Clássicos a Preto e Branco

Guilherme Bugalho

BUGAS03
Portalista
Allan Série 0300 enquanto aguarda em Coimbra-B, conhecida também como Estação Velha

Ver anexo 1229073

Coimbra, 1979
Foi numa coisa destas que "tive" um choque frontal com um comboio de socorro. Mesmo frente à quinta onde cresci na Fontela ...
Seguia no fim da segunda carruagem ...
Se fosse igual a esta quase de certeza eu tinha ficado lá ... a segunda classe ìa na frente :xD::xD:
Foi num dia 19 de Dezembro ... as aulas normalmente acabavam a 18 ... nesse ano o 18 foi a um Domingo, o ministério ordenou mais um dia de aulas (segunda feira) e ....
pummmmmm e um morto (directo) retirado pelo meu pai mais uns amigos ... ficou preso pelo pescoço entre a primeira e segunda carruagem; naqueles ferros verticais que formavam um "átrio" na entrada ...
 

Tiago Baptista

Portalista
Portalista
Guardo boas memórias destas Allan.

Os meus avós paternos gostavam de fazer as suas compritas semanais na feira que se realizava (e ainda realiza) todas as quartas-feiras no largo do Mercado Municipal de Miranda do Corvo. Eu lá ia com eles, e mais tarde só com a minha avó, sentado à janela naqueles bancos de napa castanhos. Os bilhetes eram adquiridos na estação, pequenos, num material tipo cartão, avermelhados e inevitavelmente picados pelo revisor. Certamente ainda estarão guardados lá por casa alguns exemplares. Da moldura envidraçada via tudo e mais alguma coisa desde as fazendas amanhadas, ao rio Dueça que serpenteava o Ramal da Lousã, aos apeadeiros e estações entre Ceira e Miranda (que ainda hoje sei de cor o seu nome), ao número de túneis e pontes que encontrávamos até ao nosso destino. Comia o meu pãozinho com marmelada, doce de tomate ou manteiga que a minha avó carinhosamente me levava enquanto qualquer acção lá fora me prendia o olhar e eu era chamado a atenção para não me sujar. Muitas vezes quase que a automotora entrava em casa das pessoas tal a proximidade entre o caminho-de-ferro e as propriedades. Existia todo um ritual em dia de feira que é difícil transmitir por palavras. Desde os cheiros, aos pregões das peixeiras nas suas bancas, ao amolador, o homem das cautelas, os feirantes, o Grémio, a confusão de pessoas, o pão quente da padaria, a fruta colhidas das árvores do quintal, as hortaliças fresquinhas, o cebolo, horto, couve prontas a semear, o cutelo a bater na tábua até às louças de barro no centro do mercado e tantas outras situações e recortes que me ficaram gravados para sempre. Não só no local como no próprio meio de transporte.

A robustez exigida pelo traçado do ramal estava garantida com a imponência das 0300. Não só pela constituição física da mesma, como também, pelas cores usadas. Recordo-me bem daquele sinal sonoro na chegadas às passagens de nível e daquele farol enorme quando se acendia à noite. Impunham respeito!

Isso foi-se perdendo, tornando-se algo impessoal, mais tarde, quando vieram as Allan 0350 e, por último, as 0458. Chegavam a ser "secas" demais para a simplicidade que se pedia. É claro que toda esta envolvência acabou definitivamente quando o trânsito ferroviário foi interrompido, em 2009, e a linha centenária levantada. Mas isso são outros quinhentos que davam pano para mangas. Infelizmente saiu prejudicada toda a população entre Serpins e Coimbra.
 
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