Meus caros,
Para haver aventuras do Speedy para contar é necessário não só que ele esteja +/- em perfeitas condições de utilização assim como o seu actual usufrutuário, eu, também esteja +/- em perfeitas condições de saúde.
Como a disposição, últimamente, não tem sido a melhor, tenho estado afastado do Portal mas pela consideração que me merecem venho hoje aqui de fugida justificar-me com o seguinte…
Off-topic
No passado dia 5 dei entrada às 11:30 no Hospital de Braga "HB" para uma cirurgia; prostatectomia radical reto-púbica.
Esta cirurgia foi decidida após vários exames de diagnóstico ao longo de alguns meses de 2018 e Janeiro de 2019 por numa determinada e anterior consulta ter apresentado algumas queixas à médica de família e que por ela foram pedidos. O primeiro exame foi uma ecografia pélvica que confirmou uma hérnia inguinal (problema resolvido com sucesso por cirurgia em Fevereiro passado no Hospital de Famalicão) e um aumento de volume, +/- normal, da próstata; por análise sanguínea foi determinado o grau 2,8 de PSA (prostata specific antigen) dentro de valores normais para a idade. Devido às queixas apresentadas foi aconselhado um segundo exame, mais completo, o hediondo toque rectal (que estúpidamente fui adiando por alguns anos, mariquices, se tivesse sido feito mais cedo talvez se tivesse evitado esta cirurgia) com uma dolorosa e demorada ultrassonografia que levou ao terceiro exame, uma dolorosíssima e demoradíssima segunda ultrassonografia acompanhada de 12 recolhas de matéria prostática para análise, biopsia, (se os anteriores foram +/- difíceis, este foi de ir às lágrimas) com o resultado de carcinoma da próstata Gleason 7 (4+3) ou seja, numa escala de 1 a 5 o tipo de célula maligna mais comum na amostra recebeu 4 pontos enquanto o segundo tipo mais frequente recebeu 3. A soma dos dois tipos mais frequentes é no mínimo 2 e no máximo 10. Quanto mais baixo o valor menos agressivo o tumor. Os tumores com Gleason de 2 a 6 apresentam prognóstico mais favorável ao contrário dos com Gleason de 8 a 10. Os com Gleason 7 são considerados como de médio risco mas aconselham a cirurgia no mais curto espaço de tempo. Gleason é o nome do patologista que criou esta escala de classificação das células tumorais. Seguiram-se mais dois exames para procurar metástases, uma ressonância magnética pélvica e uma cintigrafia óssea que felizmente deram negativas.
E porque a vida tem de ser levada a rir:
Nesse mesmo dia, pouco depois das 12 horas fui entrevistado pela enfermeira chefe que depois chamou uma auxiliar autoritária qb para me preparar para a cirurgia.
- Acompanhe-me!
Entramos num quarto com uma casa de banho e duas camas separadas por uma cortina, numa das camas estava uma senhora à espera de ser levada para o bloco operatório.
- Fez a depilação? Não? Entre na casa de banho e tire a roupa que eu já venho ter consigo!
Aproveitei para tentar urinar. De repente abre-se a porta e entra a “generala” com umas tralhas nas mãos que pousou em cima de um banco.
- Então? Ainda não tirou a roupa? Vamos lá depressinha, não tenho muito tempo!
- Ó minha senhora se eu não tivesse tanta dificuldade em urinar não estaria aqui a esta hora.
- Vamos lá a tirar a roupa, ou precisa de ajuda?
- Não, não, deixe estar, eu tiro!
Em pêlo à sua frente diz ela:
- Este é o trabalho que me custa mais!
- Imagino!
De imediato uma rapadora eléctrica é ligada e posta a trabalhar começando pelo peito, seguiu para a barriga e a certa altura diz:
- Com as mãozinhas puxe a barriguinha para cima!
Não gostei nada desta boca e quando ia retorquir ela ajoelhou-se, com a mão esquerda agarrou o “pinto”, na direita a rapadora e disse por outras palavras:
- Des-can-sar!!!
Ora com o “pinto” em perigo, engoli em seco, não perdi tempo e de imediato deixei a posição de sentido abrindo as pernas. “Pinto” para a esquerda, “pinto” para a direita, “pinto” para cima e a folhagem dos tomates cereja depressa desapareceu, rapadora pelas virilhas e coxas e…
- Pronto! Agora tome um duche e depois vista aquelas cuecas (apontando o banco de plástico que lá estava) e aquela bata e vá-se deitar na cama que alguém o há-de vir buscar para o bloco.
Assim fiz depois de ter olhado para baixo e parecer-me ver um frango depenado, como aqueles que vão dependurados num gancho numa cadeia de desmontagem num qualquer matadouro. Paciência! Com tempo tudo voltará ao normal. E deitei-me na tal cama. Algum tempo depois e de ter dormitado qualquer coisita, regressa a “generala”:
- Vamos calçar estas meias elásticas!
Por sinal bem difíceis de calçar, iam dos pés até às virilhas. Durante o processo reparou que qualquer coisa não estava bem na zona próxima do “pinto”:
- Tem aqui uns golpezitos a sangrar, vou buscar um desinfectante.
- Pois! Nem imagino quem mos fez.
- Sabe, estas coisas às vezes acontecem, peço desculpa!
- Tudo bem!
Depois de desinfectar os “graves” ferimentos que me infligiu, disse:
- Aproveite para relaxar mais um pouco que daqui a nada já o vêm buscar para o bloco.
- Tudo bem!
Seguramente ainda esperei entre 30 a 45 minutos até aparecer um auxiliar que disse:
- Então sr. António está pronto para a cirurgia?
- Que remédio, não tenho outra hipótese!
E lá puxou a cama até à entrada do bloco operatório para se fazer o transbordo para a marquesa onde eu ficaria deitado durante a cirurgia, eram 16:08 num relógio que vi na parede do corredor.
No corredor, um pouco afastado da entrada do bloco estava uma outra cama com um doente, desacompanhado, que por qualquer motivo não pôde ser operado e então estava ali à espera que alguém da sua especialidade que não a de urologia o viesse buscar, pelo que percebi já lá estava há bastante tempo e por falta de pessoal. Enquanto um grupo de faladoras enfermeiras ajudava-me a passar para a tal marquesa o homem levantou-se da cama, o auxiliar que aguardava o meu transbordo apercebeu-se e perguntou-lhe:
- Onde é que o sr. Vai?
Furibundo:
- Vou mijar!
Em pé, totalmente desnorteado no meio do corredor e de pernas abertas lá verteu as águas. Toda a gente se calou por breves segundos somente ouvindo-se o som das águas a baterem no chão, qual vaca leiteira do Zé Grande (feitor da quinta do meu avô paterno) a mijar no meio do pasto. O grupo falador, indignado comentava a insólita situação dizendo que era inadmissível terem deixado desacompanhado tanto tempo aquele sr. e pelo que entendi, já consequências do novo modelo de gestão pretendido pelo chico-esperto nº1 cá do burgo. Entretanto levaram-me para dentro do bloco e fiquei sem saber como terminou a história. Lá dentro encontrei o cirurgião que me perguntou:
- Como é que se chama?
É claro que respondi o meu nome mas apetecia-me dizer Cicciolina só para ver a reacção.
- Sabe o que vem aqui fazer?
- Sei sim senhor!
E aguardei que ele completasse a minha resposta, só para saber que ele também sabia.
- Vem tirar a próstata!
- É isso mesmo, mas atenção que é só a próstata, veja lá…!
- A próstata e as vesículas seminais!
- Pois… saem agarradas... não há volta!
Entretanto aparece o anestesista:
- Então como se sente sr. António? Sou eu quem o vai pôr a falar, o que quer e o que não quer.
- Como assim?
- O sr. António é considerado “via aérea difícil” por isso não pode levar anestesia geral - o mesmo aconteceu aquando da cirurgia à hérnia - terá de ser anestesia epidural, ficará a dormitar ligeiramente e irá falar bastante mas fique descansado, depois, de nada se lembrará. Eu devia era de estar a trabalhar numa qualquer secreta a fazê-los falar em vez de estar aqui nesta merda.
- Pois, se calhar seria mais interessante.
O homem pareceu-me curioso demais para o meu gosto, mas pronto…
- Por favor vire-se de costas para lhe colocar o cateter epidural por onde será dada a anestesia e daqui a pouco vai sentir-se nas nuvens.
- Que bom!
Uma picadela no fundo das costas e pouco depois apaguei-me, acho eu; só me recordo de sentir alguém a mexer-me no “pinto”, mais tarde percebi que foi para me porem a algália, que grande bosta vou ter de aguentá-la pelo menos três semanas, até dia 26 de Junho, mas que porra tão desconfortável e dolorosa que me tem incomodado tanto, se não fosse isto o pós-operatório não seria tão difícil, é a vida… há que aguentar! Às 18:40 dei entrada na sala de recobro e às 20:10 levaram-me para um quarto, óptimas instalações, a anos luz das do Hospital de Famalicão, nada a ver, infelizmente para o HF!
Tive alta no dia 9 pelas 14 horas, finalmente regressei a casa depois de alguns dias internado no HB sempre muito bem tratado pelo seu excepcional pessoal, enfermeiras do mais alto profissionalismo (a par de todos os que encontrei no HF aquando da hérnia); fiquei-lhes eternamente grato, “generala” incluída.
Tenho um mês de descanso absoluto obrigatório por isso o Speedy tão cedo não sai à rua e eu só para periódicamente (de 3 em 3 dias) mudar o penso, quando fôr retirar os 23 agrafos que tenho espetados e a detestável algália; depois disto, lá para o final do mês, estou convencido que já poderei dar uso ao Speedy.
Resumindo… a cirurgia correu muito bem, o pós-operatório tem sido bastante complicado devido principalmente à algália, o resultado da análise ao material extraído só será conhecido a meio de Julho, nessa altura também será conhecido o grau de PSA pós-cirurgia, a ver se valeu a pena todo o sacrifício e o caranguejo foi derrotado evitando quimioterapia e/ou radioterapia. Agora é só uma questão de tempo e paciência até ao restabelecimento total.
Se me permitem um conselho, não façam como eu, deixem-se de mariquices e façam o hediondo exame na altura certa, poderão evitar maiores sofrimentos; é que estas merdas não acontecem só aos outros!
Abraço a todos!
P.S.: - Peço desculpa pela extenção do post mas espero que seja útil a alguém.