Audi 80 (1993)

Clássicos Modernos

Audi 80 (1993)

OP
OP
josecarlosromao

josecarlosromao

Veterano
Premium
Pode parecer que estou a tentar fazer suspense mas não tenho é tido tempo nenhum. Continuemos.

O carro ainda andou 5 meses com passagem dos gases de combustão, tendo eu o cuidado de não puxar muito por ele. Duas vezes dei com o termômetro nos 120°, e muitas outras acendeu o avisador de nível. A solução era sempre abrir a tampa do reservatório, esperar que o géiser acalmasse e voltar a encher.

Houve uma noite em que o carro estava a aquecer por mais que eu fizesse isto, pelo que não podia esperar mais. Entretanto, tinha andado a estudar todos os passos para trocar a junta, que me pareciam infinitos.

Por outro lado, a mudança da junta no Saab correu bem, o que me deu confiança para avançar com o mesmo no Audi.

Durante a remoção, a maior dificuldade foi desapertar a porca do retorno do óleo do turbo (estava muito preso). Uma surpresa foi uma capa da árvore de cames estalada.

IMG_20190522_145715.jpg

Na retificadora foi descoberto que a árvore de cames estava empenada. Tanto a capa como o veio foram comprados na Lumapecas, em pombal. Foi o único sitio do país (e do mundo) onde consegui encontrar capas à venda.

As passagens de água da cabeca estavam bastante corroídas, foi provavelmente isso a causa da passagem de gases para o circuito de refrigeração. Foram soldadas na retificadora. Deixei lá, incluindo o torneamento da árvore de cames, montagem de válvulas e facejamento ligeiro, 220 euros, já com desconto de 34 euros por eu ter andado para trás e para a frente para arranjar as peças.

O que descobri foi também haver corrosão no bloco.

IMG_20190522_145651.jpg

Opinião especializada disse-me logo que tinha de tirar o bloco para o encher e maquinar e isto e aquilo.
Decidi arriscar - encomendei JB Weld (cuja temperatura máxima é superior às outras soluções no mercado), e para além disso meti nessas zonas silicone de cobre.

A junta que eu tinha no carro tinha três furos (era a mais espessa) mas mesmo depois de comprar uma igual mudei de ideias e meti uma de dois furos. O carro já tinha sido aberto, e devem ter metido a junta mais espessa porque é o habitual depois de uma retificação nos motores com câmara de combustão na cabeca. Não é o caso do TDI, que a tem nos pistons (a cabeça é lisa). Como resultado o carro custava muito a pegar de manha, muito devido à reduzida taxa de compressão.

Tive a sorte de na altura o Saab estar operacional, pelo que era o meu carro de serviço ao fim de semana (durante a semana usava o carro da minha mãe, que levei para Coimbra).

PfqDZ9Z.jpg

A primeira vez que liguei o motor a sensação foi de um enorme orgulho, mas depressa percebi que estava a saltar óleo por toda a parte. A tampa das válvulas ainda estava cheia de restos de silicone de uma montagem anterior. Limpei-a e meti novamente silicone.

Já ia fazer uma viagem grande depois de tudo montado quando comecei a ouvir, e a seguir a sentir com a mão, compressão a sair por um injetor. Cheguei à conclusão que era porque não lhes tinha mudado as anilhas.

Trocadas as anilhas, pus-me a caminho da casa dos pais da minha namorada, a 100 km. Lá chegado, fui abrir a tampa do vaso de expansão. Nem uma gota saltou, o anticongelante estava imóvel. Os meus referenciais ficaram todos em causa. Eu sabia que tinha acabado de fazer uma viagem grande mas o carro encontrava-se como se não tivesse saído da garagem. A rotina de aliviar ligeiramente a tampa e ouvir um estrondo e vir um jato tinha acabado. Não estava a fazer sentido nenhum.

Ao longo das semanas seguintes, notei que o consumo de óleo tinha aumentado, o que associei a uma possível fuga na tampa das válvulas. Um dia estava a arrumar a garagem quando dei com uma peça em plástico que não estava a reconhecer. Depois de procurar no Etka, encontrei - era o retentor do óleo da árvore de cames.
 

Anexos

  • IMG_20190522_145715.jpg
    IMG_20190522_145715.jpg
    385.8 KB · Vistos: 111
  • IMG_20190522_145651.jpg
    IMG_20190522_145651.jpg
    160 KB · Vistos: 111
  • PfqDZ9Z.jpg
    PfqDZ9Z.jpg
    390.5 KB · Vistos: 111
Última edição:
OP
OP
josecarlosromao

josecarlosromao

Veterano
Premium
Eu sou completamente parcial aos carros italianos, mas esse Fiesta MK3... e esse motor... Não troques! Isso é carro para durar toda a vida. Conheço histórias incríveis com carros desses!

Olha entretanto esse ficou sem água (o sensor não estava a funcionar) e teve que levar motor novo...
Por que é que não troquei o sensor antes? Porque o carro era dos sogros e eu já sei por experiência que não há uma coisa que eu não vá trocar que não acabe por partir outra no processo... Mas eu devia estar a vigiar os níveis, e falhei nisso.
 
OP
OP
josecarlosromao

josecarlosromao

Veterano
Premium
Bem vou continuar aqui o meu drama... Eu tenho evitado falar nisto porque a certa altura já não tem piada nenhuma, é só desgraça alheia. O raio da cabeça que mandei soldar voltou a dar passagem. O alumínio foi à vida dele, apesar de eu ter andado sempre com anti-congelante G12.
20200215_124641~2.jpg
Este episódio (entre outros) fez-me perceber o quão eu me tinha enganado. Eu queria um carro velho para daily driver, porque gosto de carros velhos. Mas arranjei uma desculpa para mim próprio, que era ser mais barato assim que comprar um carro novo. Ora bem, comigo a fazer a mão de obra, gastei 220 euros na retificadora (para o lindo serviço que fizeram), mais uns 100 de material, e uns 50 em ferramentas. Se tivesse sido numa oficina, falaram-me em valores superiores ao que dei pelo carro (1100). Para quê? Para aguentar um ano (a retificadora é a mesma que trabalha com a oficina). Isto sem mencionar um sem fim de coisas que tive de trocar e que já deviam dar para construir parte substancial de um carro.
Para evitar estas vidas desta vez meti-lhe uma cabeça em segunda mão, que só depois de retificada percebi que também já tinha sido soldada. Ou seja, pela experiência já estou a fazer conta que qualquer dia vou ter de lhe trocar outra vez a cabeça como quem muda o filtro de óleo. Mais valia arranjar a minha...
 
Última edição:
OP
OP
josecarlosromao

josecarlosromao

Veterano
Premium
Houve uma experiência que me marcou muito mais do que as trocas de cabeça, e na qual penso quase todos os dias.

Eu comprei um carro grande para daily driver devido à segurança passiva (mais chapa para amassar). Quanto ao resto, a primeira coisa que fiz quando o comprei foi metê-lo a fazer a revisão num mecânico (a única vez desde que o comprei que viu um mecânico) e confiar. Claro, é sempre um risco. Ao acompanhar o portal, sabia que ao Pedro Teixeira uma rótula da direção se tinha partido e que um Visa do Afonso Patrão ficou uma vez sem travões. Numa sucata apanhei um Audi igual ao meu com o cubo da roda neste estado:

20190619_153048.jpg

Bem, um dia mal tinha eu saído da autoestrada quando ouvi um barulho muito alto. Parei o carro, e quando arranquei apercebi-me que o volante não estava ligado às rodas. Uma peça que liga a caixa de direção às ponteiras que partiu. Aqui podemos vê-la no carro a que fui buscar a que neste momento está no meu (Nosso Senhor a cuide):

IMG_20190316_105943.jpg

Neste modelo o motor é longitudinal, e a caixa de velocidades ocupa o espaço onde deveria estar a caixa de direção, que por isso está acima do sítio habitual e como não pode ter as ponteiras nos extremos da cremalheira, tem esta peça genial.

Screenshot_20200908-190133~4.png

Perceber como é que uma direção de um carro parte subitamente passou à frente de todas as minhas outras preocupações mundanas.

Eu sei reconhecer quando uma peça é o resultado de terem pedido a um engenheiro qualquer coisa que junte duas outras peças previamente existentes.
Há peças que levam rosca e outras que levam porcas - esta leva as duas. Melhor, dirão. Mas não necessariamente. No meu carro, as porcas não estavam lá. Como o acesso é complicado, o mecânico que um dia substitiu o fole da direção pode não as ter apertado o suficiente, e como não meteu novas (são de retenção) elas caíram.

Mas infelizmente o mais provável é ele nunca as lá ter metido de volta. Porquê? Porque como já tinha apertado os parafusos na caixa de direção, achou que não valia a pena metê-las. Muitos mecânicos não são meros seguidores dos manuais de instruções, são engenheiros no lugar errado. Aliás, os engenheiros são todos burros, aquelas porcas claramente não estavam ali a fazer nada a não ser fazê-los perder dois preciosos minutos.

Então a culpa foi do mecânico que não meteu as porcas? Mas por que é que elas afinal lá deviam estar? O parafuso não roscava na cremalheira afinal? Encontro duas possíveis razões para as trazer ao mundo. A primeira é para que o parafuso não fuja. É estranho, mas a verdade é que por ser uma montagem tão crítica poderia haver razão para a redundância. A confirmar esta teoria eu numa das minhas intermináveis e quase sempre infrutíferas pesquisas sobre o assunto ter visto estas porcas mencionadas como de retenção. Mas pode ter sido só uma escolha de palavras do departamento de assistência. De qualquer forma, o modo de falha na ausência das porcas não foi a saída dos parafusos mas sim a fratura da peça.
Então, o objetivo das porcas, que passou ao lado do notável mecânico, e possívelmente à marca que as manda lá pôr, era afinal evitar que a peça partisse. Porquê? Bem, teoricamente o esforço da cremalheira é distribuído pelas duas abas igualmente. Se nós encastrarmos a aba superior por meio do aperto dos parafusos e deixarmos a inferior não solicitada há tensão devido à flexão da peça, levando a uma fratura por fadiga. A minha única reserva é que não há cedência plástica na fratura, ao contrário do que eu estaria à espera.

IMG_20190414_121932~2.jpg

De qualquer forma, devido à espessura e tipo de liga que deverá ter menos tenacidade que o aço, é provável que tenha sido mesmo uma fratura por fadiga.

Combinados, os mecânicos e os engenheiros não teriam conseguido fazer um pior trabalho. E qual é o meu objetivo na vida? Ser cobaia humana dos desenrascansos deles? Quais as minhas prioridades? Conduzir um carro que gosto? Ter quatro membros? Gastei uma vida à conta desta brincadeira.
 
Última edição:

António_Vidal

Veterano
Premium
Portalista
Incrível. Nem quero imaginar a sensação de rodar o volante e nada acontecer:oops:
Felizmente tudo se deu por bem e já está diagnosticado.
É comum a todos os 80 da mesma versão acontecer o mesmo? A resposta certamente ajudará a desvendar o enigma defeito da peça/mecânico
 
OP
OP
josecarlosromao

josecarlosromao

Veterano
Premium
Incrível. Nem quero imaginar a sensação de rodar o volante e nada acontecer:oops:

Felizmente estava numa estrada em cidade, mas podia estar numa nacional e ir parar à faixa oposta. Na altura fazia diariamente 150 kms com o carro.

É comum a todos os 80 da mesma versão acontecer o mesmo? A resposta certamente ajudará a desvendar o enigma defeito da peça/mecânico

Já me fartei de procurar em todos os fóruns, mas nunca encontrei um caso semelhante. Acho muito estranho... Porque quanto às falhas reportadas por outros condutores eu posso precaver-me, agora acontecer-me uma coisa destas deixa-me dependente unicamente do destino. A direção pode estar afinada, pode ter óleo, isso passa a ser tudo irrelevante.
 
OP
OP
josecarlosromao

josecarlosromao

Veterano
Premium
Ter atualizado o tópico do Saab com um acontecimento vagamente relacionado tem a consequência de receber o carinho dos membros do portal, e o desconforto de eu saber que o carro não vai circular nos próximos anos e portanto não vai haver mais incidentes a lamentar.
Mas de resto, ainda ontem instalei este lindo botão no Audi para ligar o motor de arranque:

IMG_20201015_082421.jpg

O raio do carro está com uma avaria intermitente e assim da próxima vez que ele não pegar eu carrego no botão e se pegar, é do circuito, se não, tenho de substituir a bobine de chamada e, antes disso, apanhar um autocarro, e antes disso, bater lá com a pedra no motor de arranque, que em termos de mecânica não é muito certo que funcione mas para acalmar os nervos é o melhor que há.
 
Última edição:

António_Vidal

Veterano
Premium
Portalista
Já tinha saudades do teu sentido de humor. :lol::xD:


Isso está giro, mas podia estar melhor. Sei que tens capacidade para instalar um interruptor com acesso remoto. Tentavas ligar através do smartphone a partir da varanda de casa. Se o carro não ligasse, ainda tinhas tempo de chamar o Uber e tomar o pequeno almoço em pijama. ;)
A seguir esta recomendação convém deixar estacionado em ponto morto, não esquecer:xD::xD::xD:
 
OP
OP
josecarlosromao

josecarlosromao

Veterano
Premium
Já tinha saudades do teu sentido de humor. :lol::xD:


Isso está giro, mas podia estar melhor. Sei que tens capacidade para instalar um interruptor com acesso remoto. Tentavas ligar através do smartphone a partir da varanda de casa. Se o carro não ligasse, ainda tinhas tempo de chamar o Uber e tomar o pequeno almoço em pijama. ;)

O meu único objetivo é diagnosticar uma falha intermitente para arranjar o que for preciso. Há dois anos à custa do mesmo problema substitui sucessivamente bobine, motor e sistema elétrico porque não estava a conseguir diagnosticar o problema. Aliás, quase de certeza que a causa do problema atual é o sistema elétrico que eu fiz. Já lhe dei um jeito, pode ser que tenha sido suficiente.
 

António_Vidal

Veterano
Premium
Portalista
Este sistema funciona como os atuais push button, pois precisa que a chave esteja na ignição. Porquê? Bem, este motor não tem bomba elétrica, pelo que talvez seja para a bomba de distribuição ler o sinal da centralina.
Então a sugestão do @JorgeMonteiro de pegar à distância cai por terra :xD:
Falando em avarias intermitentes.. Já queimei um fusível no 33 por ter uma ficha suja. Um pouco de spray limpa contactos e ficou resolvido. Não sei se foi útil
 

Rafael Isento

Portalista
Membro do staff
Portalista
Ter atualizado o tópico do Saab com um acontecimento vagamente relacionado tem a consequência de receber o carinho dos membros do portal, e o desconforto de eu saber que o carro não vai circular nos próximos anos e portanto não vai haver mais incidentes a lamentar.
Mas de resto, ainda ontem instalei este lindo botão no Audi para ligar o motor de arranque:

Ver anexo 1186904

O raio do carro está com uma avaria intermitente e assim da próxima vez que ele não pegar eu carrego no botão e se pegar, é do circuito, se não, tenho de substituir a bobine de chamada e, antes disso, apanhar um autocarro, e antes disso, bater lá com a pedra no motor de arranque, que em termos de mecânica não é muito certo que funcione mas para acalmar os nervos é o melhor que há.
Apesar do problema, a prosa é o que nos acostumaste, muito bom :xD:

Tens ideias que não lembram ao diabo, essa cabeça deve fervilhar quando está a dormir :thumbs up:
 
Topo