveitei enquanto o mestre fazia a sua magia para ir à casa de peças que era mesmo ali na rua seguinte, e trouxe logo o suporte da panela, e encomendei outro que já viu melhores dias, junto com os braços de suspensão.

Ainda assim, entre a troca completa de foles, o alinhamento (todas as rodas estavam fora do sítio devido, até ainda mais atrás que à frente) e as palas (que aparafusei à mão antes de entrar no centro e desaparafusei logo à saída! ), lá obtivemos a aprovação pretendida...



Entretanto fez uma pequena parte da lida diária, com uma school run...



Tenho estado a rolar algumas vezes com ele, agora que já está tudo nos conformes, mas para já ainda não posso fazer uso intensivo dele, porque a junta da cabeça está mesmo queimada. Eu desconfio que a culpa é mesmo da cabeça, porque já foi rectificada tanta vez ao longo dos anos que já deve estar debilitada, tenho de procurar uma substituta.

Ainda assim, parcialmente em graças à MSD, mas também porque ele simplesmente não se rende, continua a trabalhar sem se dar por nada, não acusa nada a não ser se o deixar parado, aí a temperatura sobe com alguma facilidade.

Outra coisa que tenho de resolver de imediato prende-se com este bando aqui...



A minha alavanca de mudanças perdeu a anilha retentora inferior, e agora sai do sítio com alguma facilidade, mal dou por ela foge-me para uns cm abaixo do sítio certo. Fui hoje verificar o código no catálogo de peças, e já tratei de encomendar o material correcto. A ver se isto começa a ter jeitos de carro normal...

Um abraço a todos!

 

[Fabio Joel Fernandes]

Mas que data de bons trabalhos.

Força no Fiat.
Andas a desleixar-te na qualidade das fotos ;DDDDDD EStou-me que o teu telemóvel deve ser parecido ao meu ;D

Abraço

 

[João Luís Soares]

Olha outro que se passa com os touch screens...

Vai tratando do 127 que ele bem merece.

 

[Paulo Jorge Coutinho]

Bem boas,as fotos.
Se visses as do meu...



É por isso que continuo a usar máquina fotográfica!

 

[Rafael S Marques]

Até a "saqueta" do selo da IPO é classica, toda queimada do sol...

 

[Eduardo Relvas]

Olha outro que se passa com os touch screens...

Vai tratando do 127 que ele bem merece.

Isso tratamento ele vai tendo... não pretendo desfazer-me dele, como sabes... é o membro #1 da minha "santíssima trindade"! Às vezes pode é demorar, mas quando é feito, é bem feito. Quanto aos touchscreens, é daquelas coisas que, como já tenho dito muita vez, serve só para as pessoas se armarem aos cágados, porque na práctica são inferiores à tecnologia anterior.

Eu cá sou cada vez mais pelas relíquias... não é que não me ajeite, ou tenha dificuldade em compreender as modernices... é simplesmente porque não gosto de coisas inferiores que me são impingidas por gajos do marketing.

Até a "saqueta" do selo da IPO é classica, toda queimada do sol...

Yep... isso e tudo o resto. A pintura tá toda requeimada, o tablier tá todo ressequido e estalado, e os bancos vão pelo mesmo... é o sol do Alentejo no seu melhor!

Bem boas,as fotos.
Se visses as do meu...



É por isso que continuo a usar máquina fotográfica!

Pois, eu também prefiro, mas como cá em casa só há uma funcional e hoje em dia o ensino é cada vez mais multimédia, a patroa de vez em quando requisita-a e passam-se semanas que não a vejo... Mas há bocado estive a desmontar a caixa do telefone e a limpar o plástico exterior, penso que agora devem ficar melhorzitas... mas a qualidade máxima é mesmo aquela, não tenho de as reduzir sequer...

Bem, voltando ao tópico, há pouco ligaram-me a dizer que já chegaram os braços de suspensão, por isso da parte da tarde já temos material para entreter... logo dou mais notícias!

Um abraço a todos!

 

[Rafael S Marques]

Bem, voltando ao tópico, há pouco ligaram-me a dizer que já chegaram os braços de suspensão, por isso da parte da tarde já temos material para entreter... logo dou mais notícias!

Um abraço a todos!

Quer dizer, alinhaste a direção e agora vais mexer nela outra vez, volta a desalinhar...

 

[Eduardo Relvas]

Quer dizer, alinhaste a direção e agora vais mexer nela outra vez, volta a desalinhar...

Sim, infelizmente vai ter de ser! Não é o fim do mundo, porque não é caro, e o resto da suspensão já está como deve ser, mas é inevitável que no fim disto tudo tenha de ser revista novamente. O alinhamento de ontem foi um compromisso para resolver a IPO, mas entre um braço de suspensão a acusar a idade de um lado e um rolamento de roda com folga do outro, isto tem mesmo de ser feito tudo como deve ser e depois então tudo ajustado a condizer.

Aliás, como ainda estou vai-não-vai para fazer outra coisa, até pode ser que venha a ter de ser toda mexida novamente... mas ainda não me decidi.

Um abraço!

 

[Eduardo Relvas]

Bem, vamos lá pôr então isto em dia! Hoje já tinha o trabalho em meio quando consegui sacar a máquina de volta, por isso temos alguma ilustração como deve ser.

A seguir de almoço fui buscar os braços novos, mas só quando cheguei a casa é que me lembrei de verificar se tinham os casquilhos que seguram a estabilizadora. Não tinham... bolas. Bem, lá voltei à zona industrial, aproveitei para dar uma voltinha no 128...



Este carro ficou mesmo bom, oxalá consiga pôr o 127 metade do bom que este está...

De volta a casa, olhem a diferença entre novos e velhos... o tubo entra dentro deles, e estava num estado lastimável, mas depois de bem limpo, ainda deu para reaproveitar.



Do lado do condutor montei antes de jantar, foi tudo simples excepto o parafuso de dentro... quando o fui para meter, já tinha os outros apoios justos e nem pensar que ele se mexia para chegar aonde era preciso. Foi necessário aliviar tudo novamente, e depois de muita persuasão, lá foi ao lugar...



A ponteira com rótula é a que fixa ao fundo da manga do eixo, o furo no meio é o ponto de ancoragem da barra estabilizadora, e o casquilho mais à direita é o ponto de ancoragem à carroçaria.

Do lado do pendura, a cirurgia era mais extensa...



O rolamento desta roda tinha alguma folga, e teve de ser trocado. A troca foi feita antes de ter máquina, por isso já só tenho fotos de tudo armado...



Já vemos a manga de eixo montada com o rotor do travão e o suporte das pinças. Não foi fácil, porque o rolamento velho estava muitíssimo bem agarrado à manga do eixo, e só com muita persuasão (leia-se, o maior martelo do arsenal, e muita porrada) é que saíu do sítio. Aqui do outro lado vêem-se as ligações da manga...



O braço mais saliente é a ligação à ponteira da direcção, o da direita acima é o ponto onde liga à rótula do braço inferior (o novo que foi trocado), e o bloco maior em baixo e à esquerda é onde passam os dois parafusos que seguram a manga à torre de suspensão. No centro do rolamento vê-se o estriado onde passa a ponteira da homocinética, que transmite o movimento da caixa à roda.

Depois de alguma ginástica, se bem que muito menos que do outro lado (a experiência do outro lado deu-me a táctica para resolver a montagem mais facilmente), a coisa lá foi toda ao sítio...



... e do outro lado igual....



... é hora de pôr o carro no chão. As assistentes aprovam o trabalho, é hora de fazer um test-drive...



Resultado? Bem, nem parece o mesmo carro... a resposta eléctrica continua lá, mas agora muito menos incerta, e a direcção é leve, tão leve... até faz impressão! Não há folgas (e parece-me que não está muito mal de alinhamentos, mas assim que puder vou lá rever), e o comportamento em estrada é sublime! Temos máquina... ou melhor, temos um item a menos na longa lista de trabalhos!

Bem, hora de repôr o residente da garagem onde pertence, e fechar o tasco...



Por agora é tudo... mais avanços em breve!

Um abraço a todos!

 

[Eduardo Relvas]

Só um pequeno acrescento para deixar aqui o registo do estrago total... A conta dos dois braços, o suporte da panela de escape e abraçadeira que troquei há dois dias deu 36,50€. Os casquilhos da estabilizadora foram 3,50€... ou seja, 40€ no total.

Esta é daquelas coisas que fazem com que este seja um dos modelos mais perfeitos que existem para daily driver no nosso país... as peças são sempre extremamente acessíveis, e muitas vezes ainda há em stock nas lojas. Estava com receio de ficar pendurado por causa de me ter esquecido dos casquilhos, mas uma busca rápida no armazém e estavam em cima do balcão... espectáculo!

Um abraço a todos!

 

[AndreGaspar]

Impecável! És mesmo de Portalegre?
A minha irmã estuda Enfermagem em Portalegre.
Carros simples de manutenções baratas é o que se quer...

 

[Eduardo Relvas]

Impecável! És mesmo de Portalegre?
(...)

Yep... nascido, criado e residente!

Além disso, dou aulas no Politécnico, mas não na Escola de Enfermagem.

Um abraço!

 

[AndreGaspar]

Boas

Boa! O dia que for passar ai a noite, entro em contacto, pode ser que veja este verdinho!

 

[António Barbosa]

São estes os Diários de Bordo mais interessantes sem dúvida nenhuma, onde o DIY predomina e quem conduz sabe o que conduz.

Agora uma pergunta para o Professor de Materiais?? Os braços da suspensão na foto acima, são semelhantes aos do Mini, poder-se-à dizer que são forjados? Como é que a forma que eles têm foi obtida, fundição?, aço vazado? extrudido? Os termos que referi são de um quase leigo, mas já os ouvi várias vezes e estou curioso quanto a uma eventual explicação.