Vejam só ao fim de anos, o que encontrei no site do " InterClássicos" , que com a devida vénia reproduzo.
1a PARTE
Mestre Jaime Rodrigues
Esta merecida homenagem ao "Mestre Jaime Rogrigues" foi gentilmente oferecida pelo seu filho Mário Rodrigues.
Mestre Jaime Rodrigues
César Torres
“Estava ligado aos primórdios do automobilismo desportivo português”
José Lampreia
“Tinha um ouvido e umas mãos notáveis para afinação de motores”.
Baptista dos Santos
“Guardarei uma boa recordação do Jaime”
Fernando Baptista
“Como desportista poderia servir de exemplo para muitos”
Manuel Gião
“Marcou a melhor época da minha vida como piloto”
Francisco Romãozinho
“Foi o melhor preparador nacional de carros de competição”
Nasceu em 1912, no Tortozendo, vila industrial a 7 Km da Covilhã, distancia que palmilhava diariamente para ir e regressar da escola primária. Depois, a vinda para Lisboa e o ingresso no Lice
Mas quando via passar os automóveis, muito poucos nesse tempo, pensava como seriam aqueles motores e engrenagens que os faziam andar e que eram já o seu sonho.
Pediu aos pais para sair do Liceu e ingressou numa oficina. Passou por várias, sempre na ansia de aprender, até que entrou no “Almeida dos Cadillacs”, ao tempo, considerado o melhor mecânico e preparador do país. Lá se conservou vários anos, tendo chegado a chefe da oficina com apenas 18 anos de idade.
O automobilismo desportivo começava então a revestir-se de certo entusiasmo e os corredores da época procuravam aquela oficina.
Começou a ser responsável pelos carros desportivos, estávamos em 1932-33 e os carros que primeiro preparou e assistiu foi um BNC e um Bugatti de José Gonçalves.
Esse BNC ainda hoje se encontra exposto na sede do “Clube 100 à Hora”.
Quando escrevi estas linhas não sonhava vir a saber da venda do carro para o estrangeiro. Foi com muita pena, que ao ler o Editorial do nº88 do Topos & Clássicos, tive conhecimento da venda do BNC que pertencia ao “Clube 100 à Hora” , e que foi dos primeiros carros de corrida afinados e assistidos pelo Jaime Rodrigues. “É de facto de lamentar que os responsáveis pelo “Clube 100 à Hora” tenham vendido para o estrangeiro um carro tão importante para a História do Automobilismo Desportivo Nacional.”
O Jaime Rodrigues assistiu depois corredores que ficaram na história do automobilismo português, como Roque da Fonseca, Almeida Araújo, Carlos Black, Henrique Lerfield, Vasco Sameiro, Manuel Nunes Santos, António Leitão d’Oliveira, Manuel Soares Mendes e tantos outros.
Para além de excelente mecânico e preparador, o Jaime Rodrigues guiava muito bem, e ao tempo entrou em várias provas em Bugatti, como no Circuito de Santarém em 1936] e no Quilómetro Lançado do Cabo em 1937 que ganhou em Bugatti 35A na Classe E
- Corrida, com a média horária de 143,483. Nesta prova, o Eng. Ribeiro Ferreira ganhou na Classe D- Corrida, com a magnífica média horária de 203,735 !
Ao volante de um Bugatti 35A no Circuito de Santarém em 1936
1938- Estabeleceu-se na Rua da Beneficência – Lisboa, e o seu primeiro cliente com um carro de competição foi Manuel Nunes Santos com um B.M.W. 328 o “EG-10-40” que ainda hoje roda nos Circuitos Clássicos. Á época o carro não era todo branco, tinha os painéis laterais pintados de vermelho.
Assistiu-o nos Circuitos do Porto, Vila Real, Miramar, Campo Grande, Quilómetro de arranque das Caldas da Rainha e do Cabo e Circuito da Av. Todi Setubal.
Rallye de Miramar –Jorge Seixas- Allard - Manuel Nunes Santos/Jaime Rodrigues- BMW 328 - Dr. Oliveira Martinho- BMW 327
1940/45- Foram anos difíceis para o automobilismo nacional.
Como consequência da II Guerra Mundial, resultou para o Mundo a escassez de gasolina e outros com bustíveis líquidos, pelo que a adopção do gasogénio, apesar do incómodo da sua utilização, foi a saída para manter os carros a rolar.
Definindo de uma forma simples, o chamado gasogénio era obtido pela queima de carvão ou lenha.
O dispositivo para obtenção do gasogénio requeria uma instalação volumosa e era normalmente mon tado na traseira dos veículos, tendo um peso aproximado de 100 Kgs. O funcionamento não era imediato, levando a formação do gás no gerador cerca de 5 a 10 minutos. Como consequência destas dificuldades, a actividade desportiva em Portugal foi suspensa.
Mas outros países houve, em que o gasogénio foi utilizado em provas desportivas.
No Brasil, o campeão brasileiro Landi conseguiu do governo autorização do gasogénio em provas desportivas, e assim foi campeão com um Buick 1941(adaptado) por três anos consecutivos, de 1943 a 45.
Dizia-se que entre os seus cuidados, estava a utilização de carvão de nó de pinho, considerado o melhor para o motor.
Landi, ficou conhecido como o “Rei do Gasogénio”.
Vasco Sameiro em Abril de 1943, ganhou no Rio de Janeiro uma corrida de automóveis de turismo a gasogénio.
Nestes anos, o Jaime Rodrigues contribuiu também para o parque automóvel nacional, com a montagem de vários dispositivos de gasogénio.
Junto a um dos muitos gasogénios que montou durante o período da II Guerra Mundial
Com o fim da guerra, as restrições acabaram, reiniciaram-se as provas desportivas e o Jaime começou a participação nos rallies como navegador, a que ao tempo se chamavam “penduras”.
O “pendura”, além de navegador, era o mecânico que na ausência da assistência organizada tentava resolver (e muitas vezes resolvia) os problemas no local onde surgiam.
Com Fernando Stock na Iª Volta a Portugal; em 1949, num Skoda
1949- I ª Volta a portugal, companheiro de Fernando Stock, que também se estreava nas lides desportivas com um Skoda de que era o representante para Portugal.
Chegada a Monte Carlo, com Manuel Nunes Santos em Oldsmobile - 1951
Depois, com Manuel Nunes Santos duas presenças no Rallye de Monte Carlo, a primeira em Oldsmobile, em que se classificaram em 51º LUGAR e a segunda , já com um carro com pretensões, um BMW 327, mas com o motor do 328 Branco ( agora já se pode dizer), mas infelizmente tiveram que abandonar depois de acidente no norte de Espanha.
1950- Afinou e assistiu os primeiros Porsches 1100 de Carlos Vinhas Santos, Salvador Vila Maior e de Manuel Nunes Santos, com quem participou na Volta a Portugal e no Rallye Internacional .
No Porsche 1100 com Manuel Nunes Santos no Rallye Internacional
Neste ano continuou a assistir o BMW 328 ( ex-Manuel Nunes Santos), mas já conduzido por Daniel de Magalhães.
O Jaime a alinhar o BMW 328 no Circuito Internacional do Porto -1950
1952- Chegaram os Porsches 1500 –O Filipe Nogueira tinha ganho a 2ª Volta a Portugal em MG, e comprou um dos primeiros Porsches 1500, o DI-18-17. Estrearam o carro e estrearam-se como equipa nas 24 Horas da Bola que ganharam.
A partir daí, foram cinco épocas inesquecíveis, ganharam, como se costuma dizer, tudo o que havia para ganhar, incluindo a IV Volta a Portugal e o Rallye Internacional de Lisboa por duas vezes consecutivas, as taças cidade de Lisboa e cidade do Porto.
O Jaime Rodrigues afinava e assistia também os Porsches 1500 de D.Fernando de Mascarenhas, Fernando Stock, Castelo Branco, João Ortigão Ramos, João e Alberto Graça, João Capucho, Romão Martins, Manuel Soares Mendes, Dr. Oliveira Martinho e outros.
Fez equipa com João Graça na Volta á França em 1952 assistindo também a equipa Filipe Nogueira/Joaquim Tojal.
A primeira vitória com o “ DI-18-17” nas 24 Horas da Bola, com Filipe Nogueira
Com Filipe Nogueira na chegada a Lisboa como vencedoresda IV Grande Volta a Portugal
A Porsche adoptou as grelhas de arrefecimento de travões da frente feitas pelo Jaime
Podia ler-se na revista oficial da Porsche : “Reparem que o Porsche do Portugês tem umas grelhas de entrada de ar para arrefecimento dos travões”. Referiam-se ao Porsche do Filipe Nogueira na Volta á França. O Jaime nesta prova foi companheiro de João Graça em Porsche, mas também assistia o Porsche da equipa Filipe Nogueira/Joaquim Tojal.
Os travões da frente do Porsche tinham tendência a aquecer e ainda só tinha feito esta alteração ao carro do Filipe Nogueira para a IV Volta a Portugal desse ano, que venceram.
Pois os Porsches de fábrica que vieram a seguir já traziam as grelhas de arrefecimento do Jaime.
Depois chegaram os Porsches 1600 e os Porsches Denzel. Os Porsches Denzel, ficaram conhecidos pelas boas prestações na sua categoria em circuitos.
O Jaime afinava e assistia os Denzel de D. Fernando Mascarenhas, Fernando Stock, e os dois que mais provas ganharam, o “CG-19-75”de Ernesto Martorell e o “FH-20-49” de Filipe Nogueira, com que fizeram a VI Volta a Portugal.
Assistiu a equipa Ernesto Martorell/Filipe Nogueira com o “CG-19-75” nas 12 Horas de Casablanca.
As taças da vitória na IV Volta a Portugal Nesta distribuição de prémios, Filipe Nogueira ofereceu ao Jaime um Relógio de ouro
No embarque do Denzel da equipa Filipe Nogueira/Ernesto Martorell para as “12 Horas de Casablanca”
A Palavra acima da amizade
Falando dos Porsches Denzel, não consigo resistir a contar um episódio que se passou com Ernesto Martorell e o Filipe Nogueira.
Os carros estavam na oficina do Jaime Rodrigues, alinhados lado a lado recebendo as últimas atenções para o Circuito de Monsanto.
Faltavam dois ou três dias para a prova e o Ernesto Martorell apareceu ao Jaime com dois carburadores especiais que tinha mandado vir de Itália com grande sigilio para que o Filipe Nogueira não soubesse.
Pediu ao Jaime que os montasse e afinasse, mas que nada dissesse.
O Filipe Nogueira e o Ernesto Martorell eram bons amigos, mas havia entre eles uma grande rivalidade.
O Jaime era muito amigo do Filipe Nogueira, mas cumpriu o que lhe foi pedido.
Escusado será dizer que o carro do Ernesto Martorell ficou a andar bem mais que o do Filipe, que muito admirado, no final dos treinos, perguntava o que se estava a passar.
Consternado, o Jaime contou-lhe, e como se comprometera a guardar segredo.
O Ernesto Martorell ganhou no Circuito de Monsanto a Taça Governador Civil de Lisboa (1954) e o Filipe Nogueira ficou em 2º Lugar.
Era assim o Jaime Rodrigues.
Na Volta à França com João Graça Em Porsche 1500 – 1952 Vitória de Ernesto Martorell em Denzel no Circuito de Monsanto
1953- Filipe Nogueira recebe o seu primeiro Ferrari, “ID-18-48” e o carro foi-lhe entregue para assistência.
Afinado e ssistido pelo Jaime, fez vários Circuitos como o do Porto e Vila Real.
Com Filipe Nogueira testando o Ferrari no Circuito do Porto - 1953
1954- Ernesto Martorell ganhou no Porsche Denzel (CG-19-75) A II Taça Cidade do Porto e a Taça Governador Civil de Lisboa e Filipe Nogueira fez 2º Lugar nas duas provas com o (FH-20-49).
Monsanto (Taça Governador Civil de Lisboa -1954) (Com os tais carburadores…)
1955/56- Mudou a oficina para a Rua da Ponta Delgada. Tinha melhores condições técnicas e de espaço, para assistir quem o procurava.
Chegaram os primeiros Porsches Spyder-1500/1600.
Filipe Nogueira (FE-22-24), Fernando Stock, Correia de Oliveira (LC-23-99)D. Fernando Mascarenhas (CB-22-21)Moura Pinheiro (HF-23-70), Marinho de Lemos, e Daniel de Magalhães,com o RSK confiaram-lhe a afinação e assistência dos seus carros.
Foram muitas as vitórias dos Spyder’s por si preparados, mas o que mais alegrias lhe deu foi o “FE-22-24”, do Filipe Nogueira , que venceu o Circuito de Vila do Conde (1955) e a Taça Cidade do Porto (1955). Também em 1955 no Circuito de Monsanto o Filipe Nogueira fez uma corrida para recordar, dando luta até ao fim a Stirling Moss, acabando o britânico por vencer, mas com um carro de fábrica com motor mais potente.
A prova de que assim era, foi a de que, depois dos treinos, e obtidos os tempos de qualificação, foi feito o pedido à assistência de Stirling Moss que cedesse o motor suplente que traziam, para montar no carro do Filipe. Contactada a Fábrica, o pedido foi negado.
Ora, depois de acabados os treinos e com o carro em óptimas condições, o motor já de nada lhes servia, mas com carros iguais o portugês seria um caso muito complicado para o Stirling Moss.
Circuito de Monsanto -1955 Junto a dois Spyder’s que assistia Nº1-Filipe Nogueira Nº2-D. Fernando de Mascarenhas
Em ombros como os toureiros
Foram também muitas as vitórias do Filipe Nogueira com o Porsche Spyder, mas houve uma que nunca esqueceu aos dois, ao Filipe e ao Jaime.
Foram a Barajas – Espanha, para a corrida até 1500cc. O Filipe alinhou e ganhou, após uma boa corrida. No programa, a organização tinha em seguida a corrida de Grande Turismo, com os Ferraris, Pegasos e toda a “artilharia pesada” da época, e convidou o Filipe como vencedor da corrida anterior se queria alinhar, mas para alinhar, teria de ser na última fila, pois não tinha tempos de qualificação. O Filipe aceitou.
E não é, que passadas algumas voltas já andava na frente!
Estava a fazer uma corrida fantástica, porém o Jaime apercebeu-se que alguma coisa não estava bem com o carro, e preparou a caixa da ferramenta. Assim foi, na volta seguinte o Filipe parou na box. O Jaime abriu o capot, viu o que estava desapertado e quando deitou a mão à caixa da ferramenta veio exactamente a chave que era precisa. Apertar e fechar o capot foi um ápice, e o Filipe Nogueira lá foi, recuperou o atraso e ganhou a corrida!
Escusado será dizer a alegria do Jaime e de todos os portugueses presentes, entre eles o Carlos Faustino, o Santos Pinto e o filho Luís ( mais tarde prematuramente falecido num acidente quando treinava a Volta a Portugal )
O Filipe Nogueira à boa maneira espanhola, foi por este grupo de portugueses transportado em ombros com muita alegria.
Madrid – Barajas O Jaime e o Carlos Faustino levando aos ombros o Filipe Nogueira depois da corrida que acabara de ganhar
Também em Spyder Joaquim correia de Oliveira com o ( LC-23-99 ), fez muito boas corridas, entre elas, uma excelente vitória no Grande Prémio de Luanda- 1957.
Depois de mais de vinte anos, a sua vida profissional foi-se confundindo com a vida desportiva e o seu nome ultrapassara fronteiras.
O Jaime tinha muitos clientes espanhóis, que não só se deslocavam à Rua da Ponta Delgada, como solicitavam a sua deslocação a Espanha. Com frequência se deslocava a Madrid, para afinar os Porsches Carrera de D. Carlos Romero e do Príncipe Jorge de Bragation.
Luanda -1957
Com os corredores que acompanhou e assistiu no Grande Prémio de Luanda: Da esquerda para a direita : Marinho de Lemos/Marques Pinto/
Jaime/Correia de Oliveira e José Manuel Simões
Nos extremos dois directores do A.C.T.A
No decorrer deste ano, deslocou-se a Itália á Fábrica Maserati para recepcionar o Maserati 1500 adquirido por Ernesto Martorell, fazendo a respectiva especialização no departamento desportivo da fábrica.
Contemporâneos dos “Spyder”, os Mercedes 300 SL, também lhe deram muitas alegrias.
Fernando Stock, José Manuel Simões, João Vaz Guedes, Filipe Nogueira, Moura Pinheiro, João de Castro, Hermano Areias, Júlio Bandeira Bastos e outros de que decerto me estou a esquecer, pilotaram os Mercedes por ele afinados e assistidos e que à época tantas provas ganharam.
A 7ª VOLTA a PORTUGAL – Filipe Nogueira/Hermano Areias, Taça Cidade de Lisboa e Taça Cidade de Luanda – José Manuel Simões.
O Jaime Rodrigues ao longo da vida foi-se sempre actualizando e especializando conforme as marcas evoluíam nos seus modelos.
Foram várias as deslocações ao estrangeiro:
Em ITÁLIA- Fez estágios na FERRARI na MASERATI e SIATA.
Na ALEMANHA- acompanhando a evolução da PORSCHE fez cursos em Stuttgart em 1955 e 1956.
Estagiou na ALPINA em Kaufbeuren
em 1969 e também na MERCEDES.
Em Luanda a alinhar o Mercedes 300SL de José Manuel Simões
Em INGLATERRA tirou especialização na Alexander, Bilnstein e Charles Lucas.
Também neste ano, Manuel Nunes Santos recebeu um Alfa-Romeo 1900 que confiou ao Jaime e com o qual venceu várias provas, entre elas a Taça Cidade de Lisboa – Turismo – 1957.
Um Emblema de Ouro da ALFA-ROMEO
Manuel Nunes Santos levou o seu Alfa-Romeo 1900 ao Rallye de Monte Carlo em 1956.
O carro era assistido e afinado pelo Jaime.
Os carburadores Solex duplos com que o carro vinha equipado, eram de difícil regulação na injecção de gasolina, e a assitência Alfa-Romeo reparou que o carro do português tinha uma modificação com esticadores reguláveis das bombas de injecção que permitiam saber a quantidade exacta de gasolina a injectar nos carburadores.
A Alfa-Romeo reconheceu a qualidade da modificação e Manuel Nunes Santos foi portador de um emblema de ouro da marca, com o nome do Jaime gravado.
A partir dessa data, todos os carburadores Solex deste modelo vieram assim equipados.
O Jaime guardava este emblema com muita estima.
Com o Alfa-Romeo 1900 de Manuel Nunes Santos ( Em que fez a modificação dos carburadores Solex)
1956- Foi um ano que não esqueceu, mas pelo mau momento que viveu aquando do acidente do Filipe Nogueira no II Grande Prémio do Porto. Foi das corridas mais empolgantes com um protagonista português a que se assistiu em Portugal. A luta com o Marquês de Portago estava a ser um espectáculo de boa condução e valentia, pois havia uma boa diferença de potencia entre os dois Ferrari “Monza” em luta.
O “Monza” de Filipe Nogueira era de modelo mais antigo e de menor cilindrada. Faltavam duas ou três voltas para o final, e a indefinição quanto ao vencedor mantinha-se, mas um desiquilibrio à saída da curva do Castelo do Queijo foi o suficiente para tocar com a roda direita da frente no passeio. O carro virou-se no ar e caiu de rodas para cima. Teria sido o fim do Filipe, mas para o bem ou para o mal, não havia ainda o cinto de segurança, e o ter sido cuspido do carro, salvou-o de ficar esmagado. Grande aflição, para quem, como eu, assistiu a todo o acidente da bancada situada nesta curva.
O Jaime tinha pelo Filipe Nogueira um afecto de família, era como se de um filho se tratasse, e acompanhou o amigo no Hospital de S. António até o saber livre de perigo, assim como a
D. Fernanando de Mascarenhas, que também tinha tido um acidente no Circuito e que se encontrava no mesmo quarto.
Nesta corrida, com o seu brilhante 4º lugar, Borges Barreto consolidou um convite para corredor oficial da Ferrari.
Recordo-me ao visitar o Filipe Nogueira na sua convalescença numa clínica junto ao Saldanha, da jovialidade e entusiasmo com que me contava, a propósito da corrida, que já tinha passado o Portago em três pontos diferentes do Circuito, para que ele não soubesse onde o iria passar na última volta.
Também em 1956 perdeu mais que um cliente, um amigo. D. Fernando de Mascarenhas falecera num acidente de estrada, com um Ferrari novo que trazia para Portugal.
Uma corrida em IMOLA