Um Acidente Que Podia Ter Estragado Uma Prova

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Neste pequeno apontamento pretendo prestar a minha sincera homenagem a todos aqueles que, na comunicação social, contribuíram para a divulgação e projecção das “6 Horas Internacionais de Nova Lisboa”.

Faço-o lembrando o excelente repórter fotográfico e saudoso Amigo que foi Eduardo Baião.

Acabava de dar a bandeirada de chegada das “6 Horas” de 1972 e começava a descontrair da enorme pressão com que vivi durante todo o decorrer da prova.

Podia descansar finalmente pois, tal como o piloto que só tem a certeza da vitória após o baixar da bandeira, também eu pensava que tudo terminara sem qualquer problema.

Como estava enganado!

Por mais cuidado que se ponha na organização de uma prova, e nós durante um ano tínhamos trabalhado para que nada falhasse, de um momento para o outro, o mais pequeno atrito pode deitar por terra todo o trabalho realizado.

Foi exactamente o que sucedeu.

O policiamento do parque fechado tinha sido entregue à polícia militar e eu, que nunca fui militar e portanto sem saber bem como se davam instruções na tropa, havia explicado ao tenente, que comandava aquela operação, que quando terminasse a prova e os carros entrassem no parque não era permitida a entrada, ali, a ninguém.

E a tragédia começa aqui.

Mal os carros começaram a entrar no parque houve uma tentativa de invasão por parte dos elementos da informação.

E eu que me preparava para descansar um pouco antes do resto das cerimónias, de repente vejo os militares de cassetete no ar tentando impedir aquela invasão.

Completamente apavorado corro para o local gritando que parassem.

E, quando me dirijo ao tenente bastante exaltado, lhe pergunto o que estavam a fazer ele, espantado, responde-me que eu é que lhe tinha dito que de forma alguma alguém poderia entrar no parque.

Tudo não passou disso, mas eu fiquei angustiado a pensar que todo o trabalho e entusiasmo de uma equipa havia ido por água abaixo pois aquele acidente iria ter certamente repercussões.

Nos dias seguintes consultava, com algum receio, todos os órgãos de comunicação mas nem uma palavra sobre o que se havia passado.

Embora a prova fosse bastante divulgada e comentada, todas as referências eram elogiosas e sobre o acidente um silêncio absoluto ficando apenas no conhecimento daqueles que o tinham presenciado.

Como naquela altura, infelizmente, existia a famigerada censura, este silêncio podia ser atribuída a ela. Mas eu sempre preferi pensar que ele só foi possível devido à amizade dos elementos da comunicação social tantas vezes demonstrada e, agora, mais uma vez confirmada.

Passaram-se uns dias e recebo, pelo correio, um grande e volumoso envelope cheio de fotografias que testemunhavam com todos os pormenores aquele triste acontecimento.

Acompanhava-as um pequeno cartão que dizia: “Podiam dar uma boa reportagem fotográfica mas, como sou teu amigo, faço-te oferta delas. Assinava: Eduardo Baião.

O Baião que documentava todas as minhas provas, que me aturava sempre que ia a Luanda e lhe invadia o seu gabinete na revista “A Notícia” à procura das fotografias que me agradavam e que ele sempre me oferecia, acabava de me dar mais uma prova de grande amizade.

Foi para, através dele, prestar homenagem a todos os homens da informação a quem tanto devo, que escrevi este pequeno apontamento.

Obrigado Eduardo! Jamais te esquecerei!
 

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Conta apagada 31475

Antes Francisco Lemos Ferreira
Obrigado amigo Lacerda por mais este testemunho histórico, só possível por que o viveu intensamente.

Deixo aqui a minha singela colaboração nesta homenagem ao Eduardo Baião.

Um Abraço

Francisco

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As Fotos do Eduardo Baião

Há uns dias publiquei aqui duas fotografias de uma mesma mulher mucubal. De uma linda mulher, diga-se.Serviram de ilustração a algumas observações sobre coisas feias que estão a acontecer lá para o Sul.

As fotografias, todavia, foram muito comentadas, não directamente no texto, mas por gente amiga que telefonou. Houve mesmo quem afirmasse lembrar-se da reportagem da Revista "Notícia" em que elas apareceram.

É verdade, as fotografias foram publicadas no "Notícia" e são da autoria de Eduardo Baião, infelizmente já falecido, mas que ocupou um lugar muito destacado como repórter fotográfico.

Por sorte, já que possuo outras fotografias dessa reportagem, que o António Gonçalves, enquanto Chefe de Redacção do África, fez o favor de ceder, publico hoje uma imagem que revela o Baião em plena acção, ajeitando o seu "modelo" para a tal reportagem. Esta é uma foto do António Gonçalves.

Aqui ficam as fotos de Eduardo Baião:

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Os Casamentos "Tradicionais" e a Desagregação Familiar

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Estas duas fotografias, feitas com grande meestria representam a mesma mulher junto da sua gente. São Mucubais, que vivem entre o deserto de Moçamedes e as faldas da Serra da Chela, à procura dos melhores pastos para o seu gado. Vivem, essencialmente do que lhes dão os rebanhos: carne e leite. Por volta de 1975 eram cerca de 35.000 individuos e tiveram um papel fundamental na guerra contra a África do Sul, já que impediram a ligação entre o Lubango e Namibe com a segurança que os sul-africanos desejariam.
O seu terrritório, muito amplo, vai do Namibe ao Chiange e tem como vizinhos os Nhanheca Humbe (muílas e mogambos).
Entre estes dois grupos estão a acontecer pequenas desgraças que podem transformar-se numa catástrofe. É que os "senhores do poder", reclamando práticas da tradição vão às aldeias de criadores de gado e de agricultores escolher as filhas casadoiras (que, no caso, se considera logo após a primeira menstruação - o mufiku).
Nos primeiros tempos não pagavam, sequer o que a tradição manda, o chamado "alambamento", normalmente constituído por bois e por peças de utilidade doméstica, como mantas e outras coisas.
Os pais protestaram e agora os bois lá aparecem. Assim como os filhos produtos destas relações tradicionais, mas que, na prática, não têm pai, nem família. A sociedade camponesa do Sul de Angola, ao que se supõe com a excepção dos mucubais, está a ficar desagregada, por culpa dos senhores que praticam "o casamento tradicional", indo de jeep buscar e devolver as noivas. Não há ninguém que olhe por isto, ou Angola virou terra de cafagestes puros, sem respeito por nada nem por ninguém, nem por si próprios . E ainda falavam dos colonos com duas famílias... Pelo menos eles assumiam os filhos!!!

Publicada por Leston Bandeira
in "Africandar"
 

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Manuel Ferreira Dinis

Dinis Vila Real
Pequenos casos um grande problema.
Obrigado Armando de Lacerda

A organização de um evento é sempre muito complicada e delicada, tudo é importante na sua elaboração e muitas vezes pequenos problemas, alguns de menor importância conseguem estragar o que com tanto esforço foi devidamente planeado.

Um pouco de sorte é sempre indispensável em tudo, e os amigos também são para as ocasiões.
 

Nuno Andrade

Pre-War
Uau... Fantastico pedaço de Historia, onde a amizade prevalecia acima de tudo, como podia ser igual hoje em dia...

Obrigado pelo relato caríssimo Armando...

cumprimentos.
 
OP
OP
Armando de Lacerda

Armando de Lacerda

YoungTimer
Que excelente e merecida homenagem a do Lemos Ferreira ao Eduardo Baião.

Além de um bom Amigo, o Eduardo foi um grande repórter fotográfico.

A fotografia que ele tirou na tragédia ocorrida no Circuito da Palanca Negra, em 1969 em Luanda (e que tenho pena de não a possuir para aqui a colocar), correu mundo e obteve imensos prémios.

Estava no local e assisti à emoção do Eduardo com as lágrimas a correrem-lhe pela face mas disparando freneticamente a máquina fotográfica e obtendo as imagens que conseguiu.

O seu grande profissionalismo suplantou a comoção.
 
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