(Tutorial) Abrir Ou Reparar Roscas

Eduardo Relvas

fiat124sport
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Caros amigos,

Há algum tempo que ando com a ideia de ir escrevendo uns artigos práticos para ir explicando técnicas simples de reparação, este é um pequenino contributo que resolvi escrever para responder à solicitação de uns amigos portalistas.

Criar uma rosca nova ou reparar outra existente é uma operação comum num restauro. Os anos de desgaste por corrosão, utilização repetitiva ou quebras levam a que muitas vezes uma fixação seja inutilizada e seja preciso criar um novo suporte de fixação.

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metric_threads_graphic.gif
[/alignleft]Antes de mais, é preciso identificar correctamente a rosca a reproduzir. Muitos clássicos ingleses e americanos usam medidas de rosca imperiais, enquanto outras marcas usam predominantemente o sistema métrico. Hoje em dia não é invulgar vermos muitos dos anteriores serem modificados para medidas métricas por facilidade de obtenção de ferragens, mas é preciso ter cuidado na selecção dos componentes a usar. Esta parte será tratada mais tarde num tópico específico sobre parafusos e roscas, mas por agora vamos introduzir umas noções básicas de roscas métricas.

Ao lado vemos uma rosca e os parâmetros básicos da mesma. No sistema métrico, as roscas costumam ser denominadas essencialmente pelo diâmetro principal do parafuso (Major dia. na figura). Também é comum vermos referências ao passo da rosca (pitch, na figura), ou seja, a distância entre dois fios de rosca consecutivos, até porque existem casos em que um fabricante pode optar por usar uma rosca de passo maior ou menor que o standard. Por exemplo, em aplicações mais exigentes em termos de precisão ou sujeitas a maior trepidação, opta-se frequentemente por roscas de passo mais fino para ter melhor ajuste e ser mais difícil que a fixação alivie o esforço pela vibração.

Esta medida (diâmetro principal) serve de referência, mas é preciso saber que diâmetro serve de base para o corte da rosca, pois esta é a medida máxima de abertura, e o corte deve ser feito abaixo disto. Para esse efeito, consulta-se uma tabela onde seja indicada a medida de furo de origem, como a que vemos ao lado:

[alignright] 2-786-4.jpg [/alignright]
Na coluna da extremidade direita pode-se encontrar o diâmetro do furo que serve de base para o corte da rosca. Por exemplo, se quisermos cortar uma rosca M8, o furo inicial deve ter 6,8 mm (atenção: os passos de rosca aqui não servem de exemplo, pois alguns não são os mais comuns - o M8 costuma ter de passo 1 mm).

Um M8 é uma medida muito comum, mas não se esqueçam que isto é a medida da rosca... a cabeça de um parafuso M8 costuma ser 13 ou 14 mm.

Feito o furo, vamos passar à fase do corte da rosca. Para isto é preciso um jogo de machos da medida a usar e um desandador, que é a peça onde se montam os machos de corte. Os conjuntos que muitas vezes encontramos no mercado são algo semelhante a este:

[alignleft] 45-pcs-large-tap-die-set-tungsten-steel-tool-metric-provided_image.jpg [/alignleft]
Aqui vemos um conjunto de machos e coroas de corte para fazer roscas macho e fêmea. Os desandadores são os suportes com pegas para que o utilizador possa manipular os cortantes.

Atenção que, embora um conjunto destes sirva para a reparação básica de uma rosca já existente (ligeiramente "passada" ou suja - eu tenho por hábito limpar todas as roscas de peças do carro que desmonto para recondicionar), não são de todo adequados a criar uma rosca de raiz. Para isso, além deste conjunto básico, convém adquirir um jogo completo de machos dedicados à medida que se quer fazer. Num conjunto desse tipo, devem existir três machos diferentes: [alignright] m6tapset.jpg [/alignright]

Como podem ver, cada um destes machos tem um perfil diferente. A ordem de uso é a que está indicada. O primeiro macho faz um corte ligeiro, o seu papel primário é centrar correctamente no furo. O segundo guia-se pelo corte inicial e aprofunda mais o corte, enquanto o terceiro faz o corte final da rosca à medida prevista no standard.

A maneira correcta de manusear estas ferramentas é só com as pontas dos dedos (como podem ver ilustrado na figura abaixo), fazendo movimentos ligeiros, cortando apenas uma ou duas voltas de cada vez, e recuando ligeiramente entre cada avanço. Esta é uma operação delicada, por isso qualquer movimento brusco é prejudicial ao processo. Além disso, quando se corta um material muito duro, um movimento repentino pode fazer partir o macho, já que estes são feitos de um material tratado a uma dureza muito acima da média, e isso torna-os muito frágeis.

[alignleft] tap_use.jpg [/alignleft]
Como se mostra na figura, devemos assegurar-nos de que o macho está alinhado perpendicularmente à superfície durante o corte. O uso de lubrificante também é indispensável a esta operação. Há óleos específicos para operações de corte, mas na falta deste, um óleo típico é sempre preferível a não usar nada, porque a superfície aquece e pode ser danificada.

Durante o corte, não esquecer que deve sempre ir-se avançando e recuando, é uma operação que exige prudência e paciência acima de tudo. Se se começar a notar a presença de muitas aparas, deve-se retirar o macho e limpar tudo. Dependendo do perfil do macho e da medida a cortar, a operação pode exigir que sejam feitas algumas limpezas ao longo do processo.

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stainless-steel-threaded-3604-SRT.jpg
[/alignright]No caso específico dos restauros, muitas vezes deparamo-nos com casos onde uma rosca foi danificada e não é possível ser refeita à medida original. Aqui a opção pode passar por abrir o furo a uma medida superior, e roscar de forma a poder montar uma inserção (insert) bi-roscada que permita reduzir o furo de volta à medida original.

Ao lado podem ver um destes exemplos, neste caso simples. Há versões para vários tipos de superficies, algumas são auto-roscantes, mas eu pessoalmente prefiro os inserts simples. Também há os heli-coil, que são semelhantes a uma mola em espiral, e se adaptam ao passo de rosca existente. É uma questão de procurar e escolher o método que mais agrade para a solução que se pretente.

Bem, acho que o essencial da técnica está dito... se tiverem alguma questão, digam, e farei o possível por esclacerê-las.

Um abraço a todos e boas roscas! :lol:

P.S.: Logo coloco aqui um vídeo a demonstrar a técnica.
 

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Mais uma vez, excelente Eduardo!!!

A última situação em que tive de recorrer a algumas técnicas aqui explicadas foi quando a moí a rosca de uma das saídas do servofreio!
Tive de abrir um buraco maior; abrir rosca para meter um casquilho roscado por fora e interior com a medida do "encabeçador" do tubo dos travões.
 

Jorge Viegas

Veterano
Também comprei um conjunto de abrir roscas mas nunca usei aquilo, assim já tenho umas luzes, obrigado pelo esclarecimento, são estes tópicos muito valiosos para quem gosta de aprender sobre esta matéria :)
 

Guilherme Bugalho

BUGAS03
Portalista
HI
Aqui vai a minha contribuição ......
Fotos dos "machos" cá de casa :lol: :lol:
O da "Beta" - métrico; os outros em polegadas ...
 

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Guilherme Bugalho

BUGAS03
Portalista
Mas isto não vai só com "machos" ....
Tambem é necessário mais algumas ferramentas como o "conta fios" ....
São dois e um é em "duplicado" métrico e "whitworth"; o outro é de uma "rosca muito fina chamada "BA"; parece rosca de artigos electricos ...
 

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Guilherme Bugalho

BUGAS03
Portalista
E para acabar (por hoje) e contrariando o que muitos dizem (para mim a prática tem/deve ser fundamentada na teoria); aqui fica a minha "biblia" de roscas ... e mais alguns scanners que ela contêm ....
 

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Eduardo Relvas

Eduardo Relvas

fiat124sport
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Ora aí está alguém bem equipado e informado... muito bem!

Este é um assunto sobre o qual já tinha pensado fazer um artigo específico, porque se insere mais na parte dos parafusos e roscas, mas naturalmente que convém saber qual é a medida que se quer fazer...

(...) São dois e um é em "duplicado" métrico e "whitworth"; o outro é de uma "rosca muito fina chamada "BA"; parece rosca de artigos electricos ...

Nem mais, o BA é uma medida fina, que curiosamente tem base métrica apesar de ser de origem britânica ("BA" vem de British Association), e que é tipicamente encontrado em aplicações de equipamento de precisão ou miniaturizações. Podem encontrar mais informação aqui.

Um abraço!
 
Vivam,

Já tinha algumas "luzes" sobre o processo de abrir ou retificar roscas com machos, já me tinham explicado o importante passo de ao abrir ir voltando atras tal como indica no video.

Infelizmente vou ter de realizar exactamente essa intervenção na minha motoreta de 77, a pinça do travão da frente é presa por dois parafusos e um deles não aperta.
No domingo retirei-o e pareceu-me estar ok pelo que terei de abrir o passo da rosca.

O procedimento em si não me parece ser nada do outro mundo (apesar de ter de ser realizado com bastante cuidad). o problema é que a rosca está no interior da forqueta.... ora porra... vou ter de desmontar aquela treta toda......

IMG_0448.jpg

Lamento a qualidade mas fotos tiradas com telemovel com pouca luz....

Abraços.
 

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joaomarques22

YoungTimer
Boas Tardes. Tenho o curso de Mecatrónica Automóvel e no curso aprendi aprofundadamente todos os tipos de roscagem, puncionamento, furação, etc .. Tenho a dizer que essa explicação é excelente, lembro-me também de um método de roscagem que é o alicate de cravar porcas, um alicate parecido com o de grifos que vai prender uma porca a um furo, um processo também muito simples e rápido. Desde já lhe dou os parabéns pelo post, muito bom mesmo. Cumprimetos
 

Guilherme Bugalho

BUGAS03
Portalista
HI
Bem hoje andava a "matar saudades" .... e encontrei este tópico :D
É daqueles casos em que o tamanho não é sinonimo de qualidade ....
Mas porque deve ter "ficado esquecido" nada melhor que reviver ... lembrando que o que foi dito acima só se aplica para roscas paralelas esquecendo as roscas cónicas ....
Isto para lembrar um antigo professor de desenho .... "as cónicas ..." :lol:
 
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