Fiat 125 - O "tapa-buracos" que foi um sucesso

Eduardo Relvas

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Esta é uma história que prova como a intuição por vezes triunfa sobre o estudo acautelado.

Estava a Fiat em meados da década de 60 com um problema: Os modelos de gama média (1500 e 1800) estavam a ficar ultrapassados, e era urgente substituí-los. Mas o substituto designado, que seria o projecto 132, estava ainda numa fase muito atrasada do seu desenvolvimento.

É então que, em jeito de solução provisória, surge o golpe de génio de Giacosa: Usa-se a plataforma do 1500, a parte central da carroçaria do 124, junta-se apenas uma frente e traseira nova, monta-se uma mecânica evoluída do twin-cam do 124 Sport, e hey, presto! Temos um modelo novo no segmento 1600 cc. Nascia assim o Fiat 125, lançado no salão de Genebra de 67.

fiat_125.jpg

O motor, coração de lendárias capacidades, era um "quadrado" 1608 cc, obtido pelo aumento do curso de 71,5 mm para 80. Na versão inicial, debitava 90 cv.

Moretti_GS_1,6_1968_engine.JPG


Mas as excelentes maneiras do chassis deixaram a clientela com vontade de mais cavalos e sobretudo uma caixa de 5 velocidades, e cedo surgem os primeiros rumores (não desmentidos pela Fiat) de que estaria a ser desenvolvido um 125 "Autostrada". Passados alguns meses comprovam-se os rumores ao ser apresentado oficialmente o 125 S. O motor ganha mais 10 cv (mercê de uma especificação que apenas fica a dever os carburadores duplos ao motor da nova série do 124 Sport), o equipamento e acabamentos também ganham mais alguns detalhes. Em opção, jantes em elektron da Cromodora, vidros coloridos e, luxo dos luxos, ar condicionado.

O salto de performances foi suficiente para perturbar a Alfa Romeo. Nunca um Fiat tinha estado tão próximo do vértice daquela classe, que era ocupado pelo Alfa Giulia. A Alfa Romeo procede assim a profundas revisões da gama nesta altura para se destacar da concorrência. Mesmo na Alemanha era bastante apreciada a sua performance e entre o 125 S e o Alfa Giulia Super, os BMW 1600 e 1600 TI tinham muito que suar...

Além da concorrência nas ruas, o 125 dá cartadas valentes no mundo emergente dos rallyes. A sua robustez brutal faz com que praticamente nunca conheça abandonos, o que lhe vale posições cimeiras nas provas mais duras. Nesta versão o motor atingia uns fiáveis 145 cv. O 125 é assim responsável por uma boa parte do entusiasmo que leva a Fiat a assumir frontalmente o seu regresso ao desporto automóvel, pois já dava apoio logístico a particulares há algum tempo, e o feedback excelente convenceu os directores a avançar.

fiat.jpg

Um dos mais notáveis resultados foi obtido nas 24 horas do Nürburgring em 1969, em que a tripla Ratazzi/Montezemolo (yep, o boss da Ferrari)/Ceccato atinge o nono posto absoluto, o que normalmente não seria assim tão extraordinário, não fosse o facto de ser uma viatura absolutamente de série, sem qualquer modificação, à qual não tinha sido sequer retirado um cinzeiro...

Em 1970 é apresentado no salão de Turim o restyling do 125. No 125 normale nada de especial, mas o 125 S passa a chamar-se 125 Special e nesta notam-se pequenas evoluções a nível de estilo, mudando ópticas externas, grelha, tampões das rodas, etc. No interior os pormenores de acabamento tornam-se ainda um pouco mais refinados. Continua um sucesso comercial e desportivo.

No entanto, não se ouve falar de mais evoluções. E a confirmação chega em 1972, quando a Fiat lança então o 132, e suspende o fabrico do 125, deixando a clientela um pouco desorientada com esta execução sumária de um modelo que tão meteórica ascensão teve. Os proprietários mais fiéis dedicam-lhe mesmo um Clube em Itália, dedicado a perpetuar a sua imagem e memória. Mas a indústria evolui e esquece o 125. O 132 nunca conhecerá um sucesso tão aplaudido como este, apesar do longo e estudado desenvolvimento, das novas motorizações com cilindradas até 2000 cc e equipamentos de luxo.

Anos mais tarde, o próprio Gianni Agnelli reconhece que tinha sido um erro descontinuar o modelo tão cedo. Tarde piaste...
 

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João Luís Soares

Pre-War
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Mais uns dos vários golpes de génio do Giacosa!!

Adoro este carro! É dos meus Fiat preferidos. Por vezes vejo um na minha faculdade e passo largos minutos de volta dele... É um 125 Special!

Obrigado por esta lembrança, Eduardo!


P.S. Fiquem com o meu 1:43, enquanto não chega o 1:1 :huh:
 

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Eduardo Relvas

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João Luís Soares disse:
(...)
Obrigado por esta lembrança, Eduardo!
(...)

De nada, caro amigo!

Também é uma lembrança para mim, que já conduzi vários exemplares e sempre fiquei bastante agradado com eles. Há algo de verdadeiramente sedutor para mim num carro que tem um ar tão sóbrio mas depois revela um carácter diabólico... :p

Um dia... não sei, não... :D

Grande abraço!
 
OP
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Eduardo Relvas

Eduardo Relvas

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Mais umas fotos...

Hakan Lindberg em acção no Rallye da Suécia em 72:

72_Lindberg_Sweden_small.jpg

O 125 Special do meu caro amigo Jorge Alves, que é um tributo/recriação dos 125 que correram em terreno nacional pela égide da Team Torralta, sendo carros adquiridos à equipa oficial da Fiat.

125S.jpg

Um abraço!
 

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Marco Reis

marcor
veem.se poucos no dia dia...

o ultimo que vi foi em constancia-abrantes! a ver se boto umas fotos , pode haver alguem interessado!
 
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Eduardo Relvas

Eduardo Relvas

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Francisco Costa disse:
Eduardo, parabéns pelo excelente tópico criado!!
Uma história bem engraçada do modelo. ;)

Francisco Lemos Ferreira disse:
Belo carro belo tópico. Obrigado.

Caros amigos,

Obrigado pelos comentários (vossos e não só). A minha ideia é ir escrevendo ocasionalmente sobre clássicos ignorados e injustiçados que conheço (ou seja, provavelmente vai ser só Fiats! :D), pois assim talvez contribua para que algum seja salvo.

Eu pela minha parte como disse já experimentei vários e fiquei sempre encantado com os 125, é um carro que de facto merecia muito mais atenção. Os valores de mercado são ridículos apesar de serem raríssimos, e quase ninguém os recupera ou sequer olha para eles!

O 124 berlina acaba por ser quase a mesma história, e é pena. Eu sempre achei a linha do 124 (e 125) bonita e com alguma elegância, embora a maior parte das pessoas os ache uns "caixotes".

É curioso que hoje em dia um 125 se compre por trocos, mesmo em estado razoável, enquanto um modelo muito inferior como o 500 ou 600 valem balúrdios. No entanto, o preço do 125 novo dava para comprar vários 500...

São as leis de mercado a funcionar, mas acho que se comete uma grande injustiça ao esquecer estes modelos.

Um abraço a todos!
 

Fernando Salgueiro

Gran Turismo
O mal do 125 em 1972 era ser já um modelo com uma estética ultrapassada que, embora hoje seja admirada (por mim pelo menos) como um clássico puro dos puros, no seu tempo já não fazia furor e foi descontinuado acima de tudo, por isso. O 132, mais moderno, é razoavelmente menos clássico (especialmente por dentro) e, pese o facto de ser tecnicamente mais evoluído, ainda é menos desejado que o 125... Isto para não falar do Argenta... (OK, não vou falar do Argenta!)
 
Eu tenho um 125 e gosto bastante dele. Diria até que sou apaixonado por ele. Pelo 125 e também pelo 130 Berlina. Mas em relação ao 125 acho-o bonito, potente, elegante, surpreendente, espaçoso... Uma berlina desportiva que mal posso esperar para dar umas voltas por aí com ele e passar alguns clássicos que embora estejam muito bons por fora, a maior parte das vezes a mecânica deixa muito a desejar... O meu é o oposto, tem a mecânica quase a 100% mas a carroçaria está um pouco riscada e com umas moças escondidas (e não, não foram feitas por mim :D)...

Agradeço a história deste modelo que revela factos que desconhecia e espero voltar ler algo sobre Fiat's e outros esquecido.

Abraço
 
Eduardo Relvas disse:
Caros amigos,

Obrigado pelos comentários (vossos e não só). A minha ideia é ir escrevendo ocasionalmente sobre clássicos ignorados e injustiçados que conheço (ou seja, provavelmente vai ser só Fiats! :D), pois assim talvez contribua para que algum seja salvo.

Eu pela minha parte como disse já experimentei vários e fiquei sempre encantado com os 125, é um carro que de facto merecia muito mais atenção. Os valores de mercado são ridículos apesar de serem raríssimos, e quase ninguém os recupera ou sequer olha para eles!

O 124 berlina acaba por ser quase a mesma história, e é pena. Eu sempre achei a linha do 124 (e 125) bonita e com alguma elegância, embora a maior parte das pessoas os ache uns "caixotes".

É curioso que hoje em dia um 125 se compre por trocos, mesmo em estado razoável, enquanto um modelo muito inferior como o 500 ou 600 valem balúrdios. No entanto, o preço do 125 novo dava para comprar vários 500...

São as leis de mercado a funcionar, mas acho que se comete uma grande injustiça ao esquecer estes modelos.

Um abraço a todos!

Concordo plenamente com a sua opinião. Aliás achavas ser o único que pensava isso pois algumas das pessoas com quem falava sobre o 125 diziam que era um bom carro mas inestético por ter linhas de "régua e esquadro". Concordo consigo também em relação aos 124 Berlinas e à valorização injusta dos 500's e 600's e das berlinas.
O máximo valor que vi num 125 normal foi de 2.500€ e num Special de 5.100€ quando um 600 é vendido e procurado por 6.000, 8.000 ou até mesmo 10.000€. É realmente injusto. A qualidade das berlinas é bastante superior na minha opinião e permitem um nível de conforto que os pequenos citadinos não possuem.
 
OP
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Eduardo Relvas

Eduardo Relvas

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Miguel Pintado disse:
Concordo plenamente com a sua opinião. Aliás achava ser o único que pensava isso pois algumas das pessoas com quem falava sobre o 125 diziam que era um bom carro mas inestético por ter linhas de "régua e esquadro". Concordo consigo também em relação aos 124 Berlinas e à valorização injusta dos 500's e 600's e das berlinas.
O máximo valor que vi num 125 normal foi de 2.500€ e num Special de 5.100€ quando um 600 é vendido e procurado por 6.000, 8.000 ou até mesmo 10.000€. É realmente injusto. A qualidade das berlinas é bastante superior na minha opinião e permitem um nível de conforto que os pequenos citadinos não possuem.

Amigo Miguel,

Faz muito bem em preservar essa grande máquina, os meus parabéns.

De facto é um modelo mal amado e de forma injusta. As linhas são elegantes sim senhor, toda a gente diz que o 124 (e o 125 por arrasto) é um quadrado, no entanto o carro não tem uma linha recta em lado nenhum! E eu tenho de confessar que adoro esta linha vincada da cintura em arco, ora vejam lá se isto é recto...

front.jpg

E por trás...

rear.jpg

Atenção que este exemplar de 124 foi modificado, está rebaixado e "vitaminado", mas a linha, essa, é puro 124... E sendo o 125 baseado nesta coque central, tem exactamente a mesma linha.

Quanto ao conforto, não tenho a menor dúvida, estes carros sempre foram supremamente confortáveis. A minha 124 Familiare tinha uns bancos que eram autênticas poltronas, era uma delícia estar lá sentado!

Um abraço!

P.S.: O 125 não é um "bom carro"... é um excelente carro! ;)
 

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Ivo do Val Gil

Buda de Bucelas
É um modelo só para apreciadores, eu pessoalmente gosto imenso.
É pena que tal como os 124 e 128 seja visto como um "caixote".
Ainda na semana passada, coloquei fotos de um, no tópico clássicos abandonados. Este carro está à cerca de 2 anos abandonado, depois de ter sofrido um embate frontal. É pena, pois o carro estava em excelente estado.
 

TiagoGomes

Clássico
O sr. Eduardo havia de gostar de passear pelas ruas de Faro para se deliciar com um 125 branco, com muitíssimo bom aspecto e não muito longe um 2300.
 

Fernando Salgueiro

Gran Turismo
O 125 é lindíssimo. Um clássico realmente puro. Não sei se é necessariamente mau que tenham uma reduzida cotação. Este tipo de carros é para apreciadores. E estes, nos quais me incluo, são privilegiados por os saber admirar e poder usar. As berlinas FIAT, embora muito sub-cotadas, são carros muito equilibrados, juntando conforto, performance, um interior clássico de época, espaço, muito espaço... O 125 é mal cotado, mas nem é dos piores. Quando viram pela última vez um 124 Special? Para mim, o esteticamente mais equilibrado dos 124 berlina. Vivam os carros, saibam que há também quem os aprecie e interpretem o seu preço reduzido ao contrário da maioria das pessoas que julgam "se é barato, é porque não vale nada, só dá problemas". São carros que só podem pertencer a uma elite de conhecedores que compram um clássico pelo que ele é e nunca pelo que ele exibe (ao público em geral, porque dentro da elite apreciadora, ter um 125, é subir bem alto na escala do prestígio...) Há quem gaste €10000 num carrito de baixíssima gama e quem dê €1000 por um carro que fez sonhar e sonhar no seu tempo. Que me importa a mim que haja quem dê 4 ou 5 vezes mais do que eu dei por um carro que valia, na época, 4 ou 5 vezes menos? (Sim, dá uma relação de 16 a 25 vezes...). E o burro sou eu? :D
 
Tempos gloriosos da FIAT.

Pergunto-me se algum dia recuperarão e atinjam de novo este lugar.

Perderam este segmento e nao vejo perspectivas de o recuperar.

Espero que sim, mas nao vejo nenhum lançamento previsto para reentrar no segmento
 
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