Antes do texto, convém esclarecer que escrevi sobre aquele que é, juntamente com o Tazio Nuvolari, o meu piloto preferido. Nunca o vi correr, porque morreu um mês antes de eu nascer, mas o que vi em vídeos, documentários e gravações, chega-me. O meu pai descreve-o como “um piloto fabuloso”. Eu acho que isso é pouco…
Gilles Villeneuve
Joseph Gilles Henri Villeneuve nasceu no dia 18 de Janeiro de 1950 em Saint-Jean-sur-Richelieu, uma pequena cidade da província francófona do Quebec, no Canadá. Em 1958 a família mudou-se para Berthierville. Obteve a carta de condução em 1966 e comprou o seu primeiro carro – um Skoda.
Em 1967 Gilles estreou-se nas corridas de
snowmobile onde obteve algumas vitórias em campeonatos regionais.
Em 1970 casou-se com Joann Barthe e no ano seguinte nasceu o seu primeiro filho. Jacques Villeneuve, que viria a ser campeão do mundo de F1 em 1997.
Em 1973 além do nascimento da segunda filha – Mélanie, começou a nascer a lenda. Gilles Villeneuve estreou-se na Formula Ford e, logo nesse ano, foi o Rookie do ano e ganhou o campeonato do Quebec.
No ano seguinte voltou às corridas de
snowmobile e ganhou o campeonato do mundo. Nesse mesmo ano de 1974 começou a correr nos monolugares da Formula Atlantic e em 1975 ganhou uma das provas.
Em 1976 foi avassalador e ganhou o campeonato dos EUA e o campeonato do Canadá de Formula Atlantic. Ganhou 9 das 10 provas em que alinhou. Na outra desistiu por avaria.
No ano seguinte voltou a ser campeão, com mais 3 vitórias e um 2º lugar nas 4 corridas que terminou.
Em Julho desse ano de 1977 estreou-se na F1 a convite da Mclaren, no GP de Inglaterra, em Silverstone. Qualificou-se em 9º, fez a 5ª volta mais rápida e terminou em 11º por causa de problemas elétricos que o fizeram perder 2 voltas. A McLaren não o contratou e em Agosto Villeneuve viajou até Itália para testar pela Ferrari.
Uns anos mais tarde, Enzo Ferrari disse: “Quando me apresentaram um pequeno canadiano, um pacote minúsculo de nervos, reconheci imediatamente nele o tipo físico do grande Nuvolari e disse para comigo: vamos dar-lhe uma oportunidade”.
Gilles correu pela Ferrari nas 2 últimas provas de 1977. No GP do Canadá desistiu por avaria e no GP do Japão desistiu devido a um acidente.
O ano de 1978 começou mal, com uma série de desistências. Apesar da pressão da imprensa italiana, Enzo Ferrari decidiu manter Villeneuve na equipa e a meio do ano a prestação do piloto melhorou, tendo conseguido um pódio no GP da Áustria, a 13 de Agosto. Com alguns azares pelo meio, a primeira vitória só chegou no dia 8 de Outubro, no GP do Canadá. Até hoje, Gilles Villeneuve foi o único piloto de F1 canadiano a ganhar “em casa”. Ficou em 9º no campeonato, com 17 pontos.
O ano de 1979 foi o seu melhor na F1. Conseguiu 2º lugar por 4 vezes e ganhou 3 GPs – África do Sul, EUA Oeste e EUA Este. Neste último, nos treinos de 6ª feira, debaixo de uma chuva intensa, conduziu como só ele sabia e numa das volta fez um tempo que deixou o 2º piloto mais rápido (o colega de equipa Jody Scheckter) a 9 segundos de distância. Terminou o ano em 2º do campeonato, a 4 pontos de Jody Scheckter.
Desse ano de 1979 vale a pena recordar aquela que para mim é a melhor “luta” de sempre na F1. Foi no GP de França, em Dijon e a melhor maneira de ser recordada é vendo este vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=kl2tIFxSEGA
Gilles Villeneuve disse mais tarde: “É a melhor recordação que tenho da F1.”
O ano de 1980 foi um desastre para a Ferrari, pois o carro não possuía o mesmo efeito de solo que equipava os dominadores da F1 desse ano – Williams, Brabham, etc. Gilles Villeneuve terminou o ano em 14º, com apenas 6 pontos.
Em 1981 a Ferrari aderiu à moda dos motores turbo, com o Ferrari F 126C. Embora o carro tivesse imensa potência, os problemas de estabilidade continuaram. Mesmo assim, Villeneuve ganhou o GP do Mónaco e o GP de Espanha. No GP do Canadá, disputado com chuva, o aileron da frente do Ferrari soltou-se. Depois de ter conduzido várias voltas com o aileron da frente preso ao carro e a bloquear-lhe a visão, quando o aileron se soltou, conseguiu segurar o carro incrivelmente e terminou em 3º.
O ano de 1982 parecia promissor, apesar das desistências na África do Sul e no Brasil (neste GP chegou a estar em 1º) e da desclassificação na secretaria depois do 3º lugar conseguido no GP dos EUA Oeste. Na corrida seguinte, em San Marino o avanço dos Ferrari era tal que a equipa mandou os pilotos abrandar para poupar combustível. Villeneuve ia em 1º e o francês Didier Pironi em 2º. A certa altura Pironi ultrapassou e Villeneuve retribuiu, achando que o francês estava apenas a entreter os tifosi. Mas Pironi quebrou o acordo e passou Villeneuve na última volta ganhando a corrida.
No dia 8 de Maio de 1982, às 13:52, no circuito de Zolder, na Bélgica, a F1 perdeu um dos seus maiores pilotos. Era 6ª feira e os treinos aproximavam-se do fim. Gilles Villeneuve vinha depressa quando apanhou o March de Jochen Mass a andar muito devagar. Mass desviou-se para a direita, mas Gilles fez o mesmo e a colisão foi inevitável. A roda da frente esquerda do Ferrari tocou na roda traseira direita do March e o Ferrari levantou voo. Villeneuve foi projectado e caiu na rede de proteção da pista. John Watson e Derek Warwick pararam imediatamente e retiraram-no da rede (depois de David Purley, mais uma vez os ingleses deram um enorme exemplo de cavalheirismo e coragem). Poucos segundos depois chegaram os médicos que, vendo que Gilles não respirava mas tinha batimento cardíaco, o entubaram. Foi transportado para o hospital, mas as lesões eram irreversíveis. Mantiveram-no ligado às máquinas de suporte de vida, esperando pela mulher e consultando vários especialistas. Inevitavelmente às 21:00 foi declarado clinicamente morto e a sua mulher deu autorização para desligarem a máquina às 21:12.
Sobre ele Niki Lauda disse: “O Gilles tinha o melhor talento de todos nós. Era rápido em qualquer carro em que o pusessem.”
Jody Scheckter disse: “Sentirei a falta do Gilles por duas razões. Primeiro, ele era o piloto mais rápido da história das corridas de automóveis. Segundo, era o homem mais autêntico que eu conheci. Mas ele não partiu. A memória do que ele fez, do que atingiu, estará sempre presente.”
Enzo Ferrari recordou-o assim: “Com a sua morte, perdemos um grande campeão. (…) Tinha com ele uma relação de pai e filho.”
A mim o que me faz respeitar o Gilles Villeneuve e considerá-lo no topo é a sua entrega. A capacidade de lutar com a mesma garra pelo 2º, pelo 1º ou pelo 10º lugar.
Termino com duas frases do próprio Gilles Villeneuve que o definem perfeitamente:
“Corro para ser 1º mesmo que não possa ganhar, gosto de correr sempre, pelo prazer de competir. Este é o meu trabalho e nada me pára. Se eu não pensasse assim, não podia ser piloto.”
“Desde que o carro ande, eu conduzo-o. Gosto de correr no limite, em 1º ou em último.”