Musée Des Arts Et Métiers Em Paris

Esta é uma história.

O verdadeiro divertimento está em escrevê-la.
Leia se quiser.

No mês passado fui em trabalho a Paris e na minha tarde livre decidi visitar o Museu des Arts et Métiers porque queria ver o Fardier de Cugnot (o autêntico, já que em Turim está uma réplica).

Cheguei ao museu às 4 e meia da tarde e pedi para comprar um bilhete para o visitar.
A menina de recepção perguntou se já o conhecia e eu respondi que não.

- Então deveria visitar apenas a exposição temporária – disse ela – já que precisa pelo menos de duas horas para visitar a exposição permanente.
- Não, quero visitar o museu.
- Muito bem, pague o bilhete, suba ao segundo andar e inicie a sua visita.
Lá vou eu.

O museu é fantástico. Não consegui passar sem parar constantemente:
- Na reconstituição do laboratório de Lavoisier, na evolução dos aparelhos de astronomia, nos pesos e medidas de toda a Europa, nos instrumentos científicos … primeira paragem na calculadora de Léon Bollée.

Ver anexo 350121

Ver anexo 350122

Já perceberam, este foi um dos primeiros construtores de veículos automóveis, seguindo os passos de seu pai, Amédée, que construiu veículos a vapor desde 1873.

O meu interesse tinha que ser centrado ou não passaria da primeira sala.
 

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Pedro MVS Ferreira
Mas o museu tem temáticas muito bem expostas como a da comunicação desde as bandeiras até à telegrafia sem fios, a rádio, a televisão, a evolução dos computadores …

A indústria da cerâmica, do vidro, do aço , do alumínio…

A indústria da tecelagem, da fabricação do papel, da construção.

A comunicação e a evolução d impressão até às rotativas para impressão de jornais do século XIX.
E muito mais, até que, finalmente chegamos aos motores, ainda antes dos transportes.

E eis um dos primeiros motores de explosão, usando gás como combustível, de Jean-Joseph-Etienne Lenoir, com brevet depositado em 24 de Janeiro de 1860.

Ver anexo 350123

É um motor estacionário, de baixo rendimento, onde o interessante foi o estudo para a determinação da percentagem da mistura gás/ar capaz de provocar a explosão e a sua inflamação feita através da bobine de Ruhmkorff e de uma vela que Lenoir inventou para conduzir a faísca sob alta tensão para o ponto certo do motor.


Em 1900, os franceses “inventaram” o carro Lenoir passeando pelas ruas de Paris com este motor em 1862/3. Há quem diga que tal não era possível.
 

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Pedro MVS Ferreira
Mas a aplicação industrial do motor, sem a complicação de todos os mecanismos necessários para fazer um carro, logo se desenvolveu.

Em particular, a sua aplicação aos barcos, criando os barcos automóveis.

E cá está, o motor de quatro cilindros a quatro tempos, com arranque automático e funcionamento reversível, construído por Fernand Forrest em 1888, e instalado a bordo do Iate automóvel “ELLEN”, onde funcionou durante 20 anos.


Ver anexo 350124

E o motor de cinco cilindros, também de Fernand Forrest, instalado a bordo do Iate “JOLIE BRISE”

Ver anexo 350125
 

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Pedro MVS Ferreira
E finalmente, cheguei à secção dos transportes.

O Fardier Cugnot, na sua versão tamanho grande, construído e jamais testado.

Ver anexo 350126

Ver anexo 350127

Aquele que foi apresentado e que rolou pelos seus meios em 1769 foi uma versão reduzida, posteriormente destruída e se pode ver em réplica exacta neste museu.

Em seguida um triciclo Serpollet de 1888, viatura com motor a vapor, onde a principal inovação reside na caldeira de vaporização instantânea, utilizando pequenas quantidades de água que é introduzida pelo pistão num tubo espalmado e aquecido onde se vaporiza de imediato.

As vantagens são consideráveis já que permite um arranque quase imediato e reduz o perigo de explosão.

Ver anexo 350128

Ver anexo 350129


Henri e Léon Serpollet obstinaram-se durante anos tentando convencer os automobilistas mas o motor de explosão acabou por vencer.
 

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Pedro MVS Ferreira
E, nos motores de explosão, um dos pioneiros foi o Peugeot.

No museu temos um Quadriciclo Peugeot de 1893.

Ver anexo 350130

Etienne Lenoir mostrou a aplicação da bobine/vela e do uso do gás, mas foi Édouard Delamare-Deboutteville que depositou o brevet desta concepção em 1884.

Contudo, o tubo de alimentação tinha tendência para rebentar sob a pressão do gás e o alemão Karl Benz resolveu o problema substituindo o gás pela gasolina (essência derivada da destilação do petróleo).

Neste Peugeot de 1893 as rodas ainda são cobertas de borracha compacta.

Ver anexo 350135


Ver anexo 350137


Só em 1895, os irmãos Michelin mostraram que a aplicação do pneu com camara de ar nos automóveis apresentava reais vantagens (mas esta é outra história).
 

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Pedro MVS Ferreira
Entretanto eram quase 6 horas e eu julgava a visita completa poruqe estava junto da saída.

À minha frente podia ver um letreiro indicando que na capela se podia ver o pêndulo de Foucault. Já agora, mais uns minutos mas, eis que na capela está montada um estrutura metálica carregada de automóveis e no tecto três aviões incluindo um Blériot, lá bem no alto.

Cá em baixo, estava “La Óbeissante” de Amédée Bollée, construída em 1875, com motor a vapor. Um pequeno monstro que percorreu as estradas da região de Mans.

Ver anexo 350138

Ver anexo 350140

Mas eis que a coisa começa a correr mal.

Não sei porquê mas a máquina fotográfica começou a usar o flash, expressamente proibido.

Primeiro aviso do guarda de serviço. Desculpas minhas. Mexo na máquina. Tudo se desregula.

A próxima foto, que mostra o lugar do fogueiro que alimenta a fornalha ficou assim:

Ver anexo 350141



Conduzir este veículo deve ser fácil. O que acham?



Ver anexo 350142
 

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Pedro MVS Ferreira
A agora, rampa acima, a toda a velocidade, para ver o resto.

O guarda que já me tinha avisado sobre o flash, agora mete-se à minha frente e manda-me para trás enquanto me avisa que só podem estar 15 pessoas na estrutura metálica e que existe uma fila, que pacientemente espera a sua vez, e que eu tinha ultrapassado olimpicamente.

Passam os minutos e nunca mais me manda avançar.

Lá chegou a minha vez e assim que começo a subir o guarda anuncia que o museu vai fechar e pede-me para descer.

Era o que faltava. Continuo a subir enquanto tiro as fotos de qualquer maneira, mais o flash que não se desliga e o guarda que grita.

O resultado foi este:

Hispano-Suiza

Ver anexo 350146

Ver anexo 350147

Peugeot grand tourisme de 1909

Ver anexo 350148

Hélica, veículo a hélice de Leyat de 1921

Ver anexo 350149

Ver anexo 350150
 

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Pedro MVS Ferreira
Panhard et Levassor tipo M2E de 1896

Ver anexo 350151

Ver anexo 350152

Ver anexo 350153

Ver anexo 350154


Muito parecido com o primeiro automóvel que entrou em Portugal em 1895.


E finalmente, o Blériot, idêntico ao que atravessou o canal da Mancha em 1909. Ou será mesmo o avião utilizado. Não deu para verificar.

Ver anexo 350155

Desci a estrutura em passo rápido. O museu já estava vazio. Só restava o guarda. Furioso.

Segui à sua frente até á porta de saída e aí, num gesto cavalheiresco, dei-lhe passagem …

Os ombros dele começaram a subir e quando já estavam quase à altura das orelhas achei por bem fazer uma saída rápida “au revoir” e só parei no meio da rua.

Tenho que lá voltar.

Pedro Ferreira
 

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Eduardo Relvas

fiat124sport
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É um museu fascinante, sem dúvida. Obrigado pela reportagem detalhada, eu apenas fiz uma cobertura ligeira no tópico dos clássicos no dia-a-dia quando estive em Paris o ano passado. Pena teres passado tão rapidamente a parte da capela, porque é fascinante. Se ainda tens oportunidade, deves mesmo aproveitar para lá regressar, porque vale a pena.

Este é daqueles museus em que dava para gastar um dia inteiro na boa, e mesmo assim não se via nem metade.

Entre este e o Science Museum em Londres não sei qual escolhia, são ambos fascinantes!

Um abraço!
 

Vitor Dinis Reis

Pre-War
Membro do staff
Portalista
Ainda este verão estive no Science Museum, foi a minha 5ª visita. Nesta vez um dos meus focos principal foi educar a miudagem cá de casa sobre a importância da industrialização, nomeadamente dos motores a vapor e de combustão.

O Musée Des Arts Et Métiers não conheço mas fiquei com uma vontade imensa de me perder por lá. Obrigado Pedro!
 

Eduardo Relvas

fiat124sport
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Vitor Dinis Reis disse:
Ainda este verão estive no Science Museum, foi a minha 5ª visita. Nesta vez um dos meus focos principal foi educar a miudagem cá de casa sobre a importância da industrialização, nomeadamente dos motores a vapor e de combustão.

O Musée Des Arts Et Métiers não conheço mas fiquei com uma vontade imensa de me perder por lá. Obrigado Pedro!
Não me digas que andaste por lá em Agosto... foi quando eu fui!

Este em Paris não lhe fica atrás de forma alguma, é igualmente fascinante.

Atenção que na maioria da documentação aparece como "Conservatoire des Arts et Métiers", e não como Museu. É pouco divulgado, mas definitivamente é uma grande injustiça, porque para mim foi absolutamente fascinante de visitar.
 
OP
OP
Pedro MVS Ferreira
Eu não conheço o Science Museum.

Mas já visitei o London Transport Museum em Covent Garden e recomendo.

Ver anexo 350346

Ver anexo 350347

Ver anexo 350348


Sabiam que o primeiro metropolitano de Londres utilizava locomotivas a vapor?

E que a FIAT montou em 1908 um serviço de taxis em Londres - Fiat Motor Cab Company - com 400 carros da marca?

Pedro Ferreira
 

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João Luís Soares

Pre-War
Membro do staff
Premium
Delegado Regional
Portalista
Pedro MVS Ferreira disse:
Eu não conheço o Science Museum.

Mas já visitei o London Transport Museum em Covent Garden e recomendo.

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Sabiam que o primeiro metropolitano de Londres utilizava locomotivas a vapor?

E que a FIAT montou em 1908 um serviço de taxis em Londres - Fiat Motor Cab Company - com 400 carros da marca?

Pedro Ferreira
Essa da Fiat não sabia...
Mas embora seja nova para mim, não me surpreende.
 

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