Corvette C4 Convertible (1994) - Ex-Eddie Murphy?

Clássicos Modernos

Corvette C4 Convertible (1994) - Ex-Eddie Murphy?

Ricardo Teixeira

Gasolina nas veias
Acho que todos por aqui, pelo menos os mais antigos, já são conhecedores da minha predileção pelos Corvette.

A resistência inata à corrosão, a simplicidade do motor e extremamente reduzida necessidade de manutenções, o baixo custo de peças e o resultado final a transbordar o "sex appeal" dos "muscle cars" americanos são de facto os principais motivos.

Em quase 11 anos que estou em Angola, muito poucas coisas vi que me despertaram a atenção (infelizmente).... O conceito de antigo não existe, apenas o "novo" e o "velho". Quase nada chega a ver a luz do dia em que conquista o status de clássico ou antigo...

Neste caso em particular, já tinha ouvido falar na viatura. Supostamente estava imobilizada à vários anos, com a instalação elétrica toda mexida e com a bomba de gasolina fora em experiencias.... Ninguém o conseguia colocar a trabalhar: nem o dono, nem o sobrinho, nem os mecânicos e eletricistas, nem a Bosch nem o concessionário Chevrolet local. Como o envelhecimento aqui é exponencialmente mais agressivo do que na Europa, nunca mostrei interesse em sequer ver o carro...

Um dia, estávamos a passar junto do local do ultimo avistamento e decidimos parar para me mostrarem a máquina. Já lá não estava, mas combinou-se um dia para lá a ir ver. Numa cidade com 5 milhões de pessoas, foi coincidência o carro estar no final da rua onde trabalho...

O estado era exatamente o que eu imaginava. Um envelhecimento brutalmente implacável do estado geral da viatura.

O dono, contactado telefonicamente, obviamente que foi perentório em deixar bem claro que não lhe interessava a venda, mas que o apoio em resolver o problema ou o restauro seriam bem vindos, e para isso passou semanas mais tarde no meu local de trabalho.

Em conversa informal, e após o desabafo da última década em que o carro esteve imobilizado sem uma solução encontrada, ele acabou por contar a razão do apego à viatura:

"Quando era mais novo e fui em 1996 aos USA em trabalho, comprei este carro num stand em Washington. Os documentos de transferência de propriedade e primeiro registo que vi com os meus próprios olhos tinham o nome do "Eddie Murphy". É algo que para mim tem muito valor e nunca considerarei vender o carro. Ficará para o meu filho ou uma das minhas filhas".

Obviamente que fica sempre a dúvida da veracidade dos factos, mas aqui ficam os pontos a favor desta historia que descobri:

- Eddie Murphy passou um mau bocado entre 1992 e 1996, com muitos flops a serem lançados. Poderia ser a razão pela qual venderia um carro com apenas 2 anos? Nessa altura ainda não tinha os milhões que posteriormente veio a arrecadar.

- Ao navegar pela net, todos os carros que vi do Eddie Murphy (actualmente) são pretos. Mercedes SLS, Aston Martin Vanquish, os dois Rolls Royce Phantom (Drophead Coupe e o clássico) e Ferrari GTB599 Fiorano. Coincidência?

- A montagem de som deste carro é uma coisa de outro mundo. Se considerarmos que foi em 1994, então estamos perante um trabalho que deve ter custado quase tanto como o carro em si. Não só os amplificadores e crossovers era todos "Classe A", como as cablagens e terminais eram todos de altíssima qualidade. As marcas destes equipamentos eram também todos topo. Quem gastaria tanto dinheiro numa montagem destas, num carro com sistema de som original da "Bose Gold Series"? Provavelmente algum com (muito) dinheiro para gastar....

- As jantes de origem deste modelos têm acabamento brilhante (Diamond cut), mas estas em particular foram polidas até fiarem espelhadas e depois incluíram detalhes de baixo relevo em preto. Um detalhe caro e para alguém que de facto se queria destacar na personalização da viatura.

Fica agora o desafio para todos vós - mestres cibernéticos da informação on-line, para tentar encontrar mais indícios que possam ou não comprovar esta versão da história....
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Cumprimentos,
R
 

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Vitor Dinis Reis

Pre-War
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Vamos então começar uma pesquisa em equipa! Se foi dele há-de haver registos em algum lado.

Vou ficar atento, obrigado pela partilha Ricardo.
 
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Ricardo Teixeira

Ricardo Teixeira

Gasolina nas veias
Essa história a ser verdade valoriza bastante o carro.
Reparei que os pneus da frente estão montados com o sentido inverso! Por ai se vê "os especialistas" que andaram mexendo nesse carro.

Curioso é que reparaste no sentido de rotação, mas não reparaste que as jantes de trás estavam montadas à frente.

Ou seja, passaram os pneus 255 para trás e à frente colocaram 235 nas jantes que deviam ter 285.... Notem a aba..
 
OP
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Ricardo Teixeira

Ricardo Teixeira

Gasolina nas veias
foto1.jpg foto2.jpg Em conversas posteriores, apresentando detalhadamente o meu gosto por estes carros, mostrando a minha coleção em Portugal e convencendo o dono das minhas capacidades técnicas, que eventualmente seriam a única salvação deste carro em particular, acabei por conseguir comprar a máquina, mais de um ano após a primeira conversa....

Ficou a promessa de um dia o homem gozar de uma voltinha novamente na máquina.

Com a chegada dela à oficina, e com 3 pneus completamente podres e rebentados, começaram logo os problemas de conseguir movimentá-la.

A especificidade das medidas fez com que fosse impossível encontrar alguns pneus usados que pudessem remediar, e assim lá tive que importar os pneus 255/45R17 e 285/40R17 de propósito, sem ainda saber o que o futuro reservava para este projeto.

Começar a casa pelo telhado, neste caso, foi mesmo necessário.

Cumprimentos,
R
 

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Ricardo Teixeira

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Gasolina nas veias
A solução provisória foi utilizar estes patins, normalmente usados para movimentar viaturas dentro de stands e sítios apertados.

Mesmo estes, quase que não conseguiam encaixar a largura das rodas....

Ao abrir capota também se verificou que duas das hastes estavam partidas.

Também 80% coleção de peças usadas que estavam dentro do carro, não lhe pertenciam, revelando assim uma longa história de testes e experiências frustradas...

No tanque de combustível também se encontravam várias emendas e enxertos, a ausência de qualquer bocal, sensor de nível, bomba ou tampa de depósito...
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Ricardo Teixeira

Ricardo Teixeira

Gasolina nas veias
Passados uns meses comecei a receber algumas das peças, em mão de colegas que vinham de Portugal.

Foi necessário comprar o bocal, os tubos de retorno, o sensor de nível e a bomba de combustível.

Felizmente a instalação estava pouco alterada.

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Vitor Dinis Reis

Pre-War
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Parabéns Ricardo! Para quem não tinha nenhum projecto em Luanda, a fome deu em fartura! Como está esse motor? A pintura desbotada parece um mal menor, imagino que o sistema electrico possa ser a principal preocupação.
 

António José Costa

Regularidade=Navegação, condução e cálculo?
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Que belissimo carro para recuperar, não deve ser nada fácil avançar com a falta de material por ai, mas ansiamos por desenvolvimentos da máquina:)
 

João Luís Soares

Pre-War
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Delegado Regional
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Mais uma daqueles projectos para acompanhar a par e passo.

Boa sorte com esse Corvette!
 
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Ricardo Teixeira

Ricardo Teixeira

Gasolina nas veias
Com a chegada do contentor de um amigo, contendo os pneus novos que apanharam a "boleia", foi altura de descalçar a maquina e tratar de recondicionar as jantes, que por sua vez estavam bastante oxidadas por baixo do verniz, assim como "personalizadas" com os rebaixos em preto.

Alguns riscos profundos ajudavam ao mau aspecto....

Revelava-se também o estado das suspensões e travões, inclusivamente com um fio do sensor de ABS roído pelos ratos..

Registou-se também que o sangrador da frente do lado do condutor estava aberto, provavelmente para destravar essa roda e permitir a deslocação do carro. Normalmente acontece quando o tubo flexível degrada-se e entope. O problema é que o ar dentro de um circuito de travões velho, destrói tudo num par de dias. era inevitável mas passou a ser urgente uma bomba de travões nova.

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Ricardo Teixeira

Ricardo Teixeira

Gasolina nas veias
Depois de passar uma semana na secção de pintura, utilizando vários tipos de decapante e escovas, lá se conseguiu remover o verniz velho.

Passei a semana seguinte a lixar e polir cada uma das jantes segundo o processo artesanal e convencional do rebolo de lixa e a almofada de nylon na ponta do berbequim.

Ambos trouxe previamente de Portugal, penso que da Leroy Martin, num kit com dois sabões diferentes (desgaste e acabamento). Muito bom...

O resultado final, apesar de não ser perfeito, para já vai ter que servir...

Já envernizadas e com os novos sapatos, ainda a faltar algumas fêmeas e as capas das mesmas..
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Ricardo Teixeira

Ricardo Teixeira

Gasolina nas veias
Normalmente gosto de trocar em todos os meus carros os tubos flexíveis de borracha (chamados raccors) por tubos de malha de aço de inox. São mais resistentes e têm uma via útil praticamente ilimitada. Neste caso escolhi mais uma vez da Goodridge.

Escolhi também uma bomba simples, da qual aproveitei o deposito da antiga, para poupar no custo de transporte. Confirmou-se também que a bomba velha tinha ido à vida, pois não permitia sangrar o sistema dianteiro, mas como estava já precavido, avançou-se com a bomba nova já em stock..


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João Pedras

Fiat 124 Familiare ❤
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Pelo andar da coisa, na volta já está a trabalhar e secalhar até já tinhas ideia do que poderia ser .
 
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Ricardo Teixeira

Ricardo Teixeira

Gasolina nas veias
Voltando aos básicos... Gasolina+Ar+Faísca...

Antes de mais, verificou-se os pontos de massa dos cabos de bateria e fez-se uma revisão ao motor de arranque que não só já devia ter levado uma boa tareia, como iria com certeza levar mais umas quantas até se resolver o problema.

Como já mostrei, foi necessária uma bomba de gasolina nova, e tudo o que nela está agarrado. A desgraça das experiencias passadas era bem visível. Alguns fios tiveram que ser reparados, os tubos até estavam mais ou menos. A borracha da gola de enchimento foi nova assim como um novo tampão original com chave (opcional).

Agora a gasolina já chegava aos injectores mas nada... Desmontaram-se todos e já com marcas de terem andado a serem "revistos", foram testados. Metade estavam completamente colados e entupidos.

A instalação também estava emendada e roída por ratos em vários pontos. Algo comum em Angola, mesmo em carros com 0 Kms mas que ficam imobilizados mais de 2 semanas (com a viagem do dono para fora de férias por exemplo). Quantidades enormes de fezes de ratos e/ou despectivos ninhos são bons indicadores de problemas...

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Ricardo Teixeira

Ricardo Teixeira

Gasolina nas veias
Para assegurar que tínhamos os básicos, gasolina+ar+faísca, substituiu-se as velas (ainda originais) completamente "mortas" por NGK adequadas vindas em mão de Portugal.

Em stock (e já encomendados meses antes durante a preparação do restauro) tinha também o conjunto de cabos de ignição da MSD 32179, específicos para o Corvette LT1 de 1994.

A escolha para os injetores recaiu no conjunto de 8 injetores ACCEL 150126, com um débito marginalmente superior aos originais (26lbs/h). Não só são muito mais baratos do que os originais, mas compensa-se assim a gasolina mais fraca disponível como a eventual montagem futura de um escape de melhor performance.

Verificou-se o filtro de ar (novo) e os catalisadores (já retirados)...

Bateria nova.

Resultado?

Começou a coxear ..... e lá roncou passados 12 anos.... durante 2 segundos....
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